• Nenhum resultado encontrado

Freixas et al. (2000, p. 611) afirmam que a possibilidade de uma crise sistêmica afetar a maior parte do mercado financeiro tem aumentado a preocupação regulatória por todo o mundo. Acrescenta que, independentemente das causas, a responsabilidade dos órgãos regulatórios é prover adequadas barreiras que evitem que as crises se espalhem sobre outras instituições.

O principal objetivo do Acordo da Basiléia é fortalecer a solidez e a estabilidade do sistema financeiro mediante a recomendação da constituição de um capital mínimo como garantia de solvência da instituição, maior estabilidade às operações no mercado financeiro e, consequentemente, liquidez ao sistema bancário internacional. Daí a importância do capital para fazer face aos riscos das instituições.

Para melhor compreensão da necessidade de níveis de capital mínimo requerido para as instituições financeiras, é importante lembrar que o capital possui a função primária de proteger as instituições financeiras quando da ocorrência de perdas ou minimizar o risco de insolvência. (DUARTE JR.; VARGA, 2003, p.15). O risco de insolvência, por sua vez, é uma consequência da combinação de ativos e passivos da instituição. Assim, a determinação do capital necessário para uma instituição deve ser em função dos riscos presentes em seus ativos e passivos. (LELIS, 2008, p. 30-31).

Portanto, a intervenção dos órgãos reguladores é fundamental para a continuidade do sistema, feita por meio da definição de limites operacionais às instituições, como uma medida prudencial necessária para evitar excessos na exposição ao risco e minimizar o risco de insolvência.

Corroborando, Capelletto (2006, p. 32) afirma que, em tal situação, a intervenção dos órgãos reguladores é vital à continuidade do sistema. Acrescenta que a definição de limites operacionais às instituições é a medida prudencial requerida para evitar a exposição a riscos excessivos, assim entendidos como aqueles incapazes de serem absorvidos pelos recursos próprios dos proprietários.

Consciente disso, o Comitê da Basiléia estabeleceu uma estrutura de cálculo de capital mínimo regulamentar para as instituições financeiras, por meio do “International convergence

of capital measurement and capital standards”, em abril de 1988, também conhecido como

Acordo da Basiléia de 1988 ou Basiléia I. Tal documento estabelece uma estrutura de cálculo de capital regulamentar mínimo para as instituições financeiras, vindo a tornar-se referência mundial, por meio das fortes influências sobre os órgãos de supervisão bancária ao redor do mundo.

A mensuração de riscos no sistema financeiro é marcada com a publicação do Acordo, o qual estabeleceu a aferição do valor em risco pela relação entre os ativos e o patrimônio líquido, modificando o conceito vigente que considerava o endividamento calculado pela razão entre o passivo e o patrimônio líquido. (CAPELLETTO; CORRAR, 2008, p.7).

Por essa razão, Capelletto (2006, p. 32) considera o Acordo como um divisor de águas em termos de regulação prudencial, pois modifica o enfoque de risco da supervisão, migrando do lado do passivo para o ativo, em função do nível de risco gerado pela aplicação dos recursos.

O Acordo de 1988 já tinha fundamentos na necessidade de manutenção de um capital mínimo regulamentar que cobrisse os riscos de perdas inesperadas. Contudo, havia uma concentração básica nos riscos de crédito, numa estrutura de cálculo relativamente simples, cuja sistemática consistia na capitalização mínima de 8% sobre uma base de cálculo apurada sobre os ativos ponderados pelo risco, com ponderação de 0% a 100%.

Em 1998, com o intuito de aperfeiçoar os cálculos do capital regulamentar, para o aproximar do capital econômico calculado pelas instituições financeiras, um novo acordo começou a ser analisado, compreendendo não somente o cálculo do capital para cobertura dos riscos, mas também preocupações quanto à disciplina de mercado e transparência das informações.

Após a publicação do Acordo de 1988, as ferramentas de gerenciamento de risco e cálculo de capital econômico em instituições financeiras sofisticaram-se paulatinamente, as quais foram levadas em consideração, quando o Novo Acordo começou a ser analisado. (DUARTE JR.; VARGA, 2003, p.16).

Em junho de 2004, foi publicado o “International convergence of capital measurement and

capital standards – a revised framework”- também conhecido como Novo Acordo da Basiléia

ou Basiléia II. Partindo do pressuposto de que a exigência de capital regulamentar não é o único instrumento para a minimização da ocorrência de falências bancárias, o documento foi estruturado em três pilares.

O primeiro pilar compreende os requerimentos mínimos de capital, cuja metodologia pretende refletir as necessidades de capital para fazer face aos riscos de cada instituição financeira, quanto ao risco de crédito, de mercado e operacional. Os detalhes sobre a metodologia de cálculo do capital mínimo, pelas regras brasileiras, são apresentados no capítulo 4.

O segundo pilar baseia-se no processo de fiscalização por parte dos órgãos de supervisão bancária, enquanto o terceiro pilar pretende reforçar a importância da disciplina de mercado e de altos níveis de transparência, com o objetivo de minimizar as perdas decorrentes de situações de insolvência. (DUARTE JR.; VARGA, 2003, p. 20). Assim, ele está voltado para as divulgações emitidas pelas instituições, uma vez que divulgações significativas são essenciais para os participantes do mercado entenderem a relação entre o perfil de risco e o capital de determinada instituição, principalmente no tocante à capacidade de continuar solvente. (CARVALHO et al., 2004, p. 267).

No Brasil, o reflexo do Acordo de 1988 só veio a ocorrer em 1994, com a publicação da Resolução do CMN nº 2.099 (BACEN, 1994), estabelecendo Limites Mínimos de Capital Realizado e Patrimônio Líquido para as instituições financeiras, com o objetivo de enquadrar o mercado financeiro brasileiro nos padrões de solvência e liquidez internacionais.

Por intermédio do Anexo IV da Resolução do CMN nº 2.099/1994, as instituições autorizadas pelo Bacen a operar no mercado financeiro brasileiro deveriam constituir o Patrimônio Líquido Exigido (PLE) em valor mínimo de 8% sobre seus ativos ponderados pelo risco (Apr), com fatores de ponderação de 0% a 100%.

Desde então, novas normas e regulamentos vêm sendo editadas, a fim de enquadrar o Sistema Financeiro Nacional nas recomendações do Comitê, de modo que o Brasil tenha um melhor reconhecimento internacional em termos de credibilidade e confiabilidade. Isso permite uma melhor percepção de risco por parte dos investidores internacionais sobre a economia brasileira e pode incentivar os investimentos externos. (PELEIAS et al., 2007, p.26).

4 INDICADORES PRUDENCIAIS E DE RENTABILIDADE

O objetivo desse capítulo, primeiramente, é analisar, de uma maneira geral, os impactos da reclassificação dos ajustes positivos e negativos de marcação a mercado dos instrumentos financeiros classificados como disponíveis para venda para a categoria de valor justo pelo resultado (equivalente à classificação títulos para negociação40). Ao entender como a reclassificação afeta a estrutura do balanço patrimonial e da demonstração de resultado, são apresentadas as razões para as escolhas dos indicadores prudenciais e de rentabilidade. Adicionalmente, a metodologia de cálculo de cada indicador é analisada, de modo a identificar as variáveis que podem ser impactadas. E, para encerrar o capítulo, são apresentadas as pesquisas mais recentes relacionadas ao presente estudo.