• Nenhum resultado encontrado

PROPRIEDADES RURAIS INEXPROPRIÁVEIS PARA FINS DE REFORMA

CAPÍTULO I: PROPRIEDADE

2 ORIGEM E FORMAÇÃO DA PROPRIEDADE NO MUNDO E NO

6.4 PROPRIEDADES RURAIS INEXPROPRIÁVEIS PARA FINS DE REFORMA

REFORMA AGRÁRIA

No mecanismo da desapropriação, um dos fatos que mais suscita os conflitos da questão agrária no Brasil, é o desconhecimento ou a falta de informação de ponderável parcela da população, sobre qual a propriedade territorial rural que está sujeita ou não à desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária. Como se sabe, ao lado dos imóveis rurais manifestamente reformáveis, há os que não podem ser desapropriados para a reforma agrária, de acordo com a Constituição Federal e a legislação pertinente.

A respeito deste atual e palpitante assunto, a Constituição de 1988 estabelece que: “art.185 - São insusceptíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único - A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva”.

Viu-se, portanto, que a Constituição Federal proibiu, terminantemente, a desapropriação da pequena, média e da propriedade produtiva, para fins de reforma agrária, desde que o seu titular não possua outra. Deflui, pois, da interpretação ao mencionado artigo, que a pequena e a média propriedade não poderão ser desapropriadas para fins de reforma agrária, “desde que o seu proprietário não possua outra”. Esse artigo (185) e todos os outros do capítulo III, do título VII, da Constituição Federal, que tratam da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, foram regulados pela Lei nº 8.629, de 25.02.1993 e pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30.11.1964). Infere-se, da interpretação do art.185, I, da Lei Fundamental, em harmonia com o art.4º, parágrafo único, da Lei nº 8.629/93, que as pequenas e médias propriedades rurais não poderão ser desapropriadas para a reforma agrária, sejam ou não produtivas, salvo se o seu titular possuir outra propriedade rural. O Parágrafo único do art.4º da última lei referida foi bastante incisivo em sua redação, ao dispor, completando, que não haverá desapropriação para fins de reforma agrária, se o proprietário não possuir outra propriedade rural.

A condição à qual a Constituição quis se referir, e que a lei reguladora o fez, de modo inequívoco, para esclarecer a exceção, foi a de que o dono não possua outra propriedade rural e não qualquer outra. O cidadão poderá ter outras propriedades urbanas, nem por isso, a única que possua, no campo, estará sujeita à desapropriação para reforma agrária. Mesmo porque, normalmente, o imóvel urbano não é susceptível de reforma agrária, mas, sim, de reforma urbana.

As pequenas e médias propriedades rurais, à luz da Constituição, poderão até ser desapropriadas por utilidade, necessidade pública ou outra causa, mas para outros fins, que não a reforma agrária.

E o que são as pequenas e médias propriedades rurais? Segundo os arts. 4º, II e III, da Lei nº 8.629, de 25.02.1963, pequena propriedade é o “imóvel de área compreendida

entre um e quatro módulos fiscais” (Inciso II)63 e média propriedade “aquele imóvel rural de área superior a quatro e até quinze módulos fiscais” (Inciso III). Exemplifiquemos.

63

Módulo Fiscal - é uma variante do módulo rural. Pode ser considerado um sistema de medida de terra, utilizado sob a forma de hectare, de tamanho médio, variável segundo a região e tipo de exploração da cultura agrária.

Suponha-se um imóvel rural com duzentos e quarenta hectares, cujo módulo fiscal da região foi fixado em sessenta hectares. Tem-se aí uma pequena propriedade porque a sua área de duzentos e quarenta hectares, obtida pela divisão da área do módulo fiscal, não ultrapassou aos quatro módulos fiscais, permitidos pela lei. Esta é, pois, uma propriedade não sujeita à reforma agrária. O seu proprietário deve, de acordo com o bom senso e com a interpretação da legislação agrária, em geral, explorar convenientemente tal imóvel rural, para cumprir a função social. Todavia, deve fazê-lo livre de qualquer conflito, turbação ou esbulho possessórios, provocados por qualquer cidadão, quer com ou “sem terra”, ou mesmo pelo Poder Público (INCRA).

Quanto à média propriedade, o raciocínio é o mesmo sobre sua não sujeição à desapropriação. Tome-se, por exemplo, um imóvel rural com a área de novecentos hectares, situado numa região, cujo módulo fiscal são sessenta hectares. Trata-se, pelo visto, de média propriedade porque sua área situa-se entre quatro e quinze módulos fiscais (900:60=15), razão pela qual é, também, imune de desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, desde que o seu dono não possua outra.

Não pode ser desapropriada, também, para fins de reforma agrária, a propriedade produtiva. Nos conceitos de pequena e média propriedade não estão visíveis os elementos evidentes da função social das terras, ou seja, os dispositivos da Lei Fundamental (Constituição) e da Lei Ordinária (Infraconstitucional) não dispuseram acerca da obrigatoriedade do cumprimento da função social em tais propriedades rurais. Não se pode, contudo, extrair a mesma interpretação no respeitante à propriedade produtiva. O vocábulo “produtivo”, empregado pelo legislador já traduz a função social a que fora submetido este tipo de imóvel rural. A produtividade constitui uma característica por excelência da função social da terra. Em termos legais, no mínimo oitenta por cento da área aproveitável deve ser utilizada na exploração, com grau de eficiência igual ou superior a cem por cento.

Destarte, na legislação brasileira, uma propriedade que apresente um grau de utilização de oitenta por cento de suas terras exploráveis, independentemente, de sua extensão (abatidas as benfeitorias, desertos, morros, aguadas, reservas, pastagens naturais

e artificiais, etc.) e cem por cento ou mais de eficiência na exploração, é considerada produtiva, e, portanto, insusceptível de desapropriação para fins de reforma agrária.

Quanto ao seu tamanho, a propriedade produtiva só é limitada pela média propriedade, ou seja, por aquele imóvel rural que se situa entre quatro e quinze módulos fiscais. Quer dizer que tal propriedade (produtiva) deve ter mais de quinze módulos fiscais e seus extremos superiores são ilimitados, no pertinente à sua área total, mas limitada pelos graus de utilização e eficiência na exploração. Significa que pode ser considerado produtivo um imóvel rural com a área de mil hectares ou mesmo de vinte mil hectares, contanto que esteja exercendo a sua função social e cumprindo os demais princípios universais e nacionais do Direito Agrário. O tamanho da terra vai influir, apenas, na determinação dos graus de utilização e de eficiência na exploração. Todavia, não é conveniente em matéria de reforma agrária ou fundiária, que a propriedade produtiva seja tão grande quanto um país, um estado ou mesmo um município, com território considerável.

Lembre, que não é só o fato de pensar, de ver ou ouvir dizer, que uma propriedade é produtiva ou não, que se leve a uma dessas conclusões. É preciso que a demonstração seja evidente, para evitar a injustiça no campo. Somente a pressão ou o conflito agrário provocado por trabalhadores, não justifica a desapropriação do imóvel rural sob a alegação de que não é produtivo. É indispensável constatar o seu tamanho medido em módulos fiscais da região, a fim de certificar-se de que não é pequena ou média propriedade, as áreas ocupadas com benfeitorias, águas, montanhas, morros, desertos, reservas ecológicas e do meio ambiente, pastagens naturais e artificiais, matas virgens, etc. A exploração tanto pode ser agrícola, como pastoril, extrativo vegetal e animal e agroindustrial.

Alerta-se no sentido de que a propriedade produtiva não perde essa qualidade por razões decorrentes de casos fortuitos, força maior ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzidas, comprovadas pelo órgão competente, deixe de atingir, no ano respectivo, os graus de eficiência na exploração (Lei 8.629/93, art.6º, parágrafo 7º).