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As escolas de Primeiras Letras compõem o quadro das atividades desenvolvidas

no Império do Brasil para o ensino que deram impulso à educação, como fase que insere a

primeira etapa do aprendizado. Várias determinações ocorrem durante o período em destaque,

conferindo diferentes graus e ramos da educação formal. Temos os cursos da Academia de Belas

Artes, com as aulas de pintura, desenho, escultura, gravura e outras disciplinas incorporadas, a

Academia Medico Cirúrgica, os cursos Jurídicos, as aulas que, ministradas pelo Método

Lancasteriano, envolvem as disciplinas de matemática, retórica, filosofia, gramática latina,

portuguesa e línguas estrangeiras.

Desde a transformação do Brasil em Reino Unido pela transferência e

estabelecimento da Corte portuguesa, e seu aparelho político administrativo, constatamos a

experiência do trabalho educativo no sentido de organizar nacionalmente a cultura, “dotando de

símbolos que representassem a visão iluminista do governo”.211 A instrução pública foi angariada

pela instalação de Laboratórios (Laboratório Astronômico em 1810), Escolas Reais de Ciências,

210

BOTO, loc. cit.

211

Artes e ofícios em 1816, para os experimentos científicos que “intetava trazer um saber

científico” 212 à nova sede, a Academia Real da Marinha 1808, a Academia Real Militar em 1810,

os cursos de Cirurgia, Anatomia e Medicina em 1808 e 1809.

A instrução por meio de cadeiras de ensino foi implantada, no qual “permite a

qualquer cidadão o ensino e abertura de escolas de primeiras letras”.213 E a legislação, nesse

primeiro momento em que temos a preocupação com a organização da educação nacional, de

nível primário e secundário, observava a todos o direito de ensinar “independente de exames ou

licença” 214, fornecendo meios para o aprendizado da leitura, escrita, quatro operações de cálculo,

as noções gerais de geometria e gramática portuguesa.215 Até a formulação da lei de 15 de

outubro de 1827, todos podiam dar aulas nas cadeiras de Primeiras Letras, após a sua aprovação,

os que pretendiam prover-se em cadeiras de ensino, deveriam mostrar-se instruídos pelo exame

público perante os presidentes em conselho.

Às escolas de Primeiras Letras destina-se a formação primária, com o ensino de

disciplinas elementares que possam atribuir ao menos os conhecimentos da escrita, leitura e

matemática básica e quando possível o ensino de disciplinas que envolvem os ensino de línguas

estrangeiras, geometria desenho civil e militar. Existe uma confusão com relação às disciplinas

ministradas pelas cadeiras de ensino, mas, no que compete às Primeiras Letras, são guardados os

quesitos da educação de nível inicial, com as noções básicas do aprendizado.

212

Ibidem.

213

BRASIL. Reino. Em 5 de março de 1816. Agradece o oferecimento que fazem os negociantes desta praça, de formarem um capital, cujo rendimento seja perpetuamente aplicado a estabelecimentos que promovam a instrução nacional. In: Coleção de Leis do Brasil de 1816. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional 1890. P. 4. BRASIL. Reino. Em 5 de março de 1816. manda fazer no Banco do Brasil um registro dos subscritores para fundação do estabelecimento que promova a instrução pública.In: op. cit., p. 5.

214

Ibidem.

215

A memória de Martim Francisco de Ribeiro de Andrada, apresentada na

Assembléia Constituinte de 1823, destacou a importância da aplicação do método de ensino

mútuo às cadeiras de ensino no Império. E ainda afirmava que a instrução deveria ser útil e

aplicada a todas as camadas da sociedade para a preservação da unidade do Império recém

independente. 216

No Império do Brasil, neste primeiro momento de autonomia política,

encontramos Decisões de Governo que estabelecem Escolas e/ou Cadeiras de Primeiras Letras,

nas diversas províncias, vilas, freguesias e cidades do Brasil. Desta forma, esboçaremos as

justificativas das determinações que, em parte, delinearam a disposição da instrução primária no

Brasil da primeira metade do século XIX, através de uma documentação que nos permite

visualizar a ação do poder e da autoridade do Imperador, prolongada a ministros e conselheiros,

mediadores e auxiliares no exercício do Estado.

As Decisões de Governo fazem parte da Coleção de Leis e Decisões do Império

do Brasil, e deste modo, por se tratar de um material oficial, reconhecemos o distanciamento

existente entre a intenção – das promoções e estabelecimentos de Cadeiras e escolas de Primeiras

Letras, das considerações sobre os ordenados dos professores do ensino público e administração

destes estabelecimentos de ensino – e a prática aplicada à sociedade. Tais interpretações, para a

análise dos conflitos existentes entre a teoria e suas aplicações, devem ser completadas por outras

fontes que contenham conteúdo para tal discussão, como os relatórios dos presidentes de

província enviados ao governo anualmente.

216

RIBEIRO, J. Querino. A Memória de Martim Francisco Sobre a reforma dos estudos na Capitania de São Paulo. :

Boletins da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Boletim LIII História da Civilização BRAsileira Nº . São

Esta documentação está organizada em livros impressos pela Tipografia

Nacional, e cada um está dividido em duas partes: Até 1825, os Decretos, Cartas, Alvarás,

Proclamações, Manifestos e as Leis formam a primeira parte e as Decisões de Governo a

segunda. Tudo está organizado pelo índice, que enumera cada determinação disposta pelo título e

dispõe a página que contém a redação com a justificativa, a resolução e a assinatura do

encarregado do governo. A partir de 1826, com a abertura da Assembléia Geral Legislativa,

permanece a divisão em duas partes: Primeira parte os Atos do Poder Legislativo; segunda parte

Atos do poder executivo e as Decisões de Governo.

Contudo, ressaltamos que as Decisões de Governo formam uma parte do

conjunto da vida política na esfera do Estado. Deste modo, faremos um inventário das Decisões

de Governo que incidem sobre as escolas e cadeiras de Primeiras Letras, através da coleta e organização dos dados, disponibilizando uma análise das práticas políticas aplicadas às

instituições de ensino, para a extração do sentido das ações do Estado que colaboraram para a

implantação da instrução pública primária.

Ao ler a Decisão de Governo, primeiramente encontramos uma apresentação do

assunto a ser deliberado. São apresentações que se remetem aos ofícios e requerimentos das

províncias constando pedidos de implementação de cadeiras de ensino e as dúvidas com relação à

execução das leis:

“D. Pedro: Faço por bem a vós...Presidente da província da Bahia... o vosso ofício em 3 de julho do corrente ao acompanhando o requerimento do Padre Manoel José de oliveira Sampaio, Vigário na Freguesia de São Felipe ...em que pedia a criação de uma cadeira de Primeiras Letras naquela freguesia”217

“Ilm. E Exm. Sr. – Foi presente a Sua Majestade o Imperador o ofício de 28 de outubro próximo passado em que V. Exc. Oferece, para serem resolvidas, duas dúvidas que tem

217

BRASIL. Império. Provisão da Mesa do Desembargo do Paço de 6 de novembro de 1824. N. 233. cria uma cadeira de primeiras letras na freguesia de são Felipe, termo de Maragogipe, província da Bahia. In: Coleção das Decisões de Governo do Império do Brasil de 1824. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1886. P. 164.

ocorrido na execução da lei de 15 de outubro de 1827,a saber: 1º se os mestres providos em cadeiras de primeiras letras novamete criadas devem vencer logo que servem o ordenado, que nos termos do artigo 3º interinamente se lhes taxar. 2º se tanto os mestres atuais, como os novos opositores são indistintamente obrigados ao exame de que trata o artigo 7º.218

Outras Decisões possuem uma apresentação do ministro, autor e representante do poder do

Imperador, e sua função no governo, com a declaração do cargo que ocupa:

O Marquez de Queluz, do Conselho de Sua Majestade o Imperador, Ministro e Secretário do Estado e Negócios da Fazenda e presidente do Tesouro Nacional: Faço a vós saber à junta da Fazenda da Província de Goiás (...)219

E ainda temos Decisões em que próprio redator, em nome do Imperador, justifica sua ação pelo

ministério a ele conferido, estabelecendo cadeiras e escolas de Ensino Mútuo às províncias que

requerem tais apreciações em suas localidades:

Sua Majestade o imperador, deferindo a representação de Nicolau Diniz José Reynaud, manda pela Secretaria de Estado dos Negócios do Império...220

Determinando Sua Majestade o Imperador que também na Província de Pernambuco se estabeleça em Escola de ensino Mútuo, para que seus súditos na mesma província gozem das grandes vantagens de um tal sistema, e achando-se nomeado professor na dita escola Manoel Caetano Espinola... abonado da gratificação mensal de 20$000 por semelhante exercício (...) 221

Tais apresentações iniciais são seguidas pelas deliberações, demonstrando a

relação exercida entre os ministros conselheiros, desembargadores e secretários de Estado e o

Imperador. Tudo o que é decidido possui o aval de D. Pedro I e seu mando é exercido pelo corpo

político formado em seu redor.

218

BRASIL. Império. Em 17 de Novembro de 1828. N. 175. Sobre os ordenados e provimentos dos mestres de cadeiras de ensino mútuo. In: Op. Cit. p. 147.

219

BRASIL. Fazenda. Em 8 de março de 1827. N. 32. Sobre o pagamento dos ordenados dos professores do ensino publico. In: Op. Cit. P. 27.

220

BRASIL. Império. Em 29 de janeiro de 1823. N. 11. Permite o estabelecimento de uma aula de ensino mútuo nesta corte. In: Coleção das Decisões de Governo do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1887. P. 7.

221

BRASIL. Guerra. Em 18 de julho de 1825. N. 153. Cria na Província de Pernambuco uma escola de Ensino Mútuo. In: Coleção das Decisões de governo de 1825. Rio de Janeiro: Coleção das Decisões do governo do Império

Sobre a criação da cadeira de Primeiras Letras na província da Bahia, pelo

requerimento do Padre Manoel José Oliveira diz a Decisão:

“Houve por bem, conformando-me com o parecer da mencionada consulta... manda criar a cadeira de que se trata devendo ser provida pela diretoria de estudos dessa província, precedendo concurso em forma regular. O Imperador... mandou por seu especial mandato pelos ministros abaixo assinados do seu conselho e desembargadores do Paço. Henrique Anastácio Novais, rio de Janeiro de 1824. José Caetano de Andrade Pinto a fez escrever – José da Silva Lisboa – Dr. Antônio José de Miranda”.222

Resolvendo as dúvidas quanto à lei de 15 de outubro de 1827, declara João Clemente Pereira,

ministro do Império ao presidente da província de Pernambuco:

E houve por bem o mesmo senhor mandar declarar, quanto a 1º dúvida, que os mestres providos nas cadeiras de Primeiras letras novamente criadas devem vencer os ordenados...na conformidade do artigo 3º... nem outro podia ser o fim da lei no arbítrio interino estabelecido no mesmo artigo 3º comparado com a disposição do artigo 7º e quanto a segunda dúvida que obrigando o artigo 7º a exame somente os que pretenderam ser providos, é manifesto que esta obrigação não abrange os que tem nomeações vitalícias (...)223

Sobre os pagamentos dos ordenados dos professores, pelo Marquez de Queluz, ministro e

secretário dos Negócios da Fazenda, determina a Decisão 32 de 1827:

Faço saber à Junta da Fazenda da Província de Goiás que S. M o Imperador... por bem determinar, conformando-se com a mesa do dito tesouro não obstante devem ser pagos os ditos ordenados, visto não serem de inferior condição e nenhum inconveniente seguir- se esta medida para se prosseguir na necessária escrituração do que pertence à renda coleta e como em caso semelhante se havia já concedido há província de Minas Gerais...o que lhe participa para sua inteligência e devida execução. João José de Brito Gomes a fez no rio de Janeiro em 6 de março de 1827. João José Rodrigues Vareiro a fez escrever – Márquez de Queluz.224

José Bonifácio de Andrada e Silva, em 1823, resolve, pelo poder a ele conferido por D. Pedro I:

Pela secretaria de Estado e Negócios do Império, participar ao conselheiro Inspetor Geral dos Estabelecimentos Literários, para sua inteligência e execução estabelecer uma aula de Ensino Mútuo nesta Corte.225

E, João Vieira de Carvalho, do Conselho e Ministro e Secretário dos Negócios de Guerra, manda: 222 Ibidem. 223 Ibidem. 224 Ibidem. 225 Ibidem.

O mesmo A. S. pela Secretaria e Negócios de Guerra, participar ao presidente da referida província para seu conhecimento e a fim de que pela sua parte de as devidas providências para o estabelecimento da mencionada Escola; ficando prevenido que a Junta da Fazenda pública da Província será autorizada pela Repartição do Tesouro público para abonar Não só a gratificação como as despezas da repartição e as da sua manutenção.226

Após a explanação inicial, que apresenta o assunto a ser resolvido, e a

deliberação justificada pela rubrica do imperador, tem-se a assinatura do ministro responsável

pela ação governamental de acordo com o seu órgão administrativo, e dos outros indivíduos que

atuaram na realização da escrita das decisões.

3.4 AS DECISÕES DE GOVERNO: VISUALIZAÇÃO GERAL DA IMPLANTAÇÃO DE