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A teoria dos afetos em Espinosa

CAPÍTULO I: A DEFINIÇÃO DE SAÚDE E DOENÇA E SEU ESTATUTO

HISTÓRICO-FILOSÓFICO

1.7. A teoria dos afetos em Espinosa

Anteriormente falamos que a mente é a ideia do corpo. As implicações dessa proposição são significativas, pois na verdade estamos afirmando que existem afecções no corpo e ideias dessas afecções na mente que não se traduzem em uma representação dispersa ou descontínua. Há em Espinosa um interesse basilar em propor essa tese, a saber, em poder explicar, não mais de um modo mecanicista, a importância do paralelismo psicofísico para a manutenção da vida.

Os seres singulares expressam de modo finito os atributos da potência da substância infinita. Ora, se a substância só é substância porque é autogeradora, autoprodutora, capaz por si só de engendrar a vida e de mantê-la, nada mais necessário do que os seres singulares também expressarem essa potência de permanecer na existência.

Espinosa usa um termo bem preciso do século XVII para designar essa potência de autopreservação, que ele denomina de contaus. Com efeito, nos afirma Espinosa (2010, p.174-5): “Conatus. Quo unaquanque res in suo esse perseverare conatur, nihil est praeter ipsius

rei actualem essentiam”. (“Conatus. O esforço pelo qual cada coisa se esforça por perseverar em se ser nada mais é do que a sua essência atual”).

Por essa razão é preciso compreender, antes dos afetos, a importância desse princípio. No entender de entende Bartuschat (2006, p.80):

A teoria do conatus, que antecede a doutrina dos afetos, torna claro não só em que os afetos têm sua origem, mas também o quão vital é a importância que lhes cabe para a orientação do homem no mundo. Pois o

conatus é entendido por Espinosa como a determinação elementar de cada

coisa finita: ele é aquilo que constitui a essência de uma coisa finita em sua realidade concreta (actualis essentia, III, 7).

Espinosa fala em seres singulares. De fato, todos os seres são conatus, ou seja, todos buscam a autopreservação, mas somente o homem tem consciência de ser essa potência de autoconservação. O conatus é a essência atual desse ser. Mas não só isso. O conatus é uma potência sempre afirmativa, isto é, indestrutível, pois nenhum ser quer se autodestruir. Sua expansão se dá de forma ilimitada, de modo que somente algo mais forte do que ele possa detê-lo.

É por essa razão que Espinosa afirma que a essência do homem é desejo. Esse esforço (conatus) quando se refere “apenas a mente se chama vontade, mas a medida em que se refere à mente e ao corpo simultaneamente, chama-se apetite”. (ESPINOSA, 2010, p.177).

Um corpo pode tanto aumentar como diminuir sua potência de agir dependendo das afecções que lhe advém. Essas afecções nada mais são do que os afetos. Do mesmo modo que a mente é a ideia de seu corpo e ideia da ideia, ela também é capaz de formar ideias dos afetos corporais. Em outras palavras, esses afetos podem ser sentidos conscientemente a nível mental, o que também pode fazer com que a mente sofra variações, aumentando ou diminuindo sua potência de agir. É nesse sentido que Chauí (2006), ao interpretar a teoria dos afetos de Espinosa, considera haver uma verdadeira relação de integralidade entre mente, corpo e mundo.

Por afeto afirma Espinosa (2010, p. 163): “ [...] compreendo as afecções do corpo, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída, estimulada ou refreada, e, ao mesmo tempo, as ideias dessas afecções”. A fim de justificar o termo “afeto” utilizado por Espinosa em toda sua Ética, assim nos afirma Rocca (2010, p.46):

Podemos logo entender porque Espinosa prefere o termo “afeto” no lugar de “emoção”. O fenômeno considerado por ele é fundamentalmente aquele em que uma mente tem determinadas afeições, em que ela é afetada, seja por fora ou por dentro, e, portanto, o termo “afeto” é mais sugestivo da noção que Espinosa deseja transmitir.

A consequência inevitável dessa definição não poderia ser outra: tudo o que aumenta a potência de agir da mente, aumenta a do corpo e vice-versa. Tal constatação parece fazer ruir o edifício místico-teológico do pecado e da graça, que até então afirmara que para se ter uma alma forte e santa seria preciso castigar o corpo e submetê-lo a duras e rigorosas mortificações.

O pano de fundo que sustentava o ideário teológico era a supremacia da alma sobre o corpo, que em Espinosa já não mais se sustenta. Nas palavras de Espinosa (2010, p.177): “Se uma coisa aumenta ou diminui ou refreia a potência de agir de nosso corpo, a ideia dessa coisa aumenta ou diminui, estimula ou refreia a potência de pensar de nossa mente.”43

Vimos anteriormente que o conatus é uma força eficiente interna de autoconservação que inevitavelmente gera efeitos, sejam esses internos ou externos. Mas a questão crucial que se coloca para a teoria do conatus é que nós não somos uma ilha, ou seja, vivemos rodeados por outros conatus que podem ser ter um conatus mais forte ou mais fraco que o nosso. Assim, dependendo de como nos relacionamos como outros conatus, podemos aumentar o diminuir nossa força de existir. Em uma linguagem espinosana, nosso contaus pode operar passivamente ou ativamente. Com efeito, nos afirma Espinosa:

Digo que agimos quando, em nós ou fora de nós, sucede algo que somos a causa adequada, isto é, (pela def. prec.), quando de nossa natureza se segue, em nós ou fora de nós, algo que pode ser compreendido clara e distintamente por ela só. Digo, ao contrário, que padecemos quando, em nós, sucede algo, ou quando em nossa natureza se segue algo de que somos a causa, senão parcial.

O que Espinosa está nos dizendo é que quando somos causa inadequada quando sucumbimos frente às forças externas; por outro lado, quando agimos somos causa adequada, isto é, quando conseguimos, não obstante as forças externas, nos manter na existência, enfim, quando aprendemos a coexistir com essas forças.

Assim, nos assevera Espinosa (2010, p.163): “Chamo de causa adequada aquela cujo efeito pode ser percebido clara e distintamente por ela mesma. Chamo de causa inadequada ou parcial, por outro lado, aquela cujo efeito não pode ser compreendido por ela só.”44

A ideia de que somos “ativos” ou “passivos”, dependendo do modo como lidamos com as forças dos outros conatus, levou Espinosa a dissolver o conceito mais caro à tradição teológica-metafísica, de que a vida humana se deixava direcionar por fins, por propósitos. A partir de agora, nossos fins e nossos propósitos não se dão mais na esfera da livre escolha, mas exprimem a causalidade eficiente de nosso apetite, ou seja, do nosso conatus. (CHAUI, 2011).

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Ética III. Proposição 11.

O conatus não expressa somente a luta pela preservação da vida, mas a intensidade da força desse desejo de sobrevivência. No caso do corpo, o conatus define o grau de intensidade que o indivíduo possui para se manter vivo. No caso da mente, define o grau de intensidade, maior ou menor para pensar. Não é possível conservar o corpo desconsiderando a mente. A luta pela autopreservação acontece simultaneamente em ambos.

O que faz com que o nosso conatus sofra tantas variações? Vimos que estamos em uma constante relação de intercorporeidade, o que nos faz experimentar, no contato com os outros, uma multiplicidade de afetos. Contudo, Espinosa nos chama a atenção para três afetos primários, fonte de todos os demais afetos que experimentamos em nossa vida física e mental: desejo, alegria e tristeza. O que seriam esses afetos? Nas palavras de Espinosa (2010, p. 238-9):

O desejo é a própria essência do homem, enquanto esta é concebida como determinada, em virtude de uma afecção qualquer de si própria, a agir de alguma maneira. A alegria é a passagem do homem de uma perfeição menor para uma maior. A tristeza é a passagem do homem de uma perfeição maior para uma menor.45

É importante entendermos que tanto a alegria quanto a tristeza não são afetos mais concebidos como sendo “bons” ou “ruins”, ou como pensava a tradição. É célebre a expressão de Santo Agostinho quanto à felicidade: “A felicidade consiste em estar perto de Deus”.46 Para Espinosa, esses afetos são como que passagens, coisas que afetam o conatus

dos seres singulares, aumentando ou diminuindo sua força de existir. É por essa razão que falamos anteriormente que o conatus não pode ser considerado como emoção, pois não diz respeito somente a um estado de variação fisiológica, mas determina as ações de ser e agir de um ser singular.

Vimos que a alegria é uma passagem de um estado de menor força de ser e agir para um maior. Ora se ela vier acompanhada de uma causa externa, Espinosa a denomina de amor. Do mesmo modo, quando a tristeza vem acompanha de uma causa externa, chama-se ódio. No caso do desejo, quando ele é alegre, Espinosa o chama de contentamento e quando vem acompanhado de tristeza, chama-se frustração. (CHAUI, 2011).

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Ética III. Definição dos Afetos 1, 2 e 3.

A constatação de que os afetos não constituem nem “vícios” nem “pecados” mas apenas uma condição natural que acontece nos seres singulares, nos faz pensar que não podemos nos livrar da passividade, isto é, das forças externas que atuam sobre nós. Mas quais seriam as causas naturais necessárias que nos afetam constantemente? Segundo Chauí (2011, p.88), há três causas que determinam a variação da potência de ser e agir do conatus:

[...] a necessidade natural do apetite e do desejo de objetos para a sua satisfação; a força das causas externas maior do que a nossa; e a vida imaginária, que nos dirige cegamente ao mundo, esperando encontrar satisfação no consumo e apropriação das imagens das coisas, dos outros e de nós mesmos.

No Tratado Teológico Político, Espinosa insiste que é necessário diferenciar desejo de razão, pois segundo ele, o primeiro é cego. É desse modo que o desejo faz com que o desejante julgue como bom só aquilo que ele deseja de fato, e assim o faz só porque o deseja. (BARTUSCHAT, 2010).

Estar submisso às paixões é o mesmo que se deixar guiar por uma causa inadequada que, como vimos, tem suas causas nos apetites e desejos. Esses se formam a partir da imaginação, ou seja, de um conhecimento que temos do mundo de modo confuso, “mutilado”, que nos impede de conhecer as verdadeiras causas. É como uma pessoa que acredita que para encontrar a verdadeira felicidade deva adquirir um máximo de bens materiais, pois só assim ela conseguirá certificar-se de que de fato é feliz. Essa é uma ideia muito comumente aceita em nosso mundo capitalista contemporâneo, mas na verdade encontra-se impregnada de “mutilações” de imagens confusas. Não podemos negar que o dinheiro seja importante e necessário à vida, porém, atribuir a ele a garantia de toda a nossa felicidade é no mínimo não compreender os limites que o dinheiro possui.

É por essa razão que Espinosa afirma que quando somos “passivos”, nos comportamos como sendo causa parcial de nossos afetos, pois o que nos direciona, as forças externas, são mais fortes e poderosas, de modo que não podemos agir com autonomia. Com efeito, nos afirma Espinosa (2010, p.273): “Padecemos à medida que somos uma parte da natureza, parte que não pode ser concebida por si mesma, sem as demais.”47

É interessante percebermos que a teoria dos afetos de Espinosa pretende não só tornar a paixão algo natural aos seres singulares, mas, sobretudo, procura defender a tese de

que não há ação da alma sobre o corpo e vice-versa. Na tradição filosófica do século XVII, há o que podemos chamar de “operação reversível das paixões” (CHAUI, 2011), em que um corpo ativo corresponderia automaticamente a uma alma passiva e uma alma ativa, um corpo passivo. Por essa razão que, pensando na supremacia da alma, se fazia necessário refrear, negar, aniquilar os desejos do corpo, “pacificá-lo” para que a alma pudesse tornar- se ativa.

No entender de Chauí (2011, p.89) a moral filosófica de Cícero é a que influenciou o pensamento cristão e, conseqüentemente o ideário filosófico acerca da relação da mente com o corpo. Vejamos uma passagem de Cícero, por ela citada:

É preciso conhecer as diferentes maneiras de comandar e obedecer. Com efeito, assim como se diz que a alma comanda o corpo, também se diz que ela comanda o apetite nascido dos órgãos dos sentidos; porém, com respeito ao corpo ela é como um rei com respeito aos seus concidadãos ou um pai com relação a seus filhos, enquanto, com respeito ao apetite nascido dos sentidos, ela é como um senhor em relação a seus escravos, porque ela o recalca e o quebra. Assim como o poder de comandar que exercem os reis, os chefes, os senadores, os povos sobre os cidadãos e sobre os aliados, assim também é o poder da alma sobre o corpo; porém, assim como os senhores tratam duramente seus escravos, assim também age a razão com relação às partes viciosas e baixas da alma, os apetites, os arroubos de cólera e outras perturbações da alma. 48

Graças a essa concepção que o legado dualista entre mente e corpo estendeu suas raízes aos mais diversos campos do conhecimento. Nas ciências médicas comumente ouvimos falar em “doença somática” e “doença mental”. É como se a mente e corpo fossem duas entidades distintas com agentes etiológicos também distintos.

O que se tem nesse modelo de saúde-doença é a compreensão de que o corpo se apresenta como sendo uma máquina e a doença um “desajuste” nesta máquina. Essa imagem reducionista tem se dissolvido graças aos avanços dos estudos em medicina psicossomática e medicina integral. Para a primeira, há uma ligação entre estados orgânicos e psicológicos, de modo que se é possível haver uma influência de um sobre o outro. Hoje sabemos que muitas doenças chamadas autoimunes seguem esse princípio. Temos, por exemplo, as doenças inflamatórias intestinais idiopáticas, cuja causa é desconhecida. Não obstante a isso, sabemos que muito dos aspectos emocionais, psicológicos e sociais tem grande influência sobre elas. Segundo Castelli e Silva (2007, p.31):

De etiologia desconhecida [a doença de Chron], porém dos possíveis fatores que influenciam na etiologia e exacerbação das doenças inflamatórias intestinais, o infeccioso, o genético, o imunológico e o emocional ou sociopsicossomático têm sido considerados mais importantes. O fator psicológico tem sido sugerido como fator etiológico. [...] muitos indivíduos com doenças inflamatórias intestinais são tidos como dependentes ou perfeccionistas passivos e ansiosos para agradar. Os comportamentos para lidar com essas situações são geralmente inadequados e podem incluir reclusão, negação e repressão.

Não podemos negar que de fato exista uma relação entre fatores psicológicos, emocionais e sintomas orgânicos que de alguma maneira determinam ou potencializam doenças dessa natureza. Porém, é importante lembrar que a ontologia dos afetos de Espinosa não pressupõe nenhuma interação causal entre mente e corpo. Em outras palavras, não é possível que a mente influencie o corpo de modo a modificá-lo. Pelo contrário, somos saudáveis de corpo e mente por inteiro, ou somos doentes de corpo e mente também por inteiro. Isso não pressupõe uma relação de hierarquia entre esses dois modos. Não há quem “comanda” (mente), na palavra de Cícero, e nem quem “obedece” (corpo). É por essa razão que a produção de saúde mental inclui a de saúde corporal ao mesmo tempo.

Para Espinosa, como é possível a conquista da saúde corporal e mental? Antes de respondermos a essa questão é preciso recordar que a causa inadequada, aquela nascida da imaginação, de ideias mutiladas, descomprometidas com a essência das coisas, favorece a diminuição do conatus, gerando assim uma menor potência de ser e agir dos seres singulares. Desse modo, é preciso sair desse estado “patológico”, em que se encontra a mente-corpo.

Anteriormente havíamos dito que é próprio da vida imaginativa enganar-se. É da natureza dos homens, e não por razões de vícios, como pensava a tradição filosófica, enganar-se. O engano é o resultado natural da condição e que se encontra nosso corpo e nossa mente, fazendo assim com que nossa força de ser e agir também se engane. No entender de Chauí ( 2011, p.92):

Ora, essa vivência é natural e inicialmente imaginativa e imaginária, porque a ideia que temos de nosso corpo não nos vem dele, e sim da imagem que os outros corpos dele possuem e nos enviam como espelho. Ao mesmo tempo, vivência que temos dos ouros corpos também não nos vem diretamente deles, mas de suas imagens formadas por nosso corpo.

Pelo fato de que nosso corpo e nossa mente são sistemas complexos de vivências afetivas, muitas vezes nos enganamos com essas imagens. Buscamos a alegria onde de fato ela não está e procuramos fugir da tristeza onde se encontra a alegria. Com isso, dependendo da situação, pensamos que estamos aumentando nosso conatus, enquanto que o estamos diminuindo. Com efeito, nos assevera Bartuschat (2010, p.83-4):

Guiado pela imaginação, o homem aspira àquilo do qual simplesmente acha que possa servir para sua autoconservação. Amará, então coisas que lhe trazem alegria porque aumentam momentaneamente o seu poder de atuação, e as odiará quando, mais tarde e sob condições, não mais o fizerem. Guiado pela mera imaginação de interconexões que lhe trazem alegria e que afastam dele a tristeza, é seduzido a considerar como causa da situação em que se encontra simplesmente as coisas se lhe oferecem. Mas por que será que desejamos a alegria, mas acercamo-nos da tristeza? O que nos faz tomar caminhos tão frustrantes? Ao que nos parece, nosso corpo reclama por reparação e conservação. É desejo natural em manter-se vivo. Por outro lado, em nossa mente povoam afetos que nunca se apresentam de forma “pura”, mas sempre associados a muitos outros afetos. Por exemplo, quando sentimos alegria ao ter expectativa de alguma coisa futura, vivenciamos o afeto da esperança. Quando nos sentimos tristes na expectativa de algo futuro, temos a vivência do medo.

Existe uma verdadeira rede intrincada de afetos oriundos desses três afetos fundamentais: alegria, tristeza e desejo. É por conta desse jogo afetivo que muitas vezes somos enganados. Vejamos o caso da guerra. Toda guerra é antes tudo um jogo de interesses afetivos, mesmo que esteja em questão problemas territoriais ou políticos que pareçam justificar tal ação. O que faz com que um país declare guerra a outro tem como mola propulsora o medo. O medo de ter suas reservas roubadas ou sua honra humilhada. Enfim, os legisladores podem se acercar dos mais variados argumentos técnicos, mas eles não poderão fugir dos afetos. Para Espinosa, o medo é um afeto que diminui a potência de ser e existir dos seres singulares, pois ele nasce da tristeza.

A lista dos afetos que emergem da tríade dos afetos basilares é imensa. Espinosa enumera algumas delas, mas isso não significa que seja completa e fechada. Por exemplo, existem alguns afetos tristes que se apresentam à mente como ódio, aversão, medo, ciúmes, desespero, remorso, arrependimento, comiseração, autocomiseração, autoabjeção, humildade, inveja, pudor. Há ainda aqueles afetos que nascem dos desejos de tristeza:

frustração, cólera, vingança, crueldade, temor, consternação, pusilanimidade. Dos afetos nascidos dos desejos alegres temos: amor, generosidade, esperança, gratidão, segurança, devoção, estima, misericórdia, benevolência, coragem.

Essa lista seria interminável se considerarmos o jogo dos afetos que envolvem a vida dos seres singulares. É uma trama de afetos que nos permitem passar de um a outro, aumentando ou diminuindo nosso conatus.

Espinosa considera que os afetos tristes e alegres possuem uma localização. Dependendo de onde eles incidem podem ser considerados como bons ou maus, não que sejam “bons” ou “mãos” no sentido de corresponder às “virtudes” e os “vícios”.

Sabemos que estamos em constante interação com outros corpos e que somos afetados por eles. Não obstante a isso, nunca nosso corpo é afetado por inteiro, mas sim parte dele. (CHAUI, 2011).O que Espinosa quer dizer com isso? Que diferentes corpos exteriores são capazes de produzir em nós, dependendo da parte do corpo que nos atinge, diferentes afetos.

Tomemos o exemplo da obsessão. O que é uma obsessão para Espinosa? É uma atitude de quem se esquece do corpo como um todo e se fixa somente em uma parte dele. Essa fixação pode até ser motivada por afetos de alegria ou de tristeza, porém desconsidera o todo. Nesse sentido é que Espinosa afirma que um afeto é bom quando atinge uma parte do corpo e uma parte da mente e é mau quando nos faz esquecer a totalidade mente-corpo que somos.

Pensemos nos casos de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Pessoas acometidas por esse tipo de sofrimento psíquico tendem a fixar sua atenção em apenas uma