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3 MÉTODO

3.3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA

Foram elaborados instrumentos específicos com a finalidade de construir os dados que permitiram abordar o problema desta pesquisa assim formulado: Como é a compreensão de alunos de língua inglesa de nível B2, no que se refere à enunciação oral do professor, e qual a percepção de alunos e professores com relação a como deva ser essa enunciação para a efetiva promoção do desenvolvimento da habilidade de compreensão do aluno?

O instrumento utilizado na segunda etapa da pesquisa consiste em um questionário de verificação da compreensão do aluno (Anexo 4) do discurso oral gravado de um professor. A gravação foi realizada na primeira etapa da pesquisa, conforme descrito na seção 3.5 deste capítulo. As questões do instrumento de verificação da compreensão oral dos alunos foram elaboradas com base na transcrição (Anexo 7) do discurso produzido oralmente por um professor.

Quatro questões acompanhadas de alternativas de múltipla escolha foram apresentadas nesse primeiro questionário. Tais questões foram compostas de frases incompletas seguidas de alternativas que as completassem. Todas as questões referiam-se às opiniões dadas pelo professor em seu discurso. A primeira questão trazia oito alternativas das quais três estavam em conformidade com as ideias apresentadas pelo professor. A segunda e a terceira questões traziam nove alternativas, sendo que a segunda questão continha quatro alternativas corretas e a terceira, cinco. A quarta e última questão era acompanhada de seis alternativas das quais três estavam corretas. Salientamos que, na elaboração das questões e das alternativas, procuramos graduar o nível de dificuldade de fácil a difícil.

Como o objetivo desse instrumento foi o de verificar a compreensão do aluno quanto à enunciação oral do professor na língua inglesa, optamos por redigir o questionário em língua portuguesa para evitar que os alunos deixassem de responder às perguntas por não as terem compreendido.

Para a terceira etapa da pesquisa, foram elaborados dois questionários (Anexos 5 e 6) destinados a traçar o perfil docente e discente, bem como a investigar suas percepções quanto a como deva ser a enunciação oral do professor para a promoção do desenvolvimento da habilidade de compreensão também oral dos alunos.

Esses questionários foram construídos com base nos indicadores propostos por Matsumoto (2006) para verificar a percepção de alunos de língua japonesa quanto ao discurso docente. No artigo intitulado Students’ perceptions about teacher talk in Japanese-as-a-

second-language classes 31, Matsumoto apresenta quatro indicadores: a velocidade de fala, a familiaridade lexical e sintática, a informação visual que acompanha a fala e o uso do inglês.

Optamos por não incluir perguntas referentes ao uso de recursos visuais nos instrumentos desta pesquisa, uma vez que nossa intenção foi investigar, especificamente, a compreensão linguística do aluno (daí utilizarmos apenas uma gravação em áudio do discurso do professor). Julgamos que a informação visual, neste caso, poderia interferir, quer facilitando, quer dificultando essa compreensão.

Além disso, por tratar-se de um contexto da realidade brasileira, elaboramos uma pergunta referente ao uso do português em sala de aula de língua inglesa. Acrescentamos ainda uma questão sobre a entonação do professor em sua enunciação, pois acreditamos que ser ela constitutiva do enunciado oral e fundamental para a construção do sentido, pois dá pistas aos ouvintes sobre a possível intenção, emoção e atitude do locutor. Adicionamos ainda uma última questão aberta geral com o objetivo de investigar a percepção dos sujeitos participantes quanto a como deva ser a enunciação oral do professor, de forma a contribuir com o efetivo desenvolvimento da habilidade de compreensão também oral do aluno.

Com o objetivo de viabilizar a coleta de dados e o seu tratamento dentro do limite de tempo de conclusão do Mestrado, optamos por transformar as perguntas abertas, propostas por Matsumoto, em perguntas de múltipla escolha que fossem acompanhadas de espaço para a justificativa de cada escolha.

Frente aos objetivos e limites desta pesquisa, decidimos investigar somente a compreensão oral de um discurso não colaborativo, ou seja, aquele em que não há diálogo oral explícito entre locutor e interlocutor. Essa situação equipara-se àquelas em que o aluno é solicitado a ouvir textos de diferentes gêneros discursivos que acompanham os materiais didáticos disponíveis no mercado ou, ainda, àquelas em que realiza exames de proficiência na língua estrangeira. Também pode ser comparada a instâncias nas quais um sujeito ouve transmissões de discursos através do rádio, da televisão etc.

Os dados coletados por esses instrumentos foram analisados quantitativa e qualitativamente. Conforme aponta Stumpf,

Assim como toda a enunciação é única e irrepetível, cada análise da linguagem também o é. A análise, enquanto ato de interpretação e enquanto ato de enunciação, realizado por um analista, também não pode dar conta do todo, é sempre parcial e opera especificamente para cada estudo em questão. Assim, dois analistas não olham

31 Percepções de alunos quanto à fala do professor em aulas de japonês como segunda língua (tradução livre da

para os mesmos fatos da mesma maneira, visto que na sua interpretação intervém a subjetividade fundante da linguagem (STUMPF, 2000, p. 90).

No tratamento dos dados, tabulamos as respostas dadas às questões de múltipla escolha pelos professores e alunos e criamos categorias de análise para as justificativas produzidas por eles, conforme a incidência e recorrência de ideias.

Construímos a categoria preocupação com o estímulo à aprendizagem da língua estrangeira ou preocupação com a aprendizagem da língua estrangeira (CA1) quando identificamos, nas justificativas, que vários professores e alunos apontavam as dificuldades ou os desafios impostos aos alunos como sendo necessárias para a promoção do desenvolvimento linguístico discente.

A categoria preocupação com a desmotivação do aluno ou preocupação com a própria desmotivação (CA2) emergiu quando identificamos várias justificativas sugerindo que muito material novo apresentado ao aluno ou muitas exigências lhe sendo impostas podem gerar ou elevar o seu grau de desmotivação para aprender a língua estrangeira.

A categoria preocupação com a dificuldade de compreensão oral (CA3) foi construída quando percebemos que alguns informantes demonstravam acreditar que o discurso do professor deveria ser enunciado de forma a garantir ou facilitar a compreensão oral dos alunos. Outros, no entanto, pareciam preocupar-se mais com a dificuldade em compreender discursos outros, em língua estrangeira, que não apenas o do professor.

Incluímos a categoria preocupação com a adequação ao nível de proficiência a que o curso se destina (CA4) para agrupar as justificativas que faziam referência à necessidade de o professor apresentar um discurso oral que não esteja aquém do nível de desenvolvimento linguístico de aprendizes de proficiência B2.

Na releitura cuidadosa das justificativas, outra característica que observamos foi a incoerência de algumas delas quer do ponto de vista do conteúdo, quer do ponto de vista discursivo (não eram justificativas), e notamos ainda que acresciam informações outras, sem responder à pergunta “Por quê?” apresentada nas questões que configuram o instrumento de pesquisa utilizado. Optamos por não subdividir tais incoerências em categorias distintas, pois isso não implicaria em alteração do resultado da pesquisa. Construímos, então, a categoria falta de coerência da justificativa da resposta em relação à pergunta (CA5).

Com a finalidade de apresentar e discutir os argumentos trazidos pelos dois grupos sobre como acreditam que a enunciação oral docente contribui para o aprimoramento da compreensão oral do aluno, construímos três novas categorias de análise: (CA6) uso de um

discurso com características que se aproximam daquelas apresentadas por um falante nativo; (CA7) uso de um discurso didaticamente adaptado; e (CA8) não coerência da resposta com relação à questão proposta.

A CA6 foi criada para agrupar as respostas que fazem referência ao uso de um discurso pelo professor: cuja velocidade de fala seja normal, isto é, não reduzida em relação àquela utilizada por um locutor proficiente (C1 e C2, conforme o QCE); cujos vocabulário e expressões utilizados não sejam apenas aqueles de uso mais frequente; cujas estruturas sintáticas sejam mais complexas do que as utilizadas por falantes menos proficientes da língua estrangeira (B1 e B2, conforme o QCE); e cuja entonação seja naturalmente marcada.

Já a CA7 foi construída para categorizar as respostas que fazem alusão ao uso, pelo professor, de uma enunciação com características que se afastam daquelas apresentadas por falantes mais proficientes da língua estrangeira (C1 e C2), ou seja: cuja velocidade de fala seja reduzida se comparada àquela que um usuário mais proficiente geralmente utiliza; cujo vocabulário empregado seja aquele de uso mais constante; cujas estruturas sintáticas utilizadas sejam menos complexas e, portanto, mais familiares ao aprendiz de nível de proficiência B2; e cuja entonação seja (levemente) marcada para que, em situação didática, a compreensão por parte dos alunos seja facilitada.

Para todos os enunciados que não respondem à pergunta feita, ou seja, sempre que docentes e discentes não dizem como acreditam que a enunciação oral do professor possa contribuir para o efetivo desenvolvimento da habilidade de compreensão oral da língua inglesa dos alunos, estabelecemos a CA8. Entrelaçamos os dados tratados com reflexões apoiadas em nosso referencial teórico.