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2. Maus-Tratos na Infância

2.2 Factores de vulnerabilidade e de protecção

2.2.1 Factores de vulnerabilidade e maus-tratos

Belsky (1993) refere-se aos factores de risco do ponto de vista das questões etiológicas, abordados na perspectiva dos contextos ecológicos. Desta forma, o autor considera o contexto desenvolvimental da criança, focando a sua atenção no papel da criança e dos pais nesta relação, incluindo as questões da transmissão intergeracional dos maus-tratos. Seguidamente, examinou o contexto relacional imediato das crianças maltratadas,

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focalizando a questão da parentalidade maltratante e, por fim, analisou um contexto mais vasto, focalizando a sua atenção nas dimensões comunitária e cultural do contexto de maltrato da criança.

Também Stith et al. (2004) procederam à realização de uma meta-análise no âmbito de um conjunto de estudos sobre os factores etiológicos, relativos aos maus-tratos a crianças, no que se refere aos factores demográficos, aos factores parentais, aos factores familiares e comunitários e aos factores de vitimação da criança.

As condições etiológicas dos maus-tratos e da negligência, como causas desta problemática, podem ser identificadas com os factores de vulnerabilidade ou potenciadores das consequências sofridas pelas crianças. Anaut (2005) define este tipo de factores como um conjunto de contingências pessoais ou ambientais, que aumentam a probabilidade do indivíduo desenvolver perturbações psicológicas ou de comportamento, que podem comprometer a sua adaptação ao meio.

a) Factores da Criança

A análise da informação disponibilizada por Belsky, (1993); Levy & Orlans, (1998); Stith et al., (2004); Tajima, (2002), entre outros, permite compreender quais os factores directamente relacionados com a criança, e com as suas característica, que estão na base dos maus-tratos que lhes são infligidos.

Alguns investigadores consideram que a idade constitui um factor importante para o maltrato na infância (Azevedo & Maia, 2006; Belsky, 1993; Magalhães, 2004; Tajima, 2002). Desta forma, quanto mais nova é a criança, maiores são os riscos que correm atendendo à maior dependência dos adultos e ao facto de terem maior dificuldade em gerir as suas emoções (Azevedo & Maia, 2006). Por sua vez, Belsky (cf. 1993, p. 419) refere também que as crianças mais novas têm maior probabilidade de serem maltratadas pelos cuidadores atendendo às seguintes questões: a) passam mais tempo com os cuidadores e estão mais dependente deles física e psicologicamente; b) são mais susceptíveis de sofrerem lesões devido à sua vulnerabilidade física; c) as crianças mais pequenas têm maior dificuldade em regular as suas emoções, pelo que podem mais facilmente ser alvo de comportamentos hostis por parte dos cuidadores; d) são pouco

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assertivos e realizam por vezes esforços para funcionarem autonomamente, para o que encontram grande resistência parental.

No entanto, da meta-análise realizada por Stith et al. (2004), sobre 33 estudos, realizados entre 1983 e 2002, que examinavam a relação entre a idade da criança e o maltrato na infância, concluiu-se que embora não existissem correlações significativas entre esta duas variáveis, havia uma tendência para as crianças mais pequenas sofrerem mais lesões, que implicavam a sua hospitalização ou mesmo a sua morte. Tajima (2002) aponta ainda o género da criança (com maior risco para os rapazes).

Vários autores referem os problemas de saúde física da criança, como sendo factores de vulnerabilidade etiológica dos maus-tratos e da negligência na infância (Azevedo & Maia, 2006; Belsky, 1993; Levy & Orlans, 1998; Magalhães, 2004; Scannapieco & Connell-Carrick, 2005; Stith et al., 2004). Assim, problemas pré-natais e neonatais, como complicações na gravidez, baixo peso, parto prematuro, complicações durante o trabalho de parto e no parto propriamente dito, deformações do bebé, hospitalização pós-natal (Belsky, 1993; Magalhães, 2004; Stith et al., 2004); a aparência pouco atractiva da criança para os pais (Azevedo & Maia, 2006; Scannapieco & Connell- Carrick, 2005); e a existência de deficiência física ou mental (Azevedo & Maia, 2006; Belsky, 1993; Lúcio et al., 2004; Lynch & Cicchetti, 1998; Magalhães, 2004; Stith et al., 2004) constituem esses factores de vulnerabilidade. Tajima (2002) refere a existência de dificuldades físicas, emocionais ou comportamentais, enquanto Oliver, Kuhns, & Pomeranz (2006) apontam o número de crianças que residem na habitação, isto é, quantas mais crianças maior a incidência de maus-tratos.

Numa perspectiva bidireccional da relação pais - criança é sugerido que o próprio comportamento da criança pode desencadear ou manter uma situação de maus-tratos ou negligência (Belsky, 1993). Assim, Stith et al. (cf. 2004, p. 121-130) apresentam um conjunto de comportamentos evidenciados pela criança que podem aumentar a probabilidade destas sofrerem de maus-tratos:

Agressividade da criança (utilização de força física pela criança contra outra pessoa, em casa ou não, com intenção de provocar dano, coagir ou alcançar um fim);

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Criança com temperamento difícil (criança percebida como não cooperativa com a autoridade – pais e professores – rebeldia, atitudes de desafio e relutância em cumprir com as regras ou pedidos);

Comportamentos de exteriorização (manifestação de problemas de comportamento tais como, hiperactividade e alterações de comportamento); Comportamentos de interiorização (comportamentos de isolamento, depressão,

timidez);

Falta de competências sociais (dificuldade da criança em usar as habilidades sociais necessárias para interagir com os outros).

Quanto à questão da deficiência e do comportamento, Lúcio et al. (2004) referem como situações que podem estar na origem dos maus-tratos, os problemas cognitivos e de atitude (baixas funções cognitivas, fraco desempenho escolar, dificuldade na resolução de conflitos, etc.); os problemas que ocorrem por longos períodos de tempo (níveis elevados de depressão e traumas); e os problemas de comportamento, sociais e emocionais (desobediência, hostilidade, medo, ansiedade, fracas relações sociais e com os irmãos). As autoras referem ainda, como causa de maus-tratos em crianças portadoras de deficiência, a não aceitação pela família de uma deficiência ou ainda as expectativas irreais relativamente à sua recuperação.

b) Factores Parentais

Da análise de vários estudos realizada por Ammerman, (1990); Belsky, (1993); Levy & Orlans, (1998); Stith et al., (2004); Tajima, (2002), foi possível determinar os principais factores etiológicos que têm origem parental e que estão na base dos maus-tratos na infância. Estes factores etiológicos ou as “causas” enquadram-se no âmbito dos factores de vulnerabilidade ou potenciadores.

Um conjunto de estudos permitiu concluir que o ter sido maltratado em criança aumenta a probabilidade de se tornar num pai/mãe maltratante, como resultado da transmissão intergeracional, já referida quando se abordou a Teoria da Aprendizagem Social, isto é, os pais tratam os filhos como foram tratados na infância.

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Zuravin, McMillen, DePanfilis, & Risley-Curtiss (1996) referem que a transmissão no âmbito do ciclo intergeracional de maltrato da infância depende do conjunto de experiências que tiveram início num conjunto de vivências pais - criança de má qualidade. As crianças maltratadas que têm pais que promovem o isolamento das suas famílias, que não participam em actividades comunitárias ou não interagem com os serviços, que têm poucas experiências de apoio social por parte da família ou dos pares, têm maior probabilidade de que se mantenha a ocorrência do ciclo intergeracional (Caliso & Milner, 1994). Os pais que foram vítimas de maus-tratos ou que testemunharam violência doméstica na sua família, possuem factores de vulnerabilidade acrescidos para exercerem maus-tratos sobre os seus filhos (Renner & Slack, 2004; Tajima, 2002), atendendo, como já vimos, a que as crianças sujeitas a maus-tratos têm tendência a atribuir intenções hostis aos outros e julgar positivamente o uso de comportamentos agressivos (Herrenkohl, Sousa, Tajima, Herrenkohl, & Moylan, 2008). Segundo Renner & Slack (2004), quanto mais severa a experiência de maus-tratos em criança, maior a probabilidade de se tornar um cuidador maltratante.

Segundo a teoria da vinculação, a transmissão ocorre por causa da influência e do impacto negativo que tem a acumulação destas experiências de má qualidade no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, sobretudo na percepção de si próprio, dos outros e no estabelecimento de relações (Baer & Martinez, 2006; Zuravin et al., 1996).

Neste sentido, a teoria da vinculação de Bowlby (1969) considera que as experiências precoces que ocorrem no contexto de relação pais - criança, permitem a construção das representações mentais da criança em relação a si própria, aos outros e às relações que estabelece. Estas representações mentais funcionam como filtros, através dos quais os estímulos sociais são interpretados e persistem, conduzindo as expectativas e os comportamentos da criança ao longo da vida, servindo também como base para o seu desenvolvimento social e emocional (Mennen & O´Keefe, 2005). Pode referir-se que num padrão de vinculação adequado, a criança utiliza o cuidador como base segura para a exploração e que surge alguma perturbação com a separação e que se reconfortam com o reencontro (Scannapieco & Connell-Carrick, 2005).

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Mennen & O´Keefe (2005) e Scannapieco & Connell-Carrick (2005) referem ainda que existem evidências de que as crianças maltratadas apresentam padrões de vinculação insegura, especialmente vinculações desorganizadas ou desorientadas, ou padrão inseguro evitante nos casos de negligência em termos dos cuidados básicos da criança. É a qualidade da relação de vinculação, que se traduz em factores comportamentais, que caracterizam a criança, tais como, a procura da proximidade dos pais, a exploração do envolvimento usando o cuidador como uma base segura a que regressa, a ausência quer de afastamento quer de dependência do cuidador, a tolerância à presença de estranhos e a capacidade de se acalmar quando agitado na presença do cuidador, que explicam a ausência ou a presença de problemas no processo de vinculação.

Putman (cf. 2006, p. 5) aponta como elementos chave do processo de vinculação, os seguintes: (1) o estabelecimento de uma relação emocional, duradoura com um cuidador; (2) a presença desse cuidador proporciona à criança uma sensação de segurança, conforto e prazer; e (3) a perda ou ameaça de perda desse cuidador é causa de stress para a criança.

Os maus-tratos na infância estão associados a uma das principais causas de vinculação insegura/desorganizada, atendendo a que as crianças maltratadas formam uma representação dos seus cuidadores como indivíduos não sensíveis, indisponíveis e rejeitantes (Baer & Martinez, 2006; Mennen & O´Keefe, 2005). Desta forma, as crianças com problemas de vinculação têm representações fracas de si e estas representações mentais constituem o protótipo para as relações futuras, pelo que a criança maltratada pode ser incapaz de estabelecer uma relação segura com os seus próprios filhos, aumentando assim o risco para o maltrato e a transmissão intergeracional destes comportamentos (Mennen & O´Keefe, 2005; Zuravin et al., 1996), atendendo ao risco de desenvolvimento de problemas psicossociais que incluem a exteriorização de comportamentos violentos, a depressão recorrente e a baixa auto- estima (Herrenkohl et al., 2008)

Levy & Orlans (cf. 1998, p. 67) referem também as abordagens da teoria da vinculação, como tendo orientado uma grande quantidade de pesquisa na área dos maus-tratos. Desta forma, apontam como factores que potenciam a ocorrência de maus-tratos às crianças, as seguintes características dos pais/cuidadores:

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Dificuldades na compreensão da complexidade emocional na relação pais - filhos;

Dificuldades em compreenderem as necessidades, perspectivas e nível de desenvolvimento da criança;

Histórias de maus-tratos e problemas de vinculação com os próprios pais; Questões de confiança, dependência e autonomia por resolver;

Dificuldades no controlo de impulsos, sobretudo em situações de stress; Alta incidência de depressão;

Toxicodependência ou alcoolismo.

O défice em capacidades como a regulação da hostilidade, as competências sociais, ou as competências parentais, resultam na ausência da vivência de modelos apropriados pelos cuidadores, enquanto crianças. Outros factores, para além da modelação, podem interferir com a expressão das capacidades aprendidas, tais como, a toxicodependência ou o alcoolismo, uma disfunção psiquiátrica ou um processo de vinculação inseguro (Ammerman, 1990).

O consumo de estupefacientes e de álcool pelas mães e a exposição dos fetos a estas substâncias durante o período pré-natal provoca sérios riscos ao desenvolvimento da criança, assim com favorece um ambiente inseguro e pouco saudável, denunciando dificuldades de interacção com a criança (Hogan, Myers, & Elswick Jr., 2006; Leventhal et al., 2007). Por sua vez, Tajima (2002) refere que o consumo de álcool constitui um factor de vulnerabilidade significativo para o maltrato, tanto em homens como em mulheres.

O estudo realizado por Hogan et al. (2006), concluiu no entanto, que as mulheres de baixos recursos sócio-económicos, que têm associados outros factores de risco, têm maior probabilidade de virem a maltratar os seus filhos, e que a condição de consumo de substâncias não as diferencia de outras com contexto social e demográfico semelhante.

Pittman & Buckley (2006) referem que existem diferenças em termos dos factores de vulnerabilidade quando nos referimos ao género do progenitor maltratante. Assim, no estudo que realizaram, verificaram que as mães parecem ter maiores índices de stress e

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que lidam pior com os factores de stress interpessoal. Por sua vez, os pais aparecem como estando mais distantes da família, tendo expectativas inadequadas relativamente ao comportamento dos filhos, o que conduz a práticas disciplinares abusivas.

Oliver et al. (2006), Renner & Slack (2004) e Scannapieco & Connell-Carrick (2005), referem a probabilidade de que a prática de maus-tratos e negligência por parte dos pais esteja aumentada, pela vivência de maus-tratos na infância. Ammerman (1990), Levy & Orlans (1998), Azevedo & Maia (2006) e Renner & Slack (2004) apontam, no entanto, na linha da transmissão intergeracional, o facto de que nem todos os cuidadores maltratados na infância se tornam pais maltratantes.

Herrenkohl et al. (2008); Renner & Slack (2004); Scannapieco & Connell-Carrick, (2005) aludem ainda que as mulheres expostas tanto à violência doméstica como ao maltrato físico na infância, têm um risco significativamente maior de maltratarem os seus filhos.

Um conjunto de estudos apresentadas por Hartley (2002), apontam para a ocorrência em simultâneo de violência doméstica e do maltrato na infância, como estando relacionada com um baixo nível sócio-económico e ocupacional, com famílias numerosas, com elevado número de factores de stress na família e ainda com sintomas de psicopatologia materna. Herrenkohl et al. (2008) referem ainda a presença em agregados familiares de violência doméstica, e outros conjuntos de factores de vulnerabilidade para os maus- tratos na infância, tais como pobreza, desemprego, alcoolismo e a toxicodependência, o envolvimento em actividades criminais, baixo nível escolar, problemas de saúde e depressão familiar.

Knickerbocker, Heyman, Smith Slep, Jouriles, & McDonald (cf. 2007, p.36) definem a co-ocorrência dos maus-tratos à criança, no âmbito da violência conjugal segundo três formas:

a) Um dos cuidadores é fisicamente agressivo para a(o) companheira(o) e simultaneamente maltrata a criança;

b) Um dos cuidadores é agressivo para a(o) companheira(o) que maltrata a criança; c) Os cuidadores são agressivos um para o outro e simultaneamente maltratam a

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Os pais que maltratam a sua companheira têm maior probabilidade de maltratarem os seus filhos. As crianças do sexo masculino, como já anteriormente referido, estão em maior risco de serem maltratadas do que as do sexo feminino (Hartley, 2002; Tajima, 2002).

Existe um cálculo de que entre 133 e 275 milhões de crianças presencie, em todo o mundo, cenas de violência doméstica, o que faz aumentar significativamente o risco de violência contra as crianças, segundo estudos realizados na China, Colômbia, Egipto, México, Filipinas, África do Sul e Índia (Pinheiro, 2006).

Hazen et al., (2006) alegam que um dos factores que pode influenciar os efeitos da violência conjugal nos maus-tratos às crianças é o ajustamento psicológico materno. As mulheres vítimas estão em risco de sofrer um conjunto de problemas psicológicos, incluindo depressão, sintomas de stress pós-traumático e dependência de álcool ou drogas, estando as crianças em risco acrescido de problemas emocionais ou de comportamento, quando as suas mães vítimas de violência sofrem dificuldades psicológicas. Estes autores referem que, apesar de não haver resultados consistentes, alguns estudos sugerem que a violência conjugal tem impacto negativo na qualidade das práticas maternais, nomeadamente a nível do stress relacionado com os cuidados com os filhos. As mães nesta situação demonstram menos conforto para com as crianças e maior número de conflitos. Outros estudos apontam no sentido de a violência conjugal não afectar as práticas parentais a nível de agressividade física ou verbal.

Renner & Slack (2004) referem que quando aplicada à violência doméstica, a transmissão intergeracional, particularmente para as mulheres, surge associada a um mecanismo em que algumas mulheres adoptam respostas de “desamparo aprendido” à violência. Os sentimentos ou percepções de desamparo são aprendidas em criança, fruto de experiências de falta de controlo das situações que resultam de factores como a falta de afecto, a violência familiar ou a pertença a família numerosa. Renner & Slack (2004) alegam, ainda, que esta perspectiva defende a susceptibilidade de vitimação como um comportamento aprendido, que muitas vezes tem origem familiar.

Belsky (1993) apresentou ainda, com base nas teorias psicológicas, a problemática dos maus-tratos como resultados de factores de vulnerabilidade, como uma doença mental, um síndroma ou desordem psicológica. A análise de alguns estudos permitiu-lhe dispor

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de algumas indicações de que os cuidadores maltratantes têm dificuldades em termos do controlo da impulsividade, baixa auto-estima, dificuldades de empatia, depressão, ansiedade e afectividade negativa. Belsky (cf.1993, p.418) refere ainda a perspectiva de Bugental, Blue e Lewis (1990), que defendem que a escalada do conflito que dá origem a uma situação de maltrato, ocorre com maior probabilidade se os pais têm pouco controlo pessoal e que têm crianças com comportamento difícil, o qual interpreta como ameaçador, o que vai resultar em elevados níveis de irritação e afectividade negativa. Por sua vez, Tajima (2002) apresenta as condições de saúde física e mental, a depressão, baixa auto-estima, a ansiedade e o stress parental, bem como o nível educacional, como factores potenciadores dos maus-tratos.

Os pais maltratantes percebem a parentalidade como pouco agradável, mais difícil e que traz pouca satisfação. Os pais negligentes estão mais isolados em termos sociais, enquanto os maltratantes são mais conflituosos (Scannapieco & Connell-Carrick, 2005). Pollak, Cicchetti, Hornung, & Reed (2000) referem que os pais maltratantes mostram menos emoções positivas e mais emoções negativas. E ainda que tendem a isolar-se, bem como às suas famílias, expondo estas os seus filhos a poucos modelos de comunicação emocional. Apontam ainda que os pais maltratantes interagem mais frequentemente com os seus filhos, mas utilizam formas agressivas de comunicação com as crianças, expondo-as a mais episódios de hostilidade e ameaça interpessoal. Os pais negligentes são menos expressivos e proporcionam poucas trocas de comunicação afectivas. As crianças negligenciadas têm, assim, menos oportunidades de interacção com o adulto, tendo menos oportunidades e apoio para descodificar sinais emocionais. Relativamente ao maltrato exercido pela mãe, Oliver et al. (2006) apresentam como condições, que aumentam a frequência dos maus-tratos, a idade muito jovem, a ausência de companheiro sentimental, o baixo nível escolar, desemprego, pobreza, baixa auto- estima, depressão, comportamento anti-social, toxicodependência ou alcoolismo e uma história de vida pautada pelo afastamento precoce da mãe biológica.

Relativamente ao cuidador masculino, para além da juventude, baixo nível de escolaridade, desemprego, pobreza, baixa auto-estima, personalidade anti-social e alcoolismo ou toxicodependência, há ainda a acrescentar o stress adicional causado pela ausência da ligação biológica com as crianças que são filhos da companheira, com

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quem têm geralmente uma relação menos calorosa e comunicativa e mais coerciva, aumentando a probabilidade de maltrato da criança (Oliver et al., 2006).

Stith et al. (cf. 2004, p. 33-104) comprovaram a existência de correlações entre os maus-tratos na infância e um conjunto de factores de vulnerabilidade analisados na perspectiva parental, bem como na perspectiva das relações familiares, que seguidamente se passam a referir:

Alcoolismo parental (presença ou relatos de sinais e/ou sintomas de consumo de álcool);

Toxicodependência parental (presença ou relatos de sinais e/ou sintomas de consumo de drogas ilícitas);

Depressão, ansiedade, e outras psicopatologias (doença mental ou desordens de personalidade);

Problemas de saúde física;

Stress parental - trabalho, dinheiro, família (falta de motivação, conflito com o patrão ou colegas, falta de emprego, incapacidade de gerir dinheiro, falta de dinheiro para as necessidades, crise familiar);

Locus de controlo externo (sentimento de que a sua vida é controlada por forças externas e de que os seus comportamentos têm uma influencia mínima);

Falta de estratégias para lidar com problemas (repertório de meios para lidar com o stress, que inclui estratégias de resolução de problemas, tranquilizadores, passatempos, escapes e o uso de apoio social);

Falta de competências parentais (conjunto de respostas para ir de encontro dos comportamentos e emoções das crianças, com a utilização consistente de estratégias parentais efectivas, capacidade de resolução de problemas e capacidade de planear e implementar interacções adequadas);

Utilização da punição corporal e aprovação dessas estratégias;

Experiência parental de disciplina severa (rígida, injusta e punitiva) e de maltrato infantil;

Experiência parental de má relação com os seus progenitores (conflito familiar, falta de apoio e afecto familiar, desinteresse);

Hiper-reactividade parental (sentimentos de agitação ou de provocação psicológica e afectos negativos em resposta a certos estímulos/resposta