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3. Programas de Competências Parentais

3.3 Abordagens teóricas dos Programas de Competências Parentais

Os Programas de Competência Parentais são suportados por abordagens teóricas no âmbito de intervenções de carácter comportamental, cognitivista, de redes de apoio social (Corcoran, 2000) e da necessidade de uma abordagem ecológica neste campo de intervenção.

3.3.1 Abordagem Comportamental

Em termos das abordagens teóricas para os Programas de Competências Parentais, existe um consenso geral relativamente ao uso de técnicas comportamentais (Berard & Smith, 2008; Edwards & Lutzker, 2008; Peterson et al., 1997; Peterson et al., 2003; Sanders et al., 2004; Whitaker et al., 2005), tais como a modelação, o roll-play, o feed-

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“…empowerment como processo reporta-se a um leque total de experiências, situações, ocorrências e acontecimentos que suscitam e potenciam oportunidades para que os indivíduos usem capacidades que já detêm e adquiram novas competências.” (cf. Carl Dunst, 1998, p.126).

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back, o reforço positivo e o time-out, estratégias de auto-controlo, técnicas de resolução de problemas e prática de relaxação, para melhorar as capacidades parentais.

Lundahl et al. (2006) referem que as orientações teóricas neste tipo de programas influenciam o grau em que os pais modificam as atitudes e práticas relativas à educação da criança. Também os programas que incluem princípios da abordagem comportamental mostraram alterações mais positivas.

Corcoran (2000) refere que a questão da abordagem comportamental, deste tipo de programas, surge na sequência do reforço parental, inadvertido, de comportamentos indesejáveis das crianças e na falha de reforçar comportamentos apropriados, o que conduz à frustração dos pais e possivelmente ao maltrato. Por sua vez, a criança incapaz de chamar a atenção, utiliza formas inadequadas de obter atenção parental, mesmo que sob uma condição de maltrato. O reforço positivo ocorre quando o cuidador dá atenção a este comportamento, aumentando a probabilidade de repetição. A autora supramencionada apresenta ainda, como razões para o uso de uma metodologia comportamental, o facto de: a) muitas vezes os pais funcionarem em termos cognitivos num nível concreto, pelo que as abordagens cognitivas podem perder eficácia e relevância; b) os pais apresentarem menos resistência a intervenções de carácter educativo do que de carácter psicológico; c) as técnicas comportamentais são focalizadas nos problemas que são trazidos para as sessões pelos pais que maltratam; e d) as intervenções comportamentais têm apresentado um nível de sucesso significativo em famílias onde as dificuldades de conduta e os maus-tratos são uma realidade.

3.3.2 Abordagem Cognitivista

Nas abordagens cognitivistas, o papel das crenças, das atitudes, das apreciações, das percepções e das expectativas determinam como o envolvimento é vivido e as consequentes respostas comportamentais (Corcoran, 2000).

O processo cognitivo distorcido, que resulta de interpretações negativas ligadas à atribuição hostil ao comportamento da criança, isto é, o mau comportamento da criança, é percebido como uma tentativa deliberada de provocação parental (Sanders & Cann, 2002). Por sua vez, esta percepção de hostilidade por parte da criança, origina comportamentos de correcção e de coerção parental, sentimentos de irritação e o uso de

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punição severa, que resultam de sobre-reacção parental, de défice no controlo da cólera e de afectos negativos para com a criança (Sanders et al., 2004).

Sanders et al. (2004) referem que um processo de intervenção cognitivo- comportamental tem como objectivo aumentar a auto-eficácia na regulação da irritação e de emoções negativas e ajudar assim os pais maltratantes a não perderem o controlo emocional e a serem capazes de utilizar capacidades de gestão do comportamento das crianças.

Dado o potencial de áreas que implicam distorções cognitivas, a intervenção deve colocar-se a vários níveis tal como: a) o ensino do controlo da reacção fisiológica quando se sentem frustrados, através do controlo dos pensamentos, da relaxação ou de situações de roll-play; b) o treino de habilidades de comunicação, através de discussões, modelação ou roll-play; c) treino de habilidades de resolução de problemas (identificação e definição do problema, procurar alternativas, tomar decisões sobre as alternativas a empregar, implementar a decisão e verificar se a resolução do problema resultou); d) treino de formas mais eficazes de gerir o comportamento da criança (cf. Corcoran, 2000, p. 571).

3.3.3 Intervenção da Rede de Apoio Social

Nesta forma de intervenção, que tem como objectivo o estabelecimento de uma rede de apoio social às famílias alvo da intervenção, pode prever, segundo Corcoran (2000), o seguinte conjunto de serviços:

Uma rede, na qual os gestores de caso fazem contactos directos com os membros da famílias dos utentes, com os amigos, com os vizinhos e com os técnicos, para mediar conflitos e facilitar a comunicação;

Grupos de suporte que incluem a ajuda mútua entre grupos de pais e grupos de crianças;

Grupos de voluntários que fazem visitas domiciliárias para darem apoio, reforçarem as capacidades dos pais e para providenciarem transporte para serviços que sejam necessários;

Pessoas de vizinhança, nas quais se reconheçam membros da comunidade disponíveis para apoio informal a nível de transporte, gestão doméstica, informações aos pais, cuidados e gestão das capacidades da criança;

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Treino de habilidades sociais que consistem em actividades de instrução, treino, modelação, ensaio, desenvolvido no grupo de pais e em visitas domiciliárias por técnicos da área social e voluntários.

3.3.4 Abordagem Ecológica

As recomendações para o desenvolvimento e avaliação dos currículos dos Programas de Competências Parentais, no “mundo real”, remetem para esta questão da abordagem ecológica.

Segundo Whitaker et al. (2005), os programas de visitas domiciliárias, que incluem o treino de competências parentais no seu meio ambiente, reduzem a incidência de maus- tratos em aproximadamente 40%. No entanto, esta metodologia requer mais investigação e não pode ser vista como a resolução de toda a questão, mas apenas como uma esperança. Por sua vez, Harder (2005) defende que os programas de visitas domiciliárias perspectivam uma intervenção ecológica, atendendo à avaliação e intervenção que é realizada junto dos pais, e, com uma perspectiva mais alargada, à família e à comunidade.

Também a perspectiva ecológica explicativa da ocorrência de maus-tratos é congruente com a intervenção ecológica, uma vez que a intervenção se torna necessária nas várias dimensões do problema, no macrossistema, no exossistema, no microssistema e ao nível ontogenético.

Edwards & Lutzker (2008) referem, que o programa que apresentam, denominado ”SafeCare”, tem por base um modelo eco-comportamental, o qual perspectiva que a ocorrência de maus-tratos é devida à combinação de um conjunto de factores, que inclui: factores individuais dos pais, interacções pais-criança, factores familiares e factores mais amplos, a nível cultural e social.

3.4 Estratégias na definição dos Programas de Competências