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A Unidade de Rede para a Inclusão e Dialogo Intercultural

PARTE I – Enquadramento Teórico

Capitulo 3 Os ciganos de Évora

3.3. A Unidade de Rede para a Inclusão e Dialogo Intercultural

Embora o conhecimento e registo da passagem e permanência de pessoas ciganas pelo concelho sejam já de longa data, como se verificou no ponto anterior, o acompanhamento e intervenção com estas famílias por parte do município são processos recentes, razão pela qual não existe ainda um diagnóstico social sobre esta comunidade. Contudo o município reconhece a necessidade de criar política e programas adequados às especificidades desta parte da população, de forma participada e sustentada pela opinião das pessoas ciganas residentes no território, para uma melhor intervenção e convivência social entre todos. Neste sentido, no final de 2017 foi criada a Unidade de Rede para a Inclusão e Dialogo Intercultural (URIDI). Esta unidade de rede trata-se de um grupo de trabalho temático que

67 resultou de uma necessidade percecionada pela CME e pelo Conselho Local de Ação Social (CLAS) de intervenção com o grupo de famílias ciganas que se estabeleceu ou que passa pelo concelho de Évora. A CME e o CLAS identificaram como uma necessidade prioritária a concetualização de uma intervenção com esta parte da população, centrada na qualificação de respostas, na construção de percursos de inclusão e no diálogo intercultural como preditores de boa convivência entre todos. Esta unidade de rede encontra-se em funcionamento desde dezembro de 2017 e tem como missão:

“Fomentar a inclusão e a interculturalidade entre os grupos culturalmente distintos presentes no território, mediante o desenvolvimento de um conjunto de ações/respostas que contribuam para a efetiva mitigação da exclusão social. Nos primeiros dois anos de vigência, esta unidade de rede centrará a sua intervenção no conhecimento da realidade das comunidades ciganas presentes no território, bem como no desenvolvimento de um conjunto de ações/respostas que promovam a inclusão e igualdade de oportunidades destas comunidades.” 22

Seguindo os princípios do trabalho colaborativo e interinstitucional que se pretende dinamizar através do CLAS de Évora e levando em conta as recomendações da Estratégia Nacional para a Integração das Comunidades Ciganas (ENICC), foram chamados a integrar este grupo de trabalho, representantes dos vários eixos de intervenção com as comunidades ciganas, tais como:

 A Camara Municipal de Évora;

 Centro Distrital de Segurança Social de Évora;  Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares;  Instituto de Emprego e Formação Profissional;  Administração Regional de Saúde;

 Habévora, E.M.;

 Polícia de Segurança Pública;  Guarda Nacional Republicana;

 União de Freguesias da Malagueira e Horta das Figueiras;

 Associação para o Desenvolvimento e Bem-estar da Cruz da Picada (ADBES);  Centro Humanitário de Évora da Cruz Vermelha Portuguesa.

68 A URIDI, ao longo deste primeiro ano de vida, estruturou um plano de ação, com objetivos e metas definidas, tendo como principais dimensões de intervenção: a capacitação, o conhecimento, a mediação e o associativismo e representatividade. Ao longo deste percurso foram desenvolvidas algumas ações que vão de encontro às dimensões de intervenção, das quais se dá destaque à intenção de adesão ao Projeto-piloto “Programa Local de Integração das Comunidades Ciganas” lançado pelo ACM e à candidatura apresentada pelo Município de Évora à linha de financiamento 3.09 do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE) “projetos para Mediadores Municipais Interculturais”, como fruto do trabalho concertado entre os integrantes do grupo que identificaram a mediação como processo de alavancagem à intervenção com as comunidades ciganas.

Embora se reconheça a existência de pessoas ciganas a residir no concelho em condições habitacionais distintas: proprietários de habitação, arrendatários no mercado livre e realojados em habitação social, numa primeira fase a URIDI estabeleceu como prioridade a intervenção com as famílias que se estabeleceram no concelho e não possuem uma habitação e as famílias que não estando estabelecidas no concelho, passam e permanecem durante algum tempo.

Nesse sentido, foi proposto o acompanhamento pelas várias instituições membros desta unidade de rede de nove famílias que são reconhecidas pelo município como mantendo uma trajetória vinculativa à cidade de Évora, tendo-se fixado permanente neste território. Para isso, foi efetuado um registo do número de acampamentos, respetiva localização e número de agregados/elementos estabelecidos. Posteriormente foram constituídas equipas “gestores de caso” para intervenção e acompanhamento social junto de cada família. No que respeita às famílias ciganas que não são residentes e solicitam autorização para acampamento ocasional, foi avançada a hipótese de se identificar um local onde se pudesse garantir o acesso a água potável, saneamento e depósito de resíduos, no entanto, esta ideia não foi bem acolhida por todos os membros da URIDI, sob o pretexto de que este tipo de alojamento não garante condições de habitabilidade condignas e, à semelhança do que se tem assistido noutros locais do país, estas condições têm tendência a perpetuar-se, agravando as situações de exclusão social e estigmatização. Por enquanto, os pedidos de acampamento ocasional são analisados caso a caso, tendo por base critérios de análise de

69 risco e perigo para alguns dos elementos do agregado familiar, ficando este procedimento a cargo da CME.

Os membros da URIDI, tal como já havia sido preconizado por Correia (2012), reconhecem que o problema dos ciganos “nómadas” que não conseguiram ainda a fixação a um determinado território é um problema grave, que compromete seriamente a integração social destas pessoas e o exercício da cidadania plena. Reconhecem ainda que, a solução para este problema requer um compromisso intermunicipal, uma vez que estas famílias apresentam um histórico de permanência ou trajetória que atravessa as fronteiras do município. Nesse sentido, o grupo de trabalho assume o compromisso de promover o diálogo com vista à construção de uma estratégia de intervenção concertada entre os municípios.

A constituição deste grupo de trabalho, para além de contribuir para o conhecimento sobre a situação em que vivem as pessoas ciganas, parece ter trazido para a agenda política do município o debate e interesse pelas questões que as envolvem, permitindo um salto qualitativo no que respeita à posição marginalizada que, na grande maioria das vezes ocupam.

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