• Nenhum resultado encontrado

Tipo de Fruição Musical

No documento Gostos e disposições musicais (páginas 106-110)

3. Competências e Contextos de Fruição Musical

3.4. Tipo de Fruição Musical

Sabe-se que a música está por todo o lado, sendo por isso esperável, que a fruição musical dos entrevistados seja muito diversificada, quer em termos de locais, quer em termos de contextos.

Segundo os testemunhos recolhidos, os locais de fruição musical mais frequentes são a audição e produção musical em casa, em escolas, a audição no carro, no trabalho, em bares, discotecas, concertos e festas. Em casa, para além da produção musical com qualquer instrumento, a audição é frequente através dos tradicionais rádios, televisões e

aparelhagens, e das novas tecnologias, mormente computadores. No carro, a fruição musical acontece sobretudo, para efeitos de companhia em viagens e deslocações para o emprego. O local de trabalho representa outro dos locais onde a audição musical é muito frequente, acontece principalmente, em indivíduos com profissões que desempenham funções administrativas.

Pese embora esta heterogeneidade de locais de fruição musical referidos, para a larga maioria dos entrevistados, o local preferido e mais frequentemente utilizado para usufruir da música é a sua casa. O sossego, o silêncio, a calma, a concentração, a reflexão, são, entre outras, as principais vantagens e motivações referidas para a preferência da audição musical na residência.

O Romeu representa a ideia dominante na maioria dos discursos dos entrevistados, que salientam a questão do sossego:

"É em casa que prefiro ouvir música, porque é o sítio onde consigo apreciar melhor a música, porque é o sítio onde se está mais calmo, onde estou mais sossegado, onde se consegue perceber melhor a mensagem, o que aquela música me está a passar para mim, por isso em casa é o sítio onde eu gosto mais.” (Romeu)

O testemunho do José vai mais longe, e representa sobretudo os músicos profissionais, aqueles que tendo mais conhecimentos musicais e uma relação mais profunda com a música, exigem maior concentração no momento da audição:

"A preferência mesmo é sentado em casa, em silêncio total a ouvir uma peça inteira sem necessidade de fazer outra coisa ao mesmo tempo, assim consigo dar os 100% ou quase 100% que tenho ao meu dispor para ouvir, perceber, apreciar e seguir o que a música nos está a transmitir. Se eu estiver a fazer outras coisas como por exemplo conduzir o carro, que são praticamente automáticas que

não requerem certa parte do cérebro, consigo ouvir música até certo ponto, embora o grau de atenção não seja tão elevado.” (José)

Existe ainda uma ideia relatada quase exclusivamente pelos mais velhos, que se manifestam desagradados com a audição musical ao vivo, pelo excessivo volume de som. A Sónia tem sessenta e oito anos e a sua opinião encontra eco noutros testemunhos recolhidos:

"Eu percebo melhor as coisas se estiver em casa, porque uma vez fui à Arena ver um concerto do Tony Carreira, mas aquele barulho era tanto que eu não percebia nada do que ele estava a cantar. Mesmo que seja na televisão, a gente em casa ouve melhor, percebe tudo o que eles dizem, gosto mais de ouvir em casa.” (Sónia)

Em termos de contextos de fruição musical, importa por um lado distinguir a fruição musical individual e coletiva, ou seja, em contextos sociais, e por outro lado, as diferentes naturezas que esta fruição musical em contextos sociais assume, isto é, a fruição em contextos domésticos, com amigos, com colegas de trabalho, em espaços públicos etc.

Apesar do enorme potencial social que é reconhecido à música, a fruição musical acontece mais frequentemente em contextos individuais. É sozinhos, quer seja em casa, no carro ou no trabalho, que a maioria dos testemunhos recolhidos dizem ser mais frequente a sua fruição musical, embora, para alguns, isso não seja propriamente resultado de uma assumida opção pela fruição individual, mas sim resultado das contingências impostas pelos afazeres da vida. Para aqueles cuja fruição individual representa uma preferência, esta está muito associada e vem, em grande parte, no seguimento das justificações apontadas para a audição de música em contexto casa, ou seja, a privacidade, o sossego e a concentração.

Embora menos frequente, alguns entrevistados referem-se à preferência pela fruição musical coletiva, sobretudo com grupos de sociabilidade, de

onde se destacam os amigos e familiares, ou simplesmente a inserção em grandes massas de pessoas que constituem os públicos de espetáculos e concertos.

Os bares e discotecas são locais que também propiciam a fruição musical, nomeadamente, o consumo musical associado à diversão noturna que, por norma, acontece em ambiente de convívio entre grupos de sociabilidade, mas que também poderá acontecer individualmente.

Estes locais são frequentados predominantemente pela população mais jovem e estão profundamente ligados ao convívio e diversão noturna, onde a música faz parte integrante. O contexto música ao vivo é também dos mais referidos pelos entrevistados, assume diversas modalidades e contextos específicos de fruição dos quais adiante haverá oportunidade de referir.

No caso dos músicos e no que se refere concretamente à produção musical é em grupo que preferem desenvolver as suas performances musicais, e é neste contexto que dizem preferir usufruir da música. Mesmo aqueles que desenvolvem práticas musicais individuais, como é o caso dos organistas que atuam a solo, fazem questão de referir que é a tocar com amigos e em grupo que mais usufruem da música.

O Narciso é músico amador, organista que faz bailes populares, mas é em grupo que diz desfrutar mais da música.

"Gosto de tocar nos bailes, mas gosto ainda mais quando nos juntamos um grupo de amigos com vários instrumentos e tocamos em grupo, sai todo o tipo de música, tocamos tudo, é aí que mais desfruto da música." (Narciso)

Resumidamente, os entrevistados enquanto ouvintes privilegiam sobretudo a fruição musical individual na sua residência, local onde não existem outras interferências e a audição musical melhor resulta. Enquanto músicos, a fruição musical coletiva é mais destacada, muito por força do

resultado musical em grupo, ou seja, da conjugação de vários instrumentos no caso da maioria dos músicos profissionais, e no caso dos músicos amadores, a preferência pela fruição musical coletiva decorre ainda de fatores de sociabilidade e convívio.

No documento Gostos e disposições musicais (páginas 106-110)