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Termo utilizado pelo escritor e filósofo da fenomenologia, Merleau-Ponty (2003). Este termo refere- se a consciência e a visão de mundo de cada pessoa, que é individual.

observador da paisagem “faz a avaliação do meio ambiente essencialmente pela estética, pois é a visão de um estranho. O estranho julga pela aparência, por algum critério formal de beleza”. Para que vá além da forma e do que é apresentado, ele completa dizendo que “é preciso um esforço para criar empatia em relação às vidas e valores dos habitantes” ou o observador terá uma falsa impressão, pois será enganado pela paisagem que visualiza.

Ainda sobre o conteúdo da paisagem, Dardel (1990, p. 44) afirma que a paisagem não é só o que o olhar abarca, mas o prolongamento que se pode imaginar para além dele. De acordo com esta definição, Santos (1988), complementa dizendo que a paisagem é constituída de várias camadas e que a sua concepção não é imediata, é feita por acréscimos, pois esta é a herança de muitos momentos passados.

A visão mais poética do conceito de paisagem foi buscado durante a pesquisa. A insistência nesta linha de pensamento se deu ao fato na tentativa de evocar o sentimento dos moradores pelo bairro, a fim de que estes descrevessem diferenças encontradas no espaço vivido comparando-o com o de outrora. Nesse contexto, Gomes (2007, p. 32), afirma que paisagem é um recorte espacial de uma determinada parcela da superfície da Terra, cujos atributos naturais e paisagísticos evocam sentimentos de amenidades e recordações vitais, capazes de rápida apreensão e descrição do observador.

Apesar da insistência pela visão conceitual romântica do termo paisagem, enfatizando a relação homem-meio, a visão fisionômica do conceito não foi descartada. Tratar a paisagem como recorte do espaço terrestre que tem em si fisionomia própria e que pode ser identificada por qualquer observador a olho nu, também é interessante, pois além de evocar o sentimento ao lugar, ao vivido e habitado, faz-se necessário o uso das imagens mentais sobre o espaço em que os moradores desenvolviam suas práticas sociais.

Ainda de acordo com Gomes (2007, p. 37), o conceito de paisagem se expandiu envolvendo entendimento e aplicações diversificadas. E, os esforços em analisar os espaços a partir da perspectiva da paisagem , são exemplos de multiplicidade e

complementaridade dos entendimentos deste conceito, tornando-os legítimos e pertinentes. A autora salienta que a paisagem:

"[...]só existe a partir de quem a observa [...], [...] ela é materialidade, quer seja natural ou construída, passível de mensuração e comparação face aos princípios sociais e valores determinantes da sociedade que o instutitucionaliza [...], por fim [...] ela também é abstração, filtrando-se segundo seus recortes de sensibilidade e de conhecimento formal ou não, sobre a confecção histórica e cultural de formação dos espaços".

Diante das diversas definições é possível entender que mesmo cada indivíduo apreendendo aquilo que lhe é filtrado por sua cultura, isso não quer dizer que a imagem apresentada aos seus olhos ignorará situações adversas. Pelo contrário, por sua visão estar imbuída dos seus ideais é que aquele que possui senso crítico identificará na realidade apresentada possíveis dificuldades que indivíduos que a compõem podem estar sofrendo, ainda que superficialmente, já que a história precisa ser conhecida para entender o que se passa.

Como Santos (2007, p.35) afirma, a paisagem não é muda. E ele acrescenta dizendo que a “percepção que temos dela está longe de abarcar o objeto em sua realidade profunda”. Cada um descreve o que vê, mas não quer dizer que o problema não esteja sendo apresentado. Porém, é preciso entender que a percepção pode responder a alguns questionamentos, para isso é necessário entender como esta pode ajudar na compreensão dos problemas com o lixo.

2.5 ENTENDENDO O PROBLEMA COM O LIXO ATRAVÉS DA PERCEPÇÃO

Mesmo que o estudo da percepção ambiental seja bastante comum dentro do campo da psicologia, ele tem sido desenvolvido em outras áreas, principalmente nas pesquisas de campo, como é o caso deste trabalho. Disciplinas como Arquitetura, Urbanismo e a Geografia entenderam como utilizar este conceito, principalmente, no que se refere à importância que a psicologia aplicada dá ao entendimento do espaço, tanto pelo estudo da percepção quanto pelo comportamento humano (DEL RIO & OLIVEIRA, 1996).

Pensando nas disciplinas que se preocupam com a compreensão das questões ambientais, Amorim Filho (1996) diz que os geógrafos encontram-se dentre os primeiros a responder aos desafios impostos pelo ambientalismo atual. Amorim Filho (1966, p. 139) ainda ressalta que estas respostas se dão pelo fato do desenvolvimento da geografia humanística e ainda, pelos estudos no campo da percepção ambiental, que a seu ver foi um movimento que tentou “reconciliar a geografia com suas raízes mais profundas e vem abrindo caminhos originais nos empreendimentos interdisciplinares”. Em complemento, Xavier (2005, p. 5), afirma que os estudos sobre percepção geográfica desenvolveram-se devido à preocupação no sentido de conhecer e em explicar as atitudes e os valores de uma comunidade frente ao meio ambiente.

Citando diversos autores, Holzer (1992) afirma que os estudos da percepção do entorno ou da geografia da percepção foram inaugurados por Lowenthal, a partir da proposta de Wright, relacionava-se com outras disciplinas como a psicologia comportamental e o urbanismo culturalista estabeleceu-se em 1965 como uma nova forma de ver a geografia. É importante salientar que esta nova geografia, difere em sua concepção e pensamento da geografia humanista. A geografia da percepção se agrupava em três perspectivas distintas: a de Lowenthal e Tuan, que tinham na psicologia comportamental, sociologia e filosofia existencialista o fundamento da linha de pesquisa, a geografia analítica propondo a análise espaço-temporal proposta por Hagerstrand e a terceira visão ditada por Lynch que adotava as contribuições neopositivistas da psicologia comportamental e estruturalistas da semiologia.

Para este estudo será adotada a linha de Lowenthal e Tuan, que mais tarde, décadas de 1960 e 1970 deram a origem para a geografia humanista. É importante salientar que mesmo havendo diferenças entre as linhas de estudo dos autores citados em algo o pensamento deles convergia que era o fato de que a “mente humana é um campo fundamental e indispensável de investigação geográfica” (GOMÉZ MENDOZA; MUÑOZ JÍMENEZ; ORTEGA CANTERO, 1982, p. 130).

Ademais, o marco que confirma a preocupação da geografia com as questões socioambientais e a interação com disciplinas sociais se deu através da obra Tuan

(1980), Topofilia, em que o autor apresenta o termo humanístico, no encontro da Associação de Geógrafos Americanos11, e confirma a geografia como uma ciência capaz de articular com outras ciências e, ainda se preocupar com visão que se tem do mundo humano (MARIN, 2008). Desta forma, Tuan (1976, p. 1), afirma sobre a Geografia Humanística que: [...] ela procura um entendimento do mundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza, do seu comportamento geográfico, além dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do lugar.

E nesta semelhança que os estudos relacionados ao tema da percepção ambiental movimentaram tais pesquisadores para um mesmo objeto, apesar de terem objetivos diferentes, a preocupação em entender o que movimenta as pessoas a terem visões e interpretações diferentes do mundo, instigou aqueles que compreenderam que a ciência em sua objetividade só enxerga em parte. No entanto, vale salientar que, segundo Merleau-Ponty (2006, p.6), a percepção não é uma ciência do mundo, não é nem mesmo um ato, uma tomada de posição deliberada; ela é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles.

Para Hochberg (1966, p. 11), "não basta dizer que o estudo da percepção tem por finalidade a observação do mundo, pois isto é objetivo de diversas ciências”. Ele ainda afirma que é necessário entender como ocorrem os processos de percepção. Primeiro, em relação à observação das atitudes que podem resultar em erro, por exemplo, a ocorrência de acidentes em que o condutor calcula errado a distância de frenagem de um veículo ou até mesmo, de forma mais abstrata, o reconhecimento de expressões faciais de sentimentos, a euforia pode ser a manifestação de desespero e não de alegria. Em seguida, com a substituição do mundo real pela fantasia especialmente preparada, como o caso das projeções de cinemas, televisão ou a crença e transporte para o mundo virtual da Internet. Em terceiro lugar, o momento em que o homem é substituído pela máquina, como um intérprete cartográfico, por exemplo. Neste caso, é necessário conhecer com detalhes o que o observador compreende de determinada realidade para só assim programar-se uma

      

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