• Nenhum resultado encontrado

5. Estratégias de governação da Novexpert

6.1 Teoria Clássica

6.1.2 Adam Smith e as vantagens absolutas

Uma resposta às falhas do mercantilismo surgiu através da escola clássica com a publicação da obra de referência Inquérito sobre a Natureza e causa da Riqueza das Nações (1776). O seu autor, Adam Smith, escreve numa época em que o desenvolvimento industrial inglês e escocês já era evidente, os trabalhadores passavam dos campos para a indústria e anunciava-se uma revolução industrial.

Neste sentido, a produção desempenhava um papel cada vez mais importante, associada ao trabalho assalariado, divisão do trabalho e liberdade do comércio interno e externo (Romão et al. 1997). Perceber a razão que estava por detrás do enriquecimento das nações foi um dos maiores desafios dos economistas durante séculos. Vários tentaram dar uma resposta a esta questão, como os mercantilistas ou os fisiocratas. Foi então que surgiu a resposta de Adam Smith, para quem a riqueza era conseguida através do trabalho: “o trabalho anual de cada nação é o fundo primitivo que lhe fornece todos os objetos necessários e úteis à vida que todos os anos ela consome, e que consiste sempre num produto imediato do trabalho ou no que se compra com este produto às outras nações”.7 Smith manifesta assim que o trabalho, em geral realizado através da cooperação dentro de uma nação, é a principal fonte de riqueza das nações, e não apenas a terra. A cooperação natural mencionada por Smith é também chamada de divisão do trabalho. O autor chama a atenção para a ideia de que um chefe de família prudente deveria ter em atenção a seguinte máxima: nunca tentar fazer por si mesmo aquilo que fica mais caro fazer do que comprar. O autor acrescenta o exemplo do alfaiate que não fabrica os seus sapatos, mas sim recorre a um sapateiro para os comprar. O mesmo se aplica ao agricultor ou ao artesão, todos estes consideram que devem focar a sua produção naquilo que têm vantagem a produzir e comprar os restantes elementos que necessitem. Assim sendo, a riqueza das nações tem origem na divisão do trabalho.

É a quantidade de trabalho usada para a produção de um determinado bem que lhe atribui valor. Aqui Smith distingue entre os conceitos de valor de uso e valor de troca. O primeiro faz referência à utilidade que um determinado bem possui, o

24

segundo diz respeito à vantagem oferecida por um determinado bem quando este é trocado por outro bem ou bens. Este valor vai ser influenciado pelas variações na procura e na oferta presentes no mercado.

A relação entre procura e oferta num dado mercado é harmoniosa, porque quando se verifica o aumento do preço de um bem, devido à sua escassez, os produtores irão ter um estímulo para aumentar a produção desse bem. Este aumento de produção vai fazer com que a oferta desse bem aumente, no entanto, mantendo-se a procura constante, dará origem a uma descida no preço inicial. Assim sendo, o valor da troca está dependente das oscilações entre oferta e procura no mercado. O autor chama à vantagem de produção ou produtividade de vantagens absolutas, estas desempenham um papel primordial na sua teoria do comércio internacional (Adam Smith, s.d.).8

Aplicada esta ideia aos países, um país possui vantagem absoluta numa produção quando a faz de forma mais produtiva do que os restantes países. Smith vê a produtividade como a menor utilização de uma quantidade de fatores produtivos para produzir um determinado bem a menores custos. Neste sentido, cada país deverá especializar-se na produção do bem que produz com menor custo.

De acordo com Taylor (1997), a escola de Adam Smith tem uma base psicológica, que é o interesse individual. Ou seja, os indivíduos movem-se por interesses individuais em busca de satisfazer as suas necessidades também individuais. Estas necessidades podem ser satisfeitas através da divisão do trabalho, que por sua vez aumenta significativamente a produção individual, e também através do mecanismo dos preços que adapta automaticamente a oferta à procura. Também o autor Henri Denis (1990) faz referência ao princípio de Smith de que a divisão do trabalho era a fonte do enriquecimento das nações. Esta ideia era nova para a época e explicava a divisão do trabalho pela propensão que os indivíduos têm para trocar entre si.

Considerando que o mercado se autorregula, Adam Smith é contra a intervenção do Estado na vida económica, pois considera a sua intervenção inútil e considera o Estado incapaz para a regulação das atividades e funções económicas.

25

Assim sendo, mesmo a nível interno, o autor é a favor da liberdade de estabelecimento de indústrias e de circulação de mercadorias e a nível externo, opõe- se às restrições às importações, aos incentivos às exportações e às concessões de monopólios. Segundo Romão et al. (1997), o mercado internacional representava para Smith uma saída para o excedente interno da produção inglesa, mas também uma oportunidade de investimentos e uma fonte de novos produtos que não eram produzidos internamente.

A questão que aqui se põe é então saber quais os bens, concretamente, cada país deve transacionar no mercado internacional. A teoria de Adam Smith assentava em dez pressupostos:

1) O trabalho é o único fator de produção;

2) Os países têm produtividades no trabalho diferentes;

3) Os custos de produção são constantes, não se alteram nem com a quantidade produzida nem como tempo;

4) O trabalho é perfeitamente móvel entre indústrias do mesmo país, no entanto, é imóvel entre diferentes países;

5) A dotação fatorial de cada país é fixa; 6) O fator produtivo trabalho é homogéneo; 7) Existe pleno emprego;

8) Existem rendimentos constantes à escala;

9) Não há qualquer impedimento à livre troca de produtos, nem no interior de cada nação, nem entre nações. Esta hipótese elimina os direitos aduaneiros, as restrições quantitativas, etc.;

10) Todos os mercados são de concorrência perfeita, este tipo de mercado carateriza-se pela existência de várias pequenas unidades económicas, do lado da oferta e também do lado da procura. Estas não têm dimensão suficiente para influenciar os parâmetros dos preços e da produção. Para além disto, o produto é homogêneo e as unidades económicas dispõe de livre entrada e saída (Medeiros, 1994).

A pergunta que se pode colocar agora diz respeito aos preços relativos internacionais dos produtos. Estes preços relativos estão relacionados com o valor da

26

troca. Smith acredita que as trocas de mercadorias são na realidade trocas de trabalho necessário para a sua produção: “ o preço real de cada coisa, o que cada coisa custa realmente àquele que quer adquiri-la, é o trabalho e o sacrifício que ele deve impor-se para a obter. O que cada coisa vale realmente para aquele que a adquiriu e que procura dispor dela ou trocá-la por qualquer outro objeto é o sacrifício e a dificuldade que a posse dessa coisa lhe pode evitar e que ela lhe permite impor às outras pessoas” Adam Smith (s.d.).9

Se se verificar existência do comércio internacional, os preços baseados na relação valor-trabalho irão alterar-se significativamente.

Mesmo que esta teoria tenha uma grande importância económica, tem também uma grande limitação, relacionada com o facto de que um país ineficiente na produção de certos bens ficar excluído de entrar no comércio internacional. A troca internacional apenas poderia verificar-se se um país A tivesse vantagem absoluta na produção de um bem X e um outro país B tivesse vantagem absoluta na produção de um outro bem Y. Mas então o que acontece a um país que tem vantagem nos dois bens? Ou ao país que não tem vantagem em nenhum bem?