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Após a crise da década de 1970, alguns países tomaram a decisão de estudar a opção de serem independentes em relação ao petróleo como fonte de geração de energia. Países como França e Japão convergiram suas matrizes energéticas para, em grande parte, a energia

nuclear. Ainda, assim, se observa uma quantidade considerável de dependência do petróleo e do gás natural, mesmo naqueles países que decidiram diminuir sua dependência em relação a estas fontes de energia. Por exemplo, os países da União Européia importam da Rússia quase metade do gás natural que necessitam e, da mesma forma uma parcela substancial de seu petróleo.

Países como a China e os Estados Unidos ocupam uma posição central nas discussões sobre matriz energética e questões ambientais atreladas à produção de energia. Esses países são os maiores consumidores de energia e emissores de gases do efeito estufa a nível mundial – além disso, ambos são altamente dependentes da energia gerada pelo carvão (CYRANOSKI, 2010).

Segundo o relatório publicado pelo State Energy Bureau no final de 2007, a China tinha reservas de 176 bilhões de toneladas de carvão, 21,2 bilhões de toneladas de petróleo, 22 bilhões de metros cúbicos de gás natural e 400 GW provenientes de energia hidroelétrica. Em 2010, 68% da energia era gerada através da queima de carvão, 19% do petróleo, e 4,4% do gás natural. Fontes como usinas nucleares e hidrelétricas somavam 8,6%.

Lora e Haddad (2006) relatam que os EUA iniciaram, em 1997, um programa que promoveu a instalação de um milhão de equipamentos fotovoltaicos e solares térmicos em telhados de edifícios norte-americanos até 2010. A experiência mostrou-se exitosa e em outubro de 1997, o governo norte americano comprometeu-se a instalar 20.000 sistemas de energia solar em edifícios públicos. Existem, ainda, iniciativas de concessão de crédito subvencionadas principalmente a escolas, bibliotecas, residências particulares, edifícios de escritórios e centros de negócio.

Os objetivos principais dessas iniciativas, além de diversificação da matriz energética, são a redução dos gases de efeito estufa, a geração de emprego e renda em setor da industria de alta tecnologia e o aumento da competitividade da indústria solar nos EUA e foram alcançados com êxito.

Alguns países europeus já têm alta participação de energias alternativas na sua matriz como, por exemplo, a Suécia, com cerca de 40% de sua demanda satisfeita por fontes renováveis. Os autores alertam que há também países como o Reino Unido, com apenas 1,3%, mas com o objetivo de aumentar essa participação para 15% até 2020. Em média, as fontes renováveis respondem, hoje, por 8,5% do consumo total dos 27 países da União Européia, com previsão de chegar a 20% em doze anos.

A Espanha desenvolveu um programa para inserir a energia limpa na sua matriz energética através de um programa que tinha os seguintes objetivos:

I. Reduzir a importação de combustíveis fósseis, II. Melhorar a eficiência no uso da energia,

III. Melhorar a qualidade do meio ambiente, além de promover a criação de empregos e impulsionar o desenvolvimento social. (LORA e HADDAD, 2006)

Gidens (2011) aponta que a Alemanha está se tornando referência no mundo em relação à utilização de fontes renováveis de energia devido à mudança no sistema de tarifas. O Governo teve papel fundamental no fomento e implementação destas novas metodologias tarifárias. A regulamentação alemã passou a adotar tarifas-prêmio pela alimentação da rede elétrica por fontes de energia renovável, as denominadas feed-in tariffs, na década de 1990, tendo como pioneiro o industrial Hermann Scheer.

O procedimento em relação às feed-in tariffs consiste em consumidores com seus sistemas ligados à rede de abastecimento, os quais teriam uma tarifa subsidiada por 20 anos, o que se observa uma clara tentativa de incentivar mais consumidores com seus sistemas conectados à geração por fontes solar ou eólica à rede e, assim, agregar valor ao sistema, o que possibilita aumento da geração de energia limpa, em detrimento da demanda pelas fontes tradicionais à época: energia nuclear e hidrelétrica. Esta modalidade tarifária é conhecida como REFIT – (Renewable Energy Feed-in Tariff). Acerca dos incentivos governamentais para fomentar os investimentos na matriz energética, dois programas alemães merecem destaque: O “Programa Eólico de 100MW” criado em 1989 (e sua posterior ampliação em 1990) e o “Programa Eólico de 250MW”.

Embora esses programas tenham sido extintos entre 1996 e 1998, subsidiaram projetos de até 1MW de potencia, com limite máximo de custos de €100.000 e, para projetos maiores de 1MW, custos máximos de até €150.000. Ferreira (2008) relata ainda que, dependendo do tamanho do projeto e dos custos de capital associados, os subsídios podem chegar de 10% a 15% do custo total do projeto.

Outros casos positivos de incentivo à energia alternativa podem ser elencados como o “Conto Energia Programme” da Itália, onde existe um aporte de recursos financeiros por meio de tarifas-prêmio, objetivando a redução da tarifa ao longo do tempo de utilização, a maturação e, conseqüente, o desenvolvimento do mercado, conforme citado pela EPE –

Empresa de Pesquisa Energética, na Nota Técnica 020 “Análise da Inserção da Geração Solar na Matriz Elétrica Brasileira”, editado em 2012.

Na Espanha, segundo a referida Nota Técnica, o Governo efetuou diversas alterações nos programas de incentivo à geração alternativa, em virtude da crise econômica que os países da União Européia estão enfrentando. Contudo, em 2010, o Governo Espanhol criou o Plano Nacional para Energias Renováveis 2011-2020 (PANER), onde cerca de 3,6% da demanda total com energia elétrica deve ser executada por geração fotovoltaica.

Lora e Haddad (2006) relatam, ainda, que na Itália, o programa de instalação de sistemas fotovoltaicos ligados à rede, instalou, até 2005, 50 MWp de energia. Este programa contou com a parceria público-privada, sendo 75% a participação do governo e 25% o aporte do setor privado.

Em outro país europeu, a França, o incentivo à geração solar ocorre de duas formas: tarifas-prêmio e desconto no imposto de renda, que corresponde a 25% do total investido em sistemas fotovoltaicos, com limite estabelecido em €8.000 por contribuinte, de acordo com o descrito na Nota Técnica 020/2012 da EPE.

O Japão, que iniciou os incentivos à energia alternativa em 2009, desenvolveu um programa que consiste em adquirir os excedentes de eletricidade produzidos pelo consumidor final pagando duas vezes o valor da tarifa aplicada, no caso de sistemas menores do que 10kW, conectados à rede elétrica. O Governo japonês concluiu que deve, além de comercializar os excedentes, estabelecer uma metodologia de inserir o mecanismo de tarifas- premio nos programas de incentivo.

A Tabela 5 demonstra, de forma resumida, a metodologia aplicada pelos países listados nesta pesquisa, para implementar a geração distribuída em suas matrizes energéticas:

Tabela 5: Quadro resumo dos países pesquisados com incentivo à Geração Distribuída

PAÍS Metodologia para implementação da Geração Distribuída Alemanha Feed-In Tariffs e programas de Incentivo aos Consumidores Residenciais Espanha Plano nacional de Energias Renováveis e incentivo financeiro

EUA Desconto no Imposto de Renda para a Instalação de Painéis Fotovoltaicos França Tarifas-Premio e desconto no Imposto de renda

Itália Tarifas-Premio e Programas específicos de financiamento

Japão Programa para comercialização do excedente gerado pelo consumidor e injetado na rede com previsão de desconto tarifário

Conforme dados da Empresa de Pesquisa Energética, os painéis fotovoltaicos vêm demonstrando constante redução nos preços, alcançando, em 2011, o valor de €1,2/Wp. Essa redução de preço pode ser explicada, segundo a pesquisa da EPE, pela crise econômica que afetou os países europeus, na sobreoferta constante dos equipamentos e pela escala de produção, proporcionando redução do preço da matéria prima para a composição dos painéis, que são módulos de silício cristalino. Referida redução representou, também, queda no preço dos painéis de geração fotovoltaica em 42% na China e 31% na Alemanha, conforme apresentado no Gráfico 6.

Gráfico 6 - Evolução dos preços de painéis fotovoltaicos em 2011

Fonte: Adaptado de Nota Técnica EPE – Empresa de Pesquisa Energética, 2012

Em relação aos inversores, também se observa a queda nos preços unitários. O Gráfico 7 elaborado pela EPE, traça a trajetória dos preços unitários em função da potencia nominal e aponta uma tendência de estabilização do preço em torno de US$ 0,50/Wp para potencias

nominais superiores a 7.000 Wp. Importante observar que para potencias na faixa de 1.000 Wp, o preço do equipamento inversor fica em cerca de US$ 1,50/Wp.

Gráfico 7 - Preço Unitário de Inversores

A Nota Técnica 020 da EPE descreve que o custo do sistema completo tem caído acentuadamente. Considerando o investimento completo do sistema fotovoltaico, os painéis respondem por 60% do custo, os inversores por cerca de 10% e o restante atribuem-se ao investimento com os inversores. Dados da própria pesquisa revelam que, na Alemanha, o preço dos painéis fotovoltaicos de até 100 kWp, reduziu-se de €2,20/Wp para €1,60/Wp em

algumas empresas especializadas.

Nos Estados Unidos, conforme informações da EPE (2012), o preço do “kit” completo, que inclui painéis e inversores, podem ser encontrados com preços entre US$ 2,02/Wp e US$ 2,61/Wp para potências entre 50 kW e 1000 kW, que são capazes de atender a cargas de clientes comerciais e industriais, conforme demonstrado na Tabela 6:

Tabela 6 – Preços de “kits” completos

Fonte: Nota Técnica da EPE, 2012, p. 26

No entanto, a própria pesquisa indica que os custos dos “kits”elencados acima, não contemplam valores como instalação e montagem, que foram estimados na ordem de 20% do valor investido. Desta forma, a Tabela 7 descreve o custo de forma mais detalhada para consumidores de energia elétrica das classes de consumo residencial, comercial e industrial norte-americana:

Tabela 7 – Custo de investimento em sistemas fotovoltaicos – referencia internacional (US$/kWp)

Fonte: Nota Técnica EPE, 020, 2012, p. 26

No juízo comum, diante dos dados que se observa, salienta-se que ações governamentais são fundamentais para a aplicação e ampliação das tecnologias em geração de energia, o que contribui para:

II. A adoção das energias alternativas possibilita a redução da demanda por energia nas grandes usinas de geração (em grande maioria hidrelétrica), conseqüentemente reduzindo a necessidade de racionamento e tornando o país mais competitivo,

III. Ampliar as possibilidades de geração de energia, por meio das gerações descentralizadas,

IV. Promover a diversificação da matriz energética,

V. Beneficiar o consumidor com preços mais módicos de tarifas pelo uso do sistema elétrico.

Rodriguez e Jannuzzi (2002) consideram importantes, ainda, em um estudo de viabilidade de implantação de SFCR, questões exógenas como: (i) sobreamento da planta, (ii) o rendimento das instalações fotovoltaicas e o (iii) custo da energia gerada pela usina de geração fotovoltaica.

As exigências de energia limpa demandarão fontes alternativas que ainda são, em sua grande maioria, projetos futuros. No entanto, cabe ao Governo Federal fomentar os investimentos em energias alternativas, incentivando novos empreendimentos, criando oportunidades em que as empresas tenham a atratividade necessária, por meio da qual promova uma nova forma de gerar energia.

Diante disso, torna-se fundamental o planejamento energético, buscando antecipar as situações, mapeando as alternativas, sugerindo as melhores estratégias, de forma que sejam tomadas as melhores decisões. É Importante salientar que o papel das grandes economias, nas melhores decisões estratégicas de investimentos para manter e ampliar a sustentabilidade do setor energético recai, principalmente no crescimento econômico em detrimento do aumento de demanda das fontes primárias de energia e do conhecimento da matriz de geração e de seu potencial para expansão ou de inserção de novas fontes de energia.

3.6 A Experiência Brasileira com a Geração Distribuída – Resolução ANEEL