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Nos Estados Unidos, no estado de Kansas, em 1999, as autoridades educacionais decidiram que a teoria da evolução seria excluída das provas de ciências das escolas públicas. E, a partir daí, têm crescido em vários países do mundo os movimentos dos que defendem o criacionismo, corrente defendida por religiosos e alguns cientistas, segundo a qual a origem do universo e da vida é fruto da criação divina.

Em alguns países da Europa, onde não predomina o catolicismo o criacionismo se fortalece apenas gradativamente, mas, em outros, o movimento já começa a dar sinais de poder na definição das políticas públicas de educação, pois são países caracterizados por uma forte influência católica, diferentemente da Inglaterra, predominantemente protestante.

No Brasil, a postura assumida em 2000, pelo então governador do estado do Rio de Janeiro, Antony Garotinho, ao sancionar a lei que determina que o ensino religioso faça parte do currículo das escolas públicas, ocasionou uma retomada dos debates sobre os conflitos entre ciência e religião. Segundo determinação da Secretaria de Estado da Educação do Rio de Janeiro, em 2004 as escolas públicas promoveriam reflexões sobre a criação do mundo por meio de uma abordagem do criacionismo.

A revista eletrônica ComCiência (www.comciencia.br), por exemplo, discute esse tema em um de seus números. FISCHMANN (2004) aponta:

“Para compreender a polêmica instalada em torno da decisão do governo do estado do Rio de Janeiro acerca de aulas de ensino religioso em escolas públicas, resultando num debate que tomou recentemente órgãos de imprensa acerca do ensino do criacionismo versus evolucionismo, é preciso lançar mão de referencial que extrapola e envolve o próprio debate científico. Vale lembrar que o tema é antigo e recorrente no Brasil e que nem se trata de atacar a governadora do Rio, esquecendo problemas antigos, entranhados em outros estados da Federação - é a seriedade que exige o

esclarecimento preliminar, não para poupar a governadora, mas para alertar sobre há quanto tempo vem se cometendo erros em diferentes sistemas estaduais de educação, apenas encobertos por serem praticados pelo grupo religioso hegemônico, mesmo em âmbito público. Nesse sentido, é importante e interessante discutir Darwin e a Bíblia. Contudo, considerando a questão do direito à educação e suas inter-relações com o direito à liberdade de crença num Estado laico, como é o Brasil, é preciso antes lembrar documentos jurídicos nacionais e internacionais de proteção de direitos no campo religioso e da educação”.

O principal problema abordado não é levar a religião para dentro da escola, mas a forma como ela será abordada dentro das instituições de ensino. Quando a religião e a ciência pertencem ao mesmo âmbito, isso gera retrocessos que podem ser percebidos no modo como a influência de um deles pode determinar a atuação do outro.

Em outro artigo desse mesmo número de ComCiência, GUERREIRO (2004) afirma:

“A falta de entendimento distinto dessas duas interpretações de mundo leva alguns cientistas a quererem eliminar a religião, assim como algumas religiões querem eliminar a ciência. No meio dessas posições antagônicas existem ainda posições intermediárias. São as pessoas que buscam explicações científicas para a religião, achando que a fé se tornaria "mais verdadeira" se pudesse ser comprovada cientificamente. Ou ainda aquelas que acreditam na ciência "até certo ponto", utilizando a religião para completar a explicação. É uma tentativa de conciliar as duas explicações sobre o mundo.”

Podemos observar que os mecanismos de defesa das teorias são debatidos no meio educacional e científico, e as práticas adotadas para o uso delas que movem as discussões.

No artigo de WYATT (2006), dos Estados Unidos, o autor reforça a idéia de que em algumas escolas e faculdades a maioria dos estudantes dos cursos de ciência acredita no criacionismo. O autor comprova sua idéia a partir de uma experiência que ele teve em aula:

“Eu fui recentemente dar aula num curso de engenheiros para uma companhia de óleo e gás, sobre a origem do óleo e do gás. Todos os praticantes tinham boa base em ciências das universidades da Nigéria e todos tinham esperanças em trabalhar na indústria. Eu fiquei chocado quando eles disseram por que eles não acreditavam no caso científico que eu apliquei a eles. Eles sabiam que o óleo e o gás tinham sido colocados por Deus, porque isso tinha sido dito pelo pastor. A palavra de um clérigo não científico foi mais importante do que décadas de empenho científico. Finalmente, eu argumentei para que eles vissem que a distribuição de gás e óleo é possível cientificamente, fazendo explorações mais acertamos do que erramos, mas eu não sei até quando isso vai ser afirmado pelo pastor deles para ganhá-los de volta.” (pg.14)3

Desta forma, assim como alguns professores de escolas de Ensino Fundamental e Médio do Brasil sentem resistência por parte dos alunos em aceitar algumas das teorias científicas, o mesma tema ultrapassa as esferas nacionais e chega também nas aulas de Ensino Superior de outros países conforme foi constatado com a referida citação acima.

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Original: “I was recently teaching a course for an oil and gas companyabout the origin of oil and gas.All of trainees had

good science degrees from Nigerian universities and all were hoping to work in the industry. I was shocked when they told me why did not believe the scientific case that I was setting out of them. They knew that the oil and gas had been placed ther by God, because they had been told this by their pastor. The word of an unscientific clerygman was more important to them that decades of scientific endeavour. Eventually I managed to get most of them to see that the distribuition of iol and gas field is scientifically predictable, making exploration more than a hit an miss affair, but I don´t know how long it will take for their pastor to win them back.” (pg.14)

1.3. Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as leis relacionadas