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USUCAPIÃO, EM GERAL E O ESPECIAL OU PRO-LABORE

CAPITULO VI: CONCLUSÃO

5 USUCAPIÃO, EM GERAL E O ESPECIAL OU PRO-LABORE

Como uma espécie de introdução à matéria do usucapião especial ou pro labore, fez-se uma abordagem sobre a origem, conceito, forma e requisito para aquisição da propriedade imobiliária rural através do instituto do usucapião. Como é sabido, existem, atualmente, três formas de usucapião: o extraordinário, o ordinário e o especial, que desdobra em especial rural ou pro labore e especial urbano, sendo este último (rural) de interesse imprescindível para o estudo deste trabalho. A razão dessa preferência é mostrada em seguida.

Ainda, no antigo direito romano, de acordo com a lei das XII Tábuas, cogitava-se do usucapião, abrangendo os móveis e os imóveis, sendo de um ano o prazo para os primeiros e dois anos para os segundos. O usucapião é modo de aquisição de bens móveis ou imóveis pelo decurso do tempo, o que coincide com a própria prescrição extintiva e aquisitiva do direito.

São requisitos do usucapião extraordinário a posse mansa e pacífica, o prazo de quinze anos ininterruptos, a sentença e o registro no Registro Geral de Imóveis. Para o usucapião ordinário, a lei exige a posse mansa e pacífica, o tempo de dez anos, a boa-fé, o justo título, a sentença e o registro no Registro Geral de Imóveis. No usucapião extraordinário não se exige a boa-fé, posto que presumida, nem o justo título.

São requisitos do usucapião especial rural ou pro labore e o urbano: não ser o pretendente proprietário de imóvel rural ou urbano, ocupá-lo, no mínimo, por cinco anos ininterruptos e sem oposição, área não superior a cinqüenta hectares ou até duzentos e cinqüenta metros quadrados, ter o requerente nele a sua moradia, respectivamente. No caso do usucapião especial rural, torná-lo produtivo por seu trabalho e de sua família.

Pelo Estatuto da Cidade foi criado, também, o usucapião especial coletivo urbano para área superior a duzentos e cinqüenta metros quadrados ocupados por várias pessoas, que preencham os outros requisitos, exigidos para o usucapião especial urbano. A área deve ser contínua e ininterrupta, ou seja, sem nenhuma interrupção entre um e outro terreno dos compossuidores.

No campo existem fatores absolutamente semelhantes àqueles que justificaram a criação do usucapião especial coletivo urbano. Ou seja: várias pessoas ocupando área rural, maior do que o módulo rural, mas que se dividida proporcionalmente pelo número de seus ocupantes, resultará numa fração inferior ou igual aos cinqüentas hectares previstos na Constituição ou mesmo ao módulo rural, mas que somadas ultrapassam aqueles limites. Os referidos posseiros auferem baixa renda ou nenhuma. Surge aí, como na cidade, o imperativo de ser criado, também, o usucapião especial coletivo rural, baseado numa interpretação extensiva e teleológica do art. 191, da Constituição Federal ou mesmo estabelecê-lo em regulamento próprio, reservando-o tanto para a aquisição de área do domínio privado mas também devoluta dominical do domínio público. A conquista advinda do usucapião especial individual rural e do pretenso usucapião especial rural coletivo, ao lado das demais formas existentes de aquisição da propriedade privada e pública, contribuiriam decididamente para a concessão de um piso vital mínimo de sobrevivência e dignidade humana pelo campesinato nacional, retratado na moradia e no trabalho.

A filosofia, que inspirou a criação do usucapião especial rural e do usucapião especial urbano, funda-se nos princípios de preservação da existência e da solidariedade humanas, que exigem do Poder Público o provimento das necessidades mais gerais de alimentação, moradia e trabalho dignos. Esses elementos mínimos mantenedores da existência humana, no campo e na cidade, serão atingidos com a aquisição de área rural correspondente ao módulo, ou aquela de cinqüenta hectares delimitada pela Constituição

Federal, a percepção da renda mínima e moradia. Cultivando, regularmente, o imóvel, individualmente ou em regime de economia familiar, o produtor rural poderá auferir renda, mínima correspondente ao salário mínimo nacional, destinada ao seu sustento e de sua família e nele construir sua moradia, destinando o excesso da produção ao progresso social e econômico através de sua comercialização. Equipara-se, assim, o rurícola ao citadino em suas condições existenciais de alimentação, moradia e renda, que é o chamado teto vital mínimo existencial de que cuida o Estatuto da Terra e expressamente a ele se referiu o Estatuto da Cidade.

O usucapião especial rural constitucional ou pro labore é previsto no artigo 191, da Constituição Federal e se destina à aquisição de imóvel rural do domínio privado. É instituto criado a favor do labor ou trabalho do rurícola que cultiva a terra e nela tem sua moradia. O parágrafo único deste artigo dispõe que são insusceptíveis de usucapião os imóveis públicos.

Apesar do óbice da Constituição, contudo, há controvérsia na doutrina e na jurisprudência, quanto ao usucapião das terras devolutas, atendendo a que, havendo muitas espécies destas no Brasil, o legislador não indicou qual a espécie ou espécies delas que é ou são usucapíveis. Por exclusão todas as outras espécies de terras devolutas, sem nenhuma destinação pelo Poder Público, estão sujeitas ao usucapião especial ou pro

labore, porque subordinadas aos ditames da justiça distributiva ou atributiva e ao

imperativo do princípio da função social da propriedade em geral, como a acontece com a propriedade imobiliária rural privada.

Portanto, em que pese alguma opinião contrária ou simplesmente acomodada, há, entretanto, uma robusta corrente doutrinária, de autores de nomeada, defendendo a volta do antigo usucapião constitucional de terras devolutas para o bojo da Constituição Federal, entendendo que ele nunca desapareceu. Ou, ainda, se isso não for possível, deve ser sancionada uma Lei Complementar, sob o pálio de que o texto constitucional é confuso” 183.

183

Cf. BORGES, Paulo Torminn. Institutos básicos do direito agrário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 164.

Evidentemente, que se cuida aqui daquelas terras devolutas, sem dono, desocupadas, de ninguém. Não se incluindo, pois, as {terras devolutas} utilizadas pela administração pública federal, estadual ou municipal em quaisquer de suas finalidades. Nem as constituídas pela faixa divisória com os Estados fronteiriços, as de proteção ambiental ou de reserva biológica ou recursos naturais, em geral, além de outras.