• Nenhum resultado encontrado

3 SISTEMAS DE GARANTIA SALARIAL NO ÂMBITO DO DIREITO

5.1 Projeto de Lei n 4.597-A, de 2004 91 !

5.1.3 Recursos 96 !

Dispõe o artigo 2º do PL sobre os recursos do FUNGET, nos seguintes termos:

Art. 2º O FUNGET é constituído pelos seguintes recursos: I - dotações orçamentárias;

II - multas impostas em decisões judiciais e termos de conciliação homologados pela Justiça do Trabalho;

III - multas administrativas impostas pela fiscalização do trabalho; IV - resultados das aplicações dos recursos do FUNGET.

IV - demais receitas patrimoniais e financeiras; VI - outras fontes.

Parágrafo único. Os valores depositados no FUNGET são absolutamente impenhoráveis.

No tocante ao inciso II, o PL não explicita quais multas decorrentes de decisões judiciais comporão o Fundo, questão essencial para a sua constituição. Tal lacuna poderá ocasionar dúvidas quanto à composição do FUNGET, uma vez que as multas provenientes tanto do direito processual como do direito material estabelecem seus destinatários.

A título de exemplo, as multas constantes dos artigos 467 e 477, parágrafo 8º, da CLT, são devidas ao trabalhador, assim como as multas por litigância de má-fé e por embargos de declaração protelatórios são devidas à parte contrária na relação jurídico processual (artigos 18 e 538, parágrafo único, do CPC). As multas impostas em termos de conciliação homologados pela Justiça do Trabalho são devidas ao credor, na hipótese de mora ou de descumprimento absoluto da obrigação.

Poderia haver expressa previsão legal no sentido de que as multas decorrentes de descumprimento de termos de ajustamento de conduta (TAC), bem como as condenações por danos morais coletivos constituiriam recursos do FUNGET, uma vez que este Fundo visa atenuar um problema processual e social latente, consubstanciado na impossibilidade de satisfação do crédito trabalhista.

No tocante às multas administrativas impostas pela fiscalização do trabalho, extrai-se do PL que se referem a todas as penalidades impostas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, mas não há qualquer menção no projeto acerca das atuais destinações de tais multas e possíveis realocações dessas verbas.

O deputado Darcísio Perondi, da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara dos Deputados, propôs a Emenda n. 2 ao PL, pretendendo alterar a redação do inciso I e suprimir os incisos II, III e VI, supratranscritos.

Defende a alteração do inciso I para que FRQVWH³GRWDo}HVRUoDPHQWiULDVFRQVWDQWHVGR RUoDPHQWR GD 8QLmR´ VRE D MXVWLILFDWLYD GH TXH ³'HYH-se deixar clara a necessidade de alocar-se no Orçamento da União verbas para atender as finalidades do FUNGE7´.294

294 BRASIL. Projeto de Lei n. 4.597-A, de 2004. Emenda n. 2. Disponível em:

Justificou a supressão dos incisos II, III e VI, nos seguintes termos:

Item II - SUPRIMIR, pois, além das multas que beneficiam os reclamantes pela mora, certamente haverá a imposição de outras em favor do FUNGET, que onerará ainda mais o custo das empresas, com reflexos no custo da produção.

Item III - SUPRIMIR, pois atualmente as multas administrativas por infrações à legislação do trabalho constituem-se em receita da União. Serão LPSRVWDV RXWUDV HP IDYRU GR )81*(7 KDYHQGR DVVLP ³bis in idem´ Hm razão da mesma infração. Mantendo-se, entretanto, o item III deve ficar FODUR D LQH[LVWrQFLD GH ³bis in idem´ RX VHMD TXH DV UHFHLWDV GDV PXOWDV administrativas aplicadas sejam creditadas em favor do FUNGET

Item VI - O dispositivo é genérico, podendo ser criada uma nova contribuição devidas pelas empresas em favor do FUNGET.295

Observa-se da Emenda proposta ao PL a preocupação de seu autor quanto ao aumento dos custos das empresas, mas não se pode olvidar que os incisos II e III constituem recursos do FUNGET previstos na Emenda Constitucional n. 45/2004, de modo que não podem ser suprimidos, mas sim definidas as hipóteses de incidência pela legislação ordinária.

Entendemos não ter pertinência a disposição do parágrafo único do artigo 2º, no sentido de que ³RV YDORUHV GHSRVLWDGRV QR )81*(7 VmR DEVROXWDPHQWH LPSHQKRUiYHLV´ Mi que o projeto nada aduz a uma espécie de conta vinculada do trabalhador, e nem o poderia, pois os recursos do Fundo não possuem destinatários predeterminados.

O artigo 9º do PL prevê a aplicação dos recursos do FUNGET pela Caixa Econômica Federal em operações que satisfaçam os requisitos definidos no inciso I. Tais requisitos são semelhantes aos constantes do inciso I do artigo 9º da Lei n. 8.036/90, com exceção das DOtQHDV³F´³G´H ³I´GHVWHGLVSRVLWLYROHJDO

A disposição acerca da rentabilidade média das aplicações (artigo 9º, parágrafo 1º do PL) possui a mesma redação do parágrafo 1º do artigo 9º da Lei n. 8.036/90. Da mesma forma, o parágrafo 4º do artigo 9º do PL equivale à disposição do parágrafo 5º do artigo 9º da Lei n. 8.036/90.

O artigo 10 do PL, relativo às diretrizes e critérios fixados pelo Conselho Curador para aplicação dos recursos do FUNGET, assemelha-se ao artigo 10 da Lei n. 8.036/90.

Salienta-se o artigo 15 do PL, que dispõe sobre a possibilidade de o Conselho Curador autorizar a Caixa Econômica Federal a celebrar convênio com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social, com vistas à aplicação de até 60% dos recursos do FUNGET. Esse artigo foi objeto da Emenda n. 12, apresentada pelo deputado Darcísio Perondi, que previu a redução desse índice para até 15%, sob a justificativa de que:

O percentual máximo de até 60% previsto no PL é insustentável. Se o fundo tiver tal tamanho, conclui-se que deve ser reduzida a fonte de recursos, como desnecessária. Permitir esse percentual é aceitar que o fundo será mais um gerador de caixa para o governo, quando seu propósito não é esse.296

Por fim, considerando a previsão constitucional no sentido de que, além das multas, o Fundo pode ser constituído por outras receitas, destaca-se a defesa de Vania Cunha Mattos no sentido de que seja constituído pelo lucro do capital depositado em bancos oficiais a título de depósito recursal.297

Assim, mais uma vez neste estudo verifica-se a proposta de nova conformação do depósito recursal para se obter maior efetividade à execução trabalhista. Wagner Drdla Giglio e Marcos Neves Fava defendem a realização de depósito recursal equivalente ao total da condenação,298 enquanto Vania Cunha Mattos propõe novo direcionamento, da conta

296 BRASIL. Projeto de Lei n. 4.597-A, de 2004. Emenda n. 12. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=302835>. Acesso em: 02 maio 2011.

297 1HVWH VHQWLGR VH PDQLIHVWD D DXWRUD ³( SRUWDQWR SDUHFH PXLWR FODUR TXH SDUWH GR UHIHULGR OXFUR GHYH VHU

direcionado para a formação do denominado Fundo Nacional de Execuções, gerido pelos Tribunais, abrindo espaço para que a CEF e o BB, no caso, contribuam com a redistribuição da riqueza em atividade produtiva, e não a meramente especulativa do capital.

Não parece justo que o capital gerado em razão exclusivamente dos processos trabalhistas, e portanto em decorrência do trabalho ainda que pretérito, não seja capaz de gerar benefício ao próprio trabalho, em ratificação à lógica capitalista que visa a uma maior acumulação de riqueza. A inversão da lógica financeira, com a utilização do capital do capital em favor da concreção de valores mais conformados com o ideal de Justiça, é VROXomRVLVWrPLFDVLJQLILFDWLYDGHDSHUIHLoRDPHQWRGDVLQVWLWXLo}HV´ (MATTOS, Vania Cunha. Fundo nacional de execuções. LTr: legislação do trabalho. Suplemento trabalhista. São Paulo, v. 43, n. 4, 2006, p. 650).

298 GIGLIO, Wagner Drdla. Op. cit., p. 430; FAVA, Marcos Neves. Op. cit., p. 122-124.

Homero Batista Mateus da Silva, embora reconhecendo a distorção que a fixação de um teto para o depósito recursal possa gerar, comparando seu impacto para condenações vultosas atribuídas a grandes empresas com a representatividade que o valor do teto pode apresentar para um pequeno empresário, entende que esta limitação é necessária para que a atividade econômica não seja paralisada, citando ainda o atual entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito da inconstitucionalidade da exigência de depósito recursal para recorrer

vinculada do trabalhador ao fundo garantidor de crédito. Esta medida, inevitavelmente, traria maior concretude à finalidade do depósito recursal, que é a de garantir eventual execução trabalhista.

Atualmente, além de não garantir o valor total da execução em muitos casos (ante a fixação de um valor máximo pelo Tribunal Superior do Trabalho, tendo em vista o quanto disposto no artigo 13 da Lei n. 7.701/88), o montante depositado não gera receitas substanciais às execuções trabalhistas, considerando o rendimento que poderia ser obtido pela aplicação deste montante no mercado financeiro, em razão do tempo que medeia a interposição do recurso e o trânsito em julgado da decisão que ensejará o levantamento da quantia.

Desta forma, a previsão de que o depósito recursal seja realizado em conta do Fundo de Garantia das Execuções Trabalhistas traria receita adicional a este órgão, sem acarretar despesa adicional ao empregador que pretende recorrer.