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2 5 AS CRENÇAS NA PERSPECTIVA DA LINGUISTICA APLICADA

2.6 ABORDAGENS DE INVESTIGAÇÃO SOBRE CRENÇAS

Como vimos no início deste capítulo, existem diferentes definições para o termo ‘crenças’, as quais sugerem, segundo Barcelos (2004), diferentes maneiras de investigá-las. A referida autora apresenta três abordagens de investigação das crenças: abordagem normativa, abordagem metacognitiva, abordagem contextual (BARCELOS, 2001), a saber:

2.6.1 Abordagem normativa

A abordagem normativa tem sua origem no trabalho de Holliday53 (1994). Nessa abordagem, as crenças são estudadas fora do contexto de investigação, sendo que a relação entre as crenças e as ações não é investigada, mas apenas sugerida. Segundo Barcelos (2001), os estudos que utilizam essa abordagem, em sua maioria, descrevem e classificam os tipos de crenças que os alunos apresentam e em alguns estudos essas crenças são definidas como “concepções errôneas” (BARCELOS, 2001, p. 77).

A investigação das crenças dentro dessa abordagem é realizada por meio de questionários fechados, e, na maioria das vezes, o mais utilizado é o BALLI54

que infere as crenças por meio de um conjunto pré-determinado de afirmações na Escala Likert55, na qual os alunos apenas sinalizam se concordam ou não com as afirmações pré-estabelecidas, impossibilitando o pesquisador de inferir o que os aprendizes realmente pensam e no que acreditam. Em outros casos, os pesquisadores que adotam essa abordagem, adaptam ou modificam o BALLI.

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Holliday realizou um trabalho cujo objetivo era explicar as ações dos estudantes em sala de aula, partindo da análise das crenças por meio de questionários fechados de tipo Likert scale (Miccoli, 2010).

54

Ver nota nº 33, p. 51.

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De acordo com Hosenfeld (1999, p. 18), os questionários do tipo escala Likert levam os alunos a interpretarem as crenças como isoladas umas das outras, o que dá uma visão apenas parcial do processo, visto que essa percepção só incluiria algumas crenças sobre aprendizagem.”

A abordagem normativa é adequada para pesquisas que contam com um grande número de informantes, tendo em vista a precisão e clareza dos dados produzidos e, também, por esses serem de fácil tabulação (GIMENEZ, 1994).

2.6.2 Abordagem metacognitiva

Na abordagem metacognitiva é verificado o que os aprendizes pensam sobre o seu processo de aprendizagem de línguas e como eles são capazes de articular as suas crenças. A relação entre crenças e ações também não é investigada, é apenas sugerida como acontece na abordagem normativa. Na abordagem metacognitiva, as crenças são inferidas através de intenções e declarações verbais (BARCELOS, 2001).

Os estudos realizados à luz dessa abordagem consideram as crenças como conhecimento metacognitivo, definido por Wenden como “estável e declarável”, embora, às vezes, incorreto, que os aprendizes têm sobre linguagem, aprendizagem e aprendizagem de línguas” (WENDEN, 1987, p. 163). Em geral, a coleta dos dados dentro dessa abordagem é feita por meio de entrevistas semiestruturadas, auto-relatos e, às vezes, questionários semi- estruturados. O uso de entrevistas como instrumento de investigação é um ponto positivo dessa abordagem, já que, as entrevistas permitem aos alunos usarem as suas próprias palavras para contarem as suas próprias histórias (BARCELOS, 2001, p. 83).

2.6.3 Abordagem contextual

A mais recente abordagem é denominada de contextual por interpretar as crenças como dependentes do contexto. Conforme Barcelos, os estudos que utilizam a abordagem contextual, geralmente, analisam a influência da experiência anterior de aprendizagem de línguas dos aprendizes não apenas por meio de suas crenças, mas também de suas ações em um determinado contexto (ALLEN, 1996, p. 81) ou de uma cultura de aprender de um determinado grupo (BARCELOS, 1995).

A abordagem contextual vem sendo considerada como uma proposta mais completa para a investigação de CEAL (BARCELOS, 2000; KALAJA, 1995), por compreender o fenômeno como uma entidade socialmente construída, dinâmica e contextual. Assim, “a relação entre crenças e ações não é somente sugerida, mas investigada dentro do contexto específico dos alunos” (BARCELOS, 2001, p. 82). Além disso, os estudos que adotam essa abordagem, “consideram a influência da experiência anterior de aprendizagem dos alunos em suas crenças e em suas ações, dentro do seu contexto específico” (SANTOS, 2010, p. 71). Na abordagem contextual são utilizados diversos instrumentos, tais como diários, narrativas escritas, visuais (desenhos) e metáforas, sessões de visionamento56

, entrevistas estruturadas, semiestruturadas e informais, questionários abertos e semiabertos, entre outros.

2.6.4 Abordagens de investigação de crenças: Qual escolher?

Diante da apresentação das abordagens vistas acima, é relevante entender quais são os critérios que devem ser levados em consideração na escolha de uma ou outra abordagem. Barcelos (2001, p.84) postula que as três abordagens podem não ser tão distintas e que é o tipo de pergunta de pesquisa que vai determinar a escolha entre elas. Outros fatores importantes para a escolha da abordagem mais adequada para um estudo é o número de participantes e o contexto de realização da pesquisa. Além disso, é possível fazer a combinação de metodologias de diferentes abordagens. Por exemplo, o uso de questionários fechados pode não satisfazer a tendência atual da pesquisa em crenças, que tem se preocupado em estabelecer as relações dessas com o comportamento dos informantes. Contudo, se o estudo tiver como escopo levantar as crenças de um grande número de participantes, esse instrumento pode ser tomado como ponto de partida e possivelmente expandido conforme o contexto de ação dos participantes, para depois ser combinado a outros instrumentos como, por exemplo, uma entrevista ou observação.

Vale ressaltar, de acordo com Santos (2010) que os erros ou lacunas possíveis de serem averiguados em uma ou outra metodologia de investigação, utilizada nos estudos anteriores, possibilitaram a reflexão e o aperfeiçoamento das pesquisas não só atuais, mas também futuras, pois agora é possível considerar outros aspectos relevantes para a investigação, tais como os fatores contextuais, a relação entre crenças e ações, os mecanismos de mudança e a evolução das crenças.

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Portanto, o quadro a seguir, extraído de Barcelos (2001, p. 82), sintetiza as características das três abordagens de investigação das CEAL, apresentando a definição de crenças sobre aprendizagem, as metodologias, a forma como é vista a relação entre crenças e ações, além das vantagens e desvantagens de cada abordagem.