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Os sete professores entrevistados são formados em Biologia, com idades entre vinte e seis e quarenta e um anos, com tempo de magistério que varia de três a vinte e um anos. Três professores são formados pela Unicamp e o restante pela Puccamp, com apenas dois mestres. Apenas um professor entrevistado é da rede pública e os demais atuam na rede privada. As cidades das escolas em que esses professores lecionam situam-se na região metropolitana de Campinas, englobando Cosmópolis, Paulínia e Sumaré.

Os dados supracitados estão melhor caracterizados no item de “apresentação dos dados”, e a razão de repeti-los é elucidar ao leitor quem são esses professores que responderam o questionário e como a formação, tempo de magistério e idade possam ter influenciado em suas respostas. Podemos concluir alguns itens que foram fundamentais para a seguinte análise das respostas transcritas:

a) Idade e Tempo de magistério:

Os mais novos professores de Biologia, com idade entre vinte e seis e trinta e quatro anos, eram justamente os que tinham menos tempo de magistério, e talvez, exatamente por isso, pudemos notar que suas respostas mostraram um aspecto importante: uma maior ousadia. Por exemplo, o professor B1AL, que é o profissional com menor idade, é justamente o professor que declara, na sala de aula, que é ateu e faz questão de apresentar aos alunos suas convicções, tentando influenciá-los de alguma maneira. Esse professor mostra pouca sensibilidade quanto à questão da diversidade cultural dos alunos. Com o professor B3AL, que tem quarenta anos e vinte e um anos de magistério, a situação se inverte, pois, mesmo que ele acredite muito mais no evolucionismo, sempre procura mostrar isenção e neutralidade no sentido de não influenciar na visão ou crença dos alunos. Uma de suas maiores preocupações durante a entrevista foi a de afirmar sua necessidade de passar o conteúdo programático das apostilas da rede de ensino em que atua, potencializando o que vai cair no vestibular. Esse professor mostrou coerência e respeito ao tratar sobre a diversidade cultural de seus alunos, dizendo, em uma conversa informal pós – entrevista, que seria incapaz de influenciar ou alterar as convicções

religiosas de um adolescente que o vê, na maioria das vezes, como um modelo de referência a ser seguido. Além dessas características,.ele parece ser bastante “tolhido” pelo sistema escolar adotado por sua escola.

Uma outra característica que pôde ser constatada em relação à idade dos professores é a própria falta de experiência em relação ao assunto “evolucionismo”. Isso se evidenciou, por exemplo, quando o professor B6AL, de vinte e sete anos, fez uma afirmação equivocada, dizendo que “..A evolução ocorre muito lentamente, demora muitos períodos para se manifestar uma alteração evolutiva significativa...”, quando, na verdade, sabemos que nem todo processo evolutivo demora muito tempo para ocorrer.

Sendo assim, a idade e o tempo de magistério entre os professores de Biologia são itens importantes e que influenciam no processo pedagógico das duas abordagens em foco nesta pesquisa. Em sua prática, os professores mais novos revelam falta de experiência ao lidar com o assunto, enquanto os mais velhos mostram maior clareza, tanto na exposição do conteúdo quanto no tratamento de um assunto polêmico dentro das salas de aula.

b) Instituição

Os professores entrevistados nessa amostra foram formados em apenas duas instituições: a Unicamp, que é pública, e a Puccamp, que é privada, ambas localizadas na cidade de Campinas. Conseguimos visualizar que o professor formado pela Unicamp tem como característica uma convicção maior na defesa do ponto de vista científico, o que pode ser percebido pela ênfase dada, em suas falas, a nomes de alguns cientistas relacionados ao assunto. Na maioria das repostas, os professores de Biologia formados pela Unicamp demonstraram uma postura mais crítica em relação ao assunto abordado, enquanto os que se graduaram na Puccamp mostraram-se solícitos às exigências e cobranças das escolas em que lecionam.

c) Especialização

As respostas dadas pelos professores de Biologia não evidenciaram uma contribuição efetiva da especialização sobre a prática docente, revelando pouca influência no modo de ensinar as duas abordagens aqui discutidas.

d) Características da escola

O grupo dos professores de Biologia da amostra foi o que apresentou maior contraste em suas respostas no que diz respeito ao tipo de escola em que cada um deles leciona. Quanto aos professores

que lecionam em escolas que adotam um sistema de ensino apostilado, as respostas dadas já eram esperadas. Porém, entre os professores entrevistados, surgiram contradições não esperadas por essa pesquisa. Por exemplo, o professor que leciona em uma escola evangélica, que canta devocional, (cânticos cristãos no início de todas as aulas) e faz orações antes de reuniões pedagógicas e em todas as primeiras aulas é justamente o professor que traz o evolucionismo aos alunos como uma das partes mais importantes da Biologia, e que defende o ateísmo para os alunos. Com todas as suas convicções, o professor acaba não cumprindo adequadamente sua função de educador, uma vez que comete o proselitismo. Por outro lado, o professor que leciona em uma escola estadual e que, teoricamente, teria maior liberdade para tratar do assunto, simplesmente se nega a falar do evolucionismo quando sente maior resistência dos alunos, especialmente quando encontra alunos evangélicos em grande quantidade dentro da sala de aula. A contradição encontrada nesse tipo de dado pode ser explicada não só pelo caráter pessoal que esses dois professores imprimem à sua prática pedagógica (os quais possuem idéias totalmente opostas), como também pela instituição de formação de ambos. O professor da escola evangélica é recém-formado, tem menor tempo de experiência em sala de aula, e o outro, da escola estadual, é o professor da amostra que tem maior tempo de magistério. Dessa forma, concluímos que, na presente amostra, as escolas e suas características (laica ou confessional) pouco ou quase nada influenciam nas práticas dos professores na área de Biologia.

Então, podemos concluir que, para esse grupo, três características são importantes e influenciam mais nas práticas pedagógicas: idade, tempo de magistério e formação.

As características que demonstraram ter pouca influência sobre a postura ou atuação do professor foram: especialização e características da escola.