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4.1 Crenças dos alunos sobre a aprendizagem por meio da colaboração em rede

4.1.3 Dados das entrevistas livres e semiestruturadas

4.1.3.4 Dificuldade

Apesar do ambiente propício e das crenças dos participantes consoantes à aprendizagem por meio de colaboração em rede, os aprendizes durante as entrevistas livre e semiestruturada além do questionário em escala Likert também expressaram suas dificuldades durante o projeto. Primeiro, abordamos a dificuldade de acesso à plataforma iEARN, essa pergunta surgiu a partir da aluna Re2018 (pseudônimo), que disse durante a entrevista livre ter achado a plataforma confusa:

[16] […]na questão do site eu só acho meio difícil na hora de entrar nele, assim eu acho que o site ele, ele é meio confuso, eu acho que ele poderia ser mais, mais rápido em algumas coisas. (EL, 27/10/2018) Depois desta resposta, começamos a questionar os outros participantes para averiguar se eles também sentiam a mesma dificuldade. Verificamos por meio de suas respostas que o primeiro acesso foi algo difícil para muitos deles. Faz-se necessário ressaltar que o cadastro dos alunos na plataforma é feito pelo professor. O que consideramos uma forma de proteção para o aprendiz, pois somente o professor já cadastrado precisa fornecer o seu e-mail e não é possível aos outros usuários da plataforma se comunicarem com os alunos fora dela, na medida em que muitos dos aprendizes têm idade inferior a 18 anos.

O professor cadastra primeiro o nome do usuário e em seguida a senha para cada estudante. Como a senha não foi criada pelo aprendiz ele tende a não memorizá-la. O que realmente causa confusão no laboratório. Logo, o professor tem que verificar nome e senha com frequência na plataforma para repassar aos alunos. Depois de acessar a plataforma o usuário

tem que afiliar-se (join) ao projeto duas vezes. Primeiro, faz uma busca com o nome do projeto e afilia-se na parte superior da tela. Em seguida, para visualizar o fórum e efetivar suas postagens, o usuário precisa afiliar-se novamente com um novo clique na parte inferior na página inicial do projeto.

Fizemos uma demonstração em sala de aula de como proceder para o primeiro acesso em ambos os CIL, mas quando estamos todos no laboratório, muitos alunos esquecem a senha e como proceder. Dessa maneira, o professor é solicitado o tempo todo até que a frequência dessas ações faz com que essa dificuldade seja solucionada. Quando trabalhamos com esses projetos sem o compromisso de pesquisa ou observação para notas de campo, requisitamos a pelo menos um aluno que já tenha acessado a plataforma que se voluntarie e enquanto estamos efetivando alguma atividade ou tarefa em sala de aula, os aprendizes se revezam em trios no laboratório de informática a fim de evitar tais contratempos. Ademais, geralmente, quando estão todos no laboratório de informática há uma colaboração que acontece de forma natural entre os aprendizes, os colegas ao lado que já conseguiram efetivar seu acesso auxiliam os outros no acesso inicial.

Uma outra dificuldade levantada pela metade dos alunos participantes foi no que concerne à compreensão das mensagens postadas pelos interagentes da plataforma, o que se relaciona com a assertiva de número 5 do questionário em escala Likert e a questão 4 da entrevista semiestruturada.

Vamos analisar as respostas de dois participantes que assumiram durante a entrevista semiestruturada uma dificuldade de compreender os textos postados pelos interagentes de outros países. Primeiro, a aprendiz Paula que assinalou discordar em parte da referida assertiva do questionário em escala Likert. O que está em concordância com o que ela disse na entrevista semiestruturada:

[17] Assim, eu, algumas frases eu conseguia entender, as palavras eu conseguia entender, mas ás vezes eu tinha dificuldade porque eu entendia uma, as palavras. Mas pra juntar na frase e entender de fato é mais complicado. Era mais complicado pra mim. Mas tinha frase que eu conseguia entender, mas eu sempre recorria ao tradutor que era, que é a forma mais fácil, né? (ES, 24/05/2019).

Como foi dito no capítulo teórico, os alunos de ambos os CIL são heterogêneos, alguns são bons adquirentes da língua-alvo, outros podem ser considerados menos experientes e ainda existem aqueles que têm uma dificuldade maior no processo de aprendizagem da língua inglesa,

como por exemplo a aluna Paula. Mas ao mesmo tempo, por meio da observação de aulas, podemos perceber que é uma aprendiz bastante dedicada e esforçada. Paula foi bem coerente em suas respostas tanto no questionário em escala Likert, no qual respondeu concordar totalmente no item 3, quanto na entrevista semiestruturada ao ser questionada sobre quais estratégias teria usado para compreender as leituras durante o percurso do projeto da plataforma iEARN:

[18] Ah eu sempre ia no tra(…), no tradutor pra ter certeza se tava certinho pra ficar. E mas nem o tradutor dá de fato a certeza né, porque muita das vezes o tradutor erra. Mas eu tentava também estruturar o meu texto para ficar, com o que eu aprendi, e. Mas ia sempre no tradutor, né. Porque a gente sempre tem aquela coisa, né, vai no tradutor pra conferir mas muitas das vezes o tradutor não dá a certeza. Muita das vezes não ele não dá certeza né, mas. (ES, 24/05/2019). Além disso, a aprendiz Paula publicou na plataforma que literalmente recorreu ao tradutor para a efetivação da primeira tarefa como podemos visualizar ao final de sua postagem:

[19] P.s.: I don't know if it's going to be to understand very well, as it did in translator haha (iEARN 14/09/2018)

Tradução:

Eu não sei se você vai entender muito bem, porque eu usei o tradutor, haha.

Como pudemos observar a estratégia que a aprendiz Paula utilizou para colocar sua ação em prática foi recorrer ao tradutor online. Por outro lado, ao ser questionada se utilizou de alguma outra estratégia disse ter recorrido à aula do professor Poe e reconhece que o tradutor não é tão eficaz:

[20] Assim lembrar da aula também que o professor explica. Trazer alguma, pra memória, mas acaba que sempre o tradutor é opç(…), aquela opção mais concreta porque nele a gente tem mais certeza. Mas às vezes nem tem, porque o tradutor nem é tão eficiente assim. (ES, 24/05/2019).

Tendo dito isso, a aluna reflete sobre sua ação ao recorrer ao tradutor e entende que há problema nesse tipo de estratégia, ao mesmo tempo, fica subentendido que ela percebe a necessidade de buscar melhorar o uso da língua-alvo por meio de outras estratégias que ela

ainda não tem consciência de quais são durante seu percurso de aprendizagem da língua inglesa. A partir desta perspectiva, consideramos que Paula não queria demonstrar suas dificuldades ao professor ou aos colegas, mas ao mesmo tempo não se importou em publicar esse problema na plataforma. Dessa forma, podemos analisar a complexidade das crenças da referida aluna, pois em sua entrevista semiestruturada, apesar de refletir e chegar à conclusão de que o tradutor não é um instrumento totalmente confiável, continua a fazer seu uso indiscriminadamente. Ou seja, nesse caso, as crenças de Paula estão relacionadas às suas ações de uma maneira indireta e complexa como ressaltado por Woods (2003) e Barcelos (2007), pois deixa de agir de acordo com o que pensa.

O aluno Edu assinalou concordar totalmente com o item 5. Entretanto, durante a entrevista semiestruturada ao ser perguntado se teve alguma dificuldade para entender as mensagens dos outros alunos na plataforma disse:

[21] Edu: Eu tentei entender. Teve uma vez que eu até desisti de um comentário. Eu, tava muito difícil, eu não consegui mesmo. Aí eu deixei pra lá, mas a maioria, tipo quase todos, eu tentava entender. Eu li de novo, eu puxava o contexto que estava falando, voltava em cima dele para ver do que se tratava pra eu tentar entender, né? O que aquela pessoa tava querendo dizer.

Pesquisadora: É, a pessoa canadense que você respondeu, você conseguiu entender?

Edu: Sim eu consegui. tipo eu estava com uma dificuldade muito grande mesmo é com o pessoal do Afeganistão. Bem, eu tava com dificuldade de entender o jeito deles falar mas depois eu fui pegando me acostumando, né. Aí ficou mais tranquilo.

Pesquisadora: Os canadenses não? Edu: Não, foi de boa.(ES, 17/05/2019).

O projeto Encontrando Soluções para a Fome da plataforma iEARN, possui um diferencial que ainda não havíamos encontrado antes. Há a presença de aprendizes embaixadores (student ambassador), que são alunos interagentes voluntários de outro país, no caso o Paquistão que tecem comentários nas respostas de alunos ou de professores como forma de otimizar o projeto. Além disso, torna-se um fator de motivação para que a interação continue

e que os alunos percebam que têm outras pessoas interessadas em suas postagens. Durante a efetivação deste projeto, além da interação de alunos brasileiros e canadenses, houve a participação por meio de comentários de 5 aprendizes embaixadores do Paquistão além dos coordenadores do projeto no segundo semestre de 2018 (uma americana e um paquistanês). Os referidos voluntários paquistaneses parecem ter sido selecionados com critérios de habilidade escrita na língua inglesa. Eles respondem com inglês fluente e a barreira que pode ter acontecido com o aluno Edu com o “inglês” dos voluntários paquistaneses é que a presença deles foi algo inesperado. O referido aprendiz se equivocou com a nacionalidade dos embaixadores voluntários do projeto ao dizer que eram do Afeganistão, mas todos os aprendizes voluntários estrangeiros que postaram comentários neste projeto eram do Paquistão. Dessa forma, inferimos que a barreira identificada com a língua deles pelo aprendiz Edu pode ter sido ocasionada pela crença de que não são falantes nativos, o que os impediriam que tivessem um inglês adequado.