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3.6 A Experiência Brasileira com a Geração Distribuída – Resolução ANEEL

3.6.1 A Tributação envolvendo a Geração Distribuída

A energia fornecida diretamente por uma distribuidora aos seus consumidores finais tem acrescido ao seu preço o valor do Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços - ICMS, cuja alíquota nominal no estado do Ceará é de 27%.

Sobre a energia elétrica também é aplicado o tributo federal do PIS/COFINS com uma alíquota média entre 3% e 5%, variando mensalmente conforme a utilização de créditos. Além desses tributos, o consumidor de energia paga a Contribuição de Iluminação Pública (CIP), valor destinado a Prefeitura Municipal, definido conforme a faixa de consumo. A CIP tem valor diferenciado para cada município e, devido a isso, este estudo utilizará a CIP de Fortaleza.

No Brasil, os custos do investimento na aquisição dos equipamentos fotovoltaicos ficariam, em média, mais elevados em aproximadamente 32,5%. O motivo é a incidência da carga tributária tais como: IPI (quando for o caso), ICMS, PIS e COFINS. Estudos realizados pela EPE citam, como exemplo, que a aquisição de um sistema fotovoltaico de 100kWp, seria de R$ 8,36/Wp, considerando a carga tributária. Com a retirada dos impostos, esse valor resulta em R$ 6,31/Wp. O Quadro 4, abaixo, retirado da Nota Técnica 020 da EPE, ilustra o “peso” da carga tributária sobre o investimento nos equipamentos fotovoltaicos para 100 kWp:

Quadro 4 – Preço Unitário do sistema completo

Fonte: Nota Técnica da EPE, 2012, p. 27

Com a finalidade, portanto, de valorizar os pormenores esclarecedores, a pesquisa da EPE traz também um comparativo, em R$/kWp, dos custos de investimento em geração fotovoltaicas, tomando como referência internacional a taxa de câmbio de R$ 1,75 para cada US$ 1,00, discriminada para as classes de consumo de energia residencial, comercial e industrial, com acréscimo de 25% de tributos nacionais (ICMS, PIS e COFINS), conforme Tabela 8:

Tabela 8 – Investimento em sistemas fotovoltaicos por Classe de Consumo (R$/kWp)

Fonte: Nota Técnica 020 da EPE, 2012, p. 27

Ganim (2009) afirma que a grande maioria dos Estados brasileiros não tributa as operações internas com energia elétrica, desde que a mesma se destine à comercialização, ou seja, nas operações de venda de energia elétrica para as concessionárias distribuidoras para

fins de comercialização. A exceção desta condição ocorre nos Estados do Amazonas e do Ceará que tributam as operações com energia elétrica realizadas entre as unidades geradoras e as distribuidoras.

Vale lembrar que, considerando o entendimento de Ganim (2009), a energia produzida e consumida em uma mesma residência, por exemplo, não será tributada, entretanto, caso seja utilizado o mecanismo da compensação de energia na mesma ou em outra unidade consumidora, estes montantes de energia serão tributados.

De maneira que tal entendimento, conforme o autor aplica-se para o ICMS, para o PIS/COFINS e também para a CIP, o que refletirá na avaliação econômica da utilização de unidades de mini e micro geração de energia em residências, e pequenas unidades comerciais e industriais. Essa condição também resultará em impactos para a arrecadação dos tributos estadual e federal, e a contribuição para os municípios da CIP.

Acerca dos custos de adequação do sistema de medição, estes são de responsabilidade do interessado, conforme descrito na própria Resolução Normativa 482/2012. O questionamento ressalva sobre a instalação de um medidor bidirecional ou dois medidores de energia, um que faria a medição normal da concessionária e um segundo com a medição somente para a fonte de energia alternativa. Especificamente, porque, as áreas fiscais e tributárias necessitam aplicar os impostos devidos: ICMS e PIS/COFINS.

Assim, uma forte tendência da ANEEL visa considerar dois medidores de energia, pelos motivos anteriormente expostos. Porém, o consumidor estaria sendo penalizado com custos de adequação de sistemas de medição adicionais, o que onera ainda mais a viabilidade econômica da instalação da geração distribuída. Mas este tema requer um amadurecimento maior, tanto por parte da ANEEL, quanto pelos órgãos fiscais e tributários do Brasil.

Contudo, o Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ celebrou, em 05 de abril de 2013, o Convênio 006/2013 que trata a respeito das condições de tratamento fiscal das cobranças do ICMS sobre as operações de energia elétrica para o sistema de compensação proveniente da geração distribuída. Esse Convênio estabelece que o ICMS apurado tenha como base de cálculo toda energia que chega à unidade consumidora proveniente da distribuidora, sem considerar qualquer compensação de energia produzida pelo micro gerador. Assim, a alíquota aplicável do ICMS incide sobre toda a energia consumida no mês.

Por conseguinte, a ANEEL possui outro entendimento acerca da cobrança do ICMS no âmbito do sistema de compensação, uma vez que a energia elétrica injetada por micro gerador

é, na realidade, um empréstimo gratuito, sendo posteriormente compensada com o consumo dessa mesma unidade consumidora ou de outra unidade consumidora de mesma titularidade da unidade consumidora onde os créditos foram gerados. (ANEEL, 2014).

Segundo descrito na Cartilha da ANEEL, a tributação deve ser aplicada somente na diferença, caso positiva, entre os valores finais de consumo e energia excedente injetada (geração). Para os casos em que essa diferença seja inferior ao consumo mínimo, a base de cálculo do tributo deve ser o valor do custo da disponibilidade do sistema da distribuidora (ANEEL, 2014)

Ademais, o governo federal poderia incentivar a implementação de pequenas gerações descentralizadas por meio de linhas de financiamento especificas, que poderiam contar, inclusive, com redução ou isenções fiscais na compra dos equipamentos. Em relação a esse incentivo tributário, cabe ao Poder público legislar sobre uma possível isenção de ICMS para microgeradores de energia limpa, não só a solar, o que acarretaria em atrair novos empreendimentos e oferecer o desenvolvimento sustentável da região onde se instalará e, por conseguinte, do Brasil.

Portanto, a discussão não se dá somente pela tributação da tarifa de energia, mas sim pela forma de tributação da energia que, conforme explicitado pelo regulador, não deva ocorrer na energia gerada excedente que, via de regra não cabe tributação como ocorre com a energia fornecida pela distribuidora.