• Nenhum resultado encontrado

Zonamento para fins específicos

3. ABORDAGENS METODOLÓGICAS

A experiência de aplicação de cartografia geotécnica ao planeamento não é igual em todo o mundo, verificando-se que cada país seguiu preferencialmente um ou outro tipo de metodologia, tendo alguns privilegiado a aplicação mais precoce de métodos de cartografia digital, nomeadamente os EUA e França. Como seria de esperar, a dimensão do país condicionou de sobremaneira a escala de trabalho, como é o caso do Brasil, EUA e ex-União Soviética, entre outros, onde preponderaram as escalas pequenas e, marginalmente, as médias. Como para estas escalas os limites apresentados numa carta de unidades geotécnicas se aproximam dos das unidades litostratigráficas das cartas geológicas, e considerando ainda que implicam uma abordagem mais genérica das diferentes características do meio físico, nomeadamente as geotécnicas, considerou-se não ser de incluir neste subcapítulo tal abordagem, tanto mais que a presente dissertação é especialmente vocacionada para a ocupação do meio urbano e suburbano. Consultaram-se, por isso, apenas trabalhos a uma escala maior ou igual a 1:25 000.

Os exemplos que se apresentam incluem, quer cartografia analógica quer digital e, nesta última, serão referidos alguns dos vários exemplos internacionais de aplicação de SIG na elaboração de cartas geotécnicas, nomeadamente no âmbito da cartografia de fenómenos geológicos perigosos.

Existem alguns estudos sobre os métodos de elaboração de cartografia geotécnica, dos quais se destacam os publicados por SANEJOUAND (1972) e ANON. (1972) e, em parte com base nestes dois trabalhos, o guia da UNESCO/IAEG (1976). Mais recentemente, refira-se o livro de DEARMAN (1991) que, contudo, ignora algumas contribuições metodológicas importantes, como a espanhola (CENDRERO et al., 1987) ou brasileira (ZUQUETTE & GANDOLFI, 1990), entre outras.

Seria impossível apresentar neste subcapítulo todas as metodologias utilizadas ou, inclusive, comparar as suas vantagens e desvantagens, uma vez que muitas têm um carácter regional.

As cartas geotécnicas, qualquer que seja o seu método de elaboração, têm implicações legais em alguns países, como é o caso das cartas geocientíficas na Alemanha (LUTTIG, 1978) e as cartas PER (Plans d’Exposition aux Risques) em França (ver COELHO, 1980 e

LAMAS, 1998). Na Inglaterra e Gales existe legislação que descreve a informação que é necessário obter antes de se projectar a ocupação de terrenos instáveis, a qual inclui cartografia no domínio das Ciências da Terra (DEPARTMENT OFTHE ENVIRONMENT, 1989 in MCCALL & MARKER, 1990).

Na sequência de recomendações apresentadas por MATULA (1979) ao Simpósio de

Cartografia Geotécnica que decorreu em New Castle upon Tyne, alguns estudos passaram a conter, a partir da década de noventa, nas cartas geotécnicas para fins de planeamento:

• uma análise dos impactes que certos atributos geológicos têm no desenvolvimento urbano e a avaliação das potenciais alterações introduzidas no meio geológico pela intervenção humana (cartas de vulnerabilidade à poluição / protecção ou preservação). São exemplo, os trabalhos desenvolvidos por HRASNA & SZABO (1994), HRASNA & VLCKO

(1994), VORONOV & KOZLOVA (1994) ou WANG & JIONG (1997);

• a quantificação dos atributos utilizados nos zonamentos para fins específicos, a fim de minimizar a subjectividade inerente a uma análise deste tipo. Entre os muitos estudos que seguiram esta abordagem, refiram-se os de BOTTINO & CIVITA (1986), CENDRERO & TERAN (1987),

MIN-ZONG & HONG-QI (1990), PACHAURI & PANT (1992), ORLIC & SUNARIC

(1994), VAN WESTEN et al. (1994), VLAHOVIC (1994) e ABOLMASOV et al. (1998).

Existe uma grande diversidade de métodos e critérios que são utilizados na elaboração das cartas geotécnicas. Para aplicações no âmbito do planeamento e ordenamento do território, recomenda-se a representação de um conjunto de factores (litologia, morfologia, processos activos, etc.) separadamente em cartas descritivas que se designam de básicas, na medida em que contém os elementos do meio geológico com os quais o Homem vai interagir, ou já foram por ele afectados. Estes mapas são depois combinados e integrados derivando-se então novas cartas que interpretam “qualidades significativas”, isto é, relevantes para o planeamento (estabilidade de taludes, susceptibilidade à erosão, trabalhabilidade dos materiais, etc.); as unidades geotécnicas são geralmente definidas segundo o critério litogenético (UNESCO/IAEG, 1976). No conjunto, são documentos de diagnóstico que reflectem as condições actuais da região e os seus recursos.

A partir das cartas de base e/ou derivadas obtêm-se as cartas de síntese, os documentos finais directamente utilizados por outros profissionais, que avaliam a capacidade, impacte ou aptidão para o desenvolvimento de certas actividades, ou que recomendam ou restringem determinados tipos de usos do solo.

O Quadro II.7 apresenta alguns tipos de cartas geotécnicas que a Geologia de Engenharia pode desenvolver para fins de planeamento.

Existirá sempre algum grau de incerteza no conhecimento geológico e geotécnico de qualquer área devido, quer à insuficiência de dados, quer à variabilidade espacial das condições ou aos processos de evolução geológica naturais. Deste modo, a par das referências às potenciais utilizações da informação final apresentada, devem também referir-se sempre as respectivas limitações.

Quadro II.7 – Algumas cartas geotécnicas para o planeamento.

Cartas temáticas Observações

Base (factores do meio) Litologia/Estrutura;

Geomorfologia, ex.º: - declives, - formas do relevo,

- inventário de movimentos de terreno. Hidrogeologia, ex.º:

- inventário de pontos de água;

- tipos de aquíferos e circulação de água subterrânea;

- níveis piezométricos;

Inventariação das actividades antrópicas.

São, na globalidade, cartas factuais que ilustram a distribuição de algumas componentes do meio natural: solos e rochas, declives, movimentos de terreno, etc.

Sítios de observação/prospecção/ensaios Carta auxiliar, por exemplo, para documentar pontos de amostragem. Derivadas Unidades geotécnicas; Susceptibilidade/Perigosidade, ex.º: - movimentos de terreno, - inundação, - contaminação água, - liquefacção.

Obtidos apenas da análise das cartas base, às vezes implicando uma avaliação entre a inter-relação dos diferentes factores em referência que resultam num zonamento preliminar.

Síntese

Fins múltiplos, ex.º:

- Zonamento geotécnico,

- Probabilidade de ocorrência (hazard).

Fins específicos, ex.º:

- Aptidão / Restrição à ocupação, - Inventariação / Protecção de recursos. - Riscos (risk).

Compiladas a partir dos tipos de cartas anteriores. Tentam avaliar o comportamento dos terrenos face a determinada solicitação/intervenção e representar globalmente os recursos a proteger para o desenvolvimento ou áreas com especial aptidão ou restrições à ocupação do solo. As cartas de zonamento para fins múltiplos, são cartas geotécnicas que têm informação para leigos misturada com outras para profissionais com alguns conhecimentos nas Ciências da Terra - por exemplo engenheiros civis. De todas as cartas referidas, as elaboradas para fins específicos são as que têm uma terminologia menos específica, surgindo a jusante das anteriores.