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A tríade para o desenvolvimento retórico

Parte I: Fundamentos da Retórica

6.3 A tríade para o desenvolvimento retórico

Considerando SUJEITO, CONTEÚDO e FORMA, poderíamos alinhavar algumas das principais

questões às quais a pedagogia retórica poderia dedicar seus esforços de propor objetos de estudo sistemático para o desenvolvimento integral do orador. Desenvolver a plena potencialidade oral não pode se restringir a ações e atividades ligadas somente à fala. É preciso instrumentalizar o raciocínio e aumentar a sensibilidade.

Embora sejam estudados separadamente, todos os elementos do discurso têm o seu valor e, de algum modo, contribuem para a efetividade da comunicação. Devem atuar em sinergia.

Sinergia ou sinergismo deriva do grego synergía, cooperação, sýn, juntamente com érgon, trabalho. Ocorre quando a somatória de esforços de agentes em prol do mesmo fim atinge um valor superior à soma do valor individual desses agentes se atuassem sem objetivo comum. Em outras palavras, “o todo supera a soma das partes”.

Por exemplo: na química, o efeito combinado de várias substâncias pode ter diversos resultados:

 Podem não interagir entre si e os seus efeitos atuarem separadamente.

 Uma substância aumentar ou potenciar as consequências de outra (sinergismo).  Uma substância atenuar, reduzir ou mesmo neutralizar o efeito de outra

(antagonismo).

Muitas vezes, o efeito de duas substâncias que atuam em conjunto num organismo é superior ao efeito de cada uma individualmente, ou à soma dos seus efeitos individuais. A presença de um segundo químico potencia (aumenta) o efeito do primeiro. Esse fenômeno é denominado de efeito sinergístico ou sinergia, e substâncias químicas são por vezes descritas por exibirem sinergismo. O fenômeno oposto à sinergia se denomina antagonismo.

Na oratória, esse conceito equivale ao de UNIDADE ORATÓRIA. Todos os elementos do

pretendidos. Estudar os aspectos formais ajuda a diminuir a ocorrência de antagonismos entre o que se fala e o que o público entende. Para se alcançar a persuasão, também é fundamental haver sinergia entre os meios de prova oratória, orador (éthos), público (páthos) e mensagem (lógos).

Os estados mentais do orador podem ser percebidos pela observação de seus comportamentos. Os ouvintes não têm a precisão de um polígrafo. Porém, percebem claramente, pelos comportamentos do orador, o que se passa dentro dele. Percebem se ele está nervoso ou tranquilo, se conhece ou não a matéria, se está sentindo prazer ou angústia no ato da enunciação, se aprecia ou teme o público. Se o orador conhecer as sensações que transmite por sua linguagem não verbal, poderá fazer uso consciente de um rico universo de possibilidades expressivas. Terá, pois, como evitar transmitir o que não deseja e como produzir sentidos novos usando recursos além do verbal.

Não quer dizer que, se o orador agir de uma determinada forma, seu estado emocional será sempre o mesmo. A relação entre comportamentos e estados emocionais não é unívoca. Certas atitudes nem sempre significam o mesmo para pessoas diferentes e até para a mesma pessoa. Em determinado momento, alguém pode pender o corpo para um dos lados, por estar inseguro, e para o outro, por querer produzir um significado específico, absolutamente pertinente no contexto do discurso. Sempre se precisa fazer uma análise conjunta dos fatores formais e de conteúdo, já que a unidade oratória se sobrepõe a cada aspecto isoladamente. Cabe considerar que o mesmo comportamento formal pode indicar diferentes estados emocionais.

Há uma influência do SUJEITO na forma como o orador se apresenta. Os sentimentos tendem a transparecer por um ou mais dos aspectos formais. O que se passa interiormente com ele pode ser percebido por seus comportamentos. Assim, se se quer evitar manifestações formais incongruentes com seus pensamentos e emoções, é necessário um trabalho de efetiva mudança interior. Por isso, o bom orador é um bom homem que fala bem.

Todo orador, ao falar, ainda que inconsciente ou involuntariamente, revela sua ideologia, seus sentimentos, sua compreensão sobre si mesmo. Enquanto não for um bom ser humano, estará sujeito a deixar transparecer tal fato por meio de gestos, olhar, voz e demais aspectos formais. O que os aspectos formais indicarem ficará desencontrado do conteúdo. Fará sua apresentação sem a harmonia, precisão e adequação dos grandes oradores.

Por outro lado, quanto mais se compreender e ao mundo, mais conhecer e gostar de si, mais respeitar as pessoas e se interessar verdadeiramente por elas, quanto mais coincidentes

forem suas palavras e suas ações, enfim, quanto melhor for como pessoa, tanto mais eficaz tenderá a ser seu discurso. Os aspectos formais revelarão o bom caráter e as intenções superiores do orador e estarão em harmonia entre si.

Porém, também é verdade que a forma como agimos opera transformações em nossos estados mentais. Por isso, psicólogos, ao receberem pacientes depressivos, normalmente recomendam, entre outras ações, que a pessoa nesse estado procure caminhar com passos largos, olhando para cima, peito estufado, que olhe os interlocutores nos olhos. Pretendem assim fazer com que a postura adotada influencie o estado mental da pessoa. Do mesmo modo, alguém que deseje se desenvolver na arte de falar bem, ainda que não esteja completamente seguro, deve adotar uma postura que transmita segurança; ainda que não esteja convicto, deve usar uma voz que irradie convicção; ainda que não tenha dominado o orgulho, deve evitar empinar o nariz ou abusar do dedo em riste; e assim com vários outros aspectos formais. Agindo dessa forma, a pessoa se condiciona a buscar o aperfeiçoamento e, aos poucos, se educa para ser alguém melhor.

Há, portanto, uma influência do SUJEITO nos aspectos

de FORMA e também a influência

contrária, dos aspectos de FORMA

sobre o SUJEITO. A primeira, mais perene, revela o caráter do orador, suas crenças e valores em relação aos ouvintes, a si mesmo e ao assunto. A segunda, mais momentânea, revela os estados emocionais do orador, seu

entusiasmo, confiança, segurança e tranquilidade em relação aos ouvintes, a si mesmo e ao assunto.

Assim, a questão dos aspectos formais

ultrapassa o simples “falar bonito”. O orador não deve estudar gestos ou qualquer outro aspecto formal simplesmente por diletantismo, para utilizar as técnicas aprendidas, preocupado com a dimensão estética do discurso. Deve se preparar para utilizá-los bem com o propósito de contribuir para a significação do discurso.

Aspectos FORMAIS Conteúdo Sujeito Caráter do orador influenciando seus comportamentos Comportamentos do orador influenciando seu estado emocional

Os mesmos fundamentos utilizados aqui para a oratória permitem embasar discussões pedagógicas sobre a melhor metodologia de alfabetização. É muito comum o embate entre as correntes ligadas ao “método global” e ao “método fônico”. Claramente, o primeiro pode ser associado à direção SUJEITO-FORMA, e o segundo, à direção FORMA-SUJEITO. Resultados positivos em diferentes países, com o uso de ambos os métodos, corroboram a conclusão de ser possível seguir numa ou outra direção de modo proveitoso.

O próprio Aristóteles, ao tratar da Retórica, intui contribuir a forma de se expressar para a clareza, “a virtude suprema da expressão enunciativa”.

Será necessário agora discorrer sobre a expressão. Na verdade, não basta possuir o que é preciso dizer, mas torna-se também forçoso expor o assunto de forma conveniente. [...] O terceiro dos pontos, que detém a maior importância e que ainda não foi tratado, será o dos aspectos respeitantes à pronunciação (hipócrisis). [...] Todavia, uma vez que a matéria concernente à retórica está relacionada com a opinião pública (doxa), devemos prestar atenção à pronunciação, não porque ela em si é justa, mas porque é necessária. [...] Daí que, em qualquer método de ensino, seja necessário que haja algo referente à expressão; pois, no que respeita a demonstrar algo com clareza, há uma certa diferença entre exprimirmo-nos deste ou daquele modo.

(ARISTÓTELES. Retórica, III, 1)

Na fase da aprendizagem das técnicas do falar bem, é preciso desenvolver a CONSCIÊNCIA ORATÓRIA, que é o domínio consciente dos meios de expressão oratórios. Atingindo-a, o orador

alcançará um progresso bem mais rápido na arte de falar bem.

Estudar aspectos formais é ganhar possibilidades expressivas, possibilidades de criar sentidos, de despertar emoções, de convencer, de encantar, influenciar e esclarecer os ouvintes, gerando uma percepção mais aprofundada e clara do que se pretende dizer.

No curso Oratória: Fundamentos e Prática do Falar Bem, tanto no formato presencial quanto no a distância, propomos conteúdos específicos para os estudo dos aspectos formais. Além deles, cabe destacar os itens estudados quanto a conteúdo e sujeito. Os itens estudados podem ser conferidos nas telas a seguir.

Já no Anexo III, apresentamos o roteiro do curso no formato educação a distância para aparência, gesticulação, semblante e voz, de modo a permitir a verificação da dupla atenção a prescrições e princípios.

PARTE IV: ECOS DA RETÓRICA NO ENSINO MODERNO DE