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5. Estratégias de governação da Novexpert

6.2 Teoria Neoclássica

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A teoria ricardiana inspirou muitos autores e economistas a estudarem o comércio internacional e a tentarem encontrar uma teoria explicativa mais próxima da realidade.

A primeira aproximação à realidade foi a introdução de mais um fator produtivo. Esta teoria explica as vantagens comparativas e a especialização de um país através da sua dotação fatorial e ficou conhecida como modelo de Hecksher-Ohlin (HO). Esta teoria foi desenvolvida por Hecksher através da publicação de um artigo sueco em 1919 e por Ohlin através de um livro publicado em inglês em 1933. Ambos autores apresentam as seguintes premissas:

- A produção de um bem requer diferentes quantidades de fator produtivo, ou seja, trabalho ou capital;

- Os países apresentam diferentes dotações fatoriais.

Normalmente, são considerados três fatores produtivos, sendo eles, o trabalho, isto é, a mão-de-obra disponível para a produção, o capital, que diz respeito ao conjunto de infraestruturas e equipamentos que a economia criou através do investimento, e, por último, os recursos naturais que também podem ser designados por terra. No modelo aqui estudado são considerados apenas dois fatores produtivos e são introduzidos dois novos conceitos relacionados com estes fatores:

Abundância relativa dos fatores produtivos: esta refere-se à comparação entre economias e as suas quantidades relativas de trabalho e capital. Se um país tem uma maior quantidade de capital, em relação ao trabalho, do que outro país, significa que o primeiro é relativamente abundante em capital. Esta análise é sempre feita numa base relativa, isto é, considerando a abundância ou escassez de um dos fatores produtivos em relação aos outros. Um país é relativamente mais abundante em trabalho se tiver disponível uma maior quantidade do fator trabalho do que outro país, sendo a quantidade medida em unidades de capital, ou seja, o país possui uma maior quantidade de trabalho por unidade de capital.

Este critério é um dos critérios de classificação dos países e é considerado o critério físico. Semelhante às vantagens comparativas, não é necessário a existência de uma abundância absoluta, mas sim relativa.

Intensidade relativa dos bens: quantidade em que os diferentes fatores produtivos são utilizados para a produção de um bem. A intensidade do fator trabalho

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de um bem respeita às quantidades desse fator que cada economia afeta à produção de cada um dos bens. Semelhante às abundâncias relativas, este conceito também é relativo, pois mesmo que um setor, que produz um determinado bem, possa ser mais intensivo no uso dos dois fatores produtivos, quando comparado com outro setor, em termos relativos, esse setor terá uma intensidade relativa maior no fator que mais utiliza. Neste contexto, uma produção pode ser trabalho- intensiva ou capital- intensiva.

Num artigo publicado por Eli Hecksher, em 191911, este pretende dar enfâse ao termo “fator de produção” não se referindo apenas às capacidades da terra, do capital e do trabalho, mas sim às qualidades de cada um destes fatores produtivos. Os conceitos de abundância e intensidade aplicados a estes fatores correspondem a duas situações distintas, isto é, a abundância de fatores produtivos diz respeito às quantidades que cada país tem disponíveis para produzir diferentes bens, enquanto, a intensidade de fatores produtivos refere-se às quantidades de fatores necessárias para a produção de um determinado bem. No primeiro caso, são comparadas dotações fatoriais entre países e, no segundo caso, compara-se a quantidade de fator produtivo que é necessária à produção de um bem, ou seja, os requisitos exigidos pela produção em diferentes setores num mesmo país.

À semelhança do modelo proposto por Ricardo, as dotações fatoriais em HO são exógenas. Neste modelo não há uma explicação para o motivo pelo qual um país tem maior ou menor dotação de fatores. O mesmo se aplica às intensidades fatoriais dos bens (Gomes, 1972).

O modelo de HO também ficou conhecido pelo modelo 2x2x2, pois para os autores há dois fatores produtivos, trabalho e capital, dois países e dois bens. Tudo o resto, tecnologias ou preferências dos consumidores são assumidas idênticas nos dois países. Para além disto, mesmo que os bens produzidos não sejam os mesmos, as técnicas usadas em cada país para a produção dos bens são idênticas, ou seja, as funções de produção são as mesmas para os dois países.

Nas condições acima enumeradas o padrão de especialização vai ser descrito do seguinte modo:

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Um país que possui uma vantagem comparativa no bem que usa intensivamente o fator produtivo abundante no país (Gomes, 1972). Por outras palavras, um país tenderá a especializar-se na produção do bem que usa de modo mais intensivo o fator produtivo no qual o país é relativamente mais abundante.

De uma forma geral, quando os dois países praticam o comércio livre, cada um deverá especializar-se total ou parcialmente na produção do bem que utiliza relativamente mais intensamente o fator relativamente mais abundante nesse país. Assim, exportará este bem em questão para o outro país e importará o outro bem (Guillochon, 1972). O termo “deverá” permite ao teorema de HO fornecer um padrão de especialização eficiente pois não é determinístico.

Contrariamente a Ricardo, é introduzido um novo fator de produção e a abundância e intensidade relativas de fatores são as determinantes do padrão de especialização dos países. Aqui já não é apenas a produtividade que determina a especialização, mas também a dotação fatorial e as necessidades de fatores para a produção de um determinado bem. Mas esta especialização não será completa devido à substituição do princípio dos custos de oportunidade crescentes pelos custos de oportunidade constantes. Um país A irá produzir um bem X e um país B irá produzir um bem Y nas quantidades que estão associadas aos custos de oportunidade internos iguais aos preços relativos internacionais (Romão et al. 1997).

Os pressupostos do modelo de HO também foram alvo de críticas devido, entre outros fatores, à sua rigidez. O ambiente concorrencial de pleno emprego, no qual os fatores produtivos exibem perfeita mobilidade entre setores, mas imobilidade entre países, aliados às idênticas capacidades tecnológicas e preferências entre economias e a não existência de obstáculos ao comércio livre, são postos em causa quando confrontados com a realidade, na medida em que os custos de transporte, os obstáculos geográficos ou as barreias políticas modificam, de forma relevante, o comércio doméstico e o comércio internacional.

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O teorema de HO foi estudado e estendido por diversos autores dando origem a três novos teoremas que serão explicados de uma forma breve.

Teorema da igualização do preço dos fatores: este foi proposto por Samuelson e demonstra que em situação de livre comércio, e num mundo 2x2x2, ocorre um nivelamento do rendimento dos fatores produtivos entre países, servindo como uma possível substituição para a inexistência de mobilidade internacional. Ou seja, o capital utilizado no país A para a produção do bem X será remunerado de forma idêntica ao trabalho utilizado no país B para a produção do bem Y. Esta igualização apenas se verifica uma vez instalado o sistema de trocas e se nenhum dos países estiver em total especialização.

Teorema Stolper-Samuelson: este teorema enuncia que havendo um aumento no preço relativo de um bem irá aumentar, para ambos bens, o rendimento real do fator utilizado intensivamente na produção do bem e reduz, para ambos bens, o rendimento real do outro fator. Isto demonstra que não havendo mobilidade perfeita de fatores a nível internacional, nem todos os intervenientes saem beneficiados com a participação no comércio internacional.

Teorema de Rybczynski: este teorema defende que na presença de pleno emprego dos fatores de produção, uma expansão na dotação de um fator de produção faz aumentar o produto do bem que usa esse fator intensivamente e reduz o produto do outro bem. Por outras palavras, supondo que um país experimenta um aumento de um fator, por exemplo o trabalho, mantendo-se o livre comércio, este aumento irá fazer com que aumente a produção do bem intensivo em trabalho e reduzir a produção do bem intensivo em capital. Assim, a maior dotação de um fator implica que haja um desvio de recursos para a produção do bem que usa intensivamente esse fator.

Estes três teoremas pretendem completar o raciocínio das vantagens comparativas e estendê-lo à existência de vários países, bens e fatores. Para além disto, também demonstram que a especialização e o comércio com a utilização correta dos recursos geram ganhos de bem-estar.

6.2.3 O paradoxo de Leontief

Vários foram os testes realizados às teorias de Ricardo e de HO. Os testes realizados aos modelos de Ricardo tiveram resultados satisfatórios, mas o mesmo não

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aconteceu aos testes realizados ao teorema de HO. Um dos mais relevantes foi elaborado por W. Leontief, em 1953.

Segundo Guillochon (1993), para se verificar se o modelo de HO está de acordo com a realidade é necessário que se disponha de dados sobre as dotações fatoriais dos países e sobre os conteúdos fatoriais das exportações e importações. No entanto, não sendo fácil encontrar estas informações, Leontief assumiu que os EUA seriam um país relativamente abundante em capital em relação ao resto do mundo. Então, seria de esperar que os EUA apresentassem exportações de bens relativamente intensivos em capital e importação de bens relativamente intensivos em trabalho. No entanto, os resultados obtidos por Leontief não foram os esperados de acordo com o teorema de HO.

Leontief descobriu que as exportações americanas eram relativamente mais intensivas em trabalho, por unidade de capital, e as importações relativamente mais intensivas em capital, por unidade de trabalho. O autor procurou uma explicação para os resultados que obteve e chegou à conclusão que, por motivos de diversa natureza (superioridade nas habilitações técnicas, espírito de empresa, etc), os trabalhadores americanos eram mais produtivos do que os trabalhadores do resto do mundo. Um trabalhador americano valeria por três trabalhadores estrangeiros e então os EUA seriam um país relativamente mais abundante em trabalho do que em capital, devido à alta produtividade dos seus trabalhadores.

As conclusões de Leontief foram criticadas por vários autores que defendiam que as técnicas produtivas usadas nos EUA não eram as mesmas que as técnicas utilizadas no resto do mundo, o que faria com que a análise estivesse fora do âmbito do modelo de HO. Também foram apontados outros fatores para justificar os resultados de Leontief, tais como, a existência de uma procura mais interessada por bens relativamente intensivos em capital, a ocorrência de reversões fatoriais ou a não inclusão dos recursos naturais nos fatores produtivos.