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2.1 Crenças

2.1.3 Abordagens em relação às pesquisas de crenças

Em seus estudos, Barcelos (2000, 2001) reconhece três abordagens em relação às crenças no ensino e aprendizagem de línguas. A abordagem normativa que compreende as

crenças por meio de “um conjunto pré-determinado de afirmações”. A abordagem

metacognitiva que faz uso de “auto-relatos e entrevistas” para melhor apreensão das crenças.

Finalmente, a abordagem contextual utiliza “ferramentas etnográficas e entrevistas” para apreender as crenças por meio de assertivas e ações.

O termo referente à abordagem normativa foi cunhado por Holliday (1994 apud BARCELOS 2000, 2001) para se referir aos “estudos sobre cultura os quais veem a cultura dos alunos como explicação para seus comportamentos em sala de aula” (BARCELOS, 2001, p. 76). Nessa abordagem, são utilizados questionários do tipo Likert-scale como método de investigação em que os alunos leem as assertivas e marcam alternativas que podem variar entre itens como concordo totalmente ou discordo totalmente em uma escala que pode variar entre 1 a 5 ou entre 1 a10.

Horwitz (1985) elaborou o questionário mais utilizado nessa perspectiva de pesquisa, o Inventário de Crenças sobre a Aprendizagem de Línguas (Beliefs About Language Learning Inventory – BALLI) para pesquisar de uma maneira sistemática as crenças tanto de alunos quanto de professores. Nesse tipo de estudo há uma descrição e classificação das crenças apresentadas pelos aprendizes. A referida autora sugere que uma avaliação sistemática das crenças dos aprendizes pode potencializar tanto a aprendizagem quanto a motivação durante o processo de aquisição de uma língua estrangeira. Há ainda uma relação dessas crenças com os bons aprendizes ou com a aprendizagem autônoma.

Os questionários apresentam algumas vantagens, por exemplo, como são menos alarmantes se comparados às observações, são apropriados quando o período de tempo para pesquisa e os recursos são limitados, e são fáceis de tabular. Por outro lado, as desvantagens nesse tipo de abordagem são que os alunos não fazem uma reflexão de sua aprendizagem de uma maneira que possa expressar suas próprias crenças, tendo em vista que as assertivas propostas nos questionários são pré-estabelecidas, portanto, não há uma contextualização das crenças (BARCELOS, 2001, p. 76-79).

A abordagem metacognitiva, foi pesquisada primeiramente por Wenden (1987) ao elucidar que a assertiva subjacentea essa abordagem implica em “ideias implícitas ou mudanças de representações subentendidas às ações”, ou seja, “teorias em ação” (WENDEN, 1987, p. 112). Dessa forma, a autora ressalta que os aprendizes refletem sobre suas ações para potencializar a aprendizagem. Essa abordagem faz uso de autorrelatos, entrevistas semiestruturadas e questionários. As vantagens da abordagem metacognitiva são que por meio

de entrevistas, os participantes da pesquisa têm a oportunidade de refletir sobre suas experiências e expressá-las verbalmente. Além disso, as crenças são vistas como parte do conhecimento, ou seja, as crenças dos alunos são reconhecidas como parte de seu raciocínio. Em contrapartida, as desvantagens são que não há uma inferência das crenças por meio das ações. Por conseguinte, apesar de haver o reconhecimento das crenças e o contexto, não há uma investigação entre a relação de crenças e ações, essa relação é apenas sugerida no que concerne às estratégias de aprendizagem (BARCELOS, 2001, p. 80).

Na abordagem contextual por sua vez, o pesquisador investiga as crenças por meio de observações dos participantes no contexto da sala de aula. Não há generalizações sobre as crenças e ações dos participantes nesse tipo de estudo, mas as suas compreensões em contextos específicos. Outrossim, as crenças são investigadas por meio de assertivas e ações. Valenzuela (1996 apud BARCELOS, 2001, p. 82) sugere que uma boa investigação sobre as crenças acontece por meio de uma abordagem que permite o uso de observações e entrevistas. Logo, a abordagem contextual faz uso de diferentes recursos como diários, narrativas, entrevistas e observações em sala de aula. Uma das vantagens dessa abordagem é que além de considerar as vozes dos alunos por meio de entrevistas, as crenças são investigadas no contexto de suas ações. Uma desvantagem é que se torna mais apropriada para investigar um número limitado de participantes. Ademais, demanda muito tempo (BARCELOS, 2001, p. 80-83).

Como explicitado acima sobre os três tipos de abordagens (normativa, metacognitiva e a contextual) há vantagens e desvantagens pela escolha de qualquer uma delas. Barcelos (2001, p. 84) atenta para o fato que na prática as referidas abordagens “podem não ser tão distintas” pois podem combinar diferentes tipos de coletas como escalas do tipo Likert e entrevistas. Logo, o que pode ajudar a definir qual o tipo de abordagem mais adequado são os objetivos da pesquisa.

Assim sendo, como buscamos a) investigar as crenças dos alunos a respeito da aprendizagem por meio da colaboração em rede e b) quais relações existem entre crenças e ações no que concerne à aprendizagem de língua estrangeira inglês por meio da colaboração em rede, esta pesquisa tem mais características da abordagem contextual, uma vez que a pesquisadora esteve inserida no contexto de sala de aula de dois CIL no DF e coletou dados por meio de observação com notas de campo, entrevistas, questionários, ao mesmo tempo que coordenou as interações online (por meio de uma plataforma) dos participantes dos referidos CIL e de uma escola pública do Canadá.

Destarte, investigar as crenças e ações dos alunos a respeito da aprendizagem por meio da colaboração em rede em seu contexto é um aspecto nucleico neste estudo. A seguir, abordamos primeiramente a definição do termo tecnologia e sua evolução na área de ensino e aprendizagem de línguas e posteriormente, uma melhor apreensão sobre ABP, um tipo de estudo considerado adequado para o desenvolvimento do projeto desta pesquisa com os aprendizes.