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Zonamento para fins específicos

4. CARTOGRAFIA GEOTÉCNICA EM PORTUGAL

A cartografia geotécnica em Portugal remonta à década de sessenta, quando o Laboratório Nacional de Engenharia Civil - LNEC, iniciou os trabalhos que pretendiam culminar na elaboração de uma carta geotécnica para Lisboa e que se quedou por uma carta litológica complementada com informação relativa à construção de pavimentos de infra-estruturas viárias (LNEC, 1962 in COELHO, 1980).

Durante a década de setenta, o LNEC iria contribuir com alguns trabalhos de cartografia

geotécnica para fins de planeamento, de que se destacam os do Plano Integrado de Almada (LNEC, 1973) e da Área de Sines (LNEC, 1974), que implicaram a realização das mais desenvolvidas campanhas de prospecção geotécnica (métodos geofísicos e mecânicos) e de ensaios in situ e em laboratório que até hoje se realizaram para a elaboração de cartas geotécnicas.

No início da década seguinte, foi publicado o trabalho de Gomes COELHO (1980), que constituía, até ao aparecimento da carta geotécnica do Porto (OLIVEIRA et al., 1995), o trabalho de cartografia geotécnica mais abrangente que foi desenvolvido em Portugal para fins de planeamento municipal. O mesmo autor esteve, alguns anos depois, na origem da primeira tentativa de microzonamento sísmico que se efectuou em Portugal para uma área urbana - Faro (COELHO, 1986).

Na década de oitenta incluem-se, ainda, algumas cartas litológicas complementadas por observações de carácter geotécnico elaboradas por Mendia de Castro para alguns gabinetes de apoio técnico às autarquias (GAT) da região Centro (CASTRO 1985; 1986; 1988; 1989 in GOMES, 1992). Os restantes trabalhos de cartografia para apoio ao planeamento e gestão do território foram realizados no âmbito de trabalhos de investigação ligados às universidades de Aveiro, Coimbra e Lisboa.

A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa foi sede de um conjunto de investigações que visaram obter cartas designadas “geoambientais” (FARRAIA, 1989;

SILVA, 1989; LISBOA, 1993; SOBREIRA, 1995), isto é, tentaram seguir a metodologia de

CENDRERO & DIAZ DE TÉRAN (1990). O trabalho de LISBOA (1993) representa um esforço mais compensado, tendo caracterizado o meio geológico da Área de Paisagem Protegida da Costa Vicentina. Merecem ainda referência os trabalhos de ALMEIDA (1991), que viria a contribuir com mais alguns elementos relativos ao conhecimento do comportamento geotécnico do solo e subsolo de Lisboa, e MARQUES (1997) que analisou, exaustivamente, a dinâmica de movimentos de terrenos ao longo da costa algarvia, constituindo um contributo valioso para o ordenamento daquela orla costeira.

As Faculdades de Letras da Universidade de Lisboa (ZÊZERE, 1988; 1992; ZÊZERE & RODRIGUES, 1992, entre outros) e de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (LAMAS, 1989; GRAÇA, 1990; NEVES, 1995) contribuíram igualmente com alguns estudos de inventariação de movimentos de terrenos e erosão, tendo inclusive alguns deles avançado para a realização de cartas de susceptibilidade à ocorrência daqueles fenómenos, embora sob a designação de “cartas de risco”; apenas um corresponde a uma carta de perigosidade relativa a um eixo viário (op. cit., 1995).

A Universidade de Aveiro esteve na base da execução de um conjunto de cartas de factores e de síntese para apoio ao planeamento de municípios da região Centro durante a última década do século XX. Neste âmbito, foi apresentado um conjunto de cartas de capacidade resistente (LADEIRA & GOMES, 1994a,b; LADEIRA & RODRIGUES, 1994) que aparecem no seguimento de uma metodologia avançada por COELHO (1980) para elaboração da carta de aptidão para fundações de Setúbal.

A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra esteve igualmente na origem de alguns trabalhos de investigação que incluíram a realização de cartografia temática no domínio da Geotecnia, como os trabalhos de SARAIVA (1986) e TAVARES

(1990).

A ilha da Madeira foi igualmente abrangida por cartografia geotécnica, no âmbito de estudos desenvolvidos por RODRIGUES & AYALA (1994) e ROSA (1995), o segundo dos quais apresentou uma tese de mestrado à Universidade Nova de Lisboa neste domínio.

A década de noventa corresponde à introdução de computadores na elaboração de cartas geotécnicas em Portugal, primeiramente para assistir o especialista no processo de desenho, sobreposição e análise das cartas de factores utilizados e, finalmente, para a edição final da carta.

No primeiro estudo, SILVA (1990) aplicou o programa AutoCAD à elaboração de uma carta de zonamento para fins múltiplos para a faixa marginal do Tejo, entre Cacilhas e Portinho da Costa, no concelho de Almada.

Finalmente, refiram-se três exemplos de cartas elaboradas com o apoio de SIG. A primeira base de dados gráfica - a carta geotécnica do Porto, elaborada em ambiente UNIX, foi encomendada por aquela edilidade (OLIVEIRA et al., 1995). Um método de barras ortogonais, representando o nível aflorante e o imediatamente subjacente, foi o seleccionado para apresentar a carta de zonamento para fins múltiplos; para além desta carta, incluía ainda uma carta de aptidão à construção, obtida a partir da maioria das cartas de factores entretanto realizadas (Quadro II.8).

Quadro II.8 - Cartas de factores e auxiliares da carta geotécnica do Porto (OLIVEIRA et al., 1995).

Cartas temáticas Entidades representadas

Factores • Geologia, • Geomorfologia, • Hidrogeologia, • Drenagem de superfície, • Inventário de materiais de cons-trução e explorações mineiras, • Ocupação de superfície.

• Declives, inventário de movimentos de terrenos e erosão fluvio-

-marinha e obras de estabilização e de defesa costeira.

• Idêntica à apresentada por COELHO (1980), incluindo cadastro dos

pontos de água.

• Delimitação de bacias e coeficiente de escoamento.

• Cemitérios, lixeiras e entulheiras, e zonas de recursos naturais. Auxiliar

• Localização dos trabalhos de prospecção.

DIONÍSIO (1998), no âmbito de uma tese de mestrado realizada para a UNL, elaborou uma carta geotécnica para a encosta sul do Casal Ventoso, em Lisboa, em que se concebeu uma base integrada de dados gráficos e alfanuméricos, em ambiente DOS, para um conjunto de características geológicas e geotécnicas.

Já no início do presente século, CAVALEIRO (2001) utilizou ferramentas de um SIG, em ambiente UNIX, para analisar automaticamente informação geográfica, de índole geológica e geotécnica, e desenvolver um conjunto de cartas geotécnicas para a futura área de expansão da Covilhã. Este trabalho, desenvolvido no âmbito de uma dissertação de doutoramento apresentada à Universidade da Beira Interior, incluiu ainda um conjunto de ficheiros (desenvolvido em ACCESS®), relativos a dados de ensaios, in situ e em laboratório, efectuados também pelo autor.