ABORDAGEM TEÓRICO METODOLÓGICA

A abordagem teórico-metodológica utilizada na pesquisa é qualitativa, e, nela, o estudo de caso de inspiração etnográfica. Escolhemos a metodologia qualitativa, pois esta, segundo Gonzaga (2006), traz a possibilidade de apreender significados sociais e subjetivos relacionados ao objeto de estudo. Ela propicia uma compreensão da relação do indivíduo com a cultura, colocando as pessoas como marco de referência. Dessa forma, a pesquisa qualitativa

estuda as pessoas no contexto social em que estão imersas e a relação com a situação em que vivem.

Lüdke e André (1986) apontam a importância dos estudos qualitativos para investigar os fenômenos educacionais. As autoras também afirmam que as pesquisas qualitativas em educação devem pensar o ensino e a aprendizagem dentro de um contexto cultural amplo, de forma que “não devem se restringir ao que se passa no âmbito da escola, mas sim relacionar o que é aprendido dentro e fora da escola” (p.14). Com isso, nessa maneira de fazer pesquisa, o processo é mais importante que o produto e a preocupação centra-se em retratar a perspectiva dos participantes sobre determinado fenômeno, que, no caso deste trabalho, são as queixas escolares encaminhadas ao CAPSi.

Minayo (2014) sinaliza que os métodos qualitativos se aplicam ao estudo da história, das relações, das representações, das percepções e das opiniões, considerando-as como produtos das interpretações que os humanos fazem da sua maneira de viver, dos seus artefatos culturais, como se sentem e pensam. A ótica das histórias sociais é abordada do ponto de vista dos atores sociais, de maneira que Minayo (2014, p.57) afirma:

Este tipo de método que tem fundamento teórico, além de permitir desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupos particulares, propicia a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. Caracteriza-se pela empiria e pela sistematização progressiva de conhecimento até a compreensão da lógica interna do grupo ou do processo em estudo.

Em relação ao método de inspiração etnográfica, sua escolha se deu por buscar compreender os significados atribuídos pelos indivíduos ao seu contexto e sua cultura no seu fazer do dia a dia. Assim, ele se utiliza de técnicas para descrição densa de um contexto ou fenômeno social, sendo que os resultados da pesquisa são interpretados tendo como referência os seus participantes, suas interações e grupos ou cenários sociais. Para Macedo (2000, p.147):

Os fatores não-oficiais assumem grande importância, ao contrário das pesquisas que valorizam os dados substantivos. Neste sentido, para obter dados que caracterizam a complexidade dos grupos, organizações e instituições em educação, por exemplo, as informações não-oficiais terão grande importância. Elas facilitam o entendimento real dos procedimentos burocráticos quase sempre reificados, bem como questões como a posição do observador em relação aos atores a serem estudados; os meios de acesso e como ele afetará suas relações com os sujeitos; como se realizou o contato inicial. Estas são situações cruciais para o entendimento das conclusões do estudo. Rockwell (1988) define a etnografia como processo de documentar o que não está documentado. A base deste processo acontece através do trabalho de campo e, subsequentemente, da elaboração dos diários de campo e dos relatos ampliados. Assim, a

etnografia consiste em observar o cotidiano e conversar com os seus participantes acerca dos processos e do fenômeno pesquisado.

No estudo de caso, o interesse incide naquilo que existe de particular e único dentro de um sistema mais amplo. Lüdke e André (1986) entendem que quando “queremos estudar algo singular, que tem um valor em si mesmo, devemos escolher o estudo de caso” (p.17). Por isso, esse trabalho utiliza o estudo de caso de inspiração etnográfica para compreender como as queixas escolares são entendidas e atendidas em um CAPSi.

O método de pesquisa escolhido se mostra apropriado para a investigação do objeto que esta pesquisa propõe, pois permite lançar um novo olhar sobre a temática, já que a grande maioria das pesquisas realizadas sobre queixas e demandas escolares no CAPSi é quantitativa e focada na análise de prontuários. (BORDINI et al, 2012; BELTRAME; BOARINI, 2013; MEDEIROS; BRAGA; JESUS, 2013).

A seguir, apresentamos os participantes da pesquisa, bem como os procedimentos do trabalho de campo e da análise de dados.

5.3 PARTICIPANTES

Esta pesquisa foi realizada em um CAPSi na cidade do Salvador-BA. Segundo o site da Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (SESAB)16, existem atualmente dois CAPSi em Salvador, localizados nos bairros do Rio Vermelho e IAPI.

A escolha do CAPSi pesquisado deu-se por haver uma aproximação prévia de parte da equipe com o pesquisador. Isso porque foi feito de um convite ao Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, coletivo do qual o autor desta dissertação faz parte, para falar sobre a medicalização da vida na semana da luta antimanicomial no mês de maio do ano de 2015. O acompanhamento ocorreu na condição de ouvinte, quando uma integrante do Fórum esteve no CAPSi para participar da atividade, e foi aproveitado o momento para conversar com a gerente da instituição sobre a intenção em realizar uma pesquisa no equipamento. Ela acenou positivamente e afirmou que precisava de autorização da Secretária Municipal de Saúde de Salvador (SMS) para poder entrar na instituição.

No mês de junho daquele mesmo ano, foi enviado um projeto para a Subcoordenadoria de Capacitação e Desenvolvimento de Pessoal da SMS para obter a carta de autorização para realizar a pesquisa, atendendo aos preceitos da Resolução 466/2012. A partir da aprovação da

16 _{Disponível em: <http://www.saude.ba.gov.br/images/Arquivos/Saude_Mental/Lista_CAPS_Estado_BA.pdf>.}

proposta de pesquisa pela SMS, o projeto foi submetido à apreciação do comitê de ética, obtendo sua autorização para a realização da pesquisa.

Em posse da autorização, a gerente do CAPSi indicou uma das psicólogas que seria responsável por acompanhar a realização da pesquisa. Após o primeiro encontro, foi acertado o acompanhamento dos acolhimentos e atendimentos, bem como as visitas às escolas e a realização da pesquisa documental com os prontuários. Posteriormente, foi sugerido ficar também no grupo de adolescentes. Já nesse encontro, a psicóloga afirmou que, por haver apenas dois CAPSi na cidade, a instituição “recebe encaminhamentos de Salvador inteira”. Dessa forma, compreende-se que o local de pesquisa é altamente relevante no que se refere ao encaminhamento de queixas escolares aos CAPSi.

A partir do contato no dia a dia com a instituição, foram escolhidas três profissionais que se relacionam diretamente com o atendimento às queixas escolares para a realização de entrevistas: elas receberam os nomes fictícios de Alice, Ana e Jaqueline.