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5. Estratégias de governação da Novexpert

6.1 Teoria Clássica

6.1.3 Ricardo e as vantagens comparativas

A resposta a esta questão, passa pelo contributo de David Ricardoatravés da sua obraPrincípios da Economia Política e Tributação(1965) que aprimorou a teoria do primeiro ao estender os ganhos do comércio internacional aos países que não possuam vantagens absolutas em relação aos outros. Segundo Romão et al. (1997), Ricardo sentiu necessidade de tornar o modelo analítico de Smith mais abrangente.

Segundo a sua teoria um país é capaz de beneficiar com o comércio internacional mesmo que não seja absolutamente mais eficiente do que os outros países na produção de um determinado bem (Samuelson et al., 2005) ou que o sistema de preços relativos de um país seja diferente do outro. Na opinião de Ricardo, a economia identifica-se com a teoria da repartição pois analisa “as leis determinadas

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pela divisão do produto da indústria entre as classes que concorrem para a sua formação” Ricardo (1965).10

Contrariamente a Adam Smith que dava dois significados ao termo valor, para Ricardo o valor é sempre determinado pelo trabalho. Este considera que o trabalho é a fonte de todo o valor e a sua quantidade relativa a medida que regula quase exclusivamente o valor das mercadorias. Segundo Taylor (1997), o trabalho para Ricardo é a soma de todos os trabalhos necessários para obter a riqueza produzida.

O caminho para um determinado país chegar aos benefícios do comércio internacional é através da sua especialização na produção e exportação dos bens que consegue produzir a um custo relativamente mais baixo do que os outros países. Aplicando o mesmo raciocínio às importações, um país menos eficiente na produção de um determinado bem irá beneficiar se importar esse mesmo bem em vez de o tentar produzir domesticamente.

Mantendo as diferenças tecnológicas como base, Ricardo substitui as vantagens absolutas por vantagens comparativas ou relativas, as quais refletem os custos de oportunidade. Segundo Samuelson et al. (2005), os custos de oportunidade são o valor do melhor uso alternativo de um bem económico ou o valor do bem económico que é sacrificado. Por outras palavras, é a relação entre as quantidades de um determinado bem que os países têm de deixar de produzir para se focarem na produção de um outro bem, isto é, qual a quantidade do bem X que um país tem de deixar de produzir para conseguir produzir uma unidade extra do bem Y.

Estas vantagens são medidas de acordo com os custos de produção em termos de horas de trabalho, ou seja, a produtividade do fator trabalho de distintos bens irá ditar a especialização que um certo país deverá seguir (Amaral, 2005).

O princípio das vantagens absolutas é então substituído pelo princípio das vantagens comparativas. Um país irá especializar-se na produção de um bem cujo custo relativo em autarcia desse bem é inferior ao custo relativo desse mesmo bem, em autarcia, no outro país. Com a liberdade do comércio os países modificam as suas atividades produtivas, para que isto aconteça o sistema de preços relativos não pode ser idêntico nos dois países.

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Com o livre comércio, todos os países saem beneficiados e cada um concentra- se na sua área de vantagem comparativa. Os trabalhadores podem obter uma maior quantidade de bens por um custo relativo inferior ao praticado em autarcia, pois trocam a sua própria produção pelos bens em que têm vantagem comparativa (Samuelson et al. 2005). O preço desses bens, segundo Guillochon (1993), ou seja o preço da troca internacional é o mesmo que o preço da troca no interior de cada país, pois não existem obstáculos às trocas nem custos de transporte. O preço que irá se estabelecer equilibra o mercado, isto é, garante a igualdade entre a oferta e a procura dos bens.

Os custos relativos de cada país são iguais à taxa de substituição na produção. Esta taxa é igual à quantidade de um bem que renunciada quando se quer produzir um outro bem. A isto também se pode chamar de custo de oportunidade, como já foi referido acima (Guillochon, 1993).

Em conclusão, o comércio internacional, através da especialização, permite a reorganização vantajosa para todos da produção mundial, pois os países tendem a aproveitar as suas vantagens comparativas. Conseguindo os agentes económicos aperceber-se de como reduzir os seus custos de oportunidade, a especialização via vantagem comparativa é um processo automático.

Os bens que cada país importa e exporta são o resultado de cálculos económicos individuais que são ditados pela interação entre todos os países. O que dita as regras e o princípio das vantagens comparativas é a procura e a oferta no mercado, que se autorregula gerando um funcionamento perfeito dos mercados (Gomes, 2008).

Ninguém pode negar a importância de Ricardo para o comércio internacional. Este autor foi o que conseguiu chegar mais longe em um período de tempo mais curto (Guillochon, 1993). No entanto, Ricardo ou Smith não consideraram o avanço tecnológico e como este poderia contrariar o mecanismo dos rendimentos marginais decrescentes na produção.

Também na perspetiva de Samuelson et al. (2005), a teoria das vantagens comparativas tem as suas limitações. Este autor aponta duas limitações, A primeira em relação ao pressuposto clássico de um funcionamento contínuo de uma economia concorrencial. Quando a economia está em depressão, ou o sistema de preços não

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funciona, não é possível afirmar que todos os países ganham com o comércio internacional.

A segunda limitação apontada por Samuelson et al. (2005) diz respeito à distribuição do rendimento. Segundo Ricardo, a abertura de um país ao comércio internacional aumentará o rendimento nacional do país, dado o país poder consumir mais de todos os bens e serviços, em comparação à situação de autarcia, na qual as fronteiras estariam fechadas às trocas internacionais. No entanto, se via importação o comércio livre aumentar a oferta dos bens que são produzidos por um determinado fator de produção ou uma certa região, estes podem acabar por apresentar rendimentos inferiores aos que teriam antes do livre comércio.

Segundo Samuelson et al. (2005) o trabalho não qualificado nos países de rendimento elevado tem sofrido reduções salariais, devido ao aumento das importações vindas dos países em desenvolvimento que competem através da sua mão-de-obra a preços muito reduzidos.

Gomes (1972) afirma que as conclusões que podemos retirar do princípio das vantagens comparativas depende da maneira como este é encarado. Se este for visto como rígido, estático e preso aos seus pressupostos clássicos, é fácil encontrar defeitos ou limitações. No entanto, se for visto como um processo dinâmico que estabelece um fundamento para a compreensão das motivações que estão por trás das trocas internacionais, o princípio das vantagens comparativas torna-se extraordinário, na medida em que permite entender que a afetação a cada uma das tarefas que se realiza de forma mais produtiva é tão verdade para países, como indivíduos e indústrias. Para além disto, demonstra que a especialização e o comércio andam de mãos dadas, ou seja, a primeira não tem utilidade sem a segunda e esta não ocorre sem a primeira. Gomes (1972) acrescenta a importância da diferença na produtividade para o comércio internacional. Este apenas faz sentido, porque os recursos dos países são limitados e logo não podem ser utilizados em diversos tipos de produção.