3.9 O S O RDENADOS DAS C ADEIRAS DE P RIMEIRAS L ETRAS :
4. OS CURSOS JURÍDICOS O SEMINÁRIO DE OLINDA E A FACULDADE DE SÃO PAULO – FORMAÇÃO DA ELITE BRASILEIRA
4.1 O P ROJETO V ISCONDE DE C ACHOEIRA : “ REGULAMENTO PARA O CURSO JURÍDICO E A FORMAÇÃO DE JURISCONSULTOS BRASILEIROS ENRIQUECIDOS
DE DOUTRINAS LUMINOSAS E ÚTEIS”
De acordo com o projeto de regulamento para o curso jurídico escrito em 1825
pelo conselheiro de Estado Visconde da Cachoeira323, e aproveitado para a legitimação dos
cursos em 1827, podemos visualizar as propostas que se referem principalmente para a formação
de um corpo de agentes para o Estado. Estes, formados seriam os “jurisconsultos brasileiros”,
“homens hábeis para serem um dia sábios magistrados, e peritos advogados... dignos deputados,
senadores e aptos para ocuparem os lugares diplomáticos e mais empregos do Estado.” 324
O projeto pode ser visualizado através de dois aspectos: primeiramente segue
uma justificativa que indica a importância de um curso jurídico no Brasil sobre os princípios das
luzes, para que o Estado tenha cópias de doutrinas da “sã jurisprudência”, para a construção das
regras e ações da vida social, para a prática da magistratura e a ação no Estado. Posteriormente
iniciam-se os capítulos que explicam as etapas do curso, as disciplinas, os exames preparatórios,
321
LYRA. op. cit.
322
SOUZA, op. cit. P. 16
323
A utilização do estatuto redigido pelo conselheiro ficou determinada pelo artigo 10 da lei de 11 de agosto de 1827, em que estava prevista a sua aplicação desde que não se opusesse à própria lei. Porém em caráter provisório este seria utilizado, até que a congregação formasse estatuto próprio que estariam submetidos à assembléia. BRASIL, op. cit. P. 6
324
o plano de estudos, as matrículas e demais assuntos que cercaram o cotidiano acadêmico dos
alunos, professores e funcionários das instituições.325
Visconde Cachoeira, ao explanar sobre a importância do curso jurídico no
Brasil, começa avaliando os estatutos da Universidade de Coimbra. Para ele, os estatutos de
Portugal não contribuíram com o bom desempenho nos diversos empregos públicos, pois muitos
bacharéis foram formados, porém nada sabiam e
“iam aos diversos empregos para os servirem mal, e com prejuízo público e particular, tornando-se uma classe improdutiva com dano de outros misteres, a que se poderiam aplicar com mais proveito da sociedade”.
Para o conselheiro a falta de bons estatutos e a falta da prática dos estatutos
vigentes produziu conseqüências ruins aos cargos públicos. Com a reforma dos cursos, e a
adoção de novos estatutos, de acordo com os princípios das Luzes, produziu-se “grandes mestres,
dignos e sábios magistrados e habilíssimos homens de Estado, que aos nossos olhos tem ilustrado
e bem servido a pátria.” 326
E sem deixar de mencionar os “grandes” efeitos para o progresso e a
modernidade a que a sociedade poderia galgar com cursos e estatutos tão “profícuos”, Cachoeira
ressalta a importância dos estudos do direito pátrio, devido ao caráter prático do curso de direito e
na jurisprudência, que fundados na razão, formaria os homens para os diversos empregos da vida
civil. Sua proposta avança no decorrer de sua explicação, e justifica a adoção dos estatutos
reformados da Universidade de Coimbra, para “aproveitar as lições do saber e da experiência,
325
Projeto de regulamento os estatuto para o Curso Jurídico criado pelo decreto de 9 de janeiro de 1825, organizado pelo conselheiro de Estado Visconde da Cachoeira, e mandado observar provisoriamente nos Cursos Jurídicos de S. Paulo e Olinda pelo art. 10 desta lei. In: BRASIL, op. cit., P. 7.
326
para abraçarmos um novo método mais regular, simples, e farto dos conhecimentos necessários e
úteis”, porém,
“deve-se portanto, cortar o que for desnecessário, instituir novas cadeiras para as matérias que neles não se fez menção, as quais são enlaçadas pelos mais fortes vínculos com a jurisprudência em geral... e dirigirmo-nos ao fim de criar jurisconsultos brasileiros, enriquecidos de doutrinas luminosas, e ao mesmo tempo úteis, e que pelo menos neste curso bastantes e sólidos princípios , que lhes sirvam de guia nos estatutos maiores e mais profundos, que depois fizerem. É o que mais se pode esperar que obtenham estudantes de um curso acadêmico.” 327
E afirma que todos os jurisconsultos brasileiros devem saber os princípios elementares do direito
público, universal, eclesiástico e próprio de sua nação.
Para ingressar nas faculdades, os alunos necessitavam entregar certificados de
aprovação em línguas estrangeiras (língua latina e francesa), certidão de idade para a “madura
reflexão das matérias da ciência” e nas disciplinas de retórica, filosofia racional e moral,
aritmética e geometria e deveriam ter o conhecimento das grandes obras literárias. Tais estudos
eram indispensáveis, pois indicavam o conhecimento dos “preceitos gerais de gramática”, de
“eloqüência e poesia”, “regras de lógica, arte crítica, metafísica, ética e direito natural e as
operações aritméticas”. E ficava previsto no projeto que o aluno deveria ser avaliado pelos lentes
em cada uma das disciplinas acima descrita. 328 Em 27 de setembro de 1828 o legislativo
autorizou o pagamento de gratificações aos empregados e professores necessários nos cursos de
São Paulo e Olinda, de acordo com a lei de 11 de agosto de 1827, para os estudos preparatórios.
327
Ibidem., P. 12.
328
E até que uma lei não fosse criada para reger tais estudos e provimentos dos professores, os
artigos 6º e 11º da lei, continuavam a acompanhar os ordenados dos funcionários. 329
Desde a expulsão dos jesuítas, institui-se no Brasil um projeto de “aulas
régias”, que a partir de 1772 começa a distribuir cadeiras de ensino Gramática Latina, Grego e
Filosofia. No Rio de Janeiro, São Paulo, Vila Rica e Maranhão receberam incentivos através do
Subsídio Literário para a abertura de cadeiras. Em 1785 encontram-se solicitações para a abertura
de cadeiras de Francês e a partir de 1793 no Rio de Janeiro, aos militares ocorre a abertura de
aulas de Aritmética, Geometria, Francês e Desenho. E no final do século XVIII, o governo
português solicitou informações sobre o emprego de cadeiras de nível secundário na colônia
brasileira e ordenou a criação de cadeiras de Grego, Latim, Retórica, Filosofia, Matemática,
Trigonometria. 330
Mais precisamente no Brasil, como afirma Ariclê Vechia, o rompimento com a
tradição do humanismo clássico da educação secundária brasileira, delineia-se a partir do ano de
1800 no Seminário Episcopal de Olinda, que futuramente receberia o curso de ciências jurídicas
em suas alocações. O bispo Azeredo Coutinho331, formado na Universidade de Coimbra,
implantou novos métodos de ensino de acordo com a direção do reformismo ilustrado português.
Plano de estudos, a ordenação lógica das disciplinas, duração das aulas e o agrupamento dos
329
Brasil. Decreto de 27 de setembro de 1828. Autoriza o governo a conceder gratificações aos empregados e lentes de preparatórios que forem necessários nos cursos jurídicos e bem assim a professores de geometria nas províncias onde os não houver. In: BRASIL, op. cit., P. 68.
330
VECHIA, Ariclê.. O Ensino Secundário no Século XIX: Instruindo as Elites. IN: STEPHANOU, Maria & BASTOS, Maria Helena Histórias e Memórias da educação no Brasil. Vol. II – Século XIX. P. 78 e 79.
331
Nascido em Campos no Rio de Janeiro, estudou Letras e Filosofia em Coimbra e licenciou-se em Direito Canônico. Sua proposta pedagógica se articula com os esforços de reestruração do reino Português, e portanto para o conhecimento das riquezas naturais dos seus domínios intensificou a aplicação dos estudos das ciências naturas com as aulas de desenho, geometria, filosofia natural. Porém ressaltamos o caráter conservador do bispo, em que alia tradição e modernidade para o projeto de formação de homens que saibam respeitar o pacto existente entre o Brasil e Portugal, através da aplicação das aulas de retórica, e gramática. ALVES, Gilberto Luiz. Azeredo Coutinho e o Pensamento Burguês Luso Brasileiro. In: op. cit. P. 79- 117.
alunos em classes com a aplicação das aulas de Gramática, Retórica, Filosofia e aplicação de
disciplinas das ciências experimentais. De acordo com os estatutos do seminário de Olinda, as
aulas visavam ao preparo de “um bom cidadão e de um indagador da natureza”. 332
Com a vinda da família real para o Brasil, e a necessidade de formar agentes
administrativos e pessoal para o exército, o governo investiu no ensino superior e expandiu o
número de cadeiras de ensino de línguas estrangeiras, Latim, Filosofia e Retórica entre outras. 333
Durante todo o Primeiro Reinado, poucas cadeiras de ensino secundário foram
distribuídas no Estado, o que revela a instabilidade política e a carência de recursos nas
províncias para oferecer sustentação das aulas e o pagamento dos ordenados dos professores.
Liceus foram criados a partir de 1826 em Pernambuco334, porém apresentaram uma estrutura
muito frágil, com a reunião de aulas avulsas sem uma prévia organização das cadeiras. De acordo
com o quadro abaixo podemos visualizar a distribuição das cadeiras de nível secundário aplicadas
no Brasil durante este período:
332
Apud, VECHIA, P. 80.
333
VECHIA, op. cit., P. 82.
334
BRASIL. Império. Em 25 de outubro de 1825. N. 243. Aprova a proposta que fez o presidente da província de Pernambuco da reunião das diversas aulas da capital em um liceu. In: Op. Cit. P. 158.
Quadro 14. Cadeiras de Gramática Latina, Filosofia, e Línguas Estrangeiras – Decisões de Governo: Decisões de Governo 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1831** Total Total de Decisões 164 185 278 286 181 140 203 269 240 53 1999 Gramática Latina 1 - 1 1 - - 1 - - - 4 Filosofia - - 2 - 1 - 1 - - - 4 Retórica - - - - 1 - - - - - 1 Línguas Estrangeiras - - - 2 - - - 1 - - 3 Desenho - - - 1 - - - - - - 1 Latim - - - 1 - - 1 Total 1 - 3 4 2 - 2 2 - - 14
Fonte: Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil (1822-1831). **- Até a abdicação do imperador em 7 de abril de 1831.
Em 25 de outubro de 1822, na província do Ceará o conselheiro Martim Afonso
de Ribeiro Andrada solicitou o estabelecimento de cadeiras de Primeiras Letras e Latinidade nas
vilas e povoações da província e determinou que as cadeiras que já se achavam criadas
continuassem suas atividades até a abertura da Assembléia Legislativa para regulamentar em
nível nacional todas as cadeiras de Ensino. 335 Em 1824 três determinações para as cadeiras de
ensino secundário foram promulgadas. Através da provisão da mesa do desembargo do Paço em
3 de abril de 1824, houve a criação de uma cadeira de Gramática Latina em Queluz, província de
Minas Gerais. Foi concedida a isenção do recrutamento ao estudante da cadeira de Filosofia,
Antônio José da Lima, em 26 de novembro de 1824, pelo ministério da guerra. Em 15 de
dezembro, de acordo com o ofício do Reitor do seminário de São Joaquim, foi incorporado o Fr.
José Policarpo de Santa Gertrudes como professor de Filosofia, em que o mesmo se ofereceu para
dar gratuitamente as aulas. 336
335
BRASIL, op. cit., o. 91.
336
Em 1825 o ministério da Guerra em 25 de fevereiro de 1825, declara que os
alunos da Academia Militar devem começar a freqüentar as aulas de desenho, o ministério da
Marinha, em 6 de julho de 1825, solicita uma gratificação igual à metade do soldo concedido aos
lentes ao professor de língua inglesa da Academia Militar Eduardo Thomaz Colville, pelos
serviços prestados à Academia da Marinha. O liceu aprovado em 20 de outubro de 1825 reuniu as
aulas de geometria, filosofia racional e moral, retórica, gramática latina e desenho, além de
estabelecer uma escola de ensino mútuo. Em 19 de dezembro de 1825 também foi criada uma
cadeira de gramática latina da Vila de Rezende.337
Ordenou também em 1826, através do ministério da justiça que as cadeiras de
Filosofia racional e moral e de retórica da comarca de Paracatu, fossem transferidas para Ouro
Preto ou Mariana. Deixa que em conselho provincial se decida para qual cidade as cadeiras serão
acentadas. E a partir de 1828, as determinações passam a serem reguladas de acordo com a lei de
15 de outubro de 1827, assim, para receberem seus ordenados os professores devem apresentar
atestados de freqüência. E as cadeiras de gramática Latina que foram extintas de Rio Preto,
Conceição e demais vilas e povoações, solicitam a remoção dos professores para localidades mais
adequadas e mais necessitadas para não privarem-nos dos ordenados e da prática do
magistério.338
De acordo com a decisão de 17 de dezembro de 1828, o professor Fr. Manoel
Justino Ayres de Carvalho foi demitido para que a cadeira de filosofia fosse provida pelo
Bacharel Raymundo Felippe Lobato. No entanto o ministério do Império reclama do abuso do
poder executivo em abolir os direitos dos professores das cadeiras de ensino, uma vez que os
cargos são vitalícios de acordo com os meios legais. E em 1829, ainda sobre os provimentos dos
337
BRASIL. Coleção das Decisões do Império do Brasil de 1825. In: op. cit., p. 28, 88, 158 e 199.
338
professores dês cadeiras de Rio Preto e Conceição, a decisão de 29 de novembro solicita uma
solução sobre a situação dos professores providos nestas cadeiras de acordo com a lei de 1827. 339
Observamos a falta de cadeiras de ensino secundário na maioria das regiões do
império, sem contar a falta de funcionários e alunos para o seu funcionamento e a falta de uma lei
específica para a regência da instrução secundária no Brasil. As primeiras cadeiras inauguradas
no Império do Brasil forma destinadas à formação dos militares. E mais tarde os ordenados, os
provimentos e os relatórios ficavam submetidos à lei de 15 de outubro de 1827. Temos uma
pequena coleção de aulas sem um planejamento estruturado, que não se articula ao ensino
primário ministrado através das cadeiras de ensino de primeiras letras. Poucas são as cadeiras
inauguradas que conformam os dois níveis de estudo.
O executivo deliberou apenas duas determinações sobre as cadeiras de ensino
secundário para a disciplina de Gramática Latina:
Quadro 15. Cadeiras de Gramática Latina, Filosofia, Retórica e Línguas Estrangeiras – Atos do Poder Executivo: Atos do Poder executivo 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1831** Total de determinações 111 91 98 90 43 35 64 70 61 8 Gramática Latina - 1 - - - 1 - - - 2 Filosofia - - - Retórica - - - Línguas Estrangeiras - - - Total - 1 - - - 1 - - - 2
Fonte: Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil (1822-1831). **- Até a abdicação do imperador em 7 de abril de 1831.
339
O decreto de 5 de março de 1823 criou uma cadeira de gramática latina na
freguesia de Mato Dentro, província de Minas Gerais. De acordo com as solicitações dos
moradores representantes em que foi exposta a necessidade de implantar uma cadeira para a
“instrução da mocidade”. E em 1827, foi criada na Vila de Cantagalo, província do rio de Janeiro
uma cadeira de gramática latina em conformidade com a carta de leis de 15 de outubro de 1827,
com o ordenado pago pelo Tesouro público. 340
Quadro 16. Cadeiras de Gramática Latina, Filosofia, Retórica e Línguas Estrangeiras – Atos do Poder Legislativo: Atos do Poder executivo 1822 1823 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1831** Total Total de determinações - - - - 14 78 51 24 62 8 237 Gramática Latina - - - 2 1 - - - 3 Filosofia - - - - - Retórica - - - - - Línguas Estrangeiras - - - 1 - - - - 1 Total - - - 3 1 - - - 4
Fonte: Coleção das Decisões do Governo do Império do Brasil (1822-1831). **- Até a abdicação do imperador em 7 de abril de 1831.
E o poder legislativo determinou a criação de uma cadeira de gramática latina
na vila de Cantagalo na província do Rio de Janeiro, com o ordenado de 300$000 pagos pelo
tesouro público. Aplicou aos professores de línguas estrangeiras o que a lei concedeu aos
professores de primeiras letras de acordo com os artigos 2, 7, 8, 9, 14 e 16. Autorizou a
aposentadoria do professor João Batista Soares Meireles, professor de gramática latina. 341
340
BRASIL. Decreto de 5 de março de 1823, cria uma cadeira de gramática latina na freguesia de Mato Dentro, comarca do Serro Frio. In: Op. Cit. P. 43. BRASIL. Decreto de 12 de dezembro de 1827. Cria uma cadeira de Primeiras Letras e gramática latina na vila de Cantagalo, província do Rio de Janeiro. In: op. cit., p. 75.
341
BRASIL. Cria uma cadeira de primeiras letras e gramática la na vila de Cantagalo, província do rio de Janeiro. In: op. cit.p. 75. BRASIL. Decreto de 15 de novembro de 1827. Manda aplicar aos professores de língua latina o que na
Para considerarmos o quadro geral das cadeiras de gramática latina, retórica,
filosofia, desenho, e as demais disciplinas exigidas para o ingresso nas faculdades, de acordo com
o projeto de Cachoeira, temos a dimensão da precariedade do ensino secundário no Brasil neste
período. As cadeiras de ensino permaneceram sobre o regime de aulas régias, em que
predominavam as aulas avulsas, não havia um plano geral de instrução que visava a entrada dos
alunos para os cursos jurídicos. Somente em São Paulo e Olinda, nos locais em que estavam
alocados os cursos, eram ministradas aulas preparatórias para os exames das disciplinas com
professores contratados.
No capítulo terceiro do projeto, encontra-se o plano de estudos destinado a
regulamentar o tempo do curso e as disciplinas a serem ministradas em cada ano letivo. O curso
tinha a duração de cinco anos para a “formação do jurisconsulto brasileiro”, e no primeiro ano
aplicava-se duas cadeiras: Direito Natural, Público e Universal e Direito Romano. Segundo
Cachoeira seria necessário que o professor destas cadeiras dessem as noções gerais do direito
natural, levando os alunos ao conhecimento dos princípios gerais das leis através do resumo de
sua história e “considerar todas as relações dos homens como cidadãos que já vivem em
sociedade”. E com séria crítica, trabalharia com o Direito Natural do Público, demonstrando as
regras, os direitos e as obrigações dos homens entre si e da sociedade com o soberano, e com o
Direito Natural da Fortuna, trabalhando o código civil, os direitos dos homens e do cidadão
conforme a razão ilustrada. 342
Depois ensinaria as lições do Direito Público Universal, e a base essencial deste
direito, “o complexo dos direitos e obrigações das nações para com os soberanos”, a natureza
lei novíssima se concedeu aos de primeiras letras. In: op. cit., p. 107. BRASIL. Decreto de 25 de setembro de 1828. Autoriza o governo para aposentar a João Batista Meireles, professor público de gramática latina. In: op. cit., p. 63.
342
destes direitos e a tranqüilidade pública e a consolidação do governo. Para isso, instruiria os
alunos sobre as diversas formas de governo para chegar até o governo atual, constitucional e
representativo, a divisão dos poderes e formar um compêndio que contenham as doutrinas que
formam o direito público. E desta forma, deveriam ser os alunos hábeis homens com o “perfeito
conhecimento dos princípios luminosos, que foram adotados na Constituição do Império.” 343
Na cadeira de Direito Romano, “parte que guarda a base maior dos códigos
civis das nações modernas”, deveria o professor apresentar a história do direito romano e os
princípios gerais das decisões romanas para a aplicação ao direito natural e acrescentar o uso
prático de cada doutrina e afirma que os professores devem revelar aos alunos a ligação prática
do direito. 344
No segundo ano seriam estudados em duas cadeiras o Direito das Gentes,
Universal e Pactício e o Diplomático:
expenderá com toda cautela a exata noção do direito das gentes universal, distinguindo-o do pactício e particular, por isso que o primeiro contém preceitos, e regras da justiça universal, enaquanto o segundo tem só por objeto a particular, a qual provém dos tratados celebrados entre algumas nações e que vem a terem força pelo ajuste recíproco delas. 345
E para a diplomacia, ficava o professor para explicar as “verdadeiras regras
assentadas pelas nações” e em particular os tratados que regulam as isenções e os privilégios dos
agentes diplomáticos, as etiquetas de cortes, cerimônias públicas e negociações diplomáticas. E
para a segunda cadeira, o professor ficaria responsável pelo direito público, marítimo e
comercial, mostrando em que consiste este direito e os preceitos que dele se deduz o direito
público das gentes e das especulações marítimas, as relações diplomáticas entre os povos e a
manutenção da justiça. Também trataria das noções de direito comercial, tendo como base o 343 Ibidem. P. 17 e 18. 344 Ibidem. P. 19. 345 Ibidem. P. 21.
Compêndio Francês de Comércio, “pela sua brevidade e clareza, e universalidade de doutrinas...”
346
Para os estudos do terceiro ano os professores deveriam explicar “todo o direito
pátrio, público, particular, criminal, pois, com base nos dois anos anteriores, achava-se que o
aluno estava pronto para estudar a fundo a legislação pátria em geral. Dois professores estariam a
organização dos tribunais atuais, e dos que se lhes hão de substituir; a natureza dos tributos, e
imposições publicas; modo de lançar e arrecadar; a jurisdição suprema para o estabelecimento
das leis, criação e provimento de ofícios e instrução pública. Também o professor explicaria as