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A vigilância policial sobre os alemães durante a Primeira Guerra

“repressão policial”, devido ao fato de que as fontes mostram que a maioria dos alemães não foram detidos, apenas fichados. Nesse tópico, as fontes são os relatórios policias; todavia, antes de se adentrar os prontuários policiais, tem-se que fazer algumas ressalvas sobre a análise metodológica utilizada.

As fontes policiais utilizadas em pesquisas históricas são recursos importantes; entretanto, não devem ser a única base para um trabalho, mesmo aqueles que objetivem enfocar os órgãos repressores necessitam buscar outras fontes, para dar legitimidade à pesquisa. Alguns exemplos de aportes são a imprensa, a legislação, as instituições governamentais, entre outros. Ao discorrer sobre as fontes policiais, Bérlière afirma que:

Suas condições de produção deturpam o reconhecimento da matriz concreta – o “mundo objetivo” de que é representação – e as fontes policiais funcionam principalmente como um espelho das instituições que as fabricam. “Um relatório de polícia é tudo menos um documento neutro e objetivo. Ao contrário, ele é uma variante original do arquivo fabricado (...) informa antes e essencialmente sobre aqueles que o escrevem, sobre o poder e o pessoal político que o utiliza (...) [o policial] pode ser vítima de seus preconceitos, de sua cultura profissional ou manipulado, instrumentalizado por seu informante, abusado por suas fontes”.173

As fontes a serem analisadas são prontuários da Polícia Civil de São Paulo. É digno de menção que, levando-se em conta o balizamento temporal estudado, os órgãos policiais das primeiras décadas do século XX no Brasil,

173 BÉRLIÈRE, Jean-Marc. “Archives de police: du fantasme au mirage”. In: PETIT, J.G. e

CHAVAUD, F. (dir.). L’Histoire Contemporaine et les Usages des Archives Judiciaires 1800-

1939. Paris: H. Champion, Collection Archives et Histoire, 1998. IN: ROSEMBERG, A. e

SOUZA, L.A.F. Notas dobre o uso de documentos judiciais e policias como fonte de pesquisa histórica. UNESP – FCLAs – CEDAP, v. 5, n.2, p. 168-182 - dez. 2009, p 179.

serviam de repositório das mais diversificadas demandas, assumindo a competência de lidar com assuntos de procedências variadas. Com isso, os arquivos da polícia reproduzem materialmente o resultado de sua função, ou seja, reproduzem a dinâmica sociopolítica desempenhada pela polícia.

Ao se realizar uma pesquisa com levantamento de fontes primárias, como esta, deve-se sempre levar em consideração a época e as circunstâncias nas quais a fonte foi produzida, assim como sua especificidade, função, condições de produção e intenção. Sem lançar mão desses aspectos, o historiador/pesquisador realizará apenas um estudo superficial e acrítico, deixando de explorar a fonte em suas características fundamentais, como a possibilidade de se apreender sobre o cotidiano da época analisada.

Pois bem, os prontuários policiais que serão mencionados foram encontrados na íntegra no arquivo da Academia de Polícia de São Paulo, localizado dentro da cidade universitária. Os inquéritos policiais foram encadernados em capa dura, e o titulo da pasta é: Atividades subversivas de alemães no Brasil; a pasta corresponde às investigações realizadas pela polícia paulista entre os anos de 1917 e 1918, tendo como foco evidentemente os alemães radicados em São Paulo.

O relatório tem um montante de aproximadamente 85 páginas, que não estão organizadas em ordem cronológica; divididas, em fotos dos alemães suspeitos, registros de prontuários, alguns recortes de jornais, telegramas, investigações e conclusões das mesmas. Ao folhear as primeiras páginas, depara-se com a lista dos prontuários dos suspeitos:

A lista consta com nomes de 24 eventuais suspeitos, sendo que, destes, apenas sete são alemães, os outros são descendentes de alemães ou alemães naturalizados brasileiros. Vale salientar que as investigações da polícia se iniciaram antes mesmo da declaração de guerra do Brasil contra a Alemanha, tendo prontuários de abril de 1917. Todavia, selecionaram-se apenas os prontuários correspondentes ao triênio de novembro de 1917 a janeiro de 1918, para se evitar a prolixidade, procurou-se selecionar prontuários com os quais se iria trabalhar.

Os nomes constantes na lista acima pertencem aos indivíduos envolvidos nas investigações, na posição de suspeitos, nos mais variados casos. Dentre eles, pode-se mencionar o Sr. Luiz Maurer – R.G 207.866 – alemão, dono de uma pensão e um bar na cidade de São Paulo, acusado por

Prontuários Nome R.G 39.830 Eduardo Hofmeister R.G 39.838 Otto Schmiet R.G 39.840 João Fischer R.G 39.887 João Fisch R.G 40.427 Otto Thiele R.G 40.428 Otto Koch R.G 40.572 Carlos Weber R.G 40.654 Carlos Weber R.G 40.802 Martin Wagner R.G 41.097 Rodolpho Bartoss R.G 68.266 Walter Milker R.G 77.052 George Ulrich

R.G 80.824 Henrique Schwarz Koppe R.G 96.333 Otto Schimidt

R.G 207.866 Luiz Maurer R.G 493.335 Otto Weber I. 248.733 Gustavo Kiiublsz

I. 248.734 Alexandre Martein Schrage I. 248.735 Waldemar Stolberg

I. 248.736 Otto Trebes I. 248.739 Georg Tokont I. 248.740 Windau Grampner I. 248. 741 Tullins Selgent

um anônimo de guardar em sua casa armas de grosso calibre, o que após investigação, foi totalmente descartado.174

Em outra investigação, sob a chegada suspeita de alemães a uma fazenda no interior de São Paulo, nada foi averiguado de ilegal, porém foram encontradas duas armas de fogo em posse dos Srs. Walter Milke – R.G 248.734 e Rodolpho Bartoss – R.G 41.097. As armas foram apreendidas pelo Tenente Comandante e os suspeitos liberados.175

Uma situação inusitada foi encontrada em meio aos prontuários, um abaixo assinado endereçado ao Delegado Geral do Estado de São Paulo, solicitando autorização para que alguns operários alemães pudessem se reunir para realizar reuniões de interesse do operariado. Assinavam o documento os Srs. Otto Schmidt – R.G 96.333, George Ulrich – R.G 77.052, Gustavo Kiiulblsz – I. 248.733, Tulins Selgent – I. 248.741, George Tokont – I. 248.739, Otto Koch – R.G 40.428, João Fischer – R.G 39.840 e Eduardo Hofmeister – R.G 39.830.176

O primeiro prontuário da pasta traz a solicitação do Delegado geral do Estado de São Paulo, que exige:

Senr. Dr. Delegado Geral da Policia deste Estado. Estando esta administração empenhada em exercer, como o maior rigor, sobre a correspondência dos súditos allemães, naturalisados ou não, a censura determinada pelo Governo da República solícito as vossas providencias de maneira a me ser enviada uma lista completa de todos os allemães até hoje identificados na Policia177.

São Paulo, 8 de novembro de 1917

174

Arquivo Histórico Policial. Atividades subversivas de alemães no Brasil, vl XII. São Paulo, 18 de maio de 1917.

175 Idem, 13 de novembro de 1917. 176 Idem, 2 de dezembro de 1917. 177 Idem, 8 de novembro de 1917.

Como se vê, a criação e a generalização do estereótipo alemão/perigo, não ficou apenas nas redações dos jornais, a polícia procurou taxar todos os alemães como súditos da Alemanha, intensificando a vigilância sobre as relações sociais dos alemães, tendo como foco as correspondências trocadas pelos mesmos, os encontros e até mesmo a fiscalização de suas casas.

Um fato curioso é que a maioria das queixas registradas, sob a alegação de espionagem e sabotagem inimiga não advinham do serviço de “inteligência” da polícia, mas sim de populares, que denunciavam qualquer atitude tida como suspeita. O inquérito abaixo retrata uma dessas ações:

Tendo O SR. Fausto de Moraes Salles me trazido uma denuncia sobre a existência de uma estrada de rodagem, aberta por engenheiros alemães, do Norte do Estado do Paraná às raias de Cananéa, com fito de invadir nosso Estado, resolvi mandar proceder a uma vigorosa pesquiza, de cujos resultados o Snr. José Alves Feitosa (...) apresentou um relatório, do qual tenho a honra de transmitir a copia178.

Snr. Dr. Alfredo Braga.

Os comentários prévios redigidos pelo Delegado Alfredo Braga suscitam uma indagação: seria procedente a denúncia de que uma estrada de rodagem que possibilitaria a invasão dos alemães, ao interior de São Paulo. Pois bem, de onde viriam esses alemães? Do Paraná? Um Estado da federação que recebeu contingente migratório de alemães, entretanto um número inexpressivo, se comparado a outros estados. Os resultados das investigações são tão curiosos quanto sua delatação.

Recebendo a presente comunicação no dia 16 deste, já a 17, sem perda de tempo, segui para Cananéa com fim de lá proceder uma rigorosa syndicancia sobre os graves factos comunicados ao snr. Dr. Candido Motta, (...) os meus sentimentos de ilimitado patriotismo levaram-me a dedicar o mais interesse possível.

(...) Quanto à estrada de rodagem aberta por engenheiros allemães, do norte do Estado do Paraná ás raias do Cananéa, segundo as informações que colhi, todas concordes, parece tratar-se da estrada

178 Arquivo Histórico Policial. Atividades subversivas de alemães no Brasil, vl XII. Colônia

construída por austríacos, o que hoje vale dizer allemães (...)

E ahi está traçado o caminho, provavelmente conhecido dos taes austríacos ou alemães – e quem diz alemães diz espiões, o qual permite a tropas de infantaria inimiga, desembarcadas no Porto de Cananéa, indefeso, aberto, completamente desabrigado, attingir em alguns dias, sem serem molestados, o Planalto do nosso Estado

È verdade que as intenções... apparentes, com que foi feita a estrada em questão, são inocentes. Também para fins mais inocentes deste mundo, construíram os alemães em Antuérpia, em plena paz, as bases de concreto para os formidáveis canhões, com que bombardearam a cidade. Parece-me, pois, que o nosso Governo deve dedicar a maior attenção ao caso aqui exposto, mandando reconhecer e vigiar pelos departamentos competentes179.

Colônia de Pariquéra – Assú, 26/11/1917

Compreende-se que um inquérito policial tenha como função principal investigar, antes mesmo de acusar, o que não ocorreu no inquérito da Colônia de Pariquéra-Assú, em que a ordem lógica foi invertida. As informações levantadas pelo investigador afirmam que a estrada havia sido construída por austríacos e não por alemães, contudo, o investigador generaliza alemães e austríacos, embora tendo semelhanças culturais como idioma, a distinção entre as duas nacionalidades deveria ser evidente. O Brasil, ao declarar guerra à Alemanha não fez o mesmo com relação à Áustria180, sendo assim, se torna uma contradição dentro da investigação a generalização austríaco – alemão.

Assim como recorrente em diversos prontuários, o investigador traça uma relação, transformando primeiro austríacos em alemães, logo sendo alemães serão espiões. O receio dos policiais incumbidos das investigações residia no fato de Cananéia ser uma pequena cidade do extremo sul do litoral de São Paulo, sugerindo que a mesma poderia ser a porta de desembarque da marinha alemã e a possível invasão de terras paulistas.

179 Idem.

180 Lembrando que as potencias centrais durante a Primeira Guerra Mundial eram,

Concluindo o inquérito, o investigador José Feitosa, chamou a atenção para o fato d que os intuitos da construção da estrada eram aparentemente inocentes, mas realça que os intuitos inocentes da Alemanha levaram o planeta a um conflito de ordem mundial. E se contradiz na conclusão da investigação, pois mesmo não encontrando evidencias de que a estrada havia sido obra dos alemães, alertava as autoridades competentes para reconhecer as localidades e vigiá-las.

Acusações como a anterior foram embasadas no preconceito instituído contra os alemães, em que os mesmos eram tratados, pelo investigador, como sujeitos de má índole e que deveriam merecer, por parte do governo, uma vigilância especial.

O que chama a atenção, em alguns prontuários, são os limites de veracidade apontados pelas denúncias; entende-se que, em um período de guerra qualquer atitude suspeita pode sugerir uma investigação com mais afinco, mas algumas mostram o despreparo policial. No mês de dezembro de 1917, alguns jornais noticiavam a existência de um possível aeroplano fantasma, construído por alemães no interior de São Paulo. A polícia deslocou um investigador para rastrear possíveis inserções aéreas das forças alemãs. O resultado das investigações segue abaixo:

Aeroplanos Phantasmas

Por mais de uma vê, no Sudoeste Paulista, sobre o vale do rio Paranapanema, tem sido observado um aeroplano (phantasma?) espiando talvez os núcleos avançados das populações sertanejas.

(...)

Agora, há poucos dias, Apparicido Gomes Fernandes, ex-prefeito da cidade de Campos Novos disse-me ter visto em companhia de um seu camarada, ao sol poente, para os lados do rio Paranapanema, um vulto negro pequeno approximar-se até adquirir o tamanho e a forma de um barril (quinto) visto de frente, depois tornar-se cumprido, retomara a forma primitiva e sumir velozmente, como um pássaro, no céo, limpo de nuvens, para os lados do sertão Paranaense fronteiro. Disseram-me que Olympio Viriato, fazendeiro, residente no município de Conceição de Monte Alegre, a mesma hora e distante approximadamente 12 (doze)

legoas de Gomes Fernandes, presenciou a mesma apparição.

Ora, um aeroplano visto de frente, de lado e por traz, apresenta indubitavelmente as três formas seguintes A, B, C; para os espectadores collocados nas posições 1,2,3.

De onde teria vindo o aeroplano?

(...) è sem duvida, objecto de attenção para um paiz de população densa, activa, de gênio tradicionalmente conquistador e que opprimido n’um tracto relativamente pequeno de território entre os Andes e os atlântico, naturalmente acarecia um sonho de conquista, alias tenatdor181.

2 de dezembro de 1917.

Dentro das 85 páginas da pasta, referente às atividades subversivas de alemães no Brasil, este é o único prontuário em que não aparece nenhuma referência explicita aos alemães. Apenas há uma alusão, nas entrelinhas, do último parágrafo, em que o investigador menciona um “país de gênio tradicionalmente conquistador”, e as possibilidades de conquista de uma fração da América do Sul.

Mesmo não fazendo uma referência clara sobre os alemães, vale observar alguns detalhes expostos nos prontuários. Mais uma vez, tem-se como território ameaçado, o Estado de São Paulo, e novamente na região fronteiriça com um estado do sul, muito provavelmente, as autoridades policiais acreditavam que toda região sul do Estado estivesse sob ameaça, devido à propagação, no imaginário popular, através de periódicos e livros, de que a porta de entrada de uma invasão alemã seria a partir de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, estados que receberam a maior quantidade de ondas migratórias alemãs.

O que chama atenção - além do objeto não identificado, com diâmetro e tamanho de um barril, que poderia ser avistado a 48 kilômetros (12 léguas) em três locais diferentes - é o cotidiano das pessoas durante o período de guerra, o medo, a supervalorização de algumas ações, os gestos mais simples como

181 Arquivo Histórico Policial. Atividades subversivas de alemães no Brasil, vl XII.

fabricar pães poderiam ser motivo de investigação, é o que traz o próximo prontuário:

Comunnico-vos, que no dia 11 do corrente mez compareceu a este gabinete Antonio Alves de lima, para relatar o seguinte facto: -

Um seu criado, hontem, quando comia um pedaço de pão, proveniente de um padaria allemã da rua Helvetia numero 90 ou 92, sintiu a bocca ferida suppondo que tal se desse em conseqüência de qualquer substância nociva contida no pão, que incontinente atirou fora, não sendo possível ao communicante encontral-os por mais que procurasse. Disse mais Antonio Alves de Lima que foi a 3ª Delegacia onde deu parte do occorrido.

As 10 horas da noite, achando se ele em sua casa foi procurado pelo proprietário da referida padaria, e cujo o nome ele ignora, o qual, tendo conhecimento da denúncia dada pelo declarante ameaçou-o com palavras insultuosas182.

12 de janeiro de 1918.

Uma padaria sabotadora, um aeroplano fantasma no interior de São Paulo, que poderia ser uma eventual base ou uma estrada no litoral sul que suscitasse a invasão de tropas inimigas. Esses fatos permitem afirmar que acontecimentos triviais e boatos forneram material para que a polícia reforçasse sua atenção no que se refere ao imigrante alemão aqui residente.

Tal contexto, é claro, não surge apenas dos fatos aqui mencionados, mas de toda uma conjuntura político-social, que se criou no período de tempo recortado para esse estudo. Sendo assim, a associação de uma conjuntura nacional e internacional, aliada a uma forte crítica traçada pela imprensa, culminaram na formação da imagem de um cidadão estrangeiro representante de perigo à soberania nacional, como se vê aqui, perigo muitas vezes infundado, mas que acabou gerando em todo o contexto social brasileiro a ideia de ameaça que deveria ser digna de inspeção policial.

182

Arquivo Histórico Policial. Atividades subversivas de alemães no Brasil, vl XII. O prontuário não apresenta nome de investigação. São Paulo, 12 de janeiro de 1918.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste trabalho, procurou-se demonstrar de que maneira a imprensa paulista contribuiu para a disseminação das ideias de um “perigo alemão” em São Paulo, mediante ao período correspondente entre a proclamação da República e a Primeira Guerra Mundial.

Inicialmente, durante o processo seletivo do Mestrado, o objetivo era de analisar o “perigo alemão” em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial, sobretudo no balizamento entre 1942 e 1945, tendo como fonte metodológica os prontuários do DEOPS-SP. Todavia, o contato com novas fontes, os jornais mencionados nesta pesquisa (O Estado de São Paulo, Germania e A Gazeta), possibilitou um novo recorte temporal, trazendo novas perspectivas para o trabalho.

Analisando as fontes nota-se que o “perigo alemão” não era resultado da ascensão de Hitler ou tampouco, como se pressupunha, da campanha nacionalista de Getúlio Vargas, a partir de 1938, mas sim resultado de uma conjuntura de fatores internacionais do final do século XIX que, refletiam diretamente nas colônias alemãs no Brasil.

Como se mencionou no decorrer desta pesquisa, o “perigo alemão” no Brasil pode ser visto sobre três vieses; o primeiro deles a partir da corrida imperialista das nações da Europa em busca de matérias-primas e mercados consumidores, pois a unificação tardia da Alemanha, junto com suas ambições de conquistar novos territórios, levou outros países europeus (Inglaterra e França) a propagarem informações, de que a Alemanha teria interesse de conquistar o sul do Brasil, sendo que os imigrantes alemães e seus descendentes seriam súditos da Alemanha aqui radicados. Em seguida tem-se o Deutschtum, conceito que definia os alemães por uma herança cultural e não por local de nascimento, dificultando a inserção do imigrante alemão ou descendente na sociedade receptora, e, por fim a All Deutsche Verband (Liga Pangermânica), organização de caráter nacionalista que pregava a

manutenção dos costumes culturais alemães aos imigrantes alemães espalhados pelo globo.

É notório que os vieses apontados contribuíram de forma significativa para a existência do receio da população brasileira para com os imigrantes alemães e seus descendentes, todavia, indagou-se durante este trabalho, como a imprensa disseminava as informações sobre o “perigo alemão” e de que maneira a sociedade paulista recebia tais informações.

As manchetes publicadas suscitavam sentimentos como desconfiança, temor e até repulsa aos imigrantes aqui residentes, nota-se que, com o decorrer do período entre 1889 e 1918, até mesmo a maneira como a imprensa produzia suas criticas também foi sendo alterada. Se, no final do século XIX o receio por parte da imprensa era de que o governo alemão conquistasse ou anexasse parte do território brasileiro, no início do século XX, o temor correspondia à grande quantidade de alemães que viviam no Brasil, sendo esses súditos da Alemanha e não cidadãos brasileiros.

A influência da imprensa era tamanha que, até mesmos nos prontuários policiais encontram-se recortes de jornais, enfatizando a espionagem alemã, os esconderijos de bombas, entre outros. Os jornais deixavam de ser um órgão informativo, portador de uma ideologia e, transformavam-se em uma instituição de investigação social.

No início deste trabalho levantaram-se algumas problemáticas, como por exemplo, a dúvida, se realmente existiu um “perigo alemão”. Postuladas as fontes, não foi encontrado nenhum documento, em jornais e associações pertencentes à comunidade alemã de São Paulo, que justificasse o receio da imprensa.

Sobre o embate entre os jornais O Estado de São Paulo, que divulgava periodicamente “O “perigo alemão””, e o jornal Germania, que respondia, com a mesma freqüência, através da publicação de matérias intituladas Germanofobia, notou-se que, em ambos existiam exageros, entretanto, como já

foi mencionado, não encontrou-se absolutamente nada que, justificasse o temor dos jornais paulistas ao descrever em suas páginas, o perigo representado pelos alemães, levando a acreditar que, o que ocorreu, foi realmente um ato chauvinista.

No que tange ao período beligerante, ocorreu nesta pesquisa, a substituição do jornal O Estado de São Paulo, pelo periódico A Gazeta, mais