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De acordo com as definições da IAS 39 (2008b, p. 1998-2000), os instrumentos financeiros são classificados conforme a natureza da operação e a intenção da administração, na data da contratação, e podem ser classificados em uma das quatro categorias: (i) ativos e passivos financeiros a valor justo por meio do resultado; (ii) mantidos até o vencimento; (iii) empréstimos e recebíveis e (iv) disponível para venda.

A mensuração inicial dos instrumentos financeiros é feita pelo valor justo, o qual, naquele momento, é normalmente representado pelo preço de transação. Entretanto, a mensuração subsequente deve ser efetuada de acordo com a categoria em que tal instrumento esteja classificado.

a) Ativos e passivos financeiros a valor justo por meio do resultado

Um ativo ou passivo financeiro é classificado como mensurado a valor justo por meio do resultado se houver a intenção de negociação do título no curto prazo, se ele for um derivativo (exceto aqueles para hedge, que podem receber tratamento específico) ou quando assim for

designado pela entidade, no reconhecimento inicial, se tal opção diminui ou elimina alguma inconsistência de mensuração (fair value option).

Segundo a IAS 39 (2008b, p. 2038), a negociação, normalmente, reflete compras e vendas ativas e frequentes, sendo os instrumentos financeiros, classificados nessa categoria, geralmente usados com o objetivo de gerar lucro com as flutuações de curto prazo no preço ou na margem do operador.

Com relação à designação pela entidade, no reconhecimento inicial, também conhecido como

fair value option, trata-se de uma opção que a entidade pode fazer, pois ela elimina ou reduz,

significativamente, as inconsistências de reconhecimento ou mensuração que podem surgir da mensuração de ativos ou passivos ou do reconhecimento de seus ganhos ou perdas, em bases diferentes. Tal designação, também, pode ocorrer quando o instrumento fizer parte de um grupo de instrumentos que seja mensurado e avaliado pelo valor justo, conforme estratégia definida e documentada em seu gerenciamento de risco ou estratégia de investimento. (IASB, 2008b, p. 1998-1999).

Ernst & Young e FIPECAFI (2009, p. 259) destacam que a supracitada categoria representa um ponto controverso dentro da própria norma, uma vez que traz efeitos semelhantes aos da contabilização de um hedge de valor justo.29 Entretanto, caso haja uma mudança de plano de negócios, a classificação inicial não pode ser alterada (a aplicação do fair value option é irrevogável), enquanto a estrutura de hedge pode ser descontinuada, prospectivamente.

Os instrumentos classificados, nessa categoria, são mensurados pelo valor justo e os custos de transação incorridos são considerados despesa no momento em que ocorrem.

b) Mantidos até o vencimento

Os instrumentos classificados como mantidos até o vencimento são aqueles não derivativos, com prazo fixo e com pagamentos fixos ou determináveis, para os quais haja intenção e capacidade financeira de mantê-los até o vencimento. Essa categoria é inicialmente

29 Hedge de valor justo consiste num hedge da exposição a variações no valor justo de um ativo ou passivo

reconhecido, de um compromisso firme previamente não reconhecido para comprar ou vender um ativo a preço fixo ou de uma porção identificada desse ativo ou passivo ou compromisso firme, que seja atribuível a um determinado risco e possa afetar o lucro ou perda divulgada. Em qualquer um dos casos, busca-se proteger de variações decorrentes das flutuações do preço de mercado. (ERNST YOUNG; FIPECAFI, 2009, p. 265-266).

contabilizada pelo valor justo e, subsequentemente, pelo custo amortizado, utilizando-se a taxa de juros efetiva.(ERNST & YOUNG; FIPECAFI, 2009, p; 258). Ademais, os custos de transação devem ser capitalizados ao valor do ativo nessa categoria. (LOPES et al., 2009, p. 110).

A IAS 39 (2008b, p. 2.038) cita algumas características que desqualificam a intenção de manter até o vencimento, tais como: (i) inexistência de uma data definida (e.g. ações); (ii) intenção de venda em resposta às mudanças nas taxas de juros de mercado ou nos riscos, no custo de oportunidade, no risco cambial, por necessidade de liquidez ou por mudança na estrutura de financiamento ou (iii) o emissor ter direito de liquidar o instrumento por uma quantia significativamente abaixo do custo amortizado.

Lopes et al. (2009, p. 110) acrescentam que a inexistência de capacidade financeira para a manutenção do ativo e restrições legais e regulatórias que possam impactar na intenção da entidade de carregar o ativo até o vencimento também desqualificam a intenção de manter o ativo até o vencimento.

A IAS 39 (2008b, p. 2.038), acrescenta que, salvo em algumas condições, uma venda descaracteriza a intenção de manutenção até o vencimento, sendo a entidade obrigada a reclassificar todos os instrumentos financeiros, até então, nela classificada, impedindo novas classificações no exercício corrente e nos dois exercícios subsequentes.30 (IASB, 2008b, p. 1999). Após a penalização de dois anos, a reclassificação inversa deve ser feita assumindo-se o valor justo na data da reclassificação como o valor de custo do título novamente classificado como mantido até o vencimento. (LOPES et al., 2009, p. 111).

Por último, pela IAS 39 não é possível aplicar a contabilidade de operações de hedge para um risco de taxa de juros de um ativo mantido até o vencimento. Nesse tocante, Lopes et al. (2009, p. 111) enfatizam a divergência entre a norma internacional e as normas do Bacen (de acordo com a Circular n° 3.129/2004), nesta, sendo permitida sua aplicação.

30 Exceção quando a venda for efetuada próxima ao vencimento ou da opção de compra (menos de três meses)

ou quando ela ocorrer após a entidade ter recebido todo o principal ou, ainda, quando for um evento isolado, não recorrente e que esteja fora do controle da entidade. (IASB, 2008b, p.1999-2000).

c) Empréstimos e recebíveis

Na categoria de empréstimos e recebíveis são classificados os ativos financeiros não derivativos, com pagamentos fixos ou predetermináveis e que não são cotados em mercado ativo. Não devem ser classificados, nessa categoria, os instrumentos com intenção de venda ou aqueles que não terão seus investimentos substancialmente recuperados por outras razões que não sejam por mudança no risco de crédito. (IASB, 2008b, p. 2000).

Lopes et al. (2009, p. 111) citam que, entre os ativos financeiros passíveis dessa classificação, se incluem os empréstimos concedidos (operações de crédito e financiamento das instituições financeiras), as contas a receber e os mútuos.

Assim como a categoria mantida até o vencimento, essa categoria é, inicialmente, contabilizada pelo valor justo e, subsequentemente, pelo custo amortizado, utilizando-se a taxa de juros efetiva. (IASB, 2008b, p. 2011).

Lopes et al. (2009, p. 112) destacam que a principal diferença entre a categoria mantidos até o vencimento e empréstimos e recebíveis é que nesta não há penalizações contábeis, caso haja uma venda antes do vencimento.

d) Disponível para venda

Na categoria disponível para venda, devem ser classificados os ativos financeiros não derivativos que tenham, originalmente, sido classificados nessa categoria ou todos aqueles que não tenham se enquadrado nas demais três categorias mencionadas anteriormente. (IASB, 2008b, p. 2000).

Sua contabilização é feita pelo valor justo e, subsequentemente, pelo custo amortizado, utilizando a taxa de juros efetiva. Os subsequentes ajustes ao valor justo, quando comparados ao custo amortizado, são registrados no patrimônio líquido, líquidos dos efeitos tributários. (ERNST & YOUNG; FIPECAFI, 2009, p. 259).

Adicionalmente, os prêmios, descontos e custos de transação devem ser capitalizados e amortizados no resultado do período, utilizando a taxa de juros efetiva. Assim como os ajustes ao valor de mercado, os prêmios, descontos e custos (Ativo) devem ser levados ao resultado, quando da sua realização (venda) ou por perda do valor recuperável. A variação cambial dos

ativos monetários deve ir para o resultado. Por não se tratar de ativo monetário, a variação cambial dos instrumentos patrimoniais é registrada no patrimônio líquido. (ERNST & YOUNG; FIPECAFI, 2009, p. 259).

No Brasil, a Circular n° 3.068/2001 estabeleceu que os títulos e valores mobiliários adquiridos por instituições financeiras e demais entidades autorizadas a funcionar pelo Bacen - (exceto cooperativas de crédito, agências de fomento e sociedades de crédito ao microempreendedor) devem ser registrados pelo valor efetivamente pago, incluindo corretagens e emolumentos. A classificação deve ser feita em uma das três categorias: títulos para negociação, títulos disponíveis para venda e títulos mantidos até o vencimento. (BACEN, 2001).

O Quadro 1 resume a mensuração e o tratamento contábil devido, de acordo com a classificação definida, comparando a norma IAS 39 e as regras do Bacen.

Quadro 1 – Comparação entre categorias e normas

Classificação Mensuração Tratamento Contábil

IAS 39 3.068/2001 IAS 39 3.068/2001 IAS 39 3.068/2001 Ativos ou passivos financeiros a valor justo, com ajuste no resultado Títulos para negociação

Valor justo (exceto instrumentos patrimoniais, quando não possui mercado ativo e cujo valor justo não possa ser

determinado em base confiável – mensuração pelo custo amortizado)

Valor justo Ganhos ou perdas não realizados devem ser incluídos na demonstração de resultados Ganhos ou perdas não realizados devem ser incluídos na demonstração de resultados Mantidos até o vencimento Títulos mantidos até o vencimento

Custo amortizado Custo amortizado

Resultado Resultado

Empréstimos

e recebíveis Custo amortizado Resultado

Disponível

para venda Títulos Disponíveis para venda

Valor justo Valor justo Juros são contabilizados no resultado, com base na taxa de juros efetiva. Ganhos ou perdas não realizados são registrados em OCI, líquidos de impostos. Juros são contabilizados no resultado. Ganhos ou perdas não realizados são registrados no patrimônio líquido, líquidos de impostos.

Pode-se notar, pelo Quadro 1, que as regras do Bacen são similares às regras da IAS 39, exceto pelas regras daquele não contemplarem a categoria Empréstimos e recebíveis. Entretanto, vale enfatizar que, tanto pela IAS 39, como pela Circular n° 3.068/2001 do Bacen, um mesmo tipo de instrumento financeiro pode ser classificado em duas categorias distintas, haja vista que o que define a categoria é a intenção de utilização e a capacidade financeira da entidade de “carregar” o instrumento financeiro.

Ernst & Young e FIPECAFI (2009, p. 261) ressaltam que, apesar de não abordado pelo IASB, é recomendável que a entidade monitore o giro de seus ativos classificados como disponíveis para venda, pois, caso o giro seja semelhante ou superior ao giro da carteira de negociação, essa carteira estará mais bem classificada como negociação. Entretanto, uma carteira classificada como negociação que possua ativos que não estejam sendo negociados por algum tempo, tal fato não o descaracteriza como negociação.