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DO ESTUDO DA TRADUÇÃO E DA FORMAÇÃO SUPERIOR DE TRADUTORES

1. Do Estudo da Tradução

1.2. A Tradução Científica e Técnica

Não se trata, aqui, de expormos o nosso entendimento do termo

tradução científica e técnica, uma vez que essa definição já foi apresentada

no subcapítulo 0.4. Trata-se de fazer uma revisão da bibliografia mais relevante sobre este tipo de tradução 37.

A primeira monografia sobre o tema é, provavelmente, a obra de J. E. Holmstrom, Scientific and Technical Translating and Other Aspects of

the Language Problem. Editada em 1958, a obra respondia a uma resolução

da UNESCO para incentivar e melhorar a qualidade das traduções realizadas pelas organizações internacionais. Reforçando a tripla competência do tradutor científico e técnico – enquanto especialista, ou especializado, na matéria, enquanto conhecedor da língua de chegada e enquanto intérprete de conteúdos (Holmstrom 1958, 27-39) –, Holmstrom introduziu temas que viriam a ser desenvolvidos, com alguma exaustão, durante a segunda metade do século XX (como o da associação deste tipo de tradução aos conhecimentos temáticos e terminológicos) e outros que, apenas no presente século, seriam retomados de forma mais aturada (como a questão dos géneros de documentos científicos e técnicos e a natureza comunicativo-funcional deste tipo de tradução), conforme veremos neste subcapítulo.

De 1968 é a obra de Jean Maillot, que foi traduzida para português na variante do Brasil como A Tradução Científica e Técnica pela mão de Paulo Ronai. Acreditando que a tradução científica e técnica exige um equilíbrio entre «conhecimentos técnicos e conhecimentos

37 Repare-se que, apenas, nos reportaremos à bibliografia que refere, explicitamente, ou seja, no título, a tradução científica e técnica.

linguísticos» e que a especificidade deste tipo de tradução reside na precisão e no rigor (Maillot 1975, xxi-xxii), Maillot destaca as questões terminológicas e a documentação. Desta forma, ele converte o livro em obra de referência e manual didáctico. A sua abordagem é, no entanto, bastante ligada às interpretações linguísticas da tradução.

Em 1977, Isadore Pinchuck publicou Scientific and Technical

Translation, uma obra que radica este tipo de tradução na transferência de informação, a nível mundial. Dedicada aos tradutores, e privilegiando a

tradução do alemão para o inglês, este livro apresenta-se como uma espécie de manual para a resolução dos problemas linguísticos que os tradutores dessa combinação/orientação linguística encontram.

Em 1982, Etienne de la Croix de Lavalette publicou a obra intitulada Guide du traducteur scientifique et technique. Este trabalho ressalta, em nosso entender, pela importância que atribui ao conhecimento da área ou das áreas de especialidade científicas e técnicas e, por conseguinte, à necessidade de o tradutor se documentar no seu domínio, ou nos seus domínios, de trabalho.

De 1993, citaríamos a colectânea de ensaios editada por Sue Ellen Wright e Leland D. Wright, Scientific and Technical Translation. À semelhança de outras obras do género, o volume dispersa-se por temas variados – estilo e registo, aplicações pontuais, didáctica, análise e tipologias textuais e terminologia aplicada à tradução.

Já no século XXI, Carlos Garrido publicou Aspectos teóricos e

prácticos da traduçom científico-técnica (inglês > galego), um manual

teórico e prático, destinado a investigadores e a estudantes universitários. O manual assenta numa visão mais abrangente do que as anteriores acerca das competências dos tradutores – eles devem conhecer as especialidades científicas e técnicas, ter conhecimentos linguísticos e saber fazer investigação documental e terminológica (C. Garrido 2001, 5) –, embora a obra continue a privilegiar uma abordagem linguístico-terminológica da tradução.

Recente é o Manual de traducció cientificotècnica, de Vicent Montalt i Resurrecció (2005). Descrito como uma obra pedagógica e de referência para estudiosos, estudantes e tradutores profissionais –

Aquest llibre s’adreça sobretot a estudiants i professors universitaris de titulacions relacionades amb la traducció, la interpretació, la filologia, les llengües aplicades i la comunicació cientificotècnica. És a dir, és un llibre d’orientació pedagógica que intenta aportar una visió àmplia i integradora del fenomen de la traducció i de l’escriptura per a la comunicació cientificotècnica. Els traductors professionals que no estan familiaritzats amb la traducció de textos cientificotècnics també se’n podran beneficiar, tot i que potser trobaran obvietats en algunes parts del libre. (Montalt i Resurrecció 2005b, 21),

–, este livro apresenta-se como um documento cuja filiação nas interpretações comunicativas da tradução poderá contribuir para uma aprendizagem, uma investigação e uma prática profissional mais reflexivas e mais holísticas. Esta obra constitui, em nosso entender, o contributo mais completo sobre a tradução científica e técnica que foi publicado até ao momento.

Dos documentos publicados em Portugal, haverá que mencionar as actas dos seminários sobre tradução científica e técnica, organizados pela União Latina, em colaboração com outras entidades como a Fundação para a Ciência e Tecnologia. Estes volumes transcrevem as participações de profissionais (tradutores e empregadores), estudiosos e, até, estudantes de tradução portugueses, bem como de estudiosos de renome internacional, que nos dão a conhecer as mais recentes tendências do pensamento em torno da tradução, permitindo-nos estabelecer comparações com a situação portuguesa e delas retirar ideias para futuras linhas de trabalho.

de Silvia Gamero Pérez e Amparo Hurtado Albir, «La traducción técnica y científica», e de Vicent Montalt i Resurrecció, «El género como espacio de socialización del estudiante de traducción científico-técnica», o primeiro sistematizando os objectivos que as autoras consideram serem fundamentais à aprendizagem da tradução científica e técnica (Gamero Pérez e Hurtado Albir 1999), o segundo, também, dedicado ao ensino, no qual o autor defende a importância dos géneros científicos e técnicos como meio de entrosamento dos estudantes nas culturas científicas e técnicas (Montalt i Resurrecció 2005a). Poderíamos mencionar, ainda, a comunicação que María Isabel Tercedor-Sánchez e Francisco Abadía- Molina apresentaram no colóquio internacional comemorativo do 50.º aniversário da revista Meta : Journal des traducteurs, «The Role of Images in the Translation of Technical and Scientific Texts» pela novidade do tema abordado (Tercedor-Sánchez e Abadía-Molina 2006).

Existe, naturalmente, bibliografia sobre vertentes mais restritas de tradução científica e técnica, como a colectânea Traducción e

interpretación en el âmbito biosanitario (1998), de Leandro Félix

Fernández e Emilio Ortega Arjonilla, ou a recente monografia de Jody Byrne, Technical Translation: Usability Strategies for Translating Technical

Documentation (2006). Mas, conforme anunciámos no início deste

subcapítulo, o nosso interesse incide sobre as obras que se debruçam, explicitamente, sobre a tradução científica e técnica.

Em suma, existe bibliografia que aborda, especificamente, a tradução científica e técnica. No entanto, essa bibliografia não é muito abundante e, até ao início deste século, dava prioridade às interpretações de natureza linguístico-terminológica. Desde o início do nosso século, começou a estudar aspectos adicionais como a problemática da tradução dos géneros científicos e técnicos ou a relação entre o texto e a imagem. Passou, também, a considerar este tipo de tradução como um fenómeno específico da comunicação humana.

preocupação, quase, constante com a aprendizagem da tradução e a formação de tradutores nestes domínios de especialidade – sendo este o tema que impulsiona o nosso próximo capítulo.

2. Do Ensino-Aprendizagem e da Formação Superior