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Administração dos direitos decisórios de TI

3.3 GOVERNANÇA DE TI

3.3.5 Administração dos direitos decisórios de TI

Um ponto que chamou a atenção durante a revisão de literatura refere-se à recorrente citação do modelo de organização e tomada de decisão proposto por Weill e Ross (2006). Em todos os 14 artigos analisados esses dois autores foram citados. Dada a aparente relevância desse trabalho para o estabelecimento de uma boa governança de TI, dedicamos esta seção à análise aprofundada deste estudo que trata da administração dos direitos decisórios de TI.

Para compreender como as empresas decidem acerca de questões relacionadas à tecnologia da informação, Weill e Ross (2006) pesquisaram e descreveram os arranjos de governança de 256 organizações.

Basicamente, eles utilizaram arquétipos políticos (monarquia, feudalismo, federalismo, duopólio e anarquia) para descrever as combinações de pessoas que têm direitos decisórios ou contribuem para a tomada de decisão (WEILL; ROSS, 2006, p. 60).

Segundo a visão desses autores, em uma monarquia de negócio, os altos executivos de negócio tomam as decisões de TI que afetam a organização; em uma monarquia de TI, cabe aos profissionais de tecnologia da informação a responsabilidade pelo processo decisório relacionado a questões que envolvem TI; no feudalismo, cabe aos líderes das unidades de negócio, detentores de processos-chave ou a seus delegados, a responsabilidade por decidir acerca de questões de TI; no federalismo, executivos em nível de diretoria (c-level), executivos de TI, órgãos, unidades e grupos de negócio, não necessariamente subordinados uns aos outros, negociam e coordenam entre si estratégia e diretrizes de ação; no duopólio de TI, executivos de TI e alguns outros grupos (ex. líderes de unidades de negócio ou de processos) consensuam, bilateralmente, estratégia e/ou ações; na anarquia, por fim, considera-se que cada usuário, individualmente, tem direito decisório ou de contribuição (WEILL; ROSS, 2006).

De forma sintética, esses autores assim representaram a relação entre os principais participantes e os arquétipos de governança de TI: Quadro 3.

Quadro 3 - Principais participantes nos arquétipos de governança de TI Executivos de diretoria

(c-level) TI corporativa e/ou das unidades de negócio Líderes das unidades de negócio ou detentores dos principais processos de negócio Monarquia de negócio √ Monarquia de TI √ Feudalismo √ Federalismos √ √ √ √ √ Duopólio de TI √ √ √ √ Anarquia

Fonte: Weill e Ross (2006, p. 62)

Para Weill (WEILL; ROSS, 2006), a governança de TI é a especificação dos direitos decisórios e do framework de responsabilidades para estimular comportamentos desejáveis na utilização da TI. Logo, está preocupada com questões como: (1) Quais decisões devem ser tomadas para garantir a gestão e o uso eficazes de TI? (2) Quem deve tomar essas decisões? (3) Como essas decisões serão tomadas e monitoradas?

Ainda segundo o modelo proposto por Weill e Ross (2006), não basta definir quem decide, é importante indicar sobre quais questões os participantes devem ser consultados e ou são responsáveis por tomar decisões.

Neste sentido, sugerem a existência de cinco categorias de questões essenciais para cada decisão de TI: (1) princípios de TI, (2) arquitetura de TI, (3) estratégia de infraestrutura de TI, (4) necessidades de aplicações de negócio; e (5) investimentos em TI (WEILL; ROSS, 2006).

Quadro 4 - Questões essenciais para decisão de TI DECISÕES DE TI QUESTÕES ESSENCIAIS

Princípios de TI 1. Qual modelo operacional da empresa? 2. Qual o papel da TI no negócio?

3. Quais são os comportamentos desejáveis em termos de TI? 4. Como a TI será custeada?

Arquitetura de TI 5. Quais são os processos centrais de negócio da empresa? Como eles se relacionam?

6. Quais informações determinam esses processos centrais? Como os dados devem ser integrados?

7. Quais capacidades técnicas devem ser padronizadas na empresa toda para suportar as eficiências de TI e facilitar a padronização e a integração dos processos?

8. Quais atividades devem ser padronizadas na empresa toda para dar suporte à integração dos dados?

9. Quais opções tecnológicas guiarão a abordagem da empresa para as iniciativas de TI?

Infraestrutura de TI 10. Quais serviços de infraestrutura são mais críticos para que se atinjam os objetivos estratégicos da empresa?

11. Para cada cluster de capacidade, que serviços da infraestrutura devem ser implementados na empresa toda e quais os requisitos de nível de serviço desses serviços?

12. Como os serviços de infraestrutura devem ser apreçados? 13. Qual o plano para manter atualizadas as tecnologias de suporte? 14. Que serviços de infraestrutura devem ser terceirizados?

Necessidades de aplicações de negócio

15. Quais as oportunidades de mercado e de processos de negócio para novas aplicações comerciais?

16. Como os experimentos são concebidos de modo que estimem o seu sucesso? 17. Como as necessidades de negócio podem ser satisfeitas dentro dos padrões da

arquitetura de TI? Quando uma necessidade de negócio justifica uma exceção às normas?

18. Quem será detentor dos resultados de cada projeto e instituirá mudanças organizacionais para garantir a geração de valor?

Investimentos e

priorização de TI 19. Que mudanças ou melhorias de processos são estrategicamente mais importantes para a empresa? 20. Quais são as distribuições nos portfólios atual e proposto de TI?

Esses portfólios são consistentes com os objetivos estratégicos da empresa? 21. Qual a importância relativa de investimentos na empresa como um todo

versus investimentos nas unidades de negócio? As práticas reais de investimentos refletem essa importância relativa?

Fonte: Weill e Ross (2006, p. 56-57)

Responder devidamente a essas questões, e a outras similares, é uma das atribuição das pessoas imbuídas da responsabilidade de definir o modelo de governança de TI da organização (WEILL; ROSS, 2006).

Para finalizar essa discussão acerca do trabalho de Weills e Ross (2006), apresentamos três arranjos de governança que, segundo esses autores, foram adotados por empresas que apresentaram melhor desempenho de governança (Figura 14).

No primeiro arranjo adota-se o duopólio nas decisões relacionadas a princípios de TI; a monarquia de TI nas decisões relacionadas a arquitetura e estratégia de infraestrutura de TI; o federalismo para decisões relacionadas a aplicações de negócio; e o duopólio para decisões acerca de investimentos em TI. O segundo arranjo difere do primeiro no que tange à tomada de decisão acerca de necessidades de aplicações de negócio e de investimentos em TI, uma vez que, neste, prevalece o duopólio e a monarquia de negócio, respectivamente. No terceiro arranjo, diferente dos demais, predomina a monarquia de negócio em todos os tipos decisórios, à exceção da necessidade de aplicações de negócio a qual é decida sob a forma de federalismo.

Figura 14 - Os três melhores arranjos de governança

Fonte: Weill e Ross (2006, p. 136)

Por fim, Weill e Ross (2006) alertam acerca dos riscos de acordos especiais e de falta de transparência quanto aos processos de governança e destacam a importância da educação como forma de explicitar ações e decisões. Outrossim, recomendam a coordenação e integração das estruturas e modelos de governança de TI as demais estruturas e modelos de governança existes na organização.

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