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6 ANÁLISE DOS PRONTUÁRIOS

6.2 PERFIL DOS USUÁRIOS COM QUEIXAS ESCOLARES

Como foram mostrados, dos 283 prontuários pesquisados, em 156 a queixa escolar estava presente, o que equivale a 55% da população pesquisada. Identificou-se também um recorte de gênero: dos usuários que contêm a queixa escolar, 71% são do sexo masculino e 29%, feminino. Esses números coadunam com trabalhos realizados sobre queixas escolares recebidas em serviços de psicologia e de saúde. (SOUZA; BRAGA, 2014)

Esses dados podem ser melhor visualizados no gráfico abaixo:

Gráfico 8 – Gênero dos usuários que possuem queixas escolares

A média de idade da população com queixa escolar quando encaminhada é de 9,61 anos e a média de idade atual é de 12 anos. Em média, eles/as estão no CAPSi há 2,4 anos, sendo que os encaminhamentos têm crescido exponencialmente nos últimos cinco anos, quando verifica-se o ano de admissão no CAPSi. Os dados do ano de admissão podem ser vistos no gráfico abaixo:

Gráfico 9 – Ano de admissão no CAPSi dos usuários que possuem queixa escolar

Em relação a se recebem algum benefício, a maioria dos prontuários (54%) não tinha essa informação. Se considerarmos os prontuários que tinham essa informação, verifica-se que a maioria dos usuários atendidos no CAPSi com queixa escolar recebe algum benefício, destacadamente o Bolsa Família, indicando uma condição socioeconômica de extrema pobreza. Os dados podem ser visualizados a seguir.

Gráfico 10 – Usuários atendidos com queixa escolar que recebem benefícios

No que tange aos dados relativos à escolaridade quando foram encaminhados, a maior parte se encontrava no Ensino Fundamental I. Logo em seguida vieram os prontuários que não continham essa informação, seguido da Educação Infantil. Seguem os resultados no gráfico abaixo:

Gráfico 11 – Escolaridade dos/as usuários/as encaminhados com queixa escolar

Verifica-se que a maioria das crianças encaminhadas concentra-se no Ensino Fundamental I e na Educação Infantil. Nesse período, elas estão nos primeiros anos de apropriação da leitura e escrita, indicando que questões de escolarização, relativas ao letramento, podem estar sendo consideradas transtornos que devem ser encaminhados aos serviços de saúde. Souza e Braga (2014) comentam que muitos dos encaminhamentos da escola para serviços de saúde estão relacionados a padrões estabelecidos pela escola sobre o desenvolvimento humano e a aprendizagem, de maneira que qualquer coisa que fuja desse padrão é visto como transtorno, e assinalam que (p.47):

Exatamente no momento em que se inicia a escolarização para muitas das crianças das escolas públicas, não se dá o tempo necessário para que esse processo de inserção na escola ocorra. Imediatamente, crianças são identificadas com supostos transtornos, distúrbios, deficiências e são encaminhadas aos Serviços de Psicologia ou ao atendimento em Saúde. Importante ressaltar que os motivos do encaminhamento centrados em dificuldade de aprendizagem ou de comportamento são aqueles pelos quais as crianças se inserem na escola: vão para aprender e socializar-se. Ou seja, caberia à escola ensiná-los. Mas, de alguma forma, ainda se

encontra muito fortemente uma determinada cultura escolar que espera que este aluno venha com habilidades e competências já estabelecidas, como um a priori educacional, sem o qual passam a ser encaminhados para atendimento psicológico.

Ressalta-se novamente que 5% das crianças ou adolescentes não estão frequentando a escola. Os dados indicam novamente dificuldades no processo de inclusão na escola de crianças ou adolescentes que frequentam o CAPSi.

No que tange a origem dos encaminhamentos dos usuários com queixa escolar, a demanda espontânea aparece novamente como predominante, com 39%. Adverte-se que o encaminhamento por demanda espontânea não exclui a escola, em muitos desses casos ela participa indiretamente desse processo orientando os pais a “procurarem um especialista ou ajuda profissional” para dar conta de seus filhos. A área da educação aparece em seguida com quase 30%, um pouco à frente da saúde com 25%. Nota-se uma diferença em comparação com o perfil geral, com a área de educação responsável por mais encaminhamentos que a saúde. Os dados encontram-se disponíveis no gráfico abaixo:

Gráfico 12– Origem dos encaminhamentos dos usuários que possuem queixa escolar

Outro dado importante envolve os diagnósticos psiquiátricos atuais desses/as usuários/as, os quais podem ser visualizados na tabela abaixo:

Tabela 3 – Diagnóstico psiquiátrico atual dos usuários com queixa escolar

Diagnóstico Número Porcentagem

Sem informação 65 38,6%

Retardo mental 31 18,4%

Transtorno do espectro autista 20 11,9%

TDAH 11 6,5%

Transtornos de humor 9 5,3% Esquizofrenia e outros transtornos

psicóticos

5 2,9%

Transtornos de ansiedade 4 2,3%

Transtornos mentais leves 4 2,3%

Epilepsia 3 1,7%

Transtornos de personalidade 2 1,1%

Transtornos mentais não especificados 2 1,1%

Transtorno específico do desenvolvimento das habilidades

escolares

1 0,5%

Transtornos alimentares 1 0,5%

Em comparação com o perfil geral, verifica-se que as crianças diagnosticadas com TDAH têm queixa escolar, corroborando a crítica de que esse suposto transtorno seria a medicalização da dificuldade nos processos de escolarização (OLIVEIRA; SOUZA, 2014). Além disso, o retardo mental aparece de novo em segundo lugar nos diagnósticos mais frequentes, atrás apenas do sem informação, que também ficou em primeiro no geral. Destaca-se que o retardo mental, em muitos casos, tem servido para medicalizar o fracasso escolar, atribuindo esse diagnóstico para crianças e adolescentes que não têm a aprendizagem esperada (KALMUS, 2000). Esses diagnósticos sustentam uma visão reducionista e biologicista do desenvolvimento e da aprendizagem, produzindo rótulos e estigmas no chão da escola.

Portanto, a partir dos dados, indica-se o seguinte perfil das/os usuárias/os atendidas/os com queixa escolar: são majoritariamente do sexo masculino e com média de idade de 12 anos; a média de idade quando encaminhados era de 9,61 anos e se encontravam, em sua maioria, na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I; a origem dos encaminhamentos se concentrou por demanda espontânea e das áreas de educação e saúde. Destaca-se também a presença dos diagnósticos de TDAH e Retardo mental.