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Acontecimentos, alterações e autorias: os atos de currículo em suas potencialidades formativas

4.6 A PESQUISA COMO PRINCÍPIO PEDAGÓGICO

5. ATOS DE CURRÍCULO INTEGRADORES: PERSPECTIVANDO TRANSDUÇÕES CURRICULARES

5.2 ATOS DE CURRÍCULO INTEGRADORES E SUAS IMPLICAÇÕES NA PRÁXIS DOS CURSOS TÉCNICOS

5.2.2. Acontecimentos, alterações e autorias: os atos de currículo em suas potencialidades formativas

Pensar sobre atos de currículo é entregar-se à força imanente do acontecimento, compreendendo que estes são momentos constituídos a partir dos

encontros entre pessoas implicadas no e com o contexto, reconhecendo os padrões instituídos, mas abertas a emergências instituintes.

O acontecimento não é jogo-jogado. Acontecimento é jogo-jogante, vida vivente. [...] O acontecimento simplesmente acontece. Mas sempre acontece para alguém que deixa acontecer. Alguém que responde pelo nome próprio e que é apropriado. (GALLEFI, 2016, p. 13)

Atores curriculantes nas suas itinerâncias e errâncias produzem experiências singulares, individuais e coletivas, sendo estas últimas as mais extremas, por vezes mais cruéis e certamente mais enriquecedoras porque se impõem a partir dos encontros com ou outros. Nesse sentido, Gallefi (2016, p. 14) constata “no acontecimento, há alteração, ou melhor, “alter-ação”, ação com o outro”.

Assim, no movimento de construção das nossas com-versações no campo, junto aos atores sociais envolvidos na nossa pesquisa, foi possível compreender como as experiências vividas em situações de integração curricular, trazidas pelos narradores, vibravam, refletiam e traduziam-se em atos de currículos integradores acontecimentais.

Então, eu não tinha essa dimensão do curso integrado, eu achei que a gente chegaria aqui e faria um curso profissionalizante, e que estaríamos preparados para trabalhar em indústrias e tals, mas eu não tinha essa dimensão. [...] essa percepção minha foi muito mudando ao longo do tempo e o mais interessante desse projeto é que eu não trabalho só, a gente não trabalha só com as coisas relacionadas a nossa área, a gente trabalha também com professores de diversas áreas aqui do campus. (CE Cedro)

Eu posso falar, com toda certeza, que se eu não tivesse participado desse processo de pesquisa aqui no IFBA, eu não sairia a pessoa que eu tô saindo hoje do IFBA; eu sairia uma estudante completamente diferente, com a visão completamente diferente, porque eu ia só passar pelo meu curso, e a pesquisa, ela me deu essa base diferente. (CE Bergamota)

Eu tinha muito menos ligação com a área técnica do que eu tenho hoje. Então, você passa a respeitar, ter um outro olhar, a ver até onde você não conhece e passa a conhecer, você vai conversar com alunos de eletromecânica, e aí você começa a aprender tanto com ele, quanto com o professor... porque você se reúne com aquele professor... aí daqui a pouco o professor de Produção de Material, que eu nem sabia o que era isso, que tá viajando comigo, que tá me mostrando um olhar que eu também não conhecia. (VP Tangerina) [...] e em relação a trabalhar em equipe, trabalhar em equipe em um grupo de quase 20 pessoas no projeto, como eu disse, cada um com uma faixa etária, cursos e com pensamentos completamente diferentes em relação à pesquisa, e você chegar na sala de aula pra trabalhar em um grupo com 5 pessoas, mudou um pouco a minha

forma de enxergar o trabalho em equipe, de como colaborar pra poder fazer uma coisa todo mundo junto. (CE Alecrim)

A respeito das relações entre o acontecimento e a alteração, Macedo nos convida a refletir “se a alteração implica em nos mover e nos transformar no tempo, necessário se faz reconhecer a força do acontecimento na produção da alteração.” (MACEDO, 2016, p. 40)

[...] eu comecei a perguntar mais, a querer saber mais, a questionar mais, a não me contentar mais com aquilo que estavam me dizendo. Eu procuro professor fora de sala de aula, nos corredores, eu mando e-mail, eu insisto no contato, eu vou me abrindo a outras coisas. (CE Canela)

[...] nos fez despertar pra uma realidade que até então eu não havia vivenciado e nem observado dentro do campus, né? Isso aí também influenciou muito nós, docentes, né? Pensar outras possibilidades, né? Eu acho que foi muito bom pra os alunos e para os docentes também, né? (CPJunípero)

[...] aí entra a responsabilidade do aluno, que, na verdade, é uma formação profissional e humana, porque ele já se preocupa com essa questão da sustentabilidade, não jogar o lixo no chão, de pegar o copo descartável e dar um determinado fim pro projeto, as garrafas, tudo que nós buscamos trabalhar. (VP Tangerina)

Nesses atos de currículo integradores construídos e vivenciados pelos atores curriculantes, que, quase sempre rompem com limites impostos nos projetos de cursos, outros documentos e arranjos institucionais, para afirmarem a perspectiva integradora proposta para o currículo, percebemos, em essência, a capacidade de autoria e autonomia dessas pessoas, que, coletivamente, se autorizam a desfazer o jogo do outro, perspectivando um currículo,

[...] como lugar de formação para a autonomia, a ideia de negatricidade, apresentada em Ardoino (1998, p. 68), se faz relevante quando se refere ao ser humano portador da capacidade de “desjogar” com a expectativa que lhe é atribuída pelo outro. Isto implica dizer da necessidade de se pensar um currículo que em seu âmago assuma a negatricidade como viés que possibilita a heterogeneidade entendida como presença do outro e constitutivo da autoria. (BARBOSA, 2009, p. 54)

Nesse sentido, ao conceber o processo ensino-aprendizagem como um movimento fundamentalmente relacional, em que autores, mediados por suas referências sociais, culturais, por suas posições e ideologias, por suas singularidades e subjetividades, não se submetem como “idiotas culturais” (MACEDO, 2011, p. 22) a um currículo prescrito e pré-escrito, mas inventam, criam, produzem atos de currículo integradores, interpretamos essas interações

desenvolvidas nos contextos dos cursos técnicos como possibilidades efetivas e socialmente referenciadas de integração curricular.

Então, a alternativa de conciliar trabalho como princípio e pesquisa como princípio é que esse aluno seja capaz de criticar o seu entorno, de entender a sua realidade e ter condições críticas, reflexivas, criativas de modificá-la. Se ele consegue ter essa percepção de mundo, ele é absorvido pelo mercado, ele é absorvido pela universidade, ele tem condições de caminhar sozinho. Então, eu acho que muito do que a gente propõe no curso é que o aluno dê conta de caminhar sozinho, que ele seja capaz de compreender o mundo que o cerca e transformá-lo. (JP Capim Limão)

5.2.3. Ensino, pesquisa e extensão em articulação a partir dos atos de currículo

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