3. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E OS CAMPI
3.4. A ADOÇÃO DOS SGA PELAS UNIVERSIDADES
Sendo uma área de estudo relativamente recente, a adoção de um SGA por uma instituição de ensino superior ainda levanta algumas questões relevantes. Desde a adequação do programa escolhido até às motivações e barreiras que estes trazem, a questão das boas práticas para implementação de um SGA na universidade é importante.
Tendo consciência de que é necessário ter um tipo de visão clara e concisa para assumir o compromisso da gestão ambiental, as universidades devem disponibilizar de todos os recursos que são essenciais para fazer uma abordagem ao objetivo final que é a sustentabilidade e devem ainda apresentar uma estrutura organizacional e funcional, nomeando um comité para coordenar e gerir a situação (Alshuwaikhat e Abubakar, 2008).
O modo de implementação de um SGA nas universidades é diferente para cada uma delas, o que pode tornar esta questão subjetiva sendo necessário a existência de uma organização tipo e objetiva para todas de modo a que o objetivo final de ter sucesso aquando uma certificação ambiental possa ser alcançado, pois a forma de abordagem quando diverge muito acaba por criar barreiras na implementação. Porém, ao longo do tempo há formas melhoradas para abordar determinados assuntos no processo de implementação, tais como a escolha de responsáveis por cada setor de implementação, o bom desempenho ambiental contínuo e a redução do risco de falhas regulamentares e de custos. Um SGA acaba por melhorar não só o sistema interno da instituçao como também o externo, fazendo transparecer ao público nível de qualidade, responsabilidades sociais e trabalho de equipa (Simkins e Nolan, 2004).
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Porém, estas melhorias aplicadas ao longo do tempo poderão apenas resultar nas fases iniciais de implementação, o que acaba por tornar alguns destes programas aliciantes apenas na fase inicial, acabando por não ser a abordagem mais correta para definir uma estratégia concisa que melhore de forma assegurada o desempenho ambiental.
Simkins e Nolan (2004: pg.6) afirmam que “se mantém um número de barreiras para a implementação de um SGA. Entre elas, a ligação indireta ao programa, conservacionismo e inércia por parte da instituição, dispersão das estruturas responsáveis pela tomada de decisões, tensões entre as “subculturas” (académicas, administrativas, estudantis e gestoras de operações), rápida rotatividade de pessoal e dificuldade em gerir o processo com a auditoria e com a implementação.”
Este tipo de barreiras acaba por retardar o processo de implementação dos SGA e por estas razões surgiram os projetos piloto de implementação de SGA em universidades. É importante que a implementação seja faseada e lenta por forma a se compreenderem os contornos que o processo toma e ainda o tipo de recetividade por parte da academia.
Simkins e Nolan (2004) recomendam que implementações faseadas deverão atender a: - Custos iniciais reduzidos;
- Demonstrar a apropriação e utilidade do programa de SGA;
- Demonstrar facilidade de implementação (pouca burocracias e trabalho); - Aumentar a confiança no conceito;
- Assegurar que os problemas são identificados e corrigidos antes da introdução em toda a universidade; - Providenciar uma série de objetivos bem estruturados.
Estas ações deverão ser distribuídas pelos vários departamentos das diferentes áreas que constituem a universidade de modo a facilitar os progressos da sua aplicação. Viebahn (2002: pg.4) afirma que “o modelo de gestão de Osnabrück para universidades contém dez “building blocks” que são desenvolvidos por departamentos considerados mais competentes para os conceber e tornar operacionais, ao invés de ser por consultores externos ou por um gestor individual. Por exemplo, um departamento de informática desenvolveria o sistema de informação ambiental, o departamento de relações criaria um relatório ambiental”, entre muitos outros exemplos.
A figura 41 permite entender o conjunto de ações a ter em conta para se conseguir fazer um tipo de abordagem correta e consciente à sustentabilidade.
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Figura 41 - Proposta de abordagem a ter para implementar um campus sustentável Adaptado de: Alshuwaikhat e Abubakar (2008)
Alshuwaikhat e Abubakar (2008) consideram que se deveria adotar tipos de estratégias, que visem: - Implementação de um SGA;
- Participação pública e responsabilidade social; - Educação e investigação sustentáveis.
A coesão destas três estratégias é considerada essencial para conseguir cumprir corretamente as exigências e criar ainda harmonia entre todos os elementos da instituição de ensino superior. Cada uma das estratégias é dotada de iniciativas essenciais à abordagem ao desenvolvimento sustentável.
Como referido anteriormente, a implementação de um SGA deve ser feita faseadamente e de forma racional, de modo a que os objetivos finais sejam atingidos. As iniciativas desta estratégia envolvem um vasto
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leque de ações desde os edifícios até aos espaços exteriores, sempre com o grande objetivo de melhorar o desempenho ambiental segundo os regulamentos e indicadores fornecidos pelo programa escolhido de SGA. Quanto à participação pública e responsabilidade social, Alshuwaikhat e Abubakar (2008: pg 5) afirmam que “esta estratégia visa a participação das partes interessadas em alcançar a sustentabilidade e responsabilidade social universitária em promover a justiça ambiental, a igualdade sem distinção de raça nem de género e a necessidade de ter em atenção as pessoas com deficiências e necessidades especiais.”
É essencial a cooperação de organizações governamentais e não-governamentais pois a participação de parcerias públicas é fundamental para promover iniciativas sociais que envolvam e integrem a comunidade académica.
Os serviços comunitários também não ficam de fora destas bases fundamentais da responsabilidade social sendo importantes para promover os projetos comunitários e serviços que dão uma consciencialização sobre o meio ambiente. Estes dão exemplo através de atividades demonstrativas da alteração de comportamentos diários dentro do campus e ainda criam ligação com a comunidade local para que haja uma interação entre todos. Ainda neste tipo de estratégia tem importância a justiça social. As universidades são importantes pela imagem que transmitem logo, podem e devem usar essa imagem e projeção para alertar toda a comunidade sobre os direitos humanos, a igualdade de raças e géneros, a justiça, a paz e o respeito pelas crenças e culturas de cada um.
O envolvimento da comunidade é feito também através da educação e investigação para a sustentabilidade pelo que conferências e workshops e ainda abordagens ao tema nos cursos são fundamentais na área da investigação, podem através deste tema investigar questões importantes e realizar estudos essenciais ao processo de implementação do SGA (Alshuwaikhat e Abubakar, 2008). Não se deve pensar apenas na universidade em termos físicos mas também na comunidade pois só assim é que será possível pensar na universidade como um todo. A implementação de um SGA deve ser feita sem nunca esquecer o bem- estar de todos os utilizadores que usufruem diariamente dos edifícios e dos espaços exteriores.
Na tabela 4 é perceptível qual o conjunto de setores que deve ser abrangido de modo a que nada seja excluído no processo de implementação de um SGA.
70 Tabela 4 - O caminho para a sustentabilidade nas universidades
SISTEMA OBJETIVO REDUÇÃO MELHORIA
ENERGIA Procurar independência dos combustíveis fósseis Combustíveis fósseis Sistemas mais eficientes Energias alternativas
ÁGUA Conservar recursos hídricos Desperdício e consumo de água
Conservação e captação da água
Sistemas mais eficientes Reciclagem
MATERIAIS Acabar com resíduos de materiais Resíduos de materiais Políticas sustentáveis de aquisição
Reciclagem de resíduos
ALIMENTOS Comer alimentos sustentáveis Sistema alimentar longínquo e industrial Sistema alimentar regional e sustentável
TERRENO Criar e respeitar a ética da terra Tratamento dos terrenos como uma comodidade Administração mais sensata dos terrenos
TRANSPORTE Criar alternativas sustentáveis para a circulação Dependência automóvel do veículo Transporte público e alternativas económicas e não poluentes
EDIFÍCIOS Criar edifícios verdes Edifícios convencionais Design ecológico dos edifícios
EDUCAÇÃO Garantir a educação ecológica Alimentação do mundo natural Criar uma conetividade com o mundo natural
INVESTIGAÇÃO Priorizar a investigação para um mundo mais sustentável Investigação prejudiciais para sustentabilidade de fatores Promover a investigação no âmbito da sustentabilidade
RESPONSABILIDADE E JUSTIÇA SOCIAL
Criar bem-estar, espírito de união e de igualdade entre a comunidade. Dar a conhecer as variadas culturas
Falta de atenção às acessibilidades físicas do
campus, número reduzido de
atividades que envolvam toda a academia
Dar maior prioridade às questões sociais, criar acessibilidade para todos bem como atividades e entreajuda
Adaptado de: Hudson (2001, pg.41)
Tendo-se indicado os principais objetivos associados a cada estratégia necessária para a implementação de um programa de SGA, cada um será depois aprofundado de forma a resolver os problemas específicos de cada universidade.
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