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Adaptação da Tipologia de Modos de Relação com a Música

No documento Gostos e disposições musicais (páginas 59-65)

2. Estratégia Metodológica

2.4. Adaptação da Tipologia de Modos de Relação com a Música

No âmbito deste estudo procedeu-se também a um trabalho de adaptação da tipologia de modos de relação com a música desenvolvida por Campos, que tendo sido construída para analisar músicos profissionais (perspetiva da produção musical), haveria que adaptar no sentido de analisar a fruição musical na perspetiva do consumo.

Tal como sugere o próprio Campos, esta adaptação implicou, desde logo, inverter os termos das relações equacionadas no conceito, isto é, transpor a perspetiva da produção para a perspetiva da fruição musical. Implicou ainda em termos de operacionalização, uma afinada adaptação dos planos conceptuais e respetivas dimensões analíticas.

competências e contextos de aprendizagem musicais, importou aferir competências e contextos de fruição musical; no segundo plano conceptual respeitante à importância relativa da música no contexto da performance musical, interessou compreender a importância relativa da música no contexto da fruição musical; no terceiro e último plano conceptual relativo aos papéis da música nas relações consigo, com o público e em sociedade, negligenciou-se o papel do público e transpôs-se para papéis da música nas relações consigo e em sociedade.

Ao nível das várias dimensões analíticas as adaptações e alterações necessárias foram mais significativas. Estas adaptações respeitaram principalmente à transposição do objeto de análise dos intérpretes para os consumidores de música.

1. Competências e contextos de fruição musical. Este plano conceptual compreende quatro dimensões analíticas de natureza objetiva. Foi avaliado o tipo de aprendizagem e prática musical, a intensidade da fruição musical, bem como o tipo de fruição musical.

1.1 Tipo de aprendizagem musical. À semelhança da versão original, com esta dimensão analítica pretendeu-se avaliar o contacto dos indivíduos com a música, especificamente, perceber o nível de ensino musical frequentado. Para aferir a aprendizagem musical distinguiram-se três níveis de aprendizagem: nenhum, que significa a ausência de qualquer contacto com aprendizagem musical; informal, que significa o contacto com a formação/aprendizagem musical em contextos informais, por exemplo em família, com amigos ou até mesmo em contextos de autoaprendizagem; formal, que significa a frequência de ensino musical em contextos formais, por exemplo academias ou outras escolas de música.

1.2 Tipo de prática musical. Com esta dimensão pretendeu-se saber se, para além de consumidores os entrevistados são ou foram alguma vez praticantes de música. Para aferir o tipo de prática musical

distinguiram-se três modalidades: inexistente, no caso daqueles que não são praticantes de música; amadoras, no caso dos músicos amadores e onde se englobam todos aqueles que não são músicos profissionais; e profissionais, no caso dos músicos profissionais.

1.3 Intensidade da fruição musical. Esta dimensão visa aferir a relação dos indivíduos com a música em termos de prática e audição musical, ou seja, em termos de consumo musical. Considerou-se uma escala de intensidade com três níveis: inexistente ou ocasional, onde se englobam todos aqueles que não praticam e não ouvem música, ou que praticam ou ouvem música ocasionalmente; regular, onde se englobam aqueles que desenvolvem uma prática ou audição musical regular; e assídua, onde se englobam os indivíduos que desenvolvem uma prática ou audição musical assiduamente.

1.4 Tipo de fruição musical 1. Por fruição musical entendeu-se toda e qualquer forma de disfrutar, usufruir ou consumir música, independentemente do contexto em que tal acontece. São por isso diversas as modalidades de fruição musical existentes. Uma forma de sistematizar e compreender a fruição musical passa por analisar a sua natureza individual ou coletiva. Desta forma a fruição musical pode ir de individual a coletiva.

1.5 Tipo de fruição musical 2. Outra forma de sistematizar e compreender a fruição musical passa por analisar o contexto de audição, quer seja através de aparelhos reprodutores de som ou de consumo de música ao vivo. Desta forma a fruição musical pode ir do consumo de música gravada até ao consumo de música ao vivo. 2. Importância relativa da música no contexto da fruição musical. Este

segundo plano conceptual compreende quatro dimensões analíticas, três de natureza de natureza subjetiva, com as quais se pretendeu aferir valores e representações relativos à valorização da autenticidade musical, à importância atribuída às componentes

musicais, e à conceção da fruição musical; e uma de natureza objetiva relativa aos géneros musicais preferidos. Com estas dimensões analíticas pretendeu-se, por uma lado, perceber as preferências em termos de géneros musicais, e por outro lado, operacionalizar a oposição entre a música como objeto de consumo, ou como adereço de situações e ambientes.

2.1 Autenticidade da performance musical. Com esta dimensão analítica pretendeu-se aferir a valorização atribuída à audição de música sem recurso (ou recorrendo o menos possível) às mediações tecnológicas, e à audição de música enquanto objeto fruto de manipulação tecnológica, ou seja, pretendeu-se aferir a importância atribuída à qualidade do som. Para tal utilizou-se uma escala também com três níveis de importância: pouco ou nada importante; relativamente importante; e muito importante.

2.2 Importância das componentes musicais. São várias as componentes performativas da música, de entre as quais se destacam, de imediato, a melodia, a harmonia, o ritmo e a letra. Foi por isso pertinente avaliar a importância atribuída a estes dois conteúdos da performance musical relativamente às restantes componentes performativas. Distinguiu-se aqueles que valorizam na música as componentes letra e ritmo, os que valorizam as componentes melodia e harmonia e aqueles que dizem valorizar todas as componentes musicais.

2.3 Conceção da fruição musical. Fruir da música pode significar uma focalização exclusiva no conteúdo musical transmitido, e aqui ressalta a tendência unidimensional da fruição musical, mas pode também significar a associação do conteúdo musical a uma diversidade de fatores e contextos, por exemplo, a música que se ouve num filme, num bar com amigos, ou mesmo a música que se ouve enquanto se circula em determinados espaços públicos,

ressaltando aqui a tendência multidimensional da fruição musical. Distinguiu-se nesta dimensão por um lado aqueles que destacam o carater unidimensional da fruição musical, e por outro, aqueles que destacam o caráter multidimensional da fruição musical, sendo que se admitem entre estes dois pólos conceções mistas e fruição musical.

2.4 Géneros musicais preferidos. Com esta dimensão pretendeu-se aferir as preferências dos entrevistados em termos de géneros musicais, distinguindo-se por um lado as preferências por géneros musicais mais populares e por outro as preferências por géneros musicais menos populares, podendo entre estes dois pólos existir mistos de preferências.

3. Papéis da música nas relações consigo e em sociedade. Através de cinco dimensões analíticas, o terceiro plano conceptual visou avaliar valores e representações sobre a presença da música no quotidiano das pessoas, sobre os papéis sociais da música, e sobre os elementos de gratificação pessoal dos indivíduos enquanto consumidores de música.

3.1 Presença da música no quotidiano. Pretende-se com esta dimensão aferir a presença da música no quotidiano das pessoas. Se por um lado, existem pessoas em que a música pode passar quase desapercebida nas suas vidas, por outro lado existem pessoas para as quais a música faz parte integrante das suas vidas e têm fortes repercussões na construção da identidade destas. Utilizou-se para isso uma escala com três níveis de presença: (+/+) muito presente; (+/-) mais ou menos presente; (-/-) pouco presente.

3.2 Papéis sociais da música 1. Nesta dimensão procurou-se dar conta da forma como os consumidores perspetivam o papel que a música desempenha para as pessoas. Consideram-se três possibilidades diferentes: distração/sonho/fantasia; intervenção

cultural/reflexibilidade; enriquecimento sensitivo/espiritual.

3.3 Papéis sociais da música 2. Nesta dimensão procurou-se dar conta da forma como os consumidores perspetivam o papel que a música desempenha na sociedade. Consideraram-se também três alternativas: uma que acentua as componentes do divertimento e entretenimento; outra que salienta as componentes de comunicação e representação; e uma terceira que comporta o equilíbrio entre as anteriores.

3.4 Elementos de gratificação pessoal 1. Foram consideradas duas dimensões analíticas através das quais se pretendeu aferir os principais fatores de gratificação pessoal no contexto da fruição musical. A primeira dimensão mantém-se igual à tipologia original, distinguindo-se por um lado uma gratificação centrada nas próprias práticas musicais, e por outro lado uma gratificação centrada em aspetos e momentos extra musicais.

3.5 Elementos de gratificação pessoal 2. Numa segunda dimensão, procura-se aprofundar a qualificação dos diferentes tipos de gratificação, distinguindo-se elementos de gratificação associados a experiências emotivas e relacionais.

Com base nos conceitos anteriormente apresentados (designadamente modos de relação com a música, habitus e disposições, orientações sociais) avança-se agora para a análise sistemática dos discursos proferidos, no sentido de perceber e avaliar as interpretações dos entrevistados referentes às suas práticas, valores e representações acerca do campo musical, e desta forma, restituir, sem generalizar, a construção dos gostos e disposições musicais destas pessoas, recorrendo por diversas vezes a citações, como se poderá constatar no capítulo que se segue.

É de referir ainda que, para salvaguardar a identidade dos entrevistados foram utilizados nomes fictícios.

No documento Gostos e disposições musicais (páginas 59-65)