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Lembramos que solução de problema é a capacidade que envolve um modelo de processos intelectuais complexos (LURIA, 1990, p. 157 apud. BERTOLOZZI, op. cit., p. 57). E para demonstrar como essa habilidade pode ser acrescentada ao conjunto de opções de metodologia de aprendizagem em Contabilidade, o objetivo deste trabalho é externar os efeitos que uma abordagem complexa da realidade, por intermédio da ABP, pode ter nas habilidades desenvolvidas pelos estudantes.

Esta seção visa justificar neste trabalho a forma como a operacionalização da complexidade pode se dar no ensino da Contabilidade de Custos. Para tanto, o quase-experimento que aqui é desenvolvido visa inserir uma abordagem complexa ao ensino da Contabilidade, a aprendizagem baseada em problemas (ABP) ou o problem-based learning(PBL).

Somos organismos sociais e vivemos em grupo onde aprender é um fenômeno social. Cada pequeno grupo de aprendizagem baseada em problemas se apresenta em sua forma complexa através de sua história única, seu interesse, e pela própria forma como o grupo se guiará e será guiado no processo de aprendizagem. (MENNIN, 2007).

Branda (2009) ao expor as justificativas que suportam a utilização da ABP coloca que:

Documentos não faltam para evidenciar que um ensino profissional excessivamente fragmentado e compartimentado, com contextos e procedimentos isolados, não ajuda – e pode até impedir – os estudantes a adquirir as competências necessárias para entender, ponderar e intervir de modo reflexivo e dinâmico em seu contexto social.

A grande palavra chave neste contexto da ABP que busca focar o processo de aprendizagem numa perspectiva integralizadora da realidade é “autonomia”. Parece fundamental trabalhar com projetos, em equipes e fazer leituras por conta própria. Essas atividades se sobressaem por serem mais adequadas para o desenvolvimento da aprendizagem autônoma (RUÉ, 2007). Pequenos grupos formam sistemas complexos, pois, são adaptativos no sentido em que cada participante individualmente e em grupo altera e é alterado pelas suas experiências. Cada pessoa pertencente ao grupo é um sistema adaptativo complexo inserido entre conjuntos de agentes e recursos conectados e interdependentes (MENNIN, op. cit., 2007). No entanto, a propósito de serem agentes interdependentes pela própria condição humana, o grupo não os impede de buscar autonomia na descoberta dos fenômenos sociais e naturais.

É a interação dinâmica entre os agentes que leva à emergência de novas características auto- organizadoras, à novos entendimentos a cerca dos problemas para os quais soluções são construídas coletivamente. Esses novos entendimentos dos fenômenos nascem onde os indivíduos pertencentes ao grupo, debatem, dialogam, evidenciam as diferenças e salientam as idéias coincidentes por meio da troca de experiências e compartilhamento das ações e

informações adquiridas ao longo da história de vida de cada agente. É o ato de garimpar ouro que nos faz achar a prata ou o ato de garimpar a prata que nos faz achar o ouro.

A Ciência da Complexidade manifesta-se onde a interação entre os agentes processa grande quantidade de informação e eventos dando origem a um sistema adaptativo complexo (Holland, 1998). Essa interação guia o grupo e os indivíduos à auto-organização emergindo com novas propriedades e características no ambiente não linear e dinâmico (MATURANA;VARELLA, 2001).

Sendo os grupos de ABP sistemas vivos complexos, eles atuam próximo ao caos, na fronteira entre a ordem e a desordem e distante de um equilíbrio estático, ou ainda, são sistemas que operam dentro das bases dos sistemas complexos onde o aprendizado toma forma.

Diante dessas idéias, essa seção justifica o motivo pelo qual a forma de operacionalizar a Complexidade no âmbito da Contabilidade de Custos no ensino superior é por meio da ABP. Com essas exposições espera-se que o conjunto de idéias da Teoria da Complexidade delineadas no referencial teórico esteja amparado na técnica do quase-experimento com a utilização da ABP como forma de integrar os ensinos na Contabilidade à Teoria da Complexidade.

Como já dito, a ABP refere-se à metodologia em que o processo de ensino-aprendizagem é centrado no estudante e inicia-se com um problema real ou simulado, procurando estimulá-los a solucionar o problema em questão, por meio do desenvolvimento de habilidades e atitudes positivas e pensamento crítico, e a procurar por um conhecimento mais consistente e duradouro sobre o tema pesquisado (SOARES; ARAUJO, op. cit.). É reconhecido por sua capacidade de trabalhar simultaneamente conceitos, habilidades e atitudes no contexto curricular e na sala de aula, sem a necessidade de disciplinas serem concebidas especialmente para esse fim (SAVIN-BADEN, 2000 apud ESCRIVÃO FILHO; RIBEIRO, op. cit.).

A questão da abordagem de ensino tradicional baseada em aulas expositivas, ou ainda, metodologia de ensino tradicional baseada em aulas expositivas, pode ser aqui entendida como meios adequados para realizar objetivos direcionados para a aprendizagem em que o professor é o centro do processo, utiliza-se de aulas expositivas na maior parte e, para tanto, basta ter domínio do conteúdo para que os estudantes aprendam (SOARES; ARAUJO, op.

cit.). Ou ainda, usando as palavras de Nérici (1977, p. 277 apud SOARES; ARAUJO, Ibid.)

método de ensino “é o conjunto de momentos e técnicas logicamente coordenados, tendo em vista dirigir a aprendizagem do educando para determinados objetivos” em que no modelo tradicional esses momentos são o da presença em aula, de alguma forma fisicamente ou virtualmente estruturada, e as técnicas são focadas em exposições de conteúdos pelo docente e recebidos pelo educando de forma passiva.

Quanto à autonomia no aprendizado dizemos que esta é propriedade que um indivíduo apresenta ao buscar o desenvolvimento da própria capacidade de pensar e de agir de forma não fragmentada (ARAUJO, 2009, p. 14).

Como propõe Rué (op. cit.):

a) Autonomia pressupõe aprender a desenvolver uma gestão eficiente da informação, saber usar as possíveis fontes, os meios tecnológicos para chegar a elas etc.

b) Significa desenvolver um amplo conjunto de habilidades ligadas à gestão eficiente do tempo disponível, com planejamento funcional e realista da própria atividade de aprendizagem ou de atuação, e a capacidade de estabelecer metas factíveis que suponham certa dose de desafio pessoal.

c) Implica, também, desenvolver habilidades de trabalho, de estudo e de pesquisa, tanto individual como em equipe, e estimular a autocrítica necessária ao aperfeiçoamento do trabalho, para, assim, gerar novas ações, em um constante ciclo de renovação.

d) Requer amadurecimento de atitudes como flexibilidade, imaginação, abertura a novas informações e a outras situações e metodologias.

e) Pressupõe aprender a revisar e contrastar o trabalho realizado para examiná-lo à luz de critérios próprios ou externos, o que exige desenvolver determinados recursos e a instrumentos para a autorregulação do próprio trabalho.

A capacitação para a solução de problemas pode ser entendida como o processo pelo qual um indivíduo é exposto e a partir disso adquire ou melhora suas estratégias, planos, e procedimentos, nas buscas de soluções, independente da natureza do problema, que exigem, entre outros, processos mentais de raciocínio e memorização, criatividade e tomada de decisão, elementos estes, que agem e interagem entre si (MAYER, 1981 apud BERTOLOZZI, 2004, p. 3; POLYA, 1995). A capacidade de solução de problemas pode ser conceituada como a habilidade de adaptar conhecimentos adquiridos a uma outra situação (LEME, 1993, p. 521 apud BERTOLOZZI, op. cit., p. 3).

Em relação à percepção de aprendizagem, consideramos que é a conscientização por parte de um indivíduo de ter adquirido um conhecimento sobre um objeto, conhecimento este capaz de

ser repetido ou evocado ao longo do tempo, manifestando mudanças relativamente permanentes, resultado da experiência (POPPLESTONE; MCPHERSON 1988, p. 212).