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3. A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DE NÍVEL TÉCNICO E O ENSINO MÉDIO INTEGRADO: CAMINHOS, INTENÇÕES E DESAFIOS

3.3. TENTATIVAS DE SUPERAÇÃO DA DUALIDADE: O ENSINO MÉDIO INTEGRADO E OS DESAFIOS ENFRENTADOS NOS ÚLTIMOS 30 ANOS

3.3.2. Educação Profissional: normatizações instituídas x movimentos instituintes

Para regulamentação do § 2º do art. 36 e dos arts. 39 a 42 da LDBEN, foi instituído o Decreto n° 2.208 de 17 de abril de 1997.

No que tange à forma de oferta,

Art. 5º. A educação profissional de nível técnico terá organização curricular própria e independente do ensino médio, podendo ser oferecida de forma concomitante ou sequencial a este. Parágrafo único. As disciplinas de caráter profissionalizante, cursadas na parte diversificada do ensino médio, até o limite de 25% do total da carga horária mínima deste nível de ensino, poderão ser aproveitadas no currículo de habilitação profissional, que eventualmente venha a ser cursada, independente de exames específicos. (BRASIL, 1997)

No mesmo Decreto, a Educação Profissional Técnica de Nível Médio (EPTNM), conforme prevê o Art. 8°, § 1º, teria os currículos estruturados em disciplinas, com a

possibilidade de agrupamento sob a forma de módulos. Para efeito de qualificação profissional, as disciplinas cursadas poderiam assumir caráter de terminalidade, dando direito a certificado de qualificação profissional ao final de cada módulo.

Observa-se, dessa forma, que, ao regulamentar a educação profissional, incluindo o §2º. do artigo 36 da LDBEN, não há possibilidade de ofertarem organização curricular na perspectiva do ensino médio integrado.

A reforma que se viu com a vigência do decreto nº 2208/97, foi duramente criticada pelos estudiosos brasileiros do campo do Trabalho e Educação, por docentes e demais representações das instituições federais que ofertavam educação profissional, como os Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), antigas Escolas Técnicas Federais, cuja institucionalidade foi modificada pela Lei nº 8948/2004.

A mobilização de professores e demais profissionais da área da educação profissional tinha como finalidade a extinção do referido decreto especialmente porque, o dispositivo legal, orientado diretamente ao atendimento às premissas do mercado, inviabilizava a integração curricular entre o ensino médio e a educação profissional.

Em 2003, um forte movimento político e conceitual, fruto, inicialmente, da configuração política do país na gestão Lula, impulsionou o Ministério da Educação (MEC) por meio da Secretaria de Ensino Médio e Tecnológico (SEMTEC) a organizar dois seminários, Ensino Médio: Construção e Política e Educação Profissional: Experiências, Problemas e Propostas, para discutir o Ensino Médio no Brasil que, de acordo com Moura (2007), constituíram-se em um marco da discussão do Ensino Médio Integrado

Esse movimento, que agregava especialistas da linha de pesquisa Trabalho e Educação além de movimentos sociais, professores, estudantes e sociedade civil, envolvidos e comprometidos com a formação integrada do ensino médio com a educação profissional, propôs a revogação do Decreto nº 2208/1997 e a regulamentação da educação profissional, a partir de um outro dispositivo “amplamente discutido com a sociedade”. (MOURA, 2007, p. 07)

Foi instituído então, em 23 de julho de 2004, o Decreto nº 5.154/2004, que regulamentou a LDBEN, no § 2º do art. 36 e nos artigos. 39 a 41, buscando normatizar a articulação entre o ensino médio e a educação profissional técnica.

Pelo novo decreto, art. 4º, §1º, a educação profissional passa a ser desenvolvida nas formas:

I – integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para cada aluno;

II – concomitante, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental ou esteja cursando o ensino médio, na qual a complementaridade entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio pressupõe a existência de matrículas distintas para cada curso [...];

III – subsequente, oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino médio (BRASIL, 2004).

Com as alterações, passaram a figurar duas concepções em relação ao vínculo entre educação profissional e ensino médio: a) uma, em que a educação profissional é parte do ensino médio, devendo realizar-se de forma integrada, constituindo um mesmo curso, chamada de Ensino Médio Integrado (EMI) e b) outra, que admite a separação entre eles, como estabelecido no projeto do governo anterior, reforçando a manutenção da histórica dualidade estrutural.

Por um lado, ressalta-se que essa retomada da oferta da Educação Profissional integrada ao Ensino Médio se constituiu como um avanço para a educação brasileira, na perspectiva de ensejar uma possibilidade de “[...] travessia em direção ao Ensino Médio politécnico e à superação da dualidade educacional pela superação da dualidade de classes”. (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005 p. 45). Por outro, em uma conjuntura mais ampla, as três formas de articulação entre a EPTNM e o Ensino Médio, integrada, concomitante e subsequente, previstas no Decreto nº 5154/2004, evidenciaram o caráter conciliador das políticas do Governo Lula, na tentativa de harmonizar os interesses de diferentes classes sociais e grupos político-ideológicos. (CAIRES e OLIVEIRA, 2016, p. 139) Esse dispositivo legal afirma a forma de articulação integrada entre o ensino regular e o técnico, passando então, a orientar o debate sobre a instituição de um currículo integrado. A este respeito, Ramos (2008, p. 13) ressalta que:

Coerentemente com o primeiro sentido da integração, a forma integrada de oferta do ensino médio com a educação profissional obedece a algumas diretrizes ético políticas, a saber: integração de conhecimentos gerais e específicos; construção do conhecimento pela mediação do trabalho, da ciência e da cultura; utopia de superar

a dominação dos trabalhadores e construir a emancipação – formação de dirigentes.

Nesse contexto de mudanças na organização e no funcionamento das instituições que ofertam a EPTNM, em 2006 mais um passo foi dado em direção à possibilidade de fortalecimento da educação profissional e tecnológica no país, assim como na efetivação da implementação de propostas para o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, com a realização da I Conferência Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, promovida pelo MEC, através da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) e pelo Fórum Nacional de Gestores Estaduais de Educação Profissional,

[...] representando um marco na história da Educação Profissional e um caminho para o diálogo entre os diversos segmentos, governamentais, empresariais e sociais, no sentido de propor, fortalecer e consolidar importantes políticas públicas para essa modalidade de educação. (CAIRES e OLIVEIRA, 2016, p.151)

3.3.3. A criação dos Institutos Federais e as Diretrizes Curriculares do Ensino

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