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Parte-se aqui de uma citação de Heloísa de Faria Cruz, que afirma que “a importância crucial dos meios de comunicação faz da reflexão sobre a comunicação social um campo social interdisciplinar estratégico para a compreensão da vida” 57. Desta afirmação, afere-se que o estudo de fontes que estão diretamente inseridas no contexto social como, é o caso dos jornais trabalhados nesta pesquisa, permite analisar como se produziram e se divulgaram imagens sobre os imigrantes alemães e o suposto perigo que representavam para a unidade nacional.

Nesta parte, estudou-se o jornal O Estado de S. Paulo, no período entre 1889 e 1918, partindo-se de cuidados metodológicos que foram indicados por autoras como Heloisa Cruz.

Renée Zicman chama a atenção para o fato de que a “imprensa é rica em dados e elementos, e para alguns períodos é a única fonte de reconstituição histórica, permitindo um melhor conhecimento das sociedades ao nível de suas condições de vida, manifestações culturais e políticas” 58, ou seja, é uma fonte importante, no acesso à informação que se permite conhecer e esclarecer as mais diversas opiniões que se criavam e se divulgavam acerca do imigrante, mas sempre com atenção aos cuidados metodológicos que a natureza dessa fonte coloca. 

57 CRUZ, H. F. e PEIXOTO, M.R.C. Na oficina do historiador: conversas sobre história e

imprensa. Projeto história, São Paulo, n. 35, p. 255-272, dez. 2007.

58 ZICMAN, R. B. História através da imprensa – algumas considerações metodológicas.

Projeto História. Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da PUCSP. São Paulo: PUCSP, nº4, Junho de 85, p. 89-102.

É preciso deixar claro que, como veículo de informação, os jornais, dadas as articulações históricas, agiram como força ativa na constituição de processos de “hegemonia” social, pois atuam e atuaram diretamente na articulação, na divulgação e na disseminação de projetos, valores, ideias e comportamentos, em um mesmo período histórico, na sua atividade de produção de informação de atualidade e, por consequência, na formação de uma visão imediata de realidade e de mundo. De acordo com Heloisa Faria Cruz:

Convém lembrar que não adianta simplesmente apontar que a imprensa e as mídias ‘têm uma opinião’, mas que sua atuação delimitam espaços, demarcam temas, mobilizam opiniões, constituem adesões e

consensos59.

Percebe-se, portanto, que a eleição de dois jornais, como objetos de estudo, torna-se justificável por se entender a imprensa como instrumento de manipulação de interesses e de intervenção nas relações sociais, deixando claro que se trata de uma fonte que não deve ser entendida apenas como transmissor imparcial dos fatos ocorridos em determinado contexto, pois este se encontra inserido em uma realidade político-social que, evidentemente, é refletida em seus textos, que se tornam, por consequência, representantes de ideologias e posições defendidas pelos veículos de divulgação.

Cotejando as informações acima às questões inicialmente propostas nesta dissertação, nota-se, nos periódicos mencionados, uma fonte de extrema riqueza, uma vez que apresenta o ponto de vista de dois grandes jornais da época a respeito do imigrante alemão à sociedade paulista.

Viu-se anteriormente que a ideia de “perigo alemão” deu-se por uma junção de fatores com os quais se passou a entender o afastamento das comunidades teuto-brasileiras, como uma ameaça à nação brasileira, na Região Sul do país, onde os imigrantes alemães formaram colônias com pouca inserção na sociedade da região, conforme informam pesquisas realizadas

59

sobre o assunto60. Todavia, questiona-se aqui, como tal problemática se instaurou onde os imigrantes alemães não formavam grupos separados, relativamente isolados, mas, ao contrário, se integravam à economia e à sociedade local, como foi o caso da cidade de São Paulo

Para encontrar dados que permitam refletir sobre a questão acima colocada, trabalhou-se o periódico O Estado de São Paulo, como fonte principal nesta parte da pesquisa. Percebeu-se, no decorrer da pesquisa, que este periódico constituiu-se como meio privilegiado para produzir e divulgar opiniões, atingindo diversas camadas sociais do Estado de São Paulo, como já foi pesquisado por autores que usaram como fonte esse jornal.61

Defensor de ideais abolicionistas e republicanos, surge no ano de 1875 A província de São Paulo, periódico que antecedeu O Estado de São Paulo. Segundo Nelson Werneck Sodré o jornal surgiu em um momento histórico extremamente conturbado:

No momento em que vários acontecimentos políticos abalavam o país, tais como a Lei do Ventre Livre, o surgimento das idéias republicanas e o alastramento do abolicionismo, a imprensa do governo era ardorosa e disciplinada, sentia-se a necessidade de um jornal que, não sendo republicano extremado viesse a discutir com serenidade os absorventes problemas do momento. Para esse fim constitui-se uma sociedade em comandita, levantando 50 contos de réis de capital, surgindo A Província de São Paulo, vivia de anúncios comerciais, falecimentos, missas, espetáculos de teatro, negros fugidos, não havendo venda avulsa. A partir de 1884, o jornal assumia posição francamente republicana62.

60 WILLEMS, E. A Aculturação dos Alemães no Brasil. São Paulo: Ed. Brasiliana, 1980.

Seyferth, G. Nacionalismo e identidade étnica: a ideologia germanista e o grupo étnico teuto brasileiro numa comunidade do Vale do Itajaí. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1982. Dreher, M. N. Igreja e germanidade. São Leopoldo: Sinodal, 1984. Gertz, R. O fascismo no sul do Brasil. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987. Magalhães, M. D. B. Alemanha mãe- pátria distante. Campinas: Unicamp, 1993. (Tese de Doutorado).

61 Autores como: Nelson Werneck, Maria Ligia Prado e Maria Helena Capelato. SODRÉ,

N. W. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. CAPELATO, Maria Helena; PRADO, Maria Ligia. O Bravo Matutino. Imprensa e Ideologia no jornal “O Estado de S. Paulo”. São Paulo: Alfa-Omega, 1980.

No entanto, no decorrer dos anos, o periódico transpôs o papel de mero anunciante de serviços e mercadorias que inicialmente constituíam a maior parte de suas publicações, para defender, com mais afinco, seus postulados liberais e, na maior parte das vezes, posicionar-se de maneira contrária aos governos constituídos.

Segundo Maria Ligia Prado em O bravo matutino, A Província de São Paulo63 manteve uma posição jornalística que ultrapassava os limites do informar imparcialmente, mas representava e atuava como órgão formador da opinião pública.

Em suas primeiras décadas de existência, A Província de São Paulo pode ser caracterizada como representante dos interesses dos latifundiários do café, pois, mesmo questionando os problemas existentes nas leis de imigração, segundo Mercedes G. Kothe64, era no interesse de que tais entraves fossem resolvidos que as publicações se faziam, pois visavam ao maior fluxo da imigração.

As notícias publicadas no jornal O Estado de São Paulo, a partir 1891, data da fundação da Liga Pangermânica, são divulgadas, contendo alertas sobre a possibilidade da expansão imperialista da Alemanha na África e expondo os perigos que tal intenção poderia trazer para a nação brasileira, caso se estendesse ao país, com a ajuda e o apoio de imigrantes alemães radicados no Brasil.

Essa questão ganha ainda mais força ao associar-se à propaganda franco–americana que, no Brasil, obtinha o apoio de intelectuais como Silvio Romero, que publicou em 1906 -“O allemanismo no Sul do Brasil: seus perigos e meios de os conjurar” - com o objetivo de – na opinião do autor - esclarecer e

63 CAPELATO, M. H; PRADO, M. L. op. cit., p. 150.

64 KOETHE, M. O Imigrante Alemão na Província de São Paulo (1880 a 1889) - Opinião

dos jornais da época. São Paulo, 1987. Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica, p. 14.

apontar os motivos que comprovam que o imigrante alemão representa um perigo à soberania nacional.

É nesse turbilhão de acontecimentos e de propaganda ideológica que o alemão é noticia quase diária no jornal O Estado de São Paulo, material divulgado para todo o estado de São Paulo.

Aqui busca-se analisar detidamente notícias que ganharam as páginas do jornal em questão, para se poder compreender melhor como se deu a dinâmica da formação de uma opinião que produzia, em conjuntura internacional (a ameaça imperialista na África e a presença de alemães no país, sobretudo nas colônias do Sul que se mantinham relativamente isoladas da sociedade local ) a imagem do alemão como um elemento perigoso para a integridade territorial da nação.

Diferentemente do atual formato de diagramação assumido pelo O Estado de São Paulo que hoje se conhece, em que, na primeira página do jornal, encontra-se as principais manchetes e seus respectivos lides – parágrafo introdutório que conduz o leitor para o restante da notícia, geralmente publicada em um caderno específico – a página inicial de O Estado de São Paulo, no período estudado, apresentava uma série de pequenas colunas que tratavam dos mais diversos assuntos, que iam desde publicações e respostas a cartas de leitores a pequenos classificados e anúncios de serviços gerais.

Entretanto, mesmo possuindo diagramação diferenciada da atual, a primeira página de um periódico simbolizava, assim como nos dias de hoje: lugar de destaque. Como afirma Heloisa de Faria Cruz65 “a capa de um

periódico funciona como uma espécie de vitrine da publicação que, por meio de “chamadas” indica ênfase em determinado assunto”.

As reportagens e notícias trabalhadas nesta pesquisa, foram coletadas na primeira página do jornal, o que indica que o tema imigrante alemão tinha considerável importância, sobretudo levando-se em conta o lugar que notícias sobre ele ocupavam no jornal.

Associe-se a isso, o fato de que um leitor, ao tomar contato com um periódico, é na primeira página que concentra inicialmente suas buscas, para que detenha sua atenção sobre aquilo que lhe é de interesse; todavia, não se pode deixar de mencionar que, mesmo que um leitor não se atenha à notícia a respeito do imigrante, é por meio da manchete exposta que, muitas vezes, formará a sua opinião.

Em 29 de fevereiro de 1904, o jornal O Estado de São Paulo, publicou, em sua coluna intitulada A vida nacional, texto em resposta a uma carta enviada ao veículo por um imigrante alemão. Essa parte do jornal dedicava-se a responder sempre a três leitores que se manifestassem a respeito de algo publicado anteriormente:

Respostas: - A um allemão – A. C. M. de Bello Horizonte. [...]

<<Um allemão, demonstrando-nos o seu apreço, qualilficou-nos a dias de germanophobo, traçando o vacábulo, com todas as letras, numa dedicatória.

Está enganado o amável filho da gloriosa e velha Germania. Não nutrimos o menor sentimento hostil aos allemães. Antes admiramos nesse povo o seu caráter enérgico e intelectual e amor ao estudo (...) Simplesmente abrimos os olhos dos nossos compatriotas sobre o que descobrimos de verdadeiro no famoso perigo allemão, que nós, os próprios brasileiros éramos descuidosos das conseqüências futuras.

Seremos germanophobos porque não negamos cega e obstinadamente a existência desse perigo? Mas como negar o que é evidente? Como desconhecer o que até a imprensa alleman reconhece, discutindo sem reservas a possibilidade de conquista do sul do Brasil?

Nessa melindrosa questão não somos nem um ingênuo optimista nem um pessimista odiento. O nosso patriotismo não destroe o nosso bom senso. Sem alarmes injustificáveis, acham que, no fundo de tudo, há realmente, no modo de colonisação que se

realisou em nossos estados meridionaes, uma seria ameaça para a integralidade da nação brasileira. Porque alli se constituíram e se conservam núcleos estranhos a população nacional, que podem motivar naturalissimos atentados a essa colossal pátria americana. (...)

O que tememos é a propaganda dos pan-germanistas, cujo prestigio na opinião alleman é grande, segundo o confessou o insuspeito Max Nordeau.

<<Um allemao>> mais veiu rebustecer esse receio nosso. A potencia que possue aquelles generaes emplumados, aquelles primorosos regimentos rutillantes, aquelles soberbos couraçados não sentirá tentações de usá-los contra um povo fraco e inerte cujas riquezas lhe convenham? (...)

Para nós bastam apenas, de par com eficaz organização militar, escolas, muitas escolas boas, que pela razão e pelo amor convertam em excellentes cidadãos brasileiros, os filhos dos colonos, actualmente um tanto segregados da communhão nacional66.

P.P.

A vida nacional ocupava na primeira página do jornal, três colunas para as respostas às cartas; a resposta dedicada ao alemão obtém espaço considerável, 2/3 da mesma. Vem-se suscitadas, nessa resposta, questões que se justificam pela conjuntura internacional instaurada pela Doutrina Monroe e a propaganda gerada pela Liga Pangermânica. O trabalho com as matérias publicadas, nessa parte do jornal, constituiu importante fonte de informação sobre como era produzida a imagem e a ideia de que o alemão deveria ser visto como um elemento perigoso para a segurança nacional.

Tem-se um texto, cuja assinatura limita-se a duas iniciais P.P., autor esse que claramente defendeu os postulados ideológicos do jornal, assim como os interesses da elite paulista. Primeiramente, antes das respostas às cartas, a coluna foi apresentada ao leitor pelo editor do jornal, que deixou claro que, cada vez mais, aquela coluna ia ganhando espaço entre os leitores e que P.P. gozava de certa consideração entre eles: “Aplausos, porém, já nos tem sido dispensados alguns, por maneira assaz e generosa, indicando que os

despretensiosos escritos de P.P.(grifo nosso) não desinteressam de todo aos numeroso leitores do Estado67”.

O autor dos textos, portanto, gozava de certo prestígio e confiabilidade junto aos leitores do jornal, fator que contribuiu muito para que suas afirmações e acusações ganhassem caráter de “verdade” junto aos leitores.

A estratégia textual adotada por P.P. faz-se interessante, uma vez que o brasileiro é apresentado em posição vulnerável, traçando um caminho discursivo que parte do enaltecimento do alemã, para culminar em uma associação que permitiria afirmar que a inteligência de um povo permite que ele se torne audacioso diante de uma nação mais fraca.

Partindo de elogios à nação e ao povo alemão, P.P. menciona que os brasileiros não sentiam rancor pelos alemães, mas reconheciam a possibilidade de invasão no Brasil, utilizando como argumento principal uma notícia publicada por um jornal alemão, que muito provavelmente simpatizava com a ideologia da Liga Pangermânica como, por exemplo, o conceito de jus sanguinis68, em que se faz alemão qualquer um que possua o sangue alemão e o de jus solis69.

O jogo no uso dos adjetivos deixa claro que o autor da matéria procura demonstrar que os brasileiros conseguiram conviver com os alemães, mesmo possuindo ciência da periculosidade que eles traziam consigo. A aproximação de ambos os termos de mesma classe gramatical - ingênuos e odientos - coloca o autor em uma posição de segurança, pois permite que ele faça a crítica e que também possa se justificar, se necessário, dizendo que seu texto não incita a nenhuma atitude ou postura contra o imigrante aqui residente.

O autor da carta publicada no jornal – e que recebeu grande destaque possivelmente por ir ao encontro dos objetivos do periódico - ao alertar para o

67 Idem.

68 SEYFERTH, op. cit., p. 35, 1981. 69 Idem 5

perigo que o imigrante alemão poderia representar, colocou-se na retaguarda, não se limitando à denúncia, mas em um jogo de construção da frase, para não parecer contraditório, afirmando que os brasileiros não são ingênuos a ponto de não reconhecerem um potencial perigo representado pelos alemães e que além disso, o caráter do brasileiro não abrigava emoções como o ódio a um povo ou a um grupo.

Uma das críticas mais marcadas pelo autor está no enquistamento das comunidades da região Sul, fato este que fez com que os alemães tornassem- se estranhos à população local, no processo de colonização utilizado para povoar a região.

Para não incitar levantes contra os colonos teuto-brasileiros, o jornal afirmava não ter dúvidas sobre a integridade do alemão aqui residente, mas que não poderia deixar de considerar a força militar existente na Alemanha, à disposição de um imperador inquieto e que, juntando-se esse fator às ideias da Liga Pangermânica, o país poderia vir a ter problemas; para tal, justificou as inserções militares alemãs em outros países como Panamá e Coréia.

P.P., no fim de sua resposta ao leitor, apontou que uma das possíveis ações por parte do governo brasileiro seria a de oferecer educação aos colonos para que os mesmos pudessem aprender a língua e a história do país e, desse modo, se sentirem cidadãos integrantes da nação brasileira.

É importante salientar que o leitor do jornal não teve acesso à carta enviada pelo alemão de Belo Horizonte, mas apenas à resposta elaborada pelo jornalista, fato, que restringe a análise a apenas um dos pontos de vista, pois também esta pesquisa não teve acesso à carta enviada pelo leitor.

Um fator considerável a ser discutido tem em conta outro processo utilizado por P.P. no decorrer de sua resposta: a ironia. Um leitor desavisado, ou seja, pouco atento às estratégias discursivas, lê o texto apresentado, sem perceber que, muitas vezes, os procedimentos de adjetivação e rebuscamento

do texto não colocam o povo alemão em posição de enaltecimento, mas sim, em uma posição de questionável ironia.

Em 20 de março do mesmo ano, novamente a coluna A vida nacional trouxe à tona o tema que discutia a existência do “perigo alemão”, todavia, não sob forma de resposta a uma carta, mas em um texto que traçava comentários acerca da questão. Percebe-se que a coluna tinha por objetivo discutir os acontecimentos que estavam em voga no período, seja por meio de respostas cartas de leitores, ou por reportagens e crônicas. A coluna inicia seu montante com os seguintes títulos:

As provas da existência do perigo allemão – Pretensões curiosas e ataques insolentes. – commentários de um jornal – O que se conta na Allemanha70

Nesse texto, novamente assinado por P.P., nota-se um fato novo: até então os alemães representavam um suposto perigo para a nação, naquele momento, o autor afirmava categoricamente a existência do “perigo alemão”. Para justificar sua tese, P.P. mencionava na coluna do jornal um panfleto que havia chegado às suas mãos. Tal panfleto foi distribuído nas comunidades alemãs do Sul do país.

Conforme opinião expressa, P.P., em matéria publicada no jornal em 20 de março de 1904, deixou claro que o fato de os alemães do sul expressarem, através de panfletos e jornais, uma crítica aos mecanismos de integração dos alemães, - como, por exemplo, pela frequência de crianças em escolas para aprender a língua nacional – indicava que os alemães significavam potencialmente grande perigo para a nação.

Fato que se coloca passível de questionamento, nessa notícia, é a questão do posicionamento da imprensa. No início de seu texto, P.P. chamava a atenção do leitor para que, naquele momento, haveira provas de que o alemão aqui residente era um braço da política imperialista presente na

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Alemanha “outro dia quando dizíamos a respeito de que tudo quanto corre a respeito do muito discutido “perigo alemão”, havia sempre alguma coisa de verdade, longe estávamos de pensar que mais um fato característico, viria logo apoiar a nossa afirmativa71”. Em seguida, afirmou que O Estado de São Paulo estava atento a isso e sempre disposto a alertar o leitor.

Maria Helena Capelato e Maria Lígia Prado dedicam-se a estudar, em sua obra O bravo matutino, o nacionalismo e o regionalismo presentes em O Estado de São Paulo. Tal estudo, leva a compreensão sobre o pioneirismo da imprensa paulista em apontar o “perigo alemão” anteriormente à imprensa so sul. As autoras diagnosticam que esse jornal possuía forte empenho em afirmar a nacionalidade, corroborando uma consciência nacional, deixando transparecer a presença do regionalismo paulista na ideologia de seus representantes. Segundo elas, o ‘O ESP’, enfatizava que o movimento de luta pela afirmação da nacionalidade brasileira deveria partir de São Paulo72.

Para Julio de Mesquita Filho, autor de A crise Nacional e, na época, diretor do jornal aqui estudado, era natural que São Paulo encabeçasse esses movimentos, pois:

uma fatalidade histórica quis que de São Paulo sempre partisse a palavra ou gesto decisivo para os destinos do Brasil nos momentos mais aflitivos de sua evolução. Aqui se plasmou a raça, daqui partiram os que deveriam traçar as fronteiras dentro das quais