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Os jornais e o rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e

Antes de se adentrarem os noticiários dos periódicos, cabe justificar a substituição do jornal O Estado de São Paulo pelo jornal A Gazeta, também publicado em São Paulo.

Durante o período de levantamento de fontes, a pesquisa deparou-se com uma situação inusitada: o periódico O Estado de São Paulo, que, durante as últimas décadas do século XIX e a primeira do século XX, foi um árduo divulgador do “perigo alemão”, mudou sua postura, pois, com o decorrer da primeira década do século XX, diminuíram consideravelmente tais publicações, chegando a apresentar poucas notícias abrangendo a temática mesmo durante o período beligerante.

Desse modo, surge uma indagação: por que o veículo de informação paulista que mais propagou a ideia de “perigo alemão” deixou de questionar a eventual ameaça alemã, sobretudo no período beligerante, em que o Brasil declarou guerra à Alemanha, considerando-a um inimigo iminente?

Ao se analisar o jornal durante o período de 1914 a 1918 – balizamento correspondente à Primeira Guerra Mundial – depara-se com poucas notícias

sobre os alemães residentes em São Paulo. O jornal enfatizava, na maioria das vezes, a guerra na Europa, mesmo no ano de 1917, em que, após o torpedeamento das embarcações brasileiras e o rompimento das relações entre Brasil e Alemanha em abril129, e posteriormente à declaração de guerra, em 26 de outubro de 1917, não se nota, nas manchetes grandes alterações nas informações, sempre ponderadas, díspares das notícias do ano de 1904 apresentadas no primeiro capítulo.

Até mesmo as notícias relacionadas ao Brasil na guerra não apresentavam grande destaque, como mostra a imagem abaixo:

A imagem da capa do jornal do sábado, dia 03 de novembro de 1917, ou seja, no primeiro final de semana após o início da guerra apresenta certo “desinteresse” do jornal, mencionando apenas alguns acontecimentos da guerra. No que condiz às notícias relacionadas ao Brasil na guerra, apareciam apenas no interior do jornal, sempre entre as páginas 5 e 7 em colunas diminutas.

A partir dessas informações, rastreou-se o motivo que poderia ter levado o jornal a adotar uma nova postura com relação aos alemães residentes em São Paulo. Uma obra que nos auxiliou foi Julio de Mesquita, de autoria de

129 Vale ressaltar que o Brasil rompe as relações com a Alemanha no dia 11 de abril de

1917, após o torpedeamento do navio Tijuca. Um fato curioso é que este navio sofreu o ataque no dia 20 de maio do mesmo ano, todavia o Brasil só vai romper as relações com Alemanha, no dia 11 de abril, 5 dias após os EUA terem declaro guerra à Alemanha.

Paulo Duarte130, no trecho em que o autor reproduz as divergências entre os jornais alemães de São Paulo e o jornal O Estado de São Paulo, que era denominado em tom pejorativo pelos jornais alemães de “State of São Paulo”, uma maneira de aludir à influência inglesa-americana sofrida pelo periódico.

Segundo o autor, a presença de artigos depreciativos sobre os alemães131 faria com que o jornal perdesse a maioria dos seus anunciantes, haja vista que os mesmos eram de origem germânica, pois se, por um lado a colônia alemã de São Paulo era reduzida; por outro, era de grande poder aquisitivo, principalmente ligada ao comércio varejista e atacadista132.

Tendo como referência a obra de Paulo Duarte, averiguou-se qual era a relevância dos anúncios das empresas alemãs no jornal O Estado de São Paulo, no período da Primeira Guerra Mundial, e constatou-se o que a obra já havia afirmado: grande parte dos anúncios era de empresas alemãs, principalmente ligadas ao comércio, desde chocolates, clínicas médicas como a do doutor Heinzelmann, anunciada duas vezes no mesmo jornal133, a cervejaria Antártica e a farmacêutica Bayer, esta última ocupando praticamente 80% da página.

130 CAMARGO, op. cit., p. 248.

131 “É digno de nota, que o único jornal que não utiliza o termo ‘Boche”, (termo este criado

pelos franceses durante a guerra, tendo como finalidade hostilizar os alemães) era o jornal O Estado de São Paulo.

132 O Estado se São Paulo abrigava em torno de 170 empresas ligadas à comunidade

alemã, sendo que 32% desses estabelecimentos estavam associados ao comércio. In: Pinheiro, J. A. U. Empresas alemãs no Estado de São Paulo 1873-1945. Campinas, 2001. Dissertação de Mestrado em Economia, p. 85.

Sendo assim, buscou-se suporte metodológico em outro jornal, para que se pudesse analisar o cotidiano dos alemães em São Paulo após a declaração de guerra. O periódico então selecionado foi o jornal A Gazeta de São Paulo, fundado no ano de 1906, pelo jornalista Adolfo Araújo. Optou-se por esse periódico, não apenas pelas matérias veiculadas, mas também pela maneira como se noticiavam a guerra e os alemães em São Paulo.

Outro requisito importante para escolha deste corpus foi sua diagramação gráfica, mais uma vez recorrendo aos estudos da professora Heloisa de Faria Cruz, em que a mesma destaca que a capa do jornal e as manchetes representam a vitrine134 das matérias que serão apresentadas, A Gazeta nos trás uma formatação da capa dividida em 7 colunas, sendo que a ordem era: “Do Rio”, que noticiava os principais acontecimentos da capital federal, “Notas e Comentários”, que enfatizava breves textos do cotidiano, “Queixas e Reclamações” coluna dedicada à prestação de serviços e “Nomes do dia”, que mencionava textos de escritores, médicos e jornalistas. As outras três colunas eram espaço exclusivo para as informações da guerra, além da manchete principal, denotando mais relevância ao conteúdo.

A primeira manchete selecionada para análise corresponde ao rompimento oficial das relações entre Brasil e Alemanha, ocorrido no dia 10 de abril de 1917. É interessante observar a relevância que é dada à matéria da capa do jornal, exclusivamente para relatar as informações do rompimento com a Alemanha.

Todavia, outros fatos chamam a atenção; o primeiro deles está relacionado ao subtítulo da manchete, As providências do governo para assegurar a ordem na capital da República, logo após o anúncio da rescisão diplomática entre as duas nações ocorre uma “comoção” nacionalista, em que estabelecimentos alemães são atacados e invadidos, fato este que se verá mais à frente. Em seguida, o conteúdo da matéria é digno de nota, em uma coluna denominada E se o Brasil entrar na guerra..., o periódico responde qual seria o papel militar e estratégico do Brasil:

Si entramos na guerra, obrigados a colaboração material com os aliados, que poderemos fazer? O nosso arsenal de Guerra esta razoavelmente aparelhado, e pode produzir munições, desde que se aumente o potencial técnico; nas mesmas condições dispomos das fabricas de cartuchos, de pólvora e usinas de ferro, já não falamos no carvão nacional, cujos os resultados recentes são magníficos(...) As fabricas de pólvora da Estrela e do Piquete podem abastecer o Exército e a Armada da a quantidade necessária – nesses pontos estamos em excelentes condições.135

Algumas contradições podem ser notadas no discurso do jornal: nota-se que o periódico não enfatizava uma participação efetiva do exército brasileiro, inserindo o Brasil apenas como fornecedor de matérias primas. Ora, se o “arsenal brasileiro está razoavelmente aparelhado”, por que apenas se enviam matérias-primas? A reposta pode ser encontrada em um artigo de Adler Homero Fonseca de Castro:136

A situação do Brasil nas vésperas do conflito não era das melhores. O boom econômico da borracha, que tinha financiado em parte os programas de modernização da marinha (adquiriu dois encouraçados, dois cruzadores e 10 contratorpedeiros do último tipo em 1910) e do exército (comprou centenas de metralhadoras, 212 canhões de diversos calibres e 400.000 fuzis Mauser entre 1905 e 1910) tinha acabado, com a substituição das importações européias pela borracha da Malásia. Isso resultou no fato de que as forças armadas contassem com

135 Jornal, A Gazeta, 10/04/1917. Matéria da Capa.

136 Especialista em tecnologia militar Adler Homero Fonseca de Castro é Curador de

armas portáteis do Museu Militar Conde de Linhares, localizado em São Cristóvão (RJ); Pesquisador do IPHAN e mestre em História. O texto foi publicado na Rede de Memória Virtual Brasileira disponível no site: http://www.grandesguerras.com.br/artigos/text01.php?art_id=68

equipamentos modernos, mas carecessem de meios

de operá-los eficazmente137.

Deste modo, evidencia-se uma valorização exacerbada do Exército brasileiro, por parte do jornal, pois embora possuindo considerável quantidade de armamentos, carecia de habilidade para operá-las, algo que não é citado nas páginas do periódico. Entretanto a questão bélica não ocupa o centro das discussões do jornal, sendo tratada de maneira concisa. O periódico tem como fulcro salientar o cotidiano de uma São Paulo em “guerra”.

As notícias apresentadas pelo jornal A Gazeta, nos dias posteriores ao torpedeamento do navio Paraná e o consequente rompimento das relações entre Brasil-Alemanha, traz um retrato do cotidiano vivenciado por paulistas e teuto-brasileiros em São Paulo.

A situação dos alemães radicados no Brasil mudaria drasticamente com o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. Se, durante um longo período, o “perigo alemão” que apenas rondava o imaginário popular em livros e páginas de jornais, agora se transformava em um perigo real e iminente à nação brasileira. Com isso, ocorreram diversas manifestações populares contra os alemães nos grandes centros do Brasil, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, sendo este último o nosso foco.

Como era de se esperar, a população paulista não ficou inerte aos acontecimentos publicados nos jornais, e, nos dias posteriores, a população saiu às ruas para apoiar a causa governamental. Deste modo, no período que corresponde aos dias 11 e 12 de abril de 1917, diversos estabelecimentos alemães foram invadidos e destruídos, como mostram as fontes. A Gazeta publicou os acontecimentos da seguinte maneira:

Manifestações populares

Como noticiamos em nossa segunda edição, realizou- se hontem, ás 14 horas, a imponente manifestação patriótica promovida pela mocidade acadêmica.

Aquela hora, uma multidão inumerável como jamais se viu em São Paulo, se apinhava naquele local e nas ruas vizinhas.

Enquanto não se movia o majestoso cortejo, fizeram o uso da palavra, entre outros, Alfredo Ellis Filho, Ribeiro Couto Nelson, Silvio Flores e Ulisses de Sousa e Silva. Não tardou que a colossal multidão, empunhando o pavilhão nacional e bandeiras dos países aliados se movesse para as ruas da cidade, vibrante de entusiasmos, erguendo vivas ao Brasil.

Entrando na rua Direita o povo estacionou defronte do “Jornal do Commercio” falando da redação o secretário da folha, Sr. Valente de Andrade.

Entrado na rua 15 de novembro, a multidão reclamava a palavra do redator da “ A Gazeta”.

Assomando a uma das portas da redação um dos nossos redatores, o Dr. Antonio Covello, pronunciou eloqüente oração. Disse, em resumo no redator que se rejubilava com aquela manifestação do povo, por que ela era a manifestação da repulsa aos atentados inomináveis contra a justiça e o direito, perpetrados pela Alemanha. O fato da indignação foi se incendendo de povo para povo, de nação para nação, até explodir na revolta contra a barbárie germânica, ante a qual o mundo não podia mais permanecer impassível.

O Brasil que se mantivera numa rigorosa neutralidade, não poude mais se conter deante o ultraje, que lhe fora feito e tomára, portanto a única atitude que lhe impunha sua dignidade, e, si os exigissem os interesses da pátria, não regeataria o seu sangue para lavar uma afronta.

Orgam do povo – conclui o nosso redactor – “A Gazeta estará ao seu lado nesta como em outra ou qualquer emergência na defesa dos seus direitos e da sua honra.

Prolongadas salvas de palmas e vivas cobriram as ultimas palavras do vibrante discurso do nosso redactor, allias interrompido por freqüentes applausos pela incalculável massa popular. Prosseguindo em marcha, o cortejo cívico chegou a praça Antonio Prado (...)138

O jornal impresso, como meio de comunicação, tem sua relevância não apenas como fonte de se reproduzir um fato/cotidiano, mas se apresenta

também como uma maneira de preservação da memória coletiva, como elemento concreto da memória social.

A matéria acima narra, quase em tom romântico, a passeata realizada em São Paulo, denotando significado patriótico, valorizando o número de manifestantes e a conduta dos mesmos. O redator se utiliza de recursos de adjetivação relacionados à multidão. Termos como colossal e majestosa são empregados, ao longo do texto, com intuito de enaltecer a postura dos cidadãos. Por outro lado, o que chama a atenção é a riqueza de detalhes com que é descrita a movimentação popular pelas ruas centrais da cidade. Tal recurso atribui valor de fidelidade ao fato noticiado, causando no leitor a sensação de proximidade com o ocorrido.

São dignos de menção, os locais visitados pelos manifestantes paulistanos e não é mera coincidência que o cortejo popular pare em frente à sede dos cinco maiores jornais de São Paulo, “Jornal do Commercio, A Gazeta, O Estado de São Paulo, Diário Popular e Fanfulla”139 e espere ansiosamente o discurso dos seus redatores, uma vez que os mesmos são responsáveis pela veiculação das informações concernentes a guerra. O roteiro seguido pela população pode ser visto como um ato de apoio às publicações realizadas pelos mesmos.

A notícia encerra-se com notícias sobre o último local visitado pelos manifestantes:

(...) No entanto, uma considerável parte do povo havia se dirigido para rua Libero Badaró, onde fez manifestação de desagrado ao “ Diário Allemão”.140

O final do primeiro dia de manifestações ganhou contornos dramáticos para a população alemã de São Paulo, pois, se antes as agressões eram verbais, agora infringiam a integridade física dos alemães. A capa do jornal A Gazeta do dia 12/04/1917 nos proporciona a dimensão do ocorrido

139 A matéria não foi citada na integra por ser extensa. 140 Idem.

A exacerbação popular chegou ao seu ápice, na noite de 11 de abril; manifestantes exaltados atacaram diversos estabelecimentos alemães como bancos, casas comerciais e galerias de moda, como por exemplo, a Casa Alemã; entretanto o dano mais considerável e violento ocorreu na sede do jornal alemão “Deutsche Zeitung”, descrevendo os fatos, o periódico A Gazeta nos traz:

O ASSALTO AO “DIARIO ALLEMÃO”

Ao defrontar o cortejo civico com a ladeira S. João, uma voz se ergueu:

- Ao “Diario Allemão”!

Ate aquelle momento reinára a mais completa ordem nas justas manifestações de jubilo. A’quelle incitamento, porém, em um impeto irresistivel, a onda humana rolou por aquella ladeira, afluindo para a rua Libero Badaró, onde se achavam a redacção e officinas do orgaum tedesco. Não se descreve o que depois se passou. A pequena força de guarda-civicos que montava guarda ao prédio, foi levada de roldão de encontro às portas, que afinal cederam, depois de luctas terriveis em que ficaram feridas varias praças e o delegado (...)

Arrombadas as portas, penetraram no edificio innumeros populares, que, em um abrir e fechar d’olhos, despejaram para a rua tudo quanto havia no interior do predio: machinas de escrever, typos, caixas, bobinas de papel, moveis, retratos, tintas, emfim, tudo

o que mais á mão estava (...) E por fim, incenndiaram o prédio(...)141

Nos meses que antecedem a guerra, essa manifestação foi o mais virulento ataque a estabelecimentos alemães. Através da descrição feita pelo jornalista, pode-se observar a semântica do seu discurso, em que o mesmo justifica esse ato desmedido, como sendo algo inevitável, demonstrando que os manifestantes agiram por um impulso incontrolável.

Os relatos do jornalista Paulo Duarte dimensionam a intensidade dos ataques aferidos contra os alemães:

“Houve agitação nas ruas. O Delegado Geral, Tirso Martins, passou por maus bocados. Nós (...) participamos da grande arruaça, mas na rua Direita, quando eu vi um sujeito bêbado animando a multidão a arrombar a Casa Alemã para matar que lá estivesse, xinguei o sujeito e o grupo dele veio para cima de nós. (...) Tive sorte. UM grupo de policiais do Tirso interpôs- se entre mim e o grupo de desatinados e eu escapei de uma agressão e coisa pior, porque já éramos xingados de inimigos do Brasil...”142

Ambos os relatos apresentavam a violência desencadeada sobre os alemães em São Paulo, dando uma visão prévia do que ocorreria nos meses seguintes, com a declaração de guerra para a Alemanha. Todavia, vale salientar que o jornal A Gazeta, a priori, deixava explicíta sua reprovação frente aos acontecimentos, exigindo das autoridades medidas enérgicas contra os exaltados manifestantes143.

Em atendimento às solicitações, o governo paulista reforçou a segurança nas praças públicas, sem contudo proibir as manifestações, exercendo apenas o controle enérgico das reações. Outra preocupação foi a intensificação da vigilância, nas proximidades das casas e estabelecimentos comerciais alemães, os quais vinham sofrendo agressões constantemente.

141 Jornal, A Gazeta, 12/04/1917. Matéria da Capa 142 CAMARGO, op. cit., p. 248.

Para tanto, a força policial deslocou soldados para proteger estes estabelecimentos.

O centro da capital paulista apresentava, segundo o jornal A Gazeta: “A tarde apresentava a cidade o aspecto de uma praça de guerra”144, e pelo reforço policial de aproximadamente 550 soldados no local, além de todo o contingente policial que foi convocado para se apresentar nos quartéis, mesmo estando em férias ou folgas. Essas medidas controlaram os ânimos dos manifestantes, amenizando a situação tensa em São Paulo145.

Esta pesquisa buscou uma comparação da forma dos jornais noticiarem o mesmo fato, no entanto, tal intenção sofreu solução de continuidade, pois, o jornal Germania, cerrou suas portas em 11 de abril de 1917, apenas um dia após os incidentes. Não tendo possibilidade de estabelecer dialética com o outro jornal. Pouco o periódico menciona a respeito do rompimento diplomático, apenas uma pequena nota com nove linhas. Nesse mesmo dia, o jornal apresenta um artigo denominado: “Horas Amargas”, de onde se transcreveu a seguinte citação:

(...) Infelizmente não só do longe que intrigam, aqui no nosso meio procuram excitar as almas e bem sabem os allemães que muita pedra lançada em territorio brazileiro sobre suas casas não partiu de mão brazileira. A colonia allemã esta confiada na proteção do governo, e não é de seu seio que partirão provocações.146

O jornal Germania comportou-se de maneira “diplomática” e realçou a confiança na proteção das forças governamentais. Essa atitude muito provavelmente está relacionada ao ocorrido com o jornal alemão Deutsche Zeitung (Diário Alemão)147. Não se sabe se redação do Germania foi invadida e destruída, como outros estabelecimentos; entretanto, a publicação do jornal foi suspensa por 10 dias, por iniciativa do próprio jornal. Desse modo, esta

144 Jornal, A Gazeta, 13/04/1917. Matéria da Capa. 145 Idem.

146

Jornal, Germania, 11/04/1917. Matéria da Capa.

147

O jornal Deutsche Zeitung, posterior destruição da redação e o incêndio do prédio, o jornal alemão só volta circular em 1919.

pesquisa ficou limitada em analisar o rompimento das relações entre Brasil e Alemanha a partir da ótica dos alemães148.

Entre 15 de abril e 19 de outubro de 1917, poucas matérias foram publicadas nos jornais paulistas, que remetiam à situação dos alemães, em São Paulo, e nenhuma destacava outro ataque, cenário que seria alterado com a declaração de guerra.

3.3 “Boches” Malditos: os alemães em São Paulo durante a Primeira Guerra Mundial segundo o Jornal A Gazeta

O mês de outubro de 1917 foi decisivo para a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, após ataques de submarinos alemães a embarcações mercantis brasileiras; no caso, a primeira ocorrendo no dia 18 de outubro quando o navio Mercante Macau veio a pique e posteriormente, no dia 23 do mesmo mês, ocorreu o torpedeamento do cargueiro Macau, com a prisão de seu comandante, quando o governo brasileiro então decidiu declarar, no dia 26 de outubro, entrar em estado de guerra contra a Alemanha.

Com a declaração de guerra, a situação dos alemães residentes no Brasil transformou-se drasticamente. Em Porto Alegre, a população saqueava estabelecimentos comerciais, como o Hotel Schmidt, a Sociedade Germania, o clube Turnebund, locais que foram invadidos, pilhados e queimados149. No Rio de Janeiro, as manifestações não foram diferentes; no dia 1 de novembro, um número considerável de pessoas danificou casas, clubes e fábricas em Petrópolis, entre eles o restaurante Brahma (completamente destruído), a Gesellschaft Germania, a escola alemã, a empresa Arp, o Diário Alemão, dentre outros150.

Assim como em outros Estados brasileiros, as manifestações contra os alemães também ocorreram em São Paulo. Os dias vivenciados em abril