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ÍNDICE DE SIGLAS E ABREVIATURAS

0.2. Percurso da Pesquisa

O projecto inicial da tese era a apresentação de uma proposta didáctico-pedagógica para o ensino da tradução especializada en > pt-PT. Uma tal aspiração decorria da nossa experiência docente, a qual incidira sobre os diversos tipos de tradução, à excepção da tradução literária. A intenção era fazer um levantamento das diferentes áreas de especialidade e propor um método pedagógico, baseado na ideia do projecto individual e/ou de grupo, que pudesse ser aplicado à docência da tradução especializada, em geral.

A necessidade de fazer um enquadramento teórico da tese no âmbito da disciplina, bem como a consciência que fomos adquirindo sobre a especificidade de cada tipo de tradução e as suas implicações para o ensino, mostraram que o propósito inicial era demasiado ambicioso.

A percepção de que a tradução científica e técnica era – e continuará a ser – uma das grandes fontes de trabalho dos tradutores (cf. cap.o 6.1.1) e de que, paradoxalmente, este é o tipo de tradução que menos atenção tem recebido por parte das instituições de ensino superior portuguesas (cf. cap.o 4) persuadiu a autora da importância de circunscrever a tese à TCT.

Paralelamente, o acesso a documentos emitidos no âmbito do processo de Bolonha, que reforçam a importância do conhecimento da realidade laboral no ensino-aprendizagem de nível superior (cf. cap.o 2.1), e a constatação de que a auscultação detalhada dessa situação, ainda, não havia sido feita em relação aos tradutores que produzem documentação de natureza científica e técnica em português, a partir do inglês (a língua dominante destas áreas e subáreas do saber e de actividade profissional 2)

2 Kirk St. Amant considera o inglês como a nova língua franca das publicações científicas e técnicas, condição que se deve, segundo o autor, à

(cf. cap.o 3), levaram-nos a redefinir o objecto da tese. O novo eixo de interesse passou a ser, em primeiro lugar, os elementos obtidos por um tal levantamento e a apreciação da situação da formação de tradutores, ao nível do primeiro ciclo de estudos superiores, em Portugal, mais especificamente, a formação que reflecte a adequação aos novos critérios europeus. Em segundo lugar, foi a sugestão de alguns elementos para o ensino-aprendizagem da TCT en > pt-PT.

Todavia, novas consciencializações foram-se desenvolvendo, que reformularam, novamente, o objecto da tese. A intuição de que a tradução é um fenómeno que se materializa na produção de materiais escritos – que são os únicos que importam do ponto de vista de quem os utiliza – orientou a nossa atenção para a tradução enquanto produção escrita, ou seja, enquanto redacção. A nossa investigação integrou, então, o estudo da redacção científica e técnica e dos seus géneros de documentos. Em breve, porém, compreendemos que a redacção científica e técnica é uma parte integrante do universo da CCT, que passámos, então, a estudar, detectando diferenças e analogias significativas em relação à tradução. Reparámos que a CCT lida com documentos, informação e conteúdos – não com texto(s), como a tradução faz. Reparámos que os termos documento, informação e conteúdos reforçam um olhar multidimensional – não apenas textual e escrito – e situado – integrado nos contextos de partida e de chegada – sobre os objectos de trabalho. Reparámos, também, que a TCT é uma forma de comunicação profissional internacional (CPI) – tal como a CCT o é. (cf. cap.o 5).

proveniência americana das novas tecnologias da comunicação e da informação (TIC) (St. Amant 1999). Em relação ao nosso país, o projecto REFLECT: Review of Foreign Language and Cultural Training Needs relata que: «No que respeita às línguas estrangeiras, o Inglês é o mais utilizado em Portugal, (assinalado por 36%), logo seguido do Francês (14%) (…). O Inglês revelou-se a língua mais utilizada pelas empresas exportadoras portuguesas que responderam ao inquérito num total de 90% da amostra.» (REFLECT Project 2002, 4, 8).

Apercebemo-nos, nessa altura, de que a tese seria truncada e irrealista se nos fixássemos, apenas, no universo da tradução. Alargámos, por isso, a nossa investigação à comunicação e à avaliação das necessidades sociais e dos perfis académico e profissional que sustentam a criação de cursos no espaço europeu (cf. cap.os 6.1 e 6.2). O estudo que fomos desenvolvendo cimentou a opção de formar profissionais pluricompetentes (cf. cap.o 6.3), capazes de produzirem documentação ligada às actividades científicas e técnicas em português (e) a partir do inglês.

A extensão e organicidade, bem como a novidade de alguns aspectos deste trabalho de investigação, legitimaram uma nova delimitação do objecto da tese. Fixámos a nossa atenção na apresentação de uma proposta curricular que prosseguisse o objectivo de formar tradutores dotados de competências múltiplas nos campos da TCT e da CCT. Mas havia que fixar, ainda, os focos primordiais desta proposta. O acompanhamento das etapas que o projecto Tuning aconselha para a concepção dos planos de estudo no espaço europeu, designadamente, o estudo das necessidades sociais, dos perfis académico e profissional e das competências a desenvolver pelos estudantes, quando ligado às conclusões a que havíamos chegado anteriormente, destacou os seguintes três temas: a indicação das disciplinas do curso e da sequência das mesmas; a articulação entre os géneros de documentos e as áreas e subáreas do saber e de actividade científicos e técnicos; e a descrição das competências e dos resultados de aprendizagem das unidades curriculares 3 de prática da tradução de documentação científica e técnica en > pt-PT (cf. cap.o 6.4).

Entre meados de 2002 e meados de 2006, efectuámos a leitura e revisão das referências teóricas e elaborámos versões iniciais dos actuais capítulos 1 a 3.

Desde cedo, fomos recolhendo elementos acerca dos cursos de formação inicial em Tradução e daqueles que contemplam disciplinas de tradução ou que contêm outro tipo de referências à tradução, em Portugal, tendo preparado artigos e comunicações relacionados com o tema. No entanto, a percepção de que o ano lectivo de 2006-2007 era um ano de transição na adaptação dos cursos aos critérios de Bolonha e que uma tal circunstância gerava uma situação invulgar – pois tanto era possível encontrar planos adaptados à nova realidade, como alguns, ainda, moldados às anteriores concepções formativas –, ajudou a eleger o ano de 2006-2007 como o ano de referência para a análise dos cursos superiores de primeiro ciclo.

Em Outubro de 2005, o inquérito, entretanto desenvolvido e que visava recolher dados que permitissem traçar um perfil dos FSTct en > pt- PT e do seu mercado de trabalho, foi colocado em linha e respondido. O mês de Novembro foi dedicado a uma primeira e parcial interpretação das respostas e à publicação de um artigo no qual se analisavam alguns dos resultados.

Entre 2006 e 2007, redigimos as versões finais dos capítulos escritos anteriormente, adaptando-os aos resultados das pesquisas e ao objectivo da tese, redigimos os restantes capítulos, revimos a bibliografia, preparámos os apêndices e anexos e preparámos a nota biográfica.