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A TRANSIÇÃO PARA A ANTIGÜIDADE

No documento O Roubo da História - Jack Goody (páginas 57-86)

A INVENÇÃO DA ANTIGÜIDADE

A TRANSIÇÃO PARA A ANTIGÜIDADE

Vamos voltar ao problema geral que Finley, importante intérprete das realizações gregas, apresenta a respeito da emergência da Antigüidade. Como já vimos, ele percebeu uma seqüência sem paralelo tendo lugar na Europa; o mundo da Grécia clássica emerge da Idade do Bronze (comum) para o período arcaico e daí para

o da Grécia clássica. O arcaico extinguiu os complexos palacianos de períodos anteriores, espalhados no Oriente Médio antigo, e desenvolveu sistemas políticos bem diferentes, notadamente em Atenas e Esparta, que introduziram a democracia e se tornaram mais individualistas no comércio. A idéia de que a Mesopotâmia se constituía de regimes templo-palácio altamente centralizados tem sido rejeitada como decorrente de registros escritos. Os arqueólogos "têm estado inclinados, talvez, a superestimar o grau de centralização do poder" dos Estados. Na verdade, houve mais heterogeneidade do que esse modelo sugere, assim como tendências centrífugas e também centrípetas que se manifestaram de diversas formas. Por exemplo, "nas cidades propriamente ditas", o Estado deve ter controlado a produção de bens de prestígio, mas não conseguiu o monopólio da manufatura especializada dos bens básicos, tais como a cerâmica.

A sociedade arcaica "criou livremente". "A estrutura política, formada por magistrados, conselheiros e assembléias populares, era uma criação livre". Imitaram bastante o Oriente Médio, mas o que adotaram:

[...] absorveram prontamente e converteram em algo original [...]. Copiaram o alfabeto Fenício, mas não houve Homeros fenícios. As estátuas livres e em pé chegaram a eles provavelmente do Egito. No entanto, foram os gregos, e não os egípcios,

que desenvolveram esse estilo [...] no processo, eles não só inventaram o nu como forma de arte, mas, em um sentido muito importante, "inventaram" a arte propriamente dita [...]. A auto- confiança e a auto-estima humanas que permitiram e encorajaram esses procedimentos, na política, na arte e na filosofia encontravam-se na raiz do miracle grec [milagre grego].

Eles criaram um elemento original também na poesia, assim como na crítica social e política, produzindo um "individualismo" novo e "a emergência de uma moral rudimentar, assim como de conceitos políticos". Na Jônia, "expuseram problemas e propuseram respostas "impessoais" racionais e gerais, desprezando mitos em favor do

logos ou razão, estimulando o debate 'racional'". São reivindicações muito fortes, mas não incomuns. No entanto, muitas delas requerem qualificação. As "criações" políticas nós as encontramos em outros lugares. Enquanto a Fenícia não tinha Homero, os semitas tinham sua Bíblia. E quanto à "autoconfiança" e "auto-estima", como comparar?

A idéia de que os gregos "criaram a arte" (mesmo se procedente "em certo sentido") parece uma apropriação como quando Landes, historiador da economia, atribui a "invenção da invenção" aos

europeus posteriores. Igualmente, as

reivindicações de terem introduzido o elemento pessoal na poesia e na crítica social, um novo individualismo, conceitos morais e políticos, e

racionalidade parecem exageradas e etnocêntricas, pressupondo a superioridade da tradição européia sobre as outras. A escultura grega pode ser considerada um caso especial. Ela distingue a Antigüidade, porque não há nada como ela em outras culturas. No entanto, outras tradições têm seus próprios grandes feitos como as pinturas nos túmulos egípcios, em que deuses são retratados não de forma realista e antropomorfizada como na Grécia, mas de uma maneira mais fantasmagórica e "imaginativa". E há produtos magníficos na escultura assíria. A Grécia antiga foi precedida pelas culturas cíclade, micênica e arquemênida, sem falar da dos hititas e da do antigo Oriente Médio, e, claramente, tem uma dívida para com todas essas tradições artísticas substanciais.

O que é marcante na questão da herança européia da Grécia no que concerne à arte não é tanto esta ter mostrado um caminho, mas toda a tradição artística ter sido decisivamente rejeitada, não somente pelo cristianismo em seu início, mas, até há pouco, pelas três maiores religiões do Oriente Médio. Apesar da teoria de Burkhardt do casamento espiritual entre Grécia e Alemanha, por bem mais de mil anos, a Antigüidade, pelo menos em suas formas de arte, foi virtualmente descartada como feito da tradição Européia. Não houve um movimento progressivo. O humanismo e a Renascença tiveram de reinventar o passado; em vários sentidos o islamismo, até o século XIX, e o judaísmo eram tradições não icônicas, assim como

o cristianismo primitivo e o protestantismo. A representação teve de ser recuperada, na esfera secular.

Vamos examinar mais detidamente a contribuição da Grécia. O mundo clássico que emergiu, certamente obteve algum avanço com respeito a outras civilizações, não somente em termos militares e tecnológicos, mas também nos modos de comunicação - o que eu chamei de tecnologia do intelecto, referindo-me ao desenvolvimento de uma escrita alfabética simplificada. Num artigo intitulado "The consequences of literacy", Watt e eu sugerimos que a invenção do alfabeto abriu o caminho para um novo mundo de atividade intelectual que havia sido obstruído por formas de escrita anteriores (que foi, claro, uma das maiores invenções da Idade do Bronze). Esse é um ponto de vista que eu venho questionando de diversas formas, mas não abandono. A adoção do alfabeto pelos gregos está ligada cronologicamente à extraordinária explosão da escrita que cobriu inúmeras esferas diferentes do mundo clássico e forneceu a base do que sabemos dessa época. Se há alguma substância nas afirmações de Finley sobre o individualismo, sobre os novos estilos poéticos, sobre o "debate racional", sobre uma maior autoconsciência, sobre a crítica do mito, isso pode ser ligado a uma maior reflexão que a capacidade de ler e escrever permite. O pensamento se aprofunda, se esclarece e se organiza melhor quando nossas palavras nos são reapresentadas na página. O pensamento do outro

também pode ser mais bem examinado quando apresentado em "linguagem visível". E a questão não foi só a introdução do novo alfabeto, mas o fato de que a escrita estava sendo introduzida em uma cultura que havia abandonado a capacidade de ler e escrever e estava ansiosa para se atualizar. E atualizou- se não somente adotando um novo alfabeto e diferentes materiais (não mais os tabletes de barro), mas expandindo a escrita para muitos campos artísticos e intelectuais, fazendo um uso mais abrangente da capacidade de ler e escrever.

Houve alguns outros caminhos também nos quais as civilizações clássicas da Antigüidade alcançaram certa vantagem comparativa em áreas específicas, sobretudo em aspectos da tecnologia de construção, que produziu os grandes monumentos, ainda hoje adornando a paisagem da Europa e da Ásia Menor. Cidades magníficas foram construídas na Grécia, na Europa, na Ásia e, mais tarde, em Roma. Esse processo continuou mesmo depois do período clássico. No período helenístico, "grandes cidades gregas se espalharam [...] produzindo a mais densamente urbanizada região do mundo antigo". "A proliferação das cidades gregas no leste foi acompanhada por um aprimoramento do comércio internacional e da propriedade comunal". Tecnologia e vida urbana são áreas da atividade humana em que se pode traçar avanços específicos por um longo período de um modo que é difícil de fazer com outros aspectos da vida humana. Em outras esferas é muito mais difícil

sustentar teorias sobre o processo civilizador. "Outras culturas" foram igualmente "civilizadas" em um sentido bem geral. Entretanto, no que concerne à tecnologia, os gregos não foram os únicos construtores de cidades, mesmo que suas ruínas tenham impressionado tanto os habitantes posteriores da região. Eles se beneficiaram, como o restante do Oriente Médio, do uso de um metal barato, o ferro, o que facilitou muito a construção. A expansão do ferro fundido por volta de 1.200 a.e.c. tornou as ferramentas de metal muito mais baratas e, ao mesmo tempo, reduziu a dependência dos pequenos produtores das importações feitas pelo Estado e por famílias poderosas. O ferro estava disponível quase que em todo lugar, participando de um aspecto do processo democrático, e não apenas na Grécia.

A suposta singularidade da Antigüidade européia, para Finley, é intrínseca ao subseqüente desenvolvimento do capitalismo, ao passo que, para outros, a singularidade é do feudalismo. Antigüidade e feudalismo tinham que ser singulares, pois o desenvolvimento posterior da Europa era único. De acordo com Finley, "a experiência da Baixa Idade Média européia em tecnologia, em economia e nos sistemas de valor que as acompanharam foi única na história humana, só alcançada recentemente com a era do grande comércio internacional". Essa abordagem teleológica é compartilhada e justificada por outros historiadores da Antigüidade. Recentemente, um especialista reconheceu problemas teleológicos:

A razão de Grécia e Roma antigas possuírem um status

especial no pensamento europeu é que facilmente podemos nos reconhecer nos escritos políticos de Aristóteles e na prática democrática ateniense. De forma recorrente, examinando a história de nossa própria sociedade para entender suas formas atuais, acabamos analisando mitos sobre a Grécia antiga e, por intermédio deles, a história da Grécia antiga.

No entanto, esse status especial no pensamento

europeu ao qual ele se refere não indica necessariamente singularidade ou origens primordiais. Ele meramente mostra mitos de eruditos pós-renascentistas. Isso não impede o autor de fazer firmes declarações sobre a contribuição da Grécia e do Ocidente para a história mundial, particularmente na arte.

Não é inteiramente um mito europeu localizarmos no mundo clássico grego a origem de muitas características fundamentais de nossa herança ocidental. Modos de pensamento e expressão integrais têm sua raiz e origem na Grécia entre 500 e 300 a.e.c.: o pensamento político abstrato consciente, a filosofia moral; a retórica como disciplina; tragédia, comédia, paródia e história; a arte naturalista ocidental e o nu feminino; democracia como teoria e prática.

A última sentença é uma declaração muito forte, mesmo se limitada ao Ocidente, entretanto, o autor parece sugerir que o mundo deve certos modos de pensamento à Grécia Antiga, que ela foi "a fonte". Isso parece uma afirmação ainda mais enfática e menos aceitável.

De qualquer modo, muitos desses aspectos estavam presentes de forma embrionária entre os gregos do período pré-clássico. E foram encontrados em outras sociedades também. Falar de filosofia moral como própria da Grécia, por exemplo, é negligenciar os escritos de filósofos chineses, como Mencius. Mais grave talvez é esquecer as tradições orais com seus embriões de filosofia e moral, como nas declamações LoDagaa. E certo aceitar que o estudo de retórica e de história sejam próprios de sociedades letradas e que a base seja o uso da escrita, isso se aplica também ao "pensamento abstrato político consciente" e outros itens que Osborne lista. Mas é um erro supor que um entendimento dos poderes do discurso formal e de política, por exemplo, precisou ser inventado pelos gregos. Eles devem ter tratado esses aspectos com "mais auto- consciência" porque o letramento encoraja reflexão, mas isso não indica uma lacuna anterior. Com relação ao historiador clássico Osborne, apresenta-se um problema decorrente de sua insistência em uma abordagem "teleológica" que busca no mundo antigo provas das "condições de nossa emergência como uma sociedade civilizada" . Ele sugere que "Em certo sentido, de

fato, a Grécia clássica criou o mundo moderno". Da mesma forma, pode-se dizer que o mundo moderno "criou a Grécia". Os dois se mesclam. O que foi bom na cultura européia teve suas raízes na Grécia; foi parte de nossa identidade. Burkhardt inclusive escreveu sobre um "casamento místico" entre Grécia e seu próprio país, a Alemanha; a tese é que os antigos teriam de ter as coisas boas que marcaram os modernos. Essas considerações levantam certo ceticismo no leitor crítico.

A ECONOMIA

Muito da singularidade da Antigüidade, supostamente o que deveria colocá-la em um curso independente, estava associada aos avanços no letramento. Isso tornou os gregos muito explícitos quanto à importância dos próprios feitos e objetivos. Uma vantagem lhes foi atribuída nas áreas da política e da arte. No entanto, num campo os gregos foram vistos sem grandes perspectivas: a economia.

O influente historiador da Antigüidade Moses Finley apontou com firmeza as diferenças fundamentais entre a "economia antiga" e a das sociedades da Idade do Bronze. Seu argumento deve muito ao

trabalho de Karl Polanyi, mas retorna também à

controvérsia do século XIX centrada em dois eruditos,

Karl Bücher e Edward Meyer, que envolveu também Marx e Weber. Bücher viu a economia européia se desenvolvendo em três estágios: o

caracterizado pela especialização profissional e o comércio; e o territorial ou da economia nacional,

fases que correspondem à Antigüidade, à Idade

Média e à Idade Moderna. Meyer, por outro lado,

chamou a atenção para a dimensão mercantil da economia antiga, isto é, para seus aspectos "modernos". Essa segunda abordagem foi consistente com a leitura de Weber (mais tarde

modificada e aproximada à de Marx) de que a

sociedade romana já era marcada pelo capitalismo, pelo menos pelo "capitalismo político". Para alguns autores, um problema geral dessa tendência é o de que, segundo Garlan, teorias modernizantes "freqüentemente levaram a uma apologia do sistema de exploração capitalista", pela insistência na existência de mercados na Antigüidade. Finley, por sua vez, recusa ligações tanto com o Oriente Médio antigo como com o capitalismo.

Os gregos não "inventaram" a economia como é dito que fizeram com a democracia e o alfabeto. De fato, eles não tinham, na visão de Finley, nenhuma economia de mercado, no entanto, desenvolveram uma forma diferente daquela da Idade do Bronze que, mais tarde, configurou o caráter singular da Europa. Nessa perspectiva, o mercado apareceu somente com o capitalismo e a burguesia. Entretanto, enquanto as inclinações marxistas impediram Finley de enxergar aspectos capitalistas na economia antiga, também o obrigaram a distingui-la da de seus vizinhos e tratar essa mesma economia antiga como estágio

preparatório para as fases subseqüentes da história européia.

Enfocando seu desenvolvimento capitalista, Finley interpreta "a civilização européia como tendo uma história singular, o que legitima seu tratamento como objeto distinto". Desse modo, "história e pré- história devem se manter como objetos de investigação distintos". Isso significa desconsiderar "as importantes civilizações de berço do Oriente Médio antigo", comumente vistas como pré- históricas, enquanto a Grécia era histórica. E isso apesar de essa distinção ter pouco fundamento racional em termos tanto de modos de comunicação como de modos de produção. Uma utilização bem maior foi feita da escrita (alfabética) na comunicação e expressão das sociedades clássicas e, possivelmente, um uso maior de escravos na produção, mas, em nenhuma dessas esferas, a Grécia foi singular. De acordo com Finley, isso não é razão para a inclusão na rede de sociedades do Oriente Médio para enfatizar os empréstimos e as ligações econômicas ou culturais entre o mundo greco-romano e o Oriente Médio. Voltando-se para outras culturas, ele afirma que o aparecimento da porcelana azul em Wedgwood não justifica a inclusão da China como parte integrante da Revolução Industrial.

Ao contrário, enfatizar essas conexões raramente é equivocado. Eu diria que a imitação das técnicas de fazer porcelana em Delft (Holanda) e no País Negro (Inglaterra), assim como o algodão indiano, deveriam ser considerados centrais no estudo da

Revolução Industrial, porque foram esses processos, transferidos do Oriente, que formaram a base das transformações que ocorreram no Ocidente. Considerando a separação entre história e pré-história, não vejo razão para dicotomia tão radical em evidências do passado, especialmente se isso significar negligenciar questões importantes na transição das culturas da Idade do Bronze. Entretanto, Finley também tenta distinguir a economia antiga em termos mais concretos quando escreve:

As economias do Oriente Médio eram dominadas por grandes complexos palacianos - ou templos - que possuíam grande parte das terras cultiváveis, e monopolizavam tudo o que pode ser chamado "produção industrial", bem como o comércio estrangeiro (que inclui comércio interurbano, não somente comércio com o estrangeiro). Esses complexos organizaram a vida econômica, militar, política, e religiosa da sociedade por meio de uma complicada operação burocrática de registro de informações, para a qual o termo "racionamento", tomado de forma ampla, é o melhor que consigo conceber. Nada disso é relevante para o mundo greco-romano até as conquistas de Alexandre, o Grande e, mais tarde, a incorporação pelos romanos de grandes territórios do Oriente Médio.

Como resultado, ele acrescenta, "não há um único tópico que eu possa discutir sem lançar mão de coisas desconexas". O Oriente Médio tem, portanto, que ser excluído. O mundo greco-romano

foi essencialmente da ordem de "propriedade particular", enquanto o Oriente Médio se aproxima da noção de despotismo asiático, se nos "concentramos nos tipos dominantes, nos modos característicos de comportamento". O Mediterrâneo era uma área de agricultura de chuva (vista como uma importante vantagem para a Europa por outros escritores eurocêntricôs como Mann), especializada no cultivo de oliveiras, enquanto os vales de rios do Egito e da Mesopotâmia necessitavam de uma complexa organização social para fazer o sistema de irrigação funcionar. No entanto, como Finley admite, os gregos sob Alexandre (a partir 323 a.e.c.) e, mais tarde, os romanos controlaram exatamente essas áreas irrigadas e, no norte do Mediterrâneo, especializaram-se bastante no controle da água e não somente para cultivo. De qualquer modo, a água era somente um elemento nessa dicotomia. As noções de despotismo asiático e posse coletiva seguem as idéias do século XIX sobre o Oriente, cuja crítica apresentaremos no capítulo "Sociedades e déspotas asiáticos: na Turquia ou noutro lugar?" e na seção sobre política mais à frente. Da mesma forma que a idéia de domínio pensada como relacionada ao controle da água. Se foi verdade que os vales de rio com seus solos férteis produziram safras excepcionais e tornaram-se de importância central, também é verdade que a Mesopotâmia possuía muita agricultura de chuva, e a produção de azeitonas foi especialmente importante no norte da África, perto

de Cartago, por exemplo. Os complexos de templos mencionados por Finley não estavam presentes por todo lugar no Oriente Médio antigo e, por outro lado, apareciam também na sociedade clássica. Finley lembra "o grande complexo de templos em Delos" com seus registros financeiros detalhados. Nenhuma das economias na região correspondeu a um tipo puro, e houve muitas semelhanças entre as práticas econômicas das diferentes sociedades - o suficiente para duvidar de qualquer relato que só se refira à singularidade grega.

No entanto, na visão de Finley, e seu trabalho tem muitos seguidores hoje em dia, a emergência da Antigüidade tem que ser vista em termos de um processo histórico específico que aconteceu somente na Grécia. O colapso da civilização da Idade do Bronze (que não foi uma ocorrência singular) foi seguido pela Idade das Trevas com seus poemas homéricos (que alguns vêem como micênicos), a emergência da Grécia arcaica com suas novas instituições políticas e, finalmente, o advento do mundo clássico.

De qualquer modo, não somente a natureza da economia, mas sua existência como instituição foi questionada. Em recente revisão da discussão geral, Cartledge segue Finley (e Hasbroek também) vendo a polis como "única na história" (o que não é único na história?) e afirmando que "'a economia não existia de fato e, portanto, não poderia ser conceitualizada como sendo uma esfera quase autônoma e diferenciada da atividade social na Grécia arcaica e clássica" que "pertence a uma

classe de formações econômicas pré-capitalistas na qual a distribuição e a troca de mercadorias tomam formas bem diferentes daquelas do mundo moderno, sendo, portanto, pré-econômica, principalmente por que não existe um sistema de mercados interconectados e regulador de preços". Essa qualidade pré- econômica é uma diferença mais ampla, mais abstrata, que não distingue a Antigüidade das sociedades da Idade do Bronze. Aqui a inspiração é novamente Karl Polanyi. Em seu trabalho Trade and Markets in the Early

Empires, ele apresenta três formas gerais de

integração: reciprocidade, redistribuição e simples troca. Essas diferentes padrões foram associados quase que unicamente a modelos institucionais específicos. Como vimos, o pensamento do início do século XIX sobre a economia grega no período arcaico foi dominado pela idéia de controle pelos

oikos; as transações de mercado, segundo alguns

No documento O Roubo da História - Jack Goody (páginas 57-86)