• Nenhum resultado encontrado

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.3 PERCEPÇÕES DOS SUJEITOS DA PESQUISA QUANTO A COMO

4.3.2 Percepções quanto ao uso de léxico não familiar ao aluno

4.3.2.1 Percepção docente quanto ao uso de léxico não familiar ao aluno

A segunda questão apresentada aos professores foi a seguinte:

2. Com relação à familiaridade lexical, acredito que em minha fala eu deva, em situação didática, usar _________ . Por quê?

a) constantemente vocabulário ou expressões com as quais os alunos não estejam familiarizados b) com certa regularidade vocabulário ou expressões com as quais os alunos não estejam

familiarizados

c) esporadicamente vocabulário ou expressões com as quais os alunos não estejam familiarizados d) vocabulário ou expressões com as quais os alunos não estejam familiarizados apenas depois de estas já terem sido objeto de estudo

Constatamos, nas respostas à questão, conforme os dados mostrados no Gráfico 8 abaixo, que nenhum professor acredita que, em situação didática, deva usar constantemente,

47 O descritor para a compreensão do oral geral proposto pelo QCE para usuários de nível de proficiência B1 é

assim apresentado: “É capaz de compreender informações factuais simples sobre tópicos comuns do dia-a-dia ou relacionados com o trabalho e identificar quer mensagens gerais quer pormenores específicos, desde que o discurso seja claramente articulado com uma pronúncia geralmente familiar” (CONSELHO DA EUROPA, 2001, p. 103).

em sua fala, vocabulário ou expressões com os quais os alunos não estejam familiarizados. Também não acreditam que vocabulário ou expressões novas devam ser usados apenas depois de estas já terem sido objeto de estudo. Dois professores (33,3%) acreditam que, em situação de aula, devam usar vocabulário ou expressões novas com certa regularidade em seus discursos, e 4 (66,7%), a maioria, prefere usar esporadicamente, em seu discurso, em situação didática, vocabulário ou expressões com as quais os alunos não estejam familiarizados.

Gráfico 8 – Percepção docente quanto ao uso de léxico não familiar ao aluno

Fonte: Corpus da pesquisa

Uma vez quantificados os dados, conforme mostra o gráfico acima, concluímos que não foi possível confirmar a hipótese de que quando seus interlocutores são alunos de nível de proficiência B2 do inglês, a maioria dos professores acredita que, em seu discurso, em sala de aula, deva usar constantemente vocabulário ou expressões com os quais os alunos de nível de proficiência B2 não estejam familiarizados, visto que a maioria (66,7%) acredita que esse uso deva ser esporádico. Ora, então não seria o estímulo à aprendizagem apenas esporádico, isto é, não estaria o professor indo apenas esporadicamente além daquilo que o aluno já domina linguisticamente? Será que é isso que deseja o professor? Na tentativa de responder a essas perguntas, recorremos às justificativas trazidas pelos docentes. Consideramos nesta análise as categorias já mencionadas na subseção anterior segundo mostramos no Quadro 15 abaixo.

Quadro 15 – Categorização da percepção docente quanto ao uso de léxico não familiar ao aluno

CA1 50%

A fala do professor é um input importante para o aluno. O aprimoramento da compreensão auditiva e do repertório lexical (pelos alunos) também dependem do nível de proficiência do professor.

CA2 16,7%

Todas as aulas os alunos já estão sendo expostos a vocabulário novo, portanto é necessário medir a quantidade de “input” para que os alunos não se sintam frustrados.

CA3 33,3%

Se bem contextualizados, vocabulário/expressões novos podem ser compreendidos sem maiores dificuldades. Como benefício, tem-se mais uma oportunidade de expor os alunos a itens novos. Caso os alunos não compreendam os novos termos e isso gere falha de comunicação, o professor pode e deve auxiliar os alunos.

CA4 Não houve incidência de justificativas para as respostas a essa questão pertinentes a essa categoria.

CA5 33,3%

Em situação didática deve se dar preferência às expressões e vocabulário com os quais os alunos estejam familiarizados para nos mantermos mais próximo possível do resultado que almejamos atingir. Porém, é importante usarmos esporadicamente vocabulário ou expressões novas para instigarmos a curiosidade dos alunos e gradualmente proporcionar oportunidades para que eles aprendam novo vocabulário e expressões.

Fonte: Corpus da pesquisa

A partir da categorização das justificativas apresentadas pelos docentes, constatamos que 50% delas sugerem preocupação com o estímulo à aprendizagem da língua estrangeira (CA1). Mas, se estimular a aprendizagem do aluno é desejo de todo o professor e considerando que, nessa questão, isso está explícito em 50% das justificativas para as respostas, fica ainda mais difícil compreendermos porque os professores envolvidos nesta investigação dizem preferir usar com certa regularidade (33,3%) ou esporadicamente (66,7%), em seu discurso oral, léxico não familiar aos alunos. Se assim o fizerem, não estariam oferecendo estímulo à aprendizagem apenas esporadicamente ou com certa regularidade, uma vez que só é possível aprender aquilo que ainda não conhecemos?

Acreditamos que o aluno de nível de proficiência B2, conforme sugerem os descritores do QCE, possui, conforme explica Ausubel (2003), os subsunçores necessários para ancorar o novo, ou seja, já possui conhecimento em sua estrutura cognitiva no qual o novo pode se apoiar, com o qual pode relacionar-se de maneira “não arbitrária” e “não literal”. Possivelmente, os aprendizes de nível de proficiência B2 possuem, além do conhecimento linguístico sugerido pelo QCE, também o conhecimento prévio de mundo, pelo menos no que se refere a assuntos familiares e, portanto, é provável que tenham condições de fazer inferências sobre o sentido desse novo material de aprendizagem, ou seja, desse novo léxico, pois a interpretação do sentido de um item lexical dentro de um texto está vinculada ao contexto histórico, social e cultural em que está sendo utilizado; não acontece no vácuo.

Conforme argumenta Benveniste (2005), cada palavra tem uma parte de seu sentido preenchida (o valor que tem como signo) e outra vazia. Essa parte vazia será preenchida no uso a partir das palavras que vêm antes e depois na frase e a partir da situação enunciativa. Sendo assim, imaginamos que, se não há uma parte já preenchida (quando o aluno desconhece o léxico utilizado num discurso), esse usuário terá de valer-se da estratégia de adivinhação do sentido que está vazio e, para tanto, tende a apoiar-se mais nas palavras que já conhece e que antecedem e que precedem esse léxico desconhecido, bem como no contexto, para inferir esse significado e assim construir o sentido.

Ainda, se utilizarmos o constructo i+1 de Krashen, poderíamos dizer que o professor quando utiliza insumo do tipo i+0, poderá estar subestimando a capacidade de o aluno utilizar estratégias para compensar a limitação de seu conhecimento ao invés de incentivar esse uso.

A partir da análise desses dados, inferimos que não parece haver coerência entre o desejo da maioria dos professores de utilizar apenas esporadicamente o léxico não familiar ao aluno em seu discurso e a preocupação demonstrada por essa maioria em estimular o desenvolvimento linguístico do aluno.