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2. CAMINHANDO AO ENCONTRO DA HEURÍSTICA DA PESQUISA

2.6. DISPOSITIVOS DE PROVOCAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DAS NARRATIVAS

Entregar-se às aventuras do trabalho de campo demandou de nós uma profunda compreensão de nossas relações com o constructo e com o dilema (problemática) de pesquisa. Colocamo-nos in situ, mesmo que em contextos já conhecidos, e com os quais estamos implicados, exigiu uma reflexão e respeito permanentes às diferenças entre esses contextos e seus atores, seus etnométodos, suas culturas, sua heterogeneidade.

Estar em campo em uma perspectiva implicada, demanda uma atitude pessoal de confrontação com o desconhecido, o contraditório, ou seja, estar livre de pré- conceitos e apriorismos, que possam limitar a percepção, permitindo enxergar, escutar e sentir os acontecimentos, o devir.

Nesse processo, definir os dispositivos a serem utilizados na pesquisa envolveu, em primeira instância, as correlações entre o constructo, objetivos e questões pensadas previamente, além da nossa necessidade de ir ao encontro das singulares diferenças, para compreendê-las em seus ethos, em seus contrastes, sem buscar compará-las de forma estanque e burocrática.

Assim sendo, começamos o trabalho de campo, após a definição dos contextos nos quais estaríamos diretamente envolvidos, com a análise de documentos institucionais como Projeto Pedagógico Institucional (PPI), Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) e outros projetos e atividades correlatos à dinâmica dos cursos e à integração curricular. Cabe salientar que buscamos projetos e atividades que indicassem a compreensão e experiência com atos de currículo integradores, em uma perspectiva dialógica, articulando trabalho, conhecimentos científicos e tecnológicos e cultura.

Com o estudo dos documentos nossas intenções estavam voltadas para a análise e interpretação das formas de integração curricular expressas e politicamente instituídas, mas especialmente nosso olhar foi em direção às zonas de

sombras e opacidades ideológicas e conceituais e às possíveis zonas de transduções ocorridas entre as relações instituídos-instituintes.

As nossas com-versações com os atores/autores/narradores, pontos fulcrais da nossa inserção no campo deram-se a partir da realização de grupos focais e entrevistas semiestruturadas com professores, estudantes e pedagogos.

Na estruturação dos dispositivos de provocação e mobilização de narrativas, roteiros dos grupos focais e entrevistas resolvemos problematizar as temáticas utilizando trechos contidos no corpo dos projetos, relatórios e atividades, como forma de instigar a reflexão sobre a relação instituído-instituinte e compreender possíveis transduções ocorridas a partir de acontecimentos e experiências.

Nos movimentos realizados em campo, grupos focais e/ou entrevistas, apresentamos aos atores/narradores, previamente, um termo de livre consentimento, explicitando informações sobre a pesquisa e solicitando autorização dos atores para utilização das suas narrativas no processo da pesquisa. Também utilizamos um questionário como dispositivo inicial para coleta de informações sociocontextuais, as quais sistematizamos e apresentamos alguns registros neste capítulo.

2.6.1 Os grupos focais como potencializadores de narrativas e acontecimento O uso do grupo focal nas pesquisas sociais deve estar em consonância com os objetivos, a estrutura da pesquisa, o quadro teórico já constituído e as formas de interação com os atores sociais buscadas pelo pesquisador. Esse dispositivo de pesquisa é bastante útil desde que sua condução seja criteriosa e coerente. (GATTI, 2005)

A realização dos grupos focais, também tratados por Macedo (2016) por grupos etnofocalizados, durante o trabalho de campo oportuniza a compreensão dos etnométodos a partir dos diálogos (in)tensionais estabelecidos pelos grupos em torno da problemática estudada, configurando-se como uma espécie de entrevista coletiva aberta.

A composição do grupo se dá partindo de uma comunidade que tenha afinidade com a temática pesquisada e deve envolver um pequeno grupo (entre 4 a

12 pessoas), que reunidos de maneira informal, sob a coordenação de um mediador, que tenha o domínio de técnicas não diretivas de entrevista e que esteja preparado para lidar com resistências, ambiguidades, paradoxos, enfim que tenha abertura ao acontecimento e às potencialidades transdutivas proporcionadas pelo grupo.

Como os grupos focais são caracterizados pelo trabalho com a interação entre os participantes, a flexibilidade do seu funcionamento e o suporte refinado à emergência do conflito e da diferença de pontos de vista, trata-se de um dispositivo de acolhimento circunstancializado pertinente para pesquisa-com o acontecimento. (MACEDO, 2016, p. 104)

Durante o nosso trabalho em campo realizamos seis grupos focais (dois com estudantes e quatro com profissionais) com os atores/narradores que se dispuseram a participar. Em todos os grupos foram feitas gravações em áudio e vídeo, com o devido consentimento dos mesmos e as narrativas constituídas por esses acontecimentos trouxeram grande contribuição para a heurística da pesquisa.

2.6.2. As entrevistas no processo de compreensão dos sentidos e singularidades

Entrevistas são dispositivos importantes quando desejamos analisar concepções, práticas, valores em universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados. Elas oportunizam ao pesquisador “mergulhar em profundidade”, coletando indícios das formas como cada autor/ator percebe e atribui sentidos aos seus contextos, permitindo a ele descrever e compreender as singularidades das relações que se estabelecem em torno da problemática da pesquisa (DUARTE, 2004, p. 215).

Entretanto, o uso de entrevistas semiestruturadas ou abertas muitas vezes tem sido alvo de críticas de muitos acadêmicos, alegando pouca confiabilidade pela possibilidade de excessiva subjetividade.

A nossa opção pelas entrevistas semiestruturadas na nossa pesquisa foi centrada exatamente, no acolhimento a essa possibilidade de percepção das subjetividades presentes nas narrativas, assim como os sentidos construídos a partir da reflexão sobre suas práticas e etnométodos.

Esse dispositivo, de acordo com Macedo (2004), se dá nos encontros entre o pesquisador e os atores sociais, tendo como finalidade principal a compreensão dos

entrevistados sobre seus contextos e práticas, sendo a linguagem um poderoso fator de mediação.

Portanto, a entrevista de inspiração etnográfica, como recurso fecundo para a etnopesquisa, é um encontro social constitutivo de realidades, porque fundado em edificações pela linguagem, pelo ato comunicativo, definidor de significados. (MACEDO, 2004, p. 107) Nesse trabalho de pesquisa realizamos seis entrevistas semiestruturadas buscando compreender os etnométodos produzidos e percebidos pelos narradores, a partir de provocações e de uma escuta-sensível. As entrevistas aconteceram com a participação de profissionais e estudantes que não tinham disponibilidade para estarem nos grupos focais.

2.7. O PROCESSO DA PESQUISA: A BONITEZA DOS ENCONTROS, O PRAZER

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