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Fornecedores de Serviços de Tradução

3.3. Resultados e análise do inquérito

3.3.2. Análise e apreciação dos resultados do inquérito

3.3.2.1. Perfil dos Fornecedores de Serviços de Tradução

3.3.2.1.1. Perfil formativo

O perfil formativo dos inquiridos decorre da análise e apreciação das respostas dos participantes acerca da sua formação académica e das acções de formação contínua que frequentaram.

3.3.2.1.1.1.

Formação académica

No que se refere aos graus académicos, quase todos os participantes (92 por cento do total de inquiridos) concluíram um curso de formação inicial (pergunta 5). Sobre a formação pós-graduada subsequente, 12 por cento são mestres (pergunta 11) e 3 por cento são doutores (pergunta 14).

Relativamente à formação pós-graduada não conferidora de grau, 39 por cento dos respondentes realizaram cursos de pós-graduação. O

quadro do Volume II - Apêndice E mostra que, embora alguns destes participantes tenham englobado os mestrados e doutoramentos nos cursos de pós-graduação, um número significativo de respondentes frequentou, apenas, cursos de pós-graduação não conferidores de grau.

A quantidade de FST que concluíram um curso de formação inicial afigura-se como um dado positivo. Mas os resultados anunciam, igualmente, que, se ter realizado um curso de primeiro ciclo é algo de banal – provavelmente, por via da democratização do ensino superior (Jarvis, Holford e Griffin 1998, 5) ou pelo facto de a tradução ser uma ocupação baseada no conhecimento –, o mesmo não acontece com a formação subsequente conferidora de grau. O número de FST com mestrado e/ou doutoramento é bastante baixo. Como principais causas desta situação alvitramos duas:

 a relativa novidade e escassez da formação subsequente em Tradução, sobretudo ao nível do doutoramento, no nosso país; e

 uma fraca apetência dos FST por programas teóricos e/ou orientados para a tradução literário-humanística, que se afastam bastante dos interesses e preocupações da prática

profissional (a margem de participantes que terá frequentado

cursos de pós-graduação não conferidores de grau, que, por norma, são mais práticos, parece confirmar esta ideia). Qualquer que seja a origem desta situação, os resultados do inquérito poderão servir de indicador acerca das necessidades e orientações formativas ao nível dos segundo e terceiro ciclos do ensino superior.

Como principal área científica de graduação, a Figura 3 mostra que os participantes assinalaram a Tradução (53 por cento). Um número significativo de respondentes indicou as línguas e Linguística (42 por

cento). Quase um quinto dos participantes (19 por cento) referiu a formação em áreas das ciências e tecnologias 76.

Figura 3. Repartição, por área científica, da formação superior de primeiro ciclo (pergunta 6)

Relativamente à formação pós-graduada conferidora de grau, os respondentes indicaram 8 mestrados em Tradução e 16 mestrados noutras áreas. Destes, 5 situam-se no âmbito das ciências e tecnologias e 6 no das Humanidades (pergunta 12). 4 respondentes são doutorados, embora nenhum o seja em Tradução. 3 doutoramentos foram realizados em áreas das ciências e tecnologias (pergunta 15).

Estes resultados apelaram a um entendimento do percurso académico dos participantes que frequentaram cursos de pós-graduação, mestrado e doutoramento. Assim, fizemos um levantamento das respostas às perguntas 5 a 16 dos formulários válidos e classificámos os resultados por nível e por área de formação (cf. Volume II - Apêndice E). A partir desses dados,

76 O total de percentagens gera um valor superior a 100 por cento. Isto deve-se ao facto de alguns participantes terem seleccionado mais do que uma área científica.

Tradução 82 Línguas; Linguística 64 C. Tecnológicas 11 C. Médicas 6 C. Vida 5 Astronomia e Astrofísica 2 Química 2 C. Agrárias 1 C. Terra e Espaço 1 Matemáticas 1 Outra(s) área(s) 27

elaborámos a Tabela 3, em baixo, na qual se descrevem e contabilizam os percursos formativos dos participantes.

Tabela 3. Percurso formativo dos participantes

Esta tabela revela que grande parte da formação subsequente (um total de 62 percursos) em Tradução (22 percursos) foi realizada por FST com formação inicial em Tradução e/ou em línguas e Linguística. A maior parte dos participantes com formação inicial em ciências e tecnologias manteve a sua opção inicial (9 participantes). Dos outros 5, 1 realizou estudos subsequentes, apenas, em Tradução e 1 fê-lo em ciências e tecnologias e em Tradução. Dos 2 inquiridos cuja formação inicial envolvera, também, a Tradução, 1 continuou a sua formação mista e o outro enveredou, apenas, pelas ciências e tecnologias. 1 inquirido seguiu para uma área de estudo diferente. Nenhum participante transitou de uma

formação inicial em Tradução para uma formação subsequente em ciências e tecnologias.

Os dados relativos às áreas científicas de estudo mostram que a TCT é assegurada por uma percentagem significativa de FST com formação em áreas das ciências e das tecnologias. A reduzida percentagem de inquiridos que são tradutores especialistas – inquiridos cujo percurso académico envolveu, consistentemente, as duas áreas (1 participante) – poderá encontrar explicações como as que propomos a seguir:

 uma fraca consciência do lugar que a tradução ocupa nas actividades profissionais relacionadas com as ciências e as tecnologias;

 uma incipiente percepção da importância que a tradução para a própria língua tem na formação de quadros científicos e técnicos e no desenvolvimento dos países (Luiz 2003, 546- 547);

 o predomínio que a língua inglesa tem, actualmente, como língua do trabalho científico e técnico (cf. n. 2) e como língua de publicação, fomentando o abandono da tradução para o português (Luiz 2003, 552);

 um menor à-vontade que os cientistas, engenheiros e técnicos têm em relação às Letras (Luiz 2003, 550); e

 a difusão da ideia de que a Tradução apenas diz respeito às línguas, fomento a percepção de que o papel dos cientistas, engenheiros e técnicos é, apenas, consultivo.

Uma das razões para esta situação poderá ser a deficiente actividade de divulgação da tradução como uma transdisciplina inter, multi e transdisciplinar entre os especialistas das ciências e tecnologias (Teixeira 2005, 93-94).

Um dado que poderá, à primeira vista, parecer estranho na Tabela 3 é a inexistência de inquiridos que tenham feito o percurso inverso – das línguas e Linguística para as ciências e tecnologias. Esta situação

poderá dever-se a motivos como os seguintes:

 a rejeição que os estudantes de Humanidades têm pelas disciplinas que sustentam estas áreas do saber, como a Matemática, a Física ou a Biologia; ou

 o hermetismo de que os discursos e a prática científica e técnica se revestem, para quem os observa e procura assimilar a partir de fora 77.

Em suma, os resultados indicam que a TCT é, na sua maior parte, realizada por FST com formação em Tradução e, em número superior a estes, em línguas e Linguística e outros domínios das Ciências Sociais e Humanas. A quantidade de FST que desempenha a actividade de tradução científico e técnico sem ter formação em Tradução especializada e/ou em áreas e subáreas das ciências e tecnologias terá causas várias, para além das que apontámos acima. Estas poderão ser:

 o decréscimo de saídas profissionais no ensino para os licenciados em línguas e Linguística (Grupo de Leitores de Alemão nas Universidades Portuguesas (GLAUP) 2005, 94), que encontram na tradução uma saída profissional de recurso; ou

a persistência da ideia de que as línguas são sinónimas de

tradução, constituindo uma base suficiente para o exercício

da actividade de tradução.

Por outras palavras, as respostas dos participantes revelam que uma margem elevada de respondentes não concebe a TCT como uma transdisciplina independente e inter, multi e transdisciplinar. As respostas acusam, ainda, um fraco conhecimento da especificidade da actividade de

77 Sobre a densidade e o rigor que caracterizam a TCT e que impedem o acesso fácil a quem chega à tradução por via de uma formação em Tradução não especializada ou em línguas e Linguística, cf., por ex., Hartnack 2006, 24-26, 30.

tradução, que obriga a uma formação própria. No que diz respeito à formação subsequente, o reduzido número de inquiridos que detêm o grau de mestre e de doutor, sobretudo em Tradução, desvenda (e promove) um afastamento entre o mundo académico e o mundo profissional. Para além do anacronismo desta situação (cf. as directrizes europeias citadas na p. 53), esta situação impede o avanço do ensino-aprendizagem e da investigação em TCT, no nosso país e para a língua portuguesa.

Quanto ao local de formação, a maior parte dos licenciados (127 versus 29 respostas) e mestres (12 versus 8) formou-se em Portugal (perguntas 7 e 13). Um doutoramento foi realizado em Portugal (pergunta 16). Neste conjunto de respostas, os «Outro(s) país(es)» assinalados são quase todos países europeus. Os EUA e a Rússia são, também, mencionados.

Estes resultados poderão ser interpretados como evidência:

 de que a formação subsequente no estrangeiro é mais valorizada do que a formação que se realiza em Portugal 78; ou, apenas,

 do local de residência dos participantes.

Vejamos, a seguir, o que dizem as respostas ao inquérito acerca da formação profissional dos participantes.