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Acionamento do Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas 103 !

No documento Fundo de garantia das execuções trabalhistas (páginas 103-108)

3 SISTEMAS DE GARANTIA SALARIAL NO ÂMBITO DO DIREITO

5.1 Projeto de Lei n 4.597-A, de 2004 91 !

5.1.5 Acionamento do Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas 103 !

O PL dispõe que o Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas poderá ser movimentado em duas situações, conforme artigo 12:

Art. 12 A conta do FUNGET poderá ser movimentada nas seguintes situações:

I - para assegurar o pagamento dos créditos referidos no art. 1º desta Lei; II - pelos tomadores de serviço, em caráter excepcional, para a aplicação em programas que tragam benefícios diretos e indiretos aos trabalhadores e seus familiares, tais como creches, escolas, e qualificação profissional, nos termos da regulamentação desta Lei, desde que não tenham provocado a movimentação judicial dos depósitos do Fundo no ano anterior à movimentação da conta.

Parágrafo Único. O Conselho Curador disciplinará o disposto no inciso II, visando a beneficiar os trabalhadores e a preservar o equilíbrio financeiro do FUNGET.

No que tange ao inciso II, verifica-se que tal disposição desvirtua a finalidade de um instituto garantidor de créditos trabalhistas, ao prever aplicação em programas que tragam benefícios aos trabalhadores, tais como creches, escolas e qualificação profissional.

Embora não se discuta a boa intenção do projeto em permitir o direcionamento dos recursos a tais fins, no caso de a empresa não ter se utilizado do Fundo no ano anterior ao da movimentação da conta, fato é que o texto constitucional não previu destinação outra ao Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas, de modo que tal proposição, se aprovada, pode ser declarada inconstitucional. Nesse sentido a Emenda n. 5, apresentada pelo deputado Darcísio Perondi, no sentido de suprimir o inciso II do artigo 12, sob a seguinte justificativa:

SUPRIMIR. DESVIO DE FINALIDADE. O texto constitucional somente permite a criação do Fundo para atender a gastos com indenizações trabalhistas. Assim, a destinação de recursos do FUGET para outros fins senão os indicados pelo texto da Lei Maior em garantia das execuções trabalhistas torna a lei inconstitucional, daí a impropriedade da utilização dos seus recursos para programas capazes de proporcionar benefícios aos trabalhadores e seus familiares, tais como creches, escolas, qualificação profissional, lazer e outros investimentos, caracterizando-se desvio de recursos que poderá ser punido pelo Tribunal de Contas da União, observado que o montante dos recursos mal dará para pagar as execuções trabalhistas, o que recomenda, também, a limitação do atendimento aos trabalhadores de

baixa renda. Isto só seria viável por meio de financiamento como previsto em artigos anteriores e nunca a fundo perdido.306

Defendida a inconstitucionalidade desta disposição legal, deverá também ser estendida ao artigo 9º, parágrafo 2º, do PL, que dispõe sobre a possibilidade dos recursos do Fundo serem aplicados em tais programas, bem como a do parágrafo 3º do mesmo artigo, que dispõe TXH³2SURJUDPDGHDSOLFDo}HVGHVWLQDUiSHORPHQRV TXDUHQWDSRUFHQWR Gos recursos ao pagamento dos créditos trabalhistas referidos no artigo 1º GHVWD /HL´ que permite que menos da metade dos recursos do Fundo destinem-se ao pagamento de créditos trabalhistas, evidenciando o desvio de finalidade.

Esta questão foi objeto da Emenda n. 9 apresentada pelo deputado Darcísio Perondi, que propôs a supressão do parágrafo 2º do artigo 9º, tornando prejudicado o parágrafo 3º.307

Luiz Carlos Moro demonstra preocupação quanto à proposição, afirmando que para tais benefícios já existe o )XQGR GH $PSDUR DR 7UDEDOKDGRU ³GH QHEXORVD JHVWmR TXH WHP VLGRPLQLVWUDGRFRPRIRQWHGHFRQWUROHGDVDWLYLGDGHVVLQGLFDLV´308

O levantamento e a sub-rogação do Fundo foram previstos nos artigos 13 e 14 do PL, nos seguintes termos:

Art. 13. O levantamento de valores pertencentes ao FUNGET, na hipótese do inciso I do art. 12, será efetuado mediante mandado judicial, após o trânsito em julgado da decisão, se o devedor não pagar o débito no prazo de 48 (quarenta e oito) horas contados da citação em execução perante a Justiça do Trabalho.

§ 1º Efetuado o pagamento na forma deste artigo, o fundo, sub-rogando-se no crédito do trabalhador, executará o devedor, perante a Justiça do Trabalho, nos próprios autos da reclamação trabalhista.

§ 2º Para a efetivação da tutela executória, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, impor multa por tempo de atraso.

§3º O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

Art. 14 Os valores penhorados em processo de execução de créditos trabalhistas serão depositados no FUNGET à disposição do juízo.

306 BRASIL. Projeto de Lei n. 4.597-A, de 2004. Emenda n. 5. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=302759>. Acesso em: 02 maio 2011.

307 Ibid. Emenda n. 9. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=302763>. Acesso

em: 02 maio 2011.

Embora o artigo 1º se refira à subsidiariedade quanto ao pagamento dos créditos trabalhistas pelo FUNGET, prevê o acionamento do Fundo no caso de o devedor não adimplir sua obrigação decorridas 48 horas da citação em execução.

Ainda que preveja a sub-rogação pelo Fundo do crédito do trabalhador, com a continuidade da execução nos próprios autos, fato é que, em busca de uma total efetividade na satisfação do crédito trabalhista, excetuados os poucos casos de cumprimento espontâneo da obrigação, tal sistema induz a não satisfação voluntária do crédito, uma vez que o devedor saberá de antemão que o trabalhador terá seu crédito garantido pelo Fundo.

Esta previsão dissocia-se da experiência internacional da instituição de garantia apenas quando da insolvência do empregador (considerando a liberdade atribuída pela Convenção n. 173 da Organização Internacional do Trabalho e pela Diretiva n. 80/1987 para a legislação nacional definir ³insolvência´, inclusive estendendo-a, para estes fins, aos casos de encerramento irregular da empresa) e compromete a própria manutenção do Fundo ao vinculá-lo à satisfação de todo crédito trabalhista, independentemente de valor e da natureza, se não cumprida a obrigação pelo devedor em 48 horas.

Não há qualquer estimativa, no Projeto, do montante inicial que comporia o FUNGET, bem como das execuções trabalhistas pendentes de execução, a fim de averiguar, ao menos, se o )XQGR³VREUHYLYHULD´DRVSULPHLURVPHVHVGHVXDLQVWLWXLomR

O PL, neste tópico, também foi objeto da Emenda n. 3, apresentada pelo deputado Darcísio Perondi, que propôs a seguinte redação para o artigo 13:

Art. 13. O levantamento de valores pertencentes ao FUNGET, na hipótese do inciso I do art. 12, será efetuado mediante mandado judicial, após o trânsito em julgado da decisão, se o devedor não pagar o débito no prazo de cinco (5) dias úteis contados da citação em execução perante a Justiça do Trabalho, desde que comprovada, a critério do juiz, a impossibilidade da execução do devedor principal por falta de bens para garantir a execução.

Par. 1º - Feito o pagamento do débito pelo FUNGET, o Juiz imporá ao executado uma multa correspondente a 20% (vinte) do valor pago.309

309 BRASIL. Projeto de Lei n. 4.597-A, de 2004. Emenda n. 3. Disponível em:

A justificativa para tal proposição é a seguinte:

O prazo de 48 (quarenta e oito) horas, previsto no PL, é por demais exíguo. O pagamento pelo FUNGET só deve ocorrer nos casos em que seja constatada por parte do Juiz a inexistência de bens por parte do executado, evitando-se, assim, pagamentos desnecessários visto que o exeqüente terá condições de receber seu crédito. A multa prevista no par. 1º se justifica, a fim de estimular que os pagamentos sejam feitos pelo executado, mesmo que seja por meio de acordo com o devido parcelamento.310

A proposição avança no sentido de não fazer do FUNGET o garantidor da execução pelo mero não pagamento em 48 horas pelo devedor, exigindo a demonstração de impossibilidade de satisfação do crédito pelo devedor. Mas acreditamos que o prazo de cinco dias úteis para pagamento não altera a questão, pois, depois de superada as fases de conhecimento e de liquidação da sentença, não se pode dizer que o executado será surpreendido com a determinação judicial de pagamento, sob pena de execução.

Assim, entendemos que o prazo de 48 horas, ou de 5 dias úteis, não acarreta diferença, pois o devedor que pretende pagar já teria se preparado para tanto. No mais, o prazo de 48 horas se coaduna com a previsão do artigo 880 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O que é relevante destacar na referida Emenda é a determinação que condiciona o acionamento do Fundo à comprovação da impossibilidade de prosseguimento da execução em face do devedor, pela falta de bens.

Tal comprovação somente poderia ocorrer após a realização de diligências, por exemplo, junto ao Bacen-Jud, aos cartórios de Registro de Imóveis, aos órgãos de trânsito, a fim de localizar patrimônio da empresa executada e, inclusive, com o direcionamento da execução em face do patrimônio pessoal dos sócios.311

Pode-se argumentar que tal previsão dificultaria a pretendida celeridade na satisfação do crédito trabalhista, mas o fato é que somente com tais diligências poder-se-ia constatar a

310 BRASIL. Projeto de Lei n. 4.597-A, de 2004. Emenda n. 3. Op. cit.

311 Através da desconsideração da personalidade jurídica da empresa, presentes os requisitos legais, ou

considerando a despersonalização da figura do empregador, como defendem Marcos Neves Fava e Bianca Bastos. (FAVA, Marcos Neves. Op. Cit., p. 104-110; BASTOS, Bianca. Limites da responsabilidade trabalhista na sociedade empresária: a despersonalização do empregador como instrumento para vinculação do patrimônio do sócio. São Paulo: LTr, 2011).

insuficiência patrimonial do devedor e a necessidade de intervenção do Fundo para o pagamento do crédito trabalhista.

Esse procedimento seria excepcionado apenas na decretação da falência, uma vez que esta pressupõe o estado de insolvência do devedor, ocasião em que o Fundo deverá ser acionado diretamente pelo trabalhador. Neste caso, se o crédito superar o montante pago pelo Fundo, será necessário que o trabalhador se habilite no concurso de credores a fim de perceber o crédito restante e, havendo a sub-rogação do Fundo pelo montante adimplido, também haverá sua habilitação na execução universal.

Mantida a preferência do crédito sub-rogado, entendemos ser necessária a alteração da legislação falimentar para que conste o crédito do Fundo de Garantia das Execuções Trabalhista do inciso I do artigo 83 da Lei de Falências (Lei n. 11.101/2005), a ser pago após o crédito do trabalhador, da mesma classe.

No tocante à sub-URJDomR GLVS}H R DUWLJR  GR &yGLJR &LYLO TXH ³$ VXE-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores´PDVQmRKiHVSHFLILFDomRQR3/ sobre a representação processual do Fundo para prosseguir com a execução. Decorre do instituto da sub-rogação que o sub-rogado não tem ação contra o sub-rogante no caso de o devedor ser insolvente, mas, se a obrigação for nula ou não existir, quem pagou tem direito ao reembolso em razão do princípio do enriquecimento sem causa.312

Interessa-nos a segunda parte desta afirmação, no sentido de que quem pagou tem direito ao reembolso quando a obrigação satisfeita for nula ou inexistente, recordando que, diante da finalidade social do FUNGET, deve a lei dispor sobre meios de coibir fraudes na utilização do Fundo, questão não abordada no PL.

312 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 6. ed. São

No documento Fundo de garantia das execuções trabalhistas (páginas 103-108)