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3 Pontos Críticos com lixo no bairro

2.1 LIMPEZA URBANA: O LIXO NA HISTÓRIA

2.1.2 O Lixo no Brasil

Após visto o que ocorreu no mundo em relação ao lixo e a evolução dos trabalhos com a limpeza urbana, faz-se necessário entender como aconteceu este processo no Brasil. Por ser um país continente a história do seu desenvolvimento se deu de forma desigual. Cada região, culturalmente falando, é a representação de um novo Brasil. Mediante tantas diferenças a história não foi registrada homogeneamente e a limpeza urbana também não teve apontamento expressivo desde o início da colonização. Desta forma, a história da limpeza urbana tem algumas lacunas.

Assim como para a Europa dos séculos XIX e XX, a Alemanha foi eleita como país a representar um pouco da história dos resíduos sólidos destacando algumas de suas cidades, para o Brasil a cidade eleita foi o Rio de Janeiro (EIGENHEER, 2009).

Esta alternativa não foi por sua tradição em desenvolvimento tecnológico referente ao tratamento do lixo e sim por esta ter sido a capital da Colônia, do Império e da República, por sua valoração histórica para o país, já que durante muito tempo as atenções foram voltadas para ela, e por ser um dos centros industriais, de negócios e comércio mais importantes do eixo sul-sudeste, representando o ponto de partida para a visualização das tentativas e avanços que ocorreram no país a respeito do lixo.

Como registro de épocas pré-históricas são encontrados no litoral brasileiro, principalmente em Santa Catarina, os sambaquis. Eles são o registro da história de ocupação do litoral do Brasil a mais de 5.000 mil anos atrás. Tal testemunho são montes de lixo compostos por cascas de moluscos, restos de ossos, utensílios que intrigam vários pesquisadores. Uns levantam a teoria de que os sambaquis eram acampamentos provisórios, outros acham que eram depósitos de restos e abrigo de sepulturas de algum grupo. Muitas são as especulações, mas o que não se pode deixar de considerar é que o lixo amontoado irregularmente, neste caso, foi positivo, pois serviu de testemunho da habitação de povos no território brasileiro antes mesmo da ocupação pelos colonizadores.

Até 1888, ano em que a escravatura foi abolida no país, existiam escravos destinados a carregar em grandes barris feitos de madeira os dejetos da casa grande. Eles eram chamados de tigres e tinham de sair à noite com aqueles depósitos pesados, equilibrados em suas cabeças. Estas figuras são importantes para o entendimento da história da limpeza urbana no país. Observando a passagem a seguir de Karasch (2000, p. 266) é possível entender como tal trabalho funcionava e como este era designado.

A repugnante tarefa de carregar lixo e os dejetos da casa para as praças e

praias era geralmente destinada ao único escravo da família ou ao de

menor status ou valor. Todas as noites, depois das dez horas, os escravos conhecidos popularmente como “tigres” levavam tubos ou barris de excremento e lixo sobre a cabeça pelas ruas do Rio. Os prisioneiros realizavam esse serviço para as instituições públicas.

Para reforçar a idéia de como este trabalho era além de pesado, humilhante, o texto de Edmundo (2000, p. 59) mostra como os barris utilizados representavam perigo, já que não eram adequados para a função e como frequência protagonizava acidentes.

Esses barris são geralmente de madeira. Os tampos inferiores na parte onde se firma a cabeça, com a infiltração constante da umidade, não raro, apodrecem, enfraquecendo a sua natural resistência. Um belo dia – catrapuz – a tábua carcomida desloca-se, parte-se e a extremidade circular do barril vem como um colar sobre o pescoço do negro. Esse desastre, que provoca sempre a alegria e o clamor dos outros negros, é comuníssimo até pelas ruas mais centrais, de maior trânsito, passagem obrigatória desses indesejáveis recipientes.

Em 1854, a responsabilidade pela limpeza urbana passou a ser do governo, que infelizmente não obteve sucesso. A implantação do sistema de esgoto na cidade permitiu melhor separação entre lixo e dejetos, mas não impediu que o período compreendido de 1876 a 1898, correspondesse a 22 (vinte e dois) anos de incerteza para a cidade, pois não se sabia como os serviços de limpeza urbana seriam administrados, ora pelo poder público ora por particulares (EIGENHEER, 2009).

No Brasil, sobre as diferentes formas de destinação final do lixo, não foi diferente do que ocorreu na Europa. Tentou-se introduzir sistemas como o de incineração, usinas de triagem e até compostagem. No entanto, a primeira tentativa em 1898 de construção de um forno para queima do lixo foi fracassada. Em 1907, o tema da incineração volta à tona no país, perdurando uma discussão até a década de 60 do mesmo século. E, mesmo com a instalação de usinas em 1970 e 1992, respectivamente Irajá e do Caju e o uso da incineração, ainda sim havia resíduo para ser destinado e a instalação de um aterro sanitário foi inevitável. O problema é que havia no fim da década de 1970 aterros instalados próximos a áreas de mangue. A ausência de uma política de controle e que impusesse normas de instalação permitiu tal fato (EIGENHEER, 2009).

Infelizmente no início da década de 1970, o Brasil estava em plena ditadura militar e o interesse de desenvolver o país nada tinha haver com as questões ambientais. As ações tomadas para que o país desenvolvesse eram apoiadas em indústrias poluentes como a petroquímica e as energético-minerais, que iam de encontro aos interesses do meio ambiente. Porém, na tentativa de se incluir nas discussões do cenário internacional mediante as questões ambientais, o país procurou conciliar às

demandas provenientes da Reunião de Estocolmo em 1972, criando no ano seguinte (1973) a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA). Este foi o primeiro órgão brasileiro com ações voltadas para a problemática ambiental que tinha como função criar mecanismos a conservação do meio ambiente e uso racional dos recursos naturais. Nesta época, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, que eram os mais industrializados criaram agências ambientais para controle da poluição, a Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (CETESB) e a Fundação de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), respectivamente (JACOBI, 2003).

Ao se pensar em controle da poluição, não se pode deixar de lembrar as alternativas à destinação dos resíduos e a coleta seletiva que é uma das mais conhecidas. Sua implantação data dos anos de 1985, primeiramente no bairro de São Francisco, Niterói, por iniciativa, da Universidade Federal Fluminense e pelo Centro Comunitário de São Francisco. Mesmo com a iniciativa do Rio de Janeiro, em 1988, a cidade de Curitiba se tornou a primeira a adotar o sistema (EIGENHEER, 2009). Outro fato que não pode deixar de ser mencionado é de que a figura do catador como importante contribuidor principalmente para as indústrias de reciclagem, quando inserido adequadamente no processo de limpeza urbana, apareceu no país por volta de 1806.

A década de 1990, segundo Cavalcanti (2005), foi o momento dos resíduos sólidos não só no Brasil como no mundo. As preocupações que antes eram voltadas para a água e o ar foram concentradas nos resíduos sólidos. Mas, só em 2010, com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), foram visualizadas mudanças significativas no cenário do lixo. Mesmo recente, a política traz consigo possibilidades de amenizar os problemas que ocorrem no país, dividindo a responsabilidade com os geradores.

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