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A reunião da Association of American Geographers ocorreu em 1976, em que termo Humanistic Geography foi apresentado por Tuan. Vale salientar que o conceito foi originalmente cunhado por Bachelard na primeira edição da sua obra A Poética do Espaço (1951).

máquina. Por fim, o desejo de descobrir de que processos corporais dependem as próprias observações, para isso tenta-se entender como os órgãos sensoriais contribuem com a percepção de mundo.

Atendo-se as duas últimas observações feitas por Hochberg, é possível compreender que a percepção é um campo diretamente associado ao estudo das paisagens e à visão de mundo que cada indivíduo possui. Para se reconhecer e descrever a paisagem, é preciso em primeiro lugar, percebê-la. Um local por mais visitado que seja por um mesmo observador sempre terá algo de novo a acrescentar e, se visto por vários indivíduos esse não só apresentará a dinâmica inerente ao próprio espaço, mas será visto e descrito de diferentes formas por cada um. Os olhos apreendem um momento e não toda a vida de um espaço. Para Merleau- Ponty (2006, p. 280), o conhecimento está fixado nos horizontes abertos pela percepção.

Ao se falar no processo de percepção do meio ambiente a concepção de mundo que cada indivíduo constrói, Oliveira (2006, p. 35) afirma que:

[...] a Fenomenologia fornece subsídios que permitem desvendar o mundo percebido e vivido do ser humano e mostrar que estes estão sempre compartilhando percepções comuns e mundo comum, pelo fato de possuírem órgãos similares. No entanto, para analisar as relações do ser

humano com o meio, é necessário compreender, como está estruturado esse espaço percebido na mente das pessoas, ou seja,

como ocorre a construção das imagens mentais (grifo nosso).

Observando a afirmação de Oliveira (2006), é nítido compreender que dois grupos sociais não fazem a mesma leitura e avaliação do meio ambiente. De acordo com Del Rio (1999, p.3) percepção é:

[...] um processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente que se dá através de mecanismos perceptivos propriamente ditos e principalmente, cognitivos. Os primeiros são dirigidos pelos estímulos externos, captados através dos cinco sentidos [...].

A própria visão científica está ligada à cultura. Corre-se o risco de não notar, á medida que se prossegue com os estudos de percepção, que membros da mesma espécie, estão limitados a ver as coisas de certa maneira (TUAN, 1980). No estudo da percepção a visão e o tato são os sentidos mais importantes, pois é através deles que o corpo recebe a mensagem decodificada do que está acontecendo ao seu redor através das imagens e das sensações.

Ainda sobre os órgãos sensoriais, perceber o lixo não está apenas na ação de vê-lo. O problema causado pela falta de cuidados com ele também atinge o campo olfativo. Muito mais incômodo do que ver o lixo amontoado é sentir o mau cheiro que é exalado dele. A experiência vivida, sentida é muito mais forte que um conjunto de regras de boas maneiras a serem seguidas. É preciso estar incomodado com o que ocorre ao redor para se ter vontade de quebrar paradigmas e construir novos hábitos.

Segundo Holzer (1992, p.65), as visões pessoais são únicas por vários motivos:

[...] porque cada pessoa tem seu meio ambiente pessoal; por cada um

selecionar e reagir a seus estímulos de maneira diferente. E apesar dos

limites colocados pelas necessidades lógicas, pela fisiologia e pelos padrões do grupo, a pessoa estrutura o mundo a partir de sua vivência

pessoal, e sua linguagem se ajusta às visões pessoais que tem de mundo

(grifo nosso).

A partir do que foi dito por Holzer (1992), como é possível retratar a realidade? Para Tuan (1961) é preciso retratar aquilo em que se tem afeição. Para ele só é possível retratar uma paisagem ou cenas e aspectos dela, se houver um sentimento envolvido. Esta afeição ele chamou de Topofilia. Acredita-se aqui que este sentimento que movimenta a descrição dos espaços é muito mais que uma visão romântica das paisagens é também tudo aquilo que, de alguma forma, movimentado por observações atentas perturba os indivíduos.

A percepção do lixo é um exemplo de como o pesquisador pode apreender e registrar aquilo que não é prazeroso. O lixo pode até ser registro da existência de povos passados, pode ter materiais a serem reaproveitados, pode gerar renda, mas dizer que os problemas relacionados ao manejo inadequado a ele estão ligados ao afeto, que pode despertar uma visão romântica ao ser descrito e não revolta é

hipocrisia. O modo como as pessoas se comportam diante do lixo reflete diretamente na maneira como ele é percebido. Como o explicar o fato de alguns lugares serem limpos e outros não? Algumas pessoas se importarem em colocar o lixo em lixeiras e outros simplesmente jogarem no chão?

Observando a Figura 4 é possível visualizar, de modo geral, um dos objetos da geografia que é a relação do homem com o meio. Este objeto segundo Rodrigues (2008, p. 30), pode ser ainda relacionado aos estudos das influências da natureza sobre o homem e das influências do homem sobre a natureza. No caso descrito, ou seja, das relações homem-natureza os dois têm o mesmo peso, trabalhando-se com fenômenos naturais e humanos.

Figura 4 - Organograma da Relação Homem – Meio

O homem vive em constante harmonia e confronto com o meio. Quando ele respeita o espaço em que vive, tomando cuidado e conhecendo o que é certo e errado ele está em harmonia, isto acontece quando ele entende e percebe o seu papel no meio. Mas, quando ele disputa o poder, não sabe os seus limites e não reconhece

Fonte: Organizado por PAULA, 2012.

Força Externa HOMEM HARMONIA CONFRONTO MEIO Respeito Cuidados Conhecimento Poder Limites Necessidades

que necessita do meio para viver, ele está em confronto. Porém, os conflitos e interações ocorrem de maneira automática de acordo com a sua raiz cultural. Todavia, há uma força externa que age na influência que o meio tem sobre o homem e não pode ser controlada, são os eventos naturais. As chuvas, por exemplo, contribuem com os deslizamentos de massa, quando o solo se encontra descoberto há o carreamento de materiais e resíduos.

Ratificando a assertiva anterior, Tuan (1980, p. 4) afirma que a percepção é:

[...] tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados. Muito do que percebemos tem valor para nós, para a sobrevivência biológica, e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na cultura.

O mecanicismo está presente nesta relação, por que as atitudes tomadas pelo homem são exemplos seguidos por gerações, fazem parte de sua própria cultura, da imagem de mundo que foi construída. É conveniente manejar incorretamente os resíduos por que o caminho já foi feito, as marcas já foram deixadas, é só seguir. É mais fácil praticar um hábito que se tornou cultural do que modificá-lo, mas isto não quer dizer que seja impossível haver transformação. Para isso é necessário que o modelo seja quebrado por uma força externa a ele, quer dizer, construção de novas práticas.

Eu ando pelo Recife, noites sem fim Percorro bairros distantes sempre a escutar Luanda, Luanda, onde está? É alma de preto a penar Recife, cidade lendária De pretas de engenho cheirando a banguê Recife de velhos sobrados, compridos, escuros Faz gosto se ver Recife teus lindos jardins Recebem a brisa que vem do alto mar Recife teu céu tão bonito Tem noites de lua pra gente cantar Recife de cantadores Vivendo da glória, em pleno terreiro Recife dos maracatus Dos tempos distantes de Pedro primeiro Responde ao que eu vou perguntar: Que é feito dos teus lampiões? Onde outrora os boêmios cantavam Suas lindas canções

3 A REALIDADE DO BAIRRO DO MORRO DA CONCEIÇÃO: O MORADOR E O ESPAÇO VIVIDO

No momento da Assembléia Geral convocada em 1640 pelo Conde de Nassau e Alto Conselho, a jurisdição da Cidade Maurícia abrangia dez localidades ou freguesias: Recife, Olinda, Várzea, Muribeca, Jaboatão, Cabo, Ipojuca, São Lourenço, Paratibe e Jaguaribe. No entanto, as regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza) foram instituídas após 333 anos através da lei complementar nº 1 de 8 de junho de 1973, na forma do artigo 164 da Constituição(SANTANA et. al. 2005, p.3).

Com uma área de aproximadamente 220 mil quilômetros quadrados, dos quais 67,43% são áreas de morro, a cidade do Recife (Mapa 1) situa-se na Região Metropolitana de mesmo nome. A cidade do Recife é dividida em 94 bairros distribuídos em 6(seis) Regiões Político-Administrativas (RPA’s). Representa cerca de 3% da área do território pernambucano onde se insere.

O Recife ainda concentra 42% da população e mais da metade do PIB estadual, apresentando os melhores indicadores sociais e nível de escolaridade, bem como as maiores potencialidades e condições efetivas de crescimento do Estado de Pernambuco. Apesar de apresentar índices socioeconômicos tão favoráveis, a cidade enfrenta problemas como a maioria das capitais brasileiras, com a irregularidade na disposição dos resíduos sólidos urbanos e com os danos causados muitas vezes, pela falta de compreensão e educação da população (BITOUN et. al., 2006, p. 13).

Mapa 1 - Localização da cidade do Recife na Região Metropolitana

A Região Metropolitana do Recife (RMR) situa-se no centro da faixa litorânea nordestina e integra, segundo Freitas (2009, p. 5),

[...] as cerca 30 Regiões Metropolitanas localizadas em todas as regiões do País (20 delas são formadas em torno de capitais estaduais e outras 10, no interior dos estados) e 03 Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDE), que incluem municípios aglomerados pertencentes a mais de uma Unidade da Federação.

O processo de ocupação da região, iniciado pelo núcleo – Recife e Olinda – teve, historicamente, como principais condicionantes, a economia canavieira e seu ambiente físico natural: uma planície - a “planície do Grande Recife” 12 – cercada por morros e tabuleiros, por onde se espraiavam os engenhos de açúcar. A partir dos meados do século XIX, a implantação dos eixos ferroviários estabelece a principal estrutura de comunicação dos engenhos com o centro comercial e portuário do Recife, que, induzido por estes eixos, irradia-se para norte, oeste e sul, estabelecendo estreita comunicação com os municípios de seu entorno (BITOUN et. al., 2006).

3.1RECIFE E SUA CONFIGURAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA: UMA CAPITAL DE MORROS?

A ocupação dos morros da Região Metropolitana do Recife tem sua origem na própria história da construção do Recife. Desde o período colonial os segmentos pobres constroem em terrenos pouco propícios às edificações – áreas de morros e alagados - levando a um paradoxo: as áreas que apresentam melhores condições a construção (terraços emersos enxutos, topos planos de colinas) foram ocupados por segmentos sociais em melhores condições financeiras, enquanto que as áreas que exigiam conhecimento técnico especializado e maiores investimentos (planícies de inundação, manguezais, zonas estuarinas e as encostas) foram sendo deixadas para o segmento da população desprovida dos conhecimentos e investimentos necessários. Em meados do século XX, com as enchentes que ocorreram houve um movimento de retirada dos mocambos das planícies centrais do recife, deixando um déficit de quase 5.000 habitações. E na década de 1940, iniciou-se a transferência

      

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