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Com a ampliação da capacidade de análise, decorrente da aplicação das práticas de análise de conteúdo, foi possível vislumbrar aspectos importantes acerca da governança de TI no setor público.

Inferiu-se da leitura e análise dos 14 artigos selecionados, um conjunto de premissas a serem observadas quando da implantação de boas práticas de governança de TI:

 A TI deve conhecer o ambiente de negócio e ter noção do impacto de suas decisões e ações sobre operações e resultados organizacionais.

 A estratégia e as ações de TI devem estar alinhadas às prioridades e à estratégia de negócio.

 O modelo de governança de TI deve ser concebido e tratado como parte integrante do modelo de governança corporativo.

 As estruturas de governança de TI devem ser compatíveis com as estruturas de governança corporativa já instituídas na organização.

 Os mecanismos de relacionamento devem estimular a aproximação entre profissionais de TI e de negócio em todos os níveis (estratégico, tático e operacional).

 Existem processos e ferramentas de gestão que contribuem de modo diferenciado para a boa governança de TI.

Alguns aspectos, não comumente tratados na literatura acerca da governança de TI, fora do contexto público, dizem respeito a questões de natureza transorganizacionais. Isto é, envolvem aspectos que extrapolam as fronteiras de uma única unidade de negócio, organização e até mesmo esfera de governo. Neste sentido destaque-se algumas premissas inferidas:

 O campo de atuação da governança de TI, no contexto público, não se limita ao espectro de domínio e autoridade das unidades técnicas. Abrange, outrossim, uma rede de mecanismos e interações entre atores internos e externos a órgãos e entidades nos quais a TI está situada.

 O compartilhamento de serviços entre órgãos e entidades públicas, bem como o uso de soluções de multisourcing devem estar na pauta de discussão dos agentes públicos e receber atenção especial nos casos em que se optar pela sua adoção.  Os mecanismos de comunicação, coordenação e alinhamento de ações que

envolvam múltiplos órgãos são aspectos a serem tratados nos modelos de governança de TI no setor público.

7 CONCLUSÃO

No início deste estudo, apresentou-se alguns diagnósticos, realizados por pesquisadores e órgãos de controle nacionais, nos quais se avaliaram aspectos relacionados à capacidade de órgãos e entidades da administração pública direta e indireta de exercer a boa governança de TI. Segundo esses, o cenário encontrado é caracterizado pela fragilidade na definição de responsabilidades (XAVIER, 2010), no estabelecimento de indicadores de desempenho e no acompanhamento dos benefícios (BRASIL, 2012). De forma geral a situação evoluiu nos últimos anos, mas ainda há instituições que despendem quantias volumosas em TI e não dispõem de boa capacidade de governança de TI (BRASIL, 2013).

Visando explicitar e estimular a melhoria da governança de TI no setor público brasileiro, o TCU realizou, entre os anos de 2007 e 2012, três levantamentos de governança. Face a escassez de pesquisas em andamento com foco no estudo das práticas de governança de TI no setor público (MAIDIN; ARSHAD, 2010), o TCU planejou suas ações de controle tomando por base referências formais do direito; modelos, como o Cobit 5; e normas técnicas, como as ABNT NBR ISO/IEC 38500 e 31000 (BRASIL, 2013).

Considerando a constatação da falta de estudos sobre boas práticas de governança de TI aplicáveis ao setor público; e a importância desses estudos, para que os trabalhos realizados pelos órgãos de controle não sejam embasados apenas em fontes de referência formais do direito ou de mercado; esta pesquisa se propôs a responder à seguinte questão: quais são as boas práticas de governança de TI consideradas relevantes e aplicáveis ao setor público?

A partir dessas constatações, e para o atendimento dos objetivos do projeto, buscou-se identificar documentos de referência nos temas governança de TI, governança corporativa e governança pública; os assuntos abordados nessas fontes; as boas práticas de governança e gestão de TI relevantes e aplicáveis ao setor público; e a partir da leitura e análise dos documentos selecionados, os elementos, ou aspectos, que devem ser observados em um modelo de governança de TI aplicável ao setor público.

Para execução do estudo, decidiu-se pelo uso da pesquisa qualitativa. Conforme as orientações de Yin (2011), os trabalhos foram estruturados em três fases: iniciação, execução e análise.

Durante a primeira fase, de iniciação, foram definidos o objeto e a estratégia de pesquisa, o método de coleta de dados e as fontes de dados. Na segunda fase, de execução, foram realizadas sequencial e sucessivamente: revisão de literatura sobre a governança de TI, governança corporativa e governança pública; pesquisa bibliométrica, com foco na

identificação de documentos de referência que seriam potencialmente fontes de boas práticas de governança de TI; e análise de conteúdo, com base no método proposto por Laurence Bardin. Na terceira fase, de análise, foi feita a consolidação, análise e interpretação de dados e resultados.

Na revisão de literatura sobre governança corporativa, apresentaram-se estudos que relacionam a governança corporativa com a governança de TI e identificaram-se boas práticas34

de governança comumente utilizadas. Na revisão sobre governança pública, explicitaram-se mecanismos de governança. De forma geral, no contexto público, existe especial interesse em questões relacionadas ao papel e ao comportamento das lideranças; ao comportamento ético e moral; aos princípios (objetividade, integridade, honestidade, probidade); às competências (habilidades, conhecimentos e atitudes) do corpo diretivo; ao gestão de riscos; aos controle internos; às auditorias (internas e externas); ao planejamento e à gestão financeira; ao relacionamento e à comunicação com as partes interessadas; à transparência; à prestação de contas; e à accountability.

Na revisão de literatura que trata, especificamente, da governança de TI, observou-se que a TI não deve decidir acerca de todas as questões, sem envolver outras partes interessadas; que no modelo de governança a ser adotado, é importante atentar para as características da organização e do ambiente em que está inserida, considerar a cultura local e integrar estruturas, processos e mecanismos de relacionamento associados à governança de TI com os demais existentes no contexto da governança corporativa e da governança pública.

Mediante a execução da bibliometria, constatou-se um aumento exponencial da produção científica nos últimos anos, sobretudo a partir do ano de 2002; a contribuição de países como United Kingdom, United States, Australia, Germany, Italy, Netherlands e Canada para o seu desenvolvimento; a contribuição de estudiosos vinculados às universidades de Oxford, Wageningen, Australian National e Cardiff; bem como a relevância das bases de dados Corporate Governance, ACM International Conference Proceeding Series, Proceedings of the Annual Hawaii International Conference on System Sciences e Lecture Notes in Computer Science, para divulgação e consulta de dados relacionados ao tema governança de TI. No que se refere aos autores de referência no tema, destaque seja dado a Van Grembergen, de Haes, Simonsson, Johnson, Herz, Hamel, Uebernickel, Heier, Borgman e Pardo.

34 Definir estruturas de governança; definir e distribuir papéis e responsabilidade; instituir mecanismos de incentivos; gerenciar riscos; estabelecer controles internos; realizar auditoras independentes; otimizar a comunicação e fluxo de informações; e institucionalizar mecanismos de accountability - transparência, prestação de contas e responsabilização.

Como resultado da bibliometria, foram selecionados 14 documentos potencialmente relevantes para a identificação de boas práticas de governança de TI aplicáveis ao setor público. Sobre eles, aplicou-se a técnica de análise de conteúdo, com base no método proposto por Laurence Bardin, a qual possibilitou a identificação de 417 boas práticas de governança de TI, mediante as quais tornou-se possível inferir um conjunto de 6 práticas35 gerais e 27 práticas

específicas aplicáveis e relevantes para a boa governança de TI em órgãos e entidades da administração pública direta e indireta.

Logo, todos os objetivos propostos neste trabalho foram alcançados. Documentos de referência nos temas governança de TI, governança corporativa e governança pública foram identificados e selecionados mediante a realização de estudos bibliométrico. As fontes selecionadas foram analisadas com base no método proposto por Laurence Bardin. Os dados obtidos foram consolidados e os resultados foram tratados e interpretados. Enfim, alcançou-se o objetivo principal do trabalho que consistia na identificação de boas práticas de governança de TI aplicáveis às organizações do setor público.

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