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CAPÍTULO II: TERRAS DEVOLUTAS

6 TERRAS DEVOLUTAS DA FAIXA DE FRONTEIRAS DO BRASIL

6.1 ACEPÇÃO E CONCEITO DE FRONTEIRA

Para este trabalho, interessam-nos, principalmente, as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras definidas em lei e as terras devolutas não compreendidas entre as da União, relacionadas nos Incisos II e IV do artigo 20, da Constituição federal de 1988.

O termo Fronteira provem “do latim frons, frontis, frente, fachada. Faixa interna de largura variável e de caráter principalmente estratégico, de base física de um Estado, delimitada por uma linha divisória ou limite, que a divide da faixa de fronteira do Estado contíguo. A fronteira é uma faixa de largura considerável e que se confronta com a linha de limites, na qual termina a ação jurisdicional do Estado. São finalidades da faixa de fronteira a delimitação da base física do Estado, a intercomunicação com os povos fronteiriços e a proteção contra a hostilidade externa. Fronteira, portanto, é faixa, limite é linha. Entre dois Estados confrontantes existem duas faixas de fronteira opostas e divididas por uma linha, a linha de limite. Ao tempo do Império, a lei marcava para a faixa de fronteira do Brasil uma largura de 10 léguas (60 km), a partir da linha de limite. A CF de 1934, art.166, estipulou a faixa de fronteira de 100 km, e as duas Constituições subseqüentes (1937 e 1946), de 150 km. Atualmente, nos termos da L. 6.634, de 02-05- 1979, art.1º, é considerada área indispensável à segurança nacional a faixa interna de 150 km de largura, paralela à linha divisória terrestre do território nacional, que será designada como faixa de fronteira. A nova CF dispõe semelhantemente a respeito, ao determinar no art. 20 (Bens da União), parágrafo 2º: “Art. 20, parágrafo 2º. A faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei” 99.

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ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário jurídico brasileiro. 1ª ed. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1993, p. 596-597.

“Fronteira. Derivado do latim frons, frontis (frente), como feminino substantivado do adjetivo fronteiro, literalmente quer significar aquilo que se encontra à frente, tomado como adjetivo feminino de fronteiro. É comum o seu emprego no sentido de linha divisória ou limite, entre dois prédios ou entre dois territórios. Tecnicamente, a significação dos vocábulos não se mostra idêntica: fronteira e limites se distinguem. Os limites materializam-se em linhas de intercessão, linhas de contato, sendo, pois, propriamente, uma linha de separação entre duas coisas, que se acham juntas ou unidas, mas limitadas ou demarcadas por essas linhas. Fronteira é o espaço ocupado pela coisa em frente de outro espaço, ocupado por outra coisa: não se mostram linhas, possuindo maior grandeza ou extensão que estas. É a parte da frente que está em frente de outra parte. Praticamente, pois, a área da fronteira não é tão estreita como a dimensão dos limites, apegada aos pontos de contato das duas coisas, mostrando-se o mesmo para ambas, enquanto que as fronteiras são duas, uma de cada lado”100. Para interpretar melhor o termo fronteira, deve-se procurar também o significado da palavra limite. “Limite, s. m. Linha de demarcação entre terrenos ou territórios contíguos ou próximos; termo; confim; raia; fronteira; meta; extremo; baliza. (Do lat. Limite).101.

Viu-se, pois, que “fronteira” não só tem o significado, que pretende no trabalho, qual seja o de linha divisória que serve de estrema entre dois países mas também se apresenta com o sentido de limites entre bens, objetos ou coisas vizinhas, unidas ou juntas. A fronteira é termo genérico de que o limite é espécie. Por isso, pode ser que toda fronteira seja limite, mas nem sempre este corresponde àquela. Não fica tecnicamente ajustado quando se diz que um prédio confronta com outro. Contudo, calha perfeitamente, ao se expressar que o prédio “A” limita-se com o prédio “B”. O nome “Fronteira” é empregado, geralmente, para designar a estremadura entre um ou mais países ou territórios, de modo a separá-los para prevenir contra conflitos ou litígios entre si, provocados pela dúvida quanto a posse dos territórios ocupados ou conquistados. Limite é a linha identificada pela colocação de marcos, em toda sua extensão, respeitada certa distância entre eles, que separa ou divide Estados soberanos ou territórios em sua faixa de fronteira ou mesmo para dividir qualquer outro bem material.

Parece que a origem latina é a que melhor identifica fronteira, ao afirmar que designa o espaça ocupado pela coisa em frente a outro espaço, também, ocupado em frente, com a finalidade de prevenir litígios entre países ou territórios, visando à

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SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p.371.

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manutenção da paz entre eles. No caso presente tais espaços referem-se a cada um dos territórios ou países, que são o Brasil e os Países que lhe fazem estrema.

Assim, pode-se dizer que fronteira é a parcela ou faixa do território de uma nação, ou Estado, localizada em frente da de outro, servindo de limites entre ambos, destinada, prioritariamente, à defesa nacional.

As terras devolutas, na faixa de fronteira foram definidas ainda no tempo do Império, quando não somente elas pertenciam ao Poder Público (Império), mas, também, toda e qualquer espécie de terra devoluta, localizassem ou não na zona de fronteira.

A primeira definição de terras devolutas, na faixa de fronteira, na República Velha, foi dada pelo Decreto-lei nº 9.760, de 05.08.1.946, ainda em vigor, que dispõe sobre os bens imóveis da União e dá outras providências, através de seu artigo 5º, in

verbis:

“Art. 5º - São devolutas, na faixa de fronteira, nos Territórios Federais e no Distrito Federal, as terras que, não sendo próprias, nem aplicadas a algum uso público federal, estadual, territorial ou municipal, não se incorporaram ao domínio privado por força da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, Decreto-lei nº1318, de 30 de janeiro de 1854, e outras leis e decretos gerais, federais e estaduais: a) em virtude de alienação, concessão ou reconhecimento por parte de União ou dos Estado; b) em virtude de lei ou concessão emanada do governo estrangeiro e ratificada ou reconhecida expressa ou implicitamente pelo Brasil, em tratado ou convenção de limites; c) em virtude de sentença judicial com força de coisa julgada; d) por se acharem em posse contínua inconteste com justo título e boa-fé, por tempo superior a 20 (vinte) anos; e) por se acharem em posse pacífica e ininterrupta, por 30 (trinta) anos, independentemente de justo título e boa-fé; f) por força de sentença declaratória proferida nos termos do art.148 da Constituição Federal de 10 de novembro de 1937.

Parágrafo único: a posse a que a União condiciona a sua liberalidade não pode constituir latifúndio e depende do efetivo aproveitamento e morada do possuidor ou do seu preposto, integralmente satisfeitas por estes no caso de posse de terras, situadas na faixa de fronteiras, as condições especiais impostas na lei”.

Assim, terras devolutas, na faixa de fronteira do Brasil, são aquelas que não se incorporaram ao domínio privado, não são próprias nem aplicadas a algum uso público federal, estadual, territorial ou municipal, por força do caput, letras “a” a “g” e Parágrafo único do artigo 5º, do Decreto nº 9.760, de 05.08.1946.

6.2 ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E JURÍDICOS DA