• Nenhum resultado encontrado

O professor B1AL trabalha em uma escola de ensino religioso e sofre interferência indireta da escola. Durante a entrevista, foi o professor que mais defendeu o evolucionismo e possui uma postura bastante crítica ao criacionismo. Conclui-se, desse modo, que a escola e a sua caracterização religiosa não o influenciam na sua visão científica, nem no modo como conduz suas aulas. O professor B2AL, apesar de demonstrar fortes convicções religiosas, não sofre interferência direta da direção da escola em suas aulas, a qual, inclusive, solicitou-lhe que respondesse ao questionário da entrevista. Entretanto, na outra escola em que ele trabalha (estadual), a diretora chama sua atenção para que ele se limite ao conteúdo do livro.

O professor B3AL, que trabalha em uma escola de ensino apostilado, mais uma vez mostrou sua preocupação em cumprir o programa da apostila, visto que os alunos acabam sendo classificados no ranking de acordo com a atuação em simulados. Ao longo da entrevista, o professor sempre apresenta o conteúdo e a discussão da temática do evolucionismo (e quaisquer outros) de acordo com a proposta do programa conteúdo a ser cumprido e segundo os prazos de aplicação dos simulados que classificam os alunos em um “ranking” de acordo com o desempenho. Por isso, todo o conteúdo de cada simulado já deve ter sido ministrado antes da data de sua aplicação e esse fato parece limitar bastante a prática pedagógica do professor.

O professor B4AC foi questionado durante o processo de sua contratação em relação a sua crença religiosa e apresentou-se compreensivo em relação à postura da direção de utilizar o critério religioso para definir a contratação, já que, segundo a escola, essa exigência era decorrente de

dificuldades anteriores com professores de biologia e história que, provavelmente, colocavam-se contra o criacionismo em sala de aula.

Os professores B5UL e B6AL não sentem interferência da direção da escola.

O professor B7AL é bastante preocupado com a religião dos alunos que estão assistindo à aula. Procura não interferir na situação, mas deixa bem claro a eles que abordará uma visão científica, e a direção lhe dá total autonomia para isso dentro da sala de aula.

Pergunta 7:

Você fica satisfeito com o resultado das suas avaliações?

Respostas:

Professor B1AL:

“Sim. Às vezes não se alcança 100% dos alunos. Sempre tem o cara que vai bater o pé do outro lado, mas aqueles que estão balançados com as teorias e não sabe o que pensar ainda; para esses sim, é muito positivo. Para algumas pessoas, elas abstraem e caem no erro do livro didático em tratar em igualdade o criacionismo e a teoria evolucionista, como se fossem alternativas pra explicar a origem do ser vivo e da evolução, e eu não considero assim. E eu insisto que não é uma teoria. A teoria é da seleção natural, da origem das espécies a partir da seleção natural. A evolução é um fato que não se pode contestar simplesmente. Existe uma coisa que é a evolução, que se pode provocar dentro de um laboratório de biologia Faz-se isso constantemente, com as drosófilas, com as bactérias, você pode selecionar artificialmente e fazer um organismo evoluir. O criador de galinhas seleciona galinhas que atingem peso maior em menos tempo ou que bote mais ovos, e o cara faz isso em seleção artificial, mas de qualquer maneira ele está mudando a freqüência gênica, ele está evoluindo aquela espécie. Então, a evolução é fato.Agora os mecanismos, eu tenho a seleção artificial, que é o caso do criador de galinhas, o criador de cachorro que seleciona uma raça, o cientista do laboratório que faz isso para estudar genes e a o mesmo tempo você tem outras explicações possíveis, a seleção natural que faz parte do corpo da teoria darwinista, a seleção sexual, com a fêmea escolhendo os machos mais bonitos ou mais fortes . E você tem por exemplo, a explicação lamarckista da evolução, do uso e desuso da herança dos caracteres adquiridos. Essa era uma alternativa para o darwinismo, só que se mostrou falsa, não se tem a herança dos caracteres adquiridos que era a pedra fundamental do lamarckismo. Se mostrou falsa com o aparecimento da genética de Mendel . Foi demonstrado empiricamente por um alemão (August Weismann) que cortou o rabinho de ratos durante 11 gerações e sempre os ratos nasciam com os rabos. Então ele demonstrou empiricamente e depois teoricamente com o Mendel, que

a herança dos caracteres adquiridos não existe, e aí, o lamarckismo era uma opção, mas que sucumbiu ao teste, e você teve essas teorias darwinistas. O criacionismo não pode ser considerado uma alternativa ao darwinismo, não está no mesmo patamar, pois não explica nada. Para ser criacionista, você teria de abdicar todo o conhecimento da química, da física, da biologia, de todas as ciências, para ser simplesmente criacionista. Porque se pensar em criacionismo, não acreditar em evolução e simplesmente não crer na evolução significa duvidar de todos os testes que se faz em laboratório para verificar mudança de freqüência gênica. Duvidar da genética de Mendel, duvidar da existência de DNA, duvidar de tudo. Ele simplesmente vai ter que crer na religião cegamente. Daí ele não pode nem assistir televisão, andar de avião, que são as conquistas da ciência, que o cara vai ter que duvidar também, senão ele esta só na conveniência dele. Por isso eu batalho nesse ponto: de que não existe essa dicotomia; criacionismo e evolucionismo como alternativas para se explicar o mundo. Existe uma sensação confortável dele se sentir o centro da criação e achar que vai viver para sempre, que vai encontrar os parentes mortos, todo esse conforto da religião, mas que isso não serve para se explicar a biologia”.

Professor B2AL:

“Ás vezes os alunos me perguntam: “Professor, o que o senhor quer que eu escreva? Porque eu acredito que Deus criou tudo, mas o senhor está me falando da evolução e eu preciso tirar nota. Eu entendi as duas coisas, mas eu acredito em uma apenas.” Então eu falo a eles que eles têm que analisar, fazer uma interpretação da questão e responder o que está sendo pedido. Se eu estou abordando a evolução, que têm que ser citadas provas evolucionistas, os alunos têm que mostrar através de provas embriológicas. Isso eu não posso interferir.

Professor B3AL:

“No cursinho e no ensino médio, esse conflito criacionismo e evolucionismo não aparece. Se existe é de caráter pessoal, ele não explicita isso nas suas avaliações. Ele entende que são universos independentes e que ele tem uma preocupação ali de estar respondendo as questões para o vestibular dentro do que se espera do pensamento científico. O que aparece é se ele compreendeu ou não os princípios apresentados. Na maioria das vezes quando aparece um problema nesse assunto é da distinção entre o que é a diferenciação lamarckista da darwinista, mas não passa disso”.

Professor B4AC:

“Eles têm uma certa dificuldade em compreender. É um assunto que se leva um tempo. Não é em uma aula dupla que se consegue mostrar tudo, tenho que ir passo a passo. No primeiro impacto é muito difícil. Mas depois eles entendem”.

Professor B5UL:

“Nem sempre. Eles têm uma resistência a aprender o conteúdo. Uma dificuldade em aprender os conceitos, o processo em si e um certo bloqueio psicológico”.

Professor B6AL:

“Fico bem satisfeito. Eles não chegam num grau de compreensão mais profundo sobre evolução e se limitam a questões mais simples, mas os objetivos são alcançados”.

Professor B7AL:

“Fico. É muito interessante a maneira como eles colocam. Tem um momento desse nosso projeto que eles recebem umas folhas com alguns casos. Por exemplo: aumento de moscas numa determinada região, aplicação de inseticidas numa determinada área e o que aconteceu. Então, eu coloco as situações problemas, que eles vão ter que fazer em grupo discutir aquilo que aconteceu ali através da evolução. E isso é no final do trabalho, onde eu já dei todas as ferramentas. Aí eles conseguem direitinho se posicionar. Mesmo os que têm alguma religião e que tem uma outra postura. Sabem diferenciar o criacionismo do evolucionismo. Não existem conflitos”.